quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Mapas que falam...

Confesso o roubo. O mapa acima, elaborado pelo Banco Mundial, foi rapinado ao Luís Menezes Leitão que o publicou no Delito de Opinião.
Se olharem bem para ele percebem porque é que eu falo tanto da Grécia. É que há quadros que dizem mais do que palavras.
Receio, para utilizar a palavra mais suave, que os gregos se vejam obrigados a sair da zona euro. E angustia-me pensar o que poderá seguir-se, porque não sou nem simpatizo com o Senhor Krugman...

HSC

Cautelas e caldos de galinha...

"O Secretário de Estado da Cultura admitiu ontem em entrevista à TVI-24, vir a alterar, até 2015, algumas regras do novo Acordo Ortográfico, que já está em vigor nos organismos do Estado desde Janeiro deste ano.

Manifestando o seu desacordo com algumas normas, Francisco José Viegas lembrou que "do ponto de vista teórico, a ortografia é uma coisa artificial. Portanto, podemos mudá-la. Até 2015 podemos corrigi-la, temos essa possibilidade e vamos usá-la. Nós temos que aperfeiçoar o que há para aperfeiçoar. Temos três anos para o fazer".

Para aqueles que, como eu, são contra a assinatura deste Acordo, é preferível repensar, ouvir e depois decidir, a cumprir algo que está a gerar entre os portugueses enorme polémica. Os argumentos economicistas não podem ser, nesta matéria, o factor preponderante.

Já chega de perdas identitárias!

HSC

(Des)União Europeia

"Um bom divórcio é melhor do que um mau casamento", diz o ditado popular. É, de facto, verdade e aplica-se inteiramente ao caso grego.

Com efeito, por muitos erros que os governantes helénicos tenham cometido - e cometeram-nos -, o achincalhamento a que o seu povo está a ser submetido com as decisões do duo Merkosyl e a sugestão de Jean Claude Juncker, Presidente do Eurogrupo, para a nomeação de um Comissário Europeu para Atenas, são inadmissíveis.

Oxalá nenhum outro país integrante deste belo conceito de Europa Unida - porque foi só um conceito e jamais foi uma realidade -, se veja em semelhante contingência.

Tudo isto acaba por exemplificar bem aquilo que sempre temi, ou seja, as razões do meu antigo e profundo cepticismo relativamente à ideia de uma união europeia.

HSC

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

É insustentável

A agência de notação Standard & Poor’s (S&P) retirou à Grécia a classificação de CC, baixando a nota da dívida do país para o nível SD, que é considerado um “incumprimento selectivo”. Esta revisão em baixa, anunciada ontem tem a ver com as implicações do acordo negociado entre o Governo grego e os credores privados para um perdão parcial da dívida helénica.



As implicações, entende a S&P, não se limitam aos credores que aceitaram abater parte da dívida soberana grega. 

Em causa estão também as chamadas Cláusulas de Acção Colectiva, cujos termos sofrerem uma alteração, com efeitos retroactivos, após o acordo firmado na semana passada pela zona euro.

Do ponto de vista da agência, este processo é visto como uma reestruturação, já que os credores aceitam perder 53,5% do valor nominal dos títulos de dívida, a trocar por outros com juros de 2% até 2014, 3% entre 2015 e 2020 e 4,3% para o prazo limite de 30 anos.



Para a agência o envolvimento do sector privado na redução da dívida grega implica não só uma quebra do montante da dívida, mas também uma extensão das maturidades dos pagamentos dos empréstimos, um cupão mais baixo ou a alteração de outras características que afectam o serviço da mesma.



O segundo empréstimo de 130 mil milhões de euros da zona euro só será libertado em tranches e desde que a Grécia cumpra as novas medidas de austeridade e as reformas económicas acordadas com Bruxelas.

Com efeito, sempre que há, na Europa, uma decisão favorável à ajuda a um país em dificuldade, aparece imediatamente uma agência norte americana ou euro americana, a enterrar qualquer medida favorável ao euro e à coesão europeia, cortando a notação dada ao país apoiado, como acontece agora com a Grécia. É de tal modo uma situação recorrente, que mais parece uma oportuna estratégia de destruição do projeto europeu, afectando o elo mais importante desse projecto, que é a confiança na moeda comum.

HSC

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A liquidez bancária e o BCE

Segundo os cálculos do Diário Económico, os bancos nacionais absorveram 13% das cedências de liquidez feitas pelo BCE aos bancos europeus, quando o peso de Portugal no PIB da Zona Euro era, no final de 2011, e de acordo com o Eurostat, de 1,8%.

Apesar do recurso ao BCE ser significativo, os nossos bancos estão, contudo, menos dependents do que os irlandeses. Estes, no final do mês passado, absorveram 26% do total das cedências de liquidez do BCE, quando a sua economia representa apenas 1,7% do total do PIB da Zona Euro.

Já os bancos espanhóis absorveram 37% da liquidez cedida pelo BCE com uma economia que pesa 11,4% no total do PIB dos países da Zona Euro.

Entre os bancos portugueses, e em termos absolutos, o BCP é a instituição mais exposta ao BCE, com 12,7 mil milhões de euros no final de 2011. Seguem-se a Caixa Geral de Depósitos com 9 mil milhões e o BES, com 9 mil milhões de euros.
Entre os maiores bancos portugueses, o BPI é o que, em termos absolutos, apresenta menor exposição ao BCE, com 1,8 mil milhões de euros, no final do ano passado.

O leilão do BCE de amanhã, tão desejado pelo sector bancário europeu, pode ter algum efeito no financiamento à economia. No entanto, a dimensão será reduzida, porque os bancos irão destinar a maior parte desses fundos a refinanciar a dívida.

