quinta-feira, 28 de maio de 2020

Clara de Sousa



Não sei há quantos anos conheço a Clara de Sousa. Mas há muitos, porque eu sou da fundação da Sic que abriu a 6 de Outubro e eu fui a autora do primeiro programa de entrevistas da estação, que foi para o ar a 11 desse mês. Durante muito tempo, para mim, abrir a televisão era ligar a Sic. Acredito que terá sido por essa altura que nos conhecemos. 
Tinha e tenho por ela grande admiração, que não vem de uma relação de amizade, mas sim do que sei que ela faz e é capaz de fazer. Já nos encontrámos nalguns trabalhos profissionais extra televisivos e a sua correção é sempre a mesma. Sabe o que vale, mas não necessita de o exibir.
Vem este introito a propósito de quê, perguntarão? Explico.
A Clara não só recebe muito bem - já comi maravilhosamente na sua casa - como cozinha com alto nível, embora discretamente chame aos seus cozinhados de comida caseira. 
Pois bem, há um meses ela inaugurou o Clara de Sousa.pt, site onde para além de receitas ótimas  mostra uma vasta linha de produtos ligados às várias actividades domésticas que vão da decoração aos bens específicos.
Quem assina sua "letter", tem todas as quintas feiras ótimos cozinhados e dicas para aproveitamento de materiais pelos quais, normalmente, nem se interessaria.
O site é muito clean, os vídeos muito bem explicados e acabamos por ter a surpresa de ver no computador, uma outra Clara, mais friendly e mais perto de nós. 
Mais uma vez não escondendo nunca as suas origens, esta novidade parece-me ser uma outra forma de homenagear a cozinha da sua mãe, como já fizera, antes, com os seus livros.
Bravo Clara, que sabe sempre levar por diante todos os seus projectos e que tem a gentileza de nos proporcionar que possamos partilhar deles!


HSC

domingo, 24 de maio de 2020

Adeus Maria


É com imensa comoção que escrevo estas linhas sobre Maria Velho da Costa - na vida real, Fatima Bivar - uma pessoa a quem me liga metade da minha vida e dos meus filhos.
De facto, ela é madrinha do Miguel e, na sala de partos, assistiu ao nascimento do Paulo de quem gostava muito. Este dois factos dão-vos, certamente, a natureza dos elos que nos ligavam e, portanto, a medida da minha dor. Apesar de no fim das nossas vidas, só esporadicamente estarmos juntas, cada vez que nos falávamos,  esse simples telefonema, era em si mesmo, uma alegria. 
Já partiu outra nossa comum amiga, a Isabel Barreno, que juntamente com ela e a Teresa Horta - que não conheço - havia de escrever um livro que provocou um abanão sério na sociedade portuguesa. 
Teve uma vida profissional preenchida e, acredito que, a seu modo, terá tido através dela, momentos de grande felicidade. Foi casada com um outro grande amigo meu, o Prof. Adérito Sedas Nunes - que, para muitos foi o pai da Sociologia em Portugal - de quem tem um filho - que segue as pezadas profissionais do progenitor.
De uma enorme cultura, com um sentido apuradíssimo do humor, ela foi uma parte importante da parte mais desinteressante da minha vida. Talvez por isso, os momentos que, nesse período,  passámos juntas - e foram muitos - são absolutamente inesquecíveis!
Adeus Fátima, com o meu abraço ao teu filho João.

HSC

terça-feira, 12 de maio de 2020

Ferias idilicas

Muito possivelmente já conhecem o texto que vou publicar. Mas eu recebi-o hoje deu-me um ataque de riso imenso. Aliás, depois de 125 dias confinada creio que até as desgraças acabam por ter um lado cómico que ninguém descobriria a não sermos nós... Aqui vai então o texto:

