“Não se envelhece para morrer. Envelhece-se para saborear a vida”
Já não me lembro de quem disse esta frase que eu registei. Admito que tenha sido José Tolentino de Mendonça, mas não tenho a certeza. Pensei muitas vezes nela, ao longo destes últimos meses.
Já quando era nova pensava que a vida era para ser saboreada, ou seja, não ficar agarrada a momentos maus e seguir em frente com a esperança de que pelo menos aqueles se não repetissem.
Mas a vida passa tão depressa que de pouco ou nada me lembro que não fosse agradável. Até ao primeiro contacto com a morte, que me levou o avô que eu adorava. Aí houve um embate tão grande que eu só pensava no que me aconteceria se morresse a minha avó.
Não tive muito tempo para pensar, porque ela morreu três meses depois, com saudades do marido. Aliás desde que ele morrera ela refugiou-se no seu quarto e nunca mais de lá saiu.
Assim, de uma vez só, eu perdia o meu chão, o meu ninho, o amor daqueles com quem fui criada. Anos mais tarde, quando morreu a minha mãe, eu já me tinha feito mulher forte, que sabe que nada na vida é nosso, que tudo pode mudar radicalmente de um momento para o outro e, portanto, numa logica natural, isso havia de acontecer. Mas, entretanto, tinha aprendido, também, que sendo a vida feita de perdas, nós precisamos de nos preparar para elas.
Foram anos em que percebi que a única solução para envelhecer é saborear bem a vida, seja de que forma for desde que seja aquela que escolhemos e nos torna felizes.
Hoje trabalho, rio, divirto-me e algumas vezes, poucas, choro. Chamo a isto saboreara existência que tenho com tudo aquilo que ainda mantenho.
Esse sabor tem formas muito variadas que vão de ouvir um belo concerto, ao ir comer sardinhas assadas em S. João da Caparica dois dias depois de ter saído do hospital, ou fazer uma “carilada” para um grupo de amigos que poem a mesa e acabam a tirá-la. Só que tudo isto tem de ser, também, acompanhado de alguns silêncios pelo meio, em que careço de estar frente a frente comigo. E foram muitas destas coisas, tão simples, que salvaram os meses de quarentena que no meu caso foram muitos. Na verdade, não se envelhece para morrer. Envelhece-se para dar sabor à vida!
HSC