Não tenho relações de amizade com Adolfo Mesquita Nunes. Não pertenço nem ao seu partido nem a nenhum outro. Conheço-o mal, mas ambos fazemos parte do mesmo blog colectivo, que há dez anos teima em existir, apesar de muitos de nós passarmos longos períodos sem lá escrever.
Mas sempre admirei a frontalidade como ele assume as suas escolhas e defende aquilo em que acredita. Era uma lufada de ar fresco na vida partidária nacional, já muito envelhecida nos partidos tradicionais. E mesmo no BE, a juventude pode bem dizer-se que já passou.
Até Catarina Martins começa a dar sinais de que a idade não perdoa. O corpo modifica-se e a frescura que lhe conhecemos já não tem o mesmo viço. Louçã, Rosas e Fazenda, de jovens têm pouco e são hoje vistos como os senadores dum partido que fundaram, mas que está muito diferente do que foi. Não é um mal, é um facto, é a vida.
Adolfo, que sempre conciliou vida profissional autónoma com o exercício da política, resolveu mudar de rumo em nome daquilo que entende ser a sua felicidade pessoal. Caiu meio mundo em cima dele, entendendo que tinha vendido a alma ao Diabo. Tudo pessoas que o julgaram como se fossem seus íntimos.
À semelhança do que já havia feito com a sua orientação sexual, deu a explicação que entendeu devia dar enquanto político e, tenho a certeza, não dirá mais uma palavra sobre o assunto.
Demitiu-se, como devia, das funções que exercia na vida política e esclareceu que continuaria, como militante, ligado ao seu partido, o CDS.
Sempre me chocaram os julgamentos na praça pública, sobretudo por parte de gente que nada sabendo da vida dos visados, se arroga o direito de criticar as escolhas que façam.
Sou mãe de dois políticos que sempre foram livres de pensar e de escolher em conformidade com esse pensamento. Por várias formas também tentaram fazer de mim alguém que tinha de pensar como qualquer um deles. Não conseguiram. Como não conseguiram abalar a amizade que unia os dois irmãos.
É que nós três sempre acreditámos e defendemos - como na canção do Sondheim -, que as escolhas podem estar erradas, mas escolher está certo. Por isso, sempre escolhemos!
HSC