"Recebi finalmente no dia 29 de setembro o e-mail a confirmar para daí a 4 dias, segunda-feira, a minha reserva para duas pessoas no areal da Figueira da Foz (Praia da Claridade, sector KHR, fila 13, coluna 44). Conseguimos apanhar um “slot” horário jeitoso, das 11:35 às 11:50, e ainda por cima com vista para o mar, olhando por cima da cerca de acrílico, é certo, mas não se pode ter tudo. Como a reserva para o restaurante (avisadamente, comprei um pack em finais de maio, mal sairam as regras da DGS) estava marcada para as 14:05, teríamos ali duas horas para preencher, que nos autorizaram a passar confortavelmente dentro dos nossos carros, sem máscara com janela fechada, ou com máscara se aberta. Como não conseguimos manter a distância de dois metros dentro do carro entre mim e a minha namorada, que não reside comigo, cada um levou a sua viatura. O meu lugar para estacionamento, respeitando a regra de segurança lugar sim lugar não, ficava apenas a 500 metros da praia e o da Martinha (assim quis o destino que se chamasse a minha namorada) a 200. 
Como se pode ver, tudo previsto e excelentemente organizado, ou não fossemos nós considerados pela imprensa europeia como um exemplo de cidadania balnear, e pelo presidente da república como os melhores do mundo. Com grande excitação, logo pela manhã daquele dia limpo e completo telefonei para a Martinha, não se fosse ela esquecer a cópia autenticada do e-mail, atestado de negatividade Covid-19, alcool-gel, máscaras, toalha de praia descartável, luvas e botas de proteção. Chegámos à Figueira da Foz quase à mesma hora, e assim que arrumamos os carros foi só esperar que o segurança nos desse autorização para sair. 
Corremos um para o outro até ficarmos a uns sensuais 2 metros de segurança e piscarmos o olho numa ousada manifestação de paixão. Assim que sentimos o drone a sobrevoar as nossas cabeças foi só acompanhá-lo até aos nossos lugares com separação controlada por webcam. Cerca das 11:40 ouvimos pela instalação sonora a tão ansiada mensagem: “cidadãos com o código de sector KHR, fila 13, coluna 44, podem dirigir-se ao mar, à vossa esquerda, tendo permissão para entrar na água até à cintura, mantendo a etiqueta respiratória e distância de segurança. Dispõem de 7 minutos.”
Ainda hoje nos é difícil esquecer aqueles momentos felizes de liberdade. Só mesmo o almoço, passadas duas horas, se pode comparar em emoção. Como não residimos juntos, tivemos que ficar em mesas separadas, por acaso em salas diferentes, mas os telemóveis e o Skype resolveram tudo a contento, e pudemos saborear umas deliciosas courgettes com cenouras caramelizadas, sem glúten, de produção biológica da horta do restaurante. Divinal. 
Espero que não contem a ninguém, mas ainda nos conseguimos cruzar a caminho do wc e tocar de raspão nas mãos. Às 16 horas já estávamos de regresso a casa. Quase à saída da Figueira passámos por um grupo de 500 pessoas que dançavam ao som de uma banda a tocar musica popular portuguesa. Estupidamente, ainda perguntei a um policia se era algum festival, ao que ele me respondeu: “acha? Não sabe que isso é proibido? Não percebe que é uma atividade política?” Esclarecido e amansado, lá rumei à minha casa e a Martinha à dela.Enfim, um dia memorável. Para o ano há mais!"

Eu que já duvido que volte a ter férias, porque depois desta pandemia outras se seguirão - mais fortes ou mais fracas, consoante o pessimismo ou o otimismo de cada um - ao ler este texto lembrei-me da crítica que os meus filhos me fazem de querer marcar tudo com antecedência. De facto, neste caso não foi famoso!

HSC

domingo, 10 de maio de 2020

Uma carta de amor

Entre os bons amigos que tenho conta-se uma mãe de vários filhos, viúva há alguns anos,  e que eu considero, tê-los educado primorosamente. E num destes destes whatsapp que troco com alguns amigos para saber com estão, disse-lho e fiz um rasgado e merecido elogio à familia que ela havia sabido criar e da qual, sinto, também fazer parte.
Em resposta recebi esta surpreendente mensagem, que passo transcrever e que me emocionou bastante:

Minha querida Helena

Obrigada pelas suas palavras amigas. Mas quanto aos rebentos elas requerem uma explicaçãozinha.
Esforcei-me sim. Porem, o grande mérito foi dum Pai .... bem.... esse sim e  sempre a tempo inteiro com uma arte, sensibilidade, pedagogia, um bom senso, um pragmatismo, uma mistura certíssima de liberdade e responsabilidade muito bem doseada, muita alegria, entusiasmo pelo conhecimento, sabedoria e leveza, enfim, tudo todos os dias em cima da mesa como se nada estivesse preparado a utilizar porque o Amor era em abundancia. Depois, factor sorte. Aí eles rápidamente compreenderam que os que mais sabem, são os que gostam e querem apreder todos os dias. Sem dúvida, até eu, fui sempre mais aluna do que Mãe. Bjos 

Quando acabei de ler esta carta perguntei a mim própria quantas de nós seríamos capazes de a escrever, ao fim de uma longa caminhada a dois que, infelizmente, terminou cedo demais. Que lhe poderia eu responder depois de uma tal declaração de amor, tantos anos passados? Ainda bem que existem pessoas assim. São elas que nos dão esperança nos dias de amanhã!

