Na ultima revista do El Pais vinha um interessante artigo sobre estes tempos pandémicos que vivemos. Dizia o autor que desde crianças a frustração nos acompanhou quandos os nossos desejos se não realizavam. Mas, ao contrário do que os adultos consideravam ser um capricho, essa frustração tinha raízes mais fundas no ser humano.
Com efeito, a frustração está presente em todas as etapas da vida e o nosso êxito como pessoas, dependerá da nossa capacidade de gestão desse sentimento. Assim a felicidade reside na diferença entre aquilo que sonhamos e aquilo que conseguimos realizar. Se apenas realizamos 50% daquilo a que aspiramos o nosso nível de felicidade não passará de uma média satisfação, já que metade terá ficado por realizar.
Porém quando o que se deseja pesa mais do que o que se tem, então a frase de Jung "a vida não vivida é uma enfermidade da qual se pode morrer", é capaz de fazer todo o sentido, já que na sociedade da competitividade e da satisfação instantânea - ao alcance de um clic - a frustração vai acompanhar-nos sempre, já que se torna impossível satisfazer desejos em continuo. Este quadro desenrola-se, claro, em condições normais.
Em pandemia passou-se de um consumismo desaforado para uma cultura da cancelação. Fechou-se quase tudo em que a nossa vida se desenrolava para vivermos profundamente frustrados, com sintomas que vão da melancolia, à irritabilidade, ao aumento do consumo de álcool, à automedicação e aos pensamentos circulares de caracter negativo que aumentam o medo e dificultam o sonho. Neste pano de fundo a frustração apoderou-se de uma parte importante da nossa vida.
Então como tentar ultrapassar esta situação? Não há receitas gerais, mas há a possibilidade de utilizar algumas das nossas ferramentas pessoais. Saliento cinco, que me serviram e poderão, talvez, ajudar outros.
1.Cultivar a paciência, uma medida óbvia mas eficaz. Tanto em crianças como em adultos, a frustração surge por não se obter, na hora, o que desejamos. Contra esta imediatez só uma visão alargada permitirá que relaxemos, acreditando que mais tarde ou mais cedo viremos a obter aquilo que queremos
2.Examinar os custos / benefícios e tirar conclusões. Um empregado que perde o seu emprego, terá forçosamente de procurar alternativas incluindo, até mudar de área ou criar o seu auto emprego. E, então sim, olhar para o quociente acima referido e perceber o que vale a pena.
3. Assumir a instabilidade de tudo. Todos sabemos que nada do que consigamos é para sempre. Logo, a satisfação é sempre temporal. Mas se nada permanece e tudo muda, a frustração deixa de ter sentido. Nesta alteração a máxima "desejar o melhor, afastar o pior e aceitar o que venha" parece fazer todo o sentido.
E é mais ou menos assim, que cada um de nós, aqueles que permanecemos sãos, teremos podido conviver com a clausura, a contenção do afecto e o próprio trabalho faseado, tentando manter a ilusão de que tudo, um dia, voltará a ser o que era. O que é pura ilusão, porque nada voltará à anterior realidade. Mas eu sou das que acredito, que quando essa ilusão se desfizer, nós sberemos encontrar uma nova normalidade mais justa e solidária!
HSC