HSC

sexta-feira, 8 de maio de 2020

Tudo pode ser melhor

Se alguma vantagem esta pandemia trouxe a alguns foi uma profunda mudança na hierarquia dos seus valores. Não será em todos para melhor, mas acredito que para a maioria de nós, o saldo será bem positivo.
Sou muito independente e no principio disto tudo já me via rodeada de obrigações não assumidas mas que eram naturalmente necessárias. Durante anos o que eu mais apreciava - e aprecio - é o silêncio da minha casa. Vivo numa rua tranquila onde de manhã ainda se conseguem ouvir o cantar dos passarinhos e alguns trinados dos amoladores. Apesar de não gostar do local onde habito, marcadamente residencial, não posso deixar de concordar que, à noite e ao fim de semana , isto tem algo de provinciano. Talvez seja por isso que os meus filhos sempre se opuseram a que eu vendesse esta casa... Mas agora, quando os preços descerem, alugo uma pequenina em Campo de Ourique e vou para lá viver. Nunca me santi como pertença da Lapa, apesar de aqui ter bons amigos.
No mesmo sentido, se antes a família era o meu porto de abrigo, agora sinto-os como uma das minhas razões de querer viver. Dá-me um imenso prazer ver crescer os meus sobrinhos e ver envelhecer o meu irmão mais novo, que faz 70 anos e continua um engenheiro apreciado e requisitado porque escolheu uma área, onde bons existem muito poucos. E, como vive muito bem, tem prazer em partilhar com a familia as mordomias de que goza.
Os verdadeiros amigos, aqueles que gostam de nós nos bons e maus momentos foram tantos que eu pergunto se realmente os mereço e como os vou compensar quando isto terminar.
A espiritualidade, ao longo de 4 meses de confinamento, foi lentamente ajudando a cumpri-los da melhor maneira e a mostrar-me que em todo este período houve pessoas que estiveram muito mais abandonadas do que eu. 
Deus tornou-se maior e as nossas conversas bem mais longas, o que permitiu que o primeiro ano sem o luto da morte do meu filho Miguel, tivesse atenuado as nossas diferenças -não eram mais que ideológicas porque, no resto, eramos muito parecidos - e tornado a semana de 24 de Abril a 1 de Maio, datas da sua morte e nascimento, num gostoso relembrar de boas recordações.
Enfim, se esta pandemia nos roubou muita coisa, também pode ser um caminho novo para os dias que nos faltem viver.

HSC

sábado, 2 de maio de 2020

SAMS: um esclarecimento

Acabo de ler no jornal Observador  uma noticia que refere que está marcada para o próximo dia 7, às 15h, na Rua Fialho de Almeida, uma manifestação de bancários reformados pela "reabertura imediata" do Centro Clinico do SAMS, na qual se refere a intenção de convidar algumas personalidades que escreveram ou se pronunciaram sobre o assunto e no qual o meu nome é referido.
Dentro das minhas magras possibilidades, fui uma das primeiras sócias a pronunciar-se sobre o mal estar que a situação me estava a criar, dado que todos os meus médicos, à excepção de um, pertenciam ao dito Centro.
Escrevi e assumo toda a responsabilidade sobre o que escrevi. Voltaria a faze-lo. Mas isso é diferente de  participar ou não de uma manifestação cujas características desconheço completamente e para a qual, até à data, não fui convidada. 
Pessoalmente entendo que este tipo de manifestações, para que sejam eficazes devem ser conduzidas de forma clara e transparente nos objectivos que com ela se pretendem e sabendo muito bem a que responsáveis se dirigem. Porque a situação criada tem, hierarquicamente, responsáveis. E é a eles que as manifestações devem ser feitas e não à porta do Centro Clínico que acaba por diluir essa personalização da responsabilidade. Neste caso haverá intenções várias mas, verdadeiramente, só a Ministra da Saúde pode esclarecer, com autoridade, porque o consentiu e porque o manteve. Assim do meu ponto de vista é a ela que em primeiro lugar, deveríamos dirigir-nos ou a quem ela indicasse.
Para além disto e no meu caso especial, gostaria de ter sido ouvida e convidada -se fosse o caso- com tempo e informação. Porque se há algo verdadeiramente importante para mim é o meu bom nome, que não quero ver utilizado em vão em manifestações cujos moldes desconheço totalmente!

HSC

Nota 1 Não deveriam ser só os reformados a manifestarem-se. Porquê a ausência  de todos os outros sócios?! Não se sentem lesados? Muito estranho!

Nota 2 Tive informação que a DGS irá começar a tomar medidas para alargar a saude oral a situações não urgentes e que o mesmo ir´acontecer com as restantes especialidades. E garantiram-me que o SAMS irá aplicar essas directivas. Se for verdade e não demorar uma eternidade, bem. Se tal não acontecer então importa clarificar muito bem o/os objectivos da greve, para que ela seja feita no local mais indicado e mais útil, com todos os sócios e não só os reformados.

sexta-feira, 1 de maio de 2020

As liberdades fundamentais

Creio que uma das melhores noticias que o fim do confinamento nos traz, será a abertura dos cabeleireiros e barbeiros, o poder tomar uma bica fora de casa levantando a ponta da máscara, o poder ir ver o Tejo e sentir-lhe o cheiro, o poder sair de automóvel para dar a volta ao quarteirão, o poder fazer dez vezes a rua do Prior na parte em que não sobe e achar que se fez dois quilómetros de caminhada, o dizer adeus aos vizinhos que estão à janela, o poder ir passear o cão ou o gato desde que este esteja registado e, finalmente, o não caber em qualquer das roupas da estação anterior com as quis ficávamos francamente bem!
Não estão contentes com tudo aquilo que vos vai ser possível fazer quando arranjarem um fato em que caibam? Eu estou felícissima, porque tendo vivido demais e engordado mais, vou continuar em casa. É mesmo uma felicidade...até que chegue a vacina!

HSC