Até 2013, CGD, BCP, BES, BPI, Montepio Geral, Santander Totta e Banif têm, de acordo com os dados da Bloomberg perto de 25 mil milhões de euros de dívida que vence e que há que refinanciar.

HSC

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Maria Adelaide, senhor doutor


1912-2012

"Era na Segunda Guerra, de noite, num hospital de campanha. Um jovem médico acudia aos gritos dos feridos, aos chamamentos, tratava, corria, desesperava.. Ao lado, uma enfermeira serena ajudava, assistia, multiplicava-se. Quando a hora de maior desassossego parecia estar a passar, o médico perguntou:

- Como é que se chama?

Enquanto limpava as mãos ao avental ensanguentado, respondeu:

- Maria Adelaide, senhor doutor.

- Não me chame doutor, que sou só estudante de medicina.

O jovem quase médico era Nicolau van Uden. A enfermeira era Maria Adelaide de Bragança, infanta de Portugal.

O resto da história é conhecido, ou talvez não, porque este país tem o estranho hábito de não ter memória. E ainda menos parece tê-la de quem é avesso às vaidades do mundo e faz da abnegação e da generosidade um discreto percurso de vida. .

Hoje, quis Deus chamá-la à Sua glória.

Para o Sebastião, um abraço sentido. Para a restante Família, as minhas respeitosas condolências."


(postado por Ivone Costa em Delitodeopiniao.blogs.sapo.pt)

Belo e sentido texto. Puríssimo. Se fosse alguém das telenovelas, decerto que as televisões e os jornais teriam feito grande espalhafato.
De facto, o mais difícil, neste país, não é a crise económica ou a financeira. O mais difícil é a crise de valores!

HSC

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Também Alegre?!


"Não tenho vocação de polícia, mas as infelicidades estão a ser muito exploradas por gente ligada ao Governo", referiu Manuel Alegre, sublinhando que recusa aderir ao "desporto de tiro ao Cavaco".

O ex-candidato referia-se, é evidente, não só às declarações de Cavaco sobre as suas reformas, como ao ainda recente cancelamento de uma sua visita a uma escola onde decorria uma manifestação.

E, apesar de considerar que terão sido, de facto, declarações pouco felizes, entendeu afirmar que não se devia rebaixar o Presidente da República porque isso só coloca mal o país. Estou à vontade para dizer isto porque o defrontei", acrescentou.

O ex-candidato a Belém afirmou ainda que aquelas críticas não são apenas oriundas da esquerda. A direita também começou a fazê-las, a partir do momento em que Cavaco Silva surgiu publicamente a abordar assuntos "de sensibilidade social".

Para mim, o mais surpreendente é que, já antes, Marcelo Rebelo de Sousa tenha dito o mesmo, o que se percebe num futuro candidato que sabe que Durão Barroso se prepara para também o ser. Mas não serão demasiados “desinteressados” a dizer o mesmo?!

Hum! Cheira-me a gato escondido com o rabo de fora...

HSC

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

D. Manuel Falcão


"Sou ateu até à medula dos ossos – saí assim. Estou por isso em condições privilegiadas para dizer que hoje morreu alguém que mais se aproximou da ideia que faço de um santo: D. Manuel Falcão, Bispo Emérito de Beja.

Nunca me foi dado ver pessoa tão desprendida dos seus cuidados materiais. Embora pertencesse a uma família abastada, tinha que ser a irmã a mudar-lhe em segredo o guarda-roupa quando os fatos já se encontravam quase no fio. O automóvel de serviço, era ele, sempre que possível, quem o consertava em caso de avaria, dando uso à sua formação de engenheiro. O dinheiro de que dispunha, dissipava-o em pequenos auxílios discretos ou numa obra monumental, lenta e prudente: o levantamento, restauração e conservação do património histórico e artístico da diocese de Beja. Isto dito assim parece coisa institucional e maçadora, mas não era, porque estando entregue a José António Falcão (apesar do nome não tem qualquer laço familiar) tornou-se “apenas” um case study.

Foi em Janeiro de 1975 que Manuel Falcão recebeu o bispado de Beja. É difícil conceber cargo mais complicado, dada a hora e o local. Como ele o desempenhou, se quiserem saber, falem com pessoas de Beja, sobretudo comunistas, que elas vos dirão.

Manuel Falcão não era um homem efusivo e prazenteiro, mas era de trato cordial e sobretudo ponderado. Ou seja, procurava sempre salvar o pecador do seu pecado, em vez de brandir as penas do inferno, por maior que fosse o erro. Sei do que falo e com ele aprendi que o anti-clericalismo é insensato. Percebi também que ser ateu em paz e descanso, sem correr riscos de ver a cabeça separada dos ombros ou acabar com o corpo em chamas, é uma prerrogativa das sociedades cristãs contemporâneas. Bem sei que isto contrasta com alguns preconceitos dominantes, mas é a vida…

Pelo Natal, Manuel Falcão entregava a cada um dos 79 sobrinhos-netos um envelope com €20. Dava-lhes também a responsabilidade de entregarem esse dinheiro à instituição de caridade ou beneficência que entendessem."


por José Navarro de Andrade in Delitodeopiniao.blogs.sapo.p
Este texto primoroso faz muito melhor do que eu seria capaz, o retrato de um grande homem da Igreja.
HSC

Portugueses de primeira

Hoje o Diário de Notícias traz, em primeira página, algo que eu já há bastante tempo suspeitava. Isto é, que no sector das empresas públicas de transportes, haveria benefícios que não seriam muito conhecidos. O que se segue, transcrição do essencial da notícia, é a prova disso.

"Carris, Metropolitano de Lisboa e STCP atribuem complementos de reforma para permitir que os ex-funcionários ganhem o mesmo que na sua última remuneração. Só a Carris paga estes complementos a mais de 4750 antigos trabalhadores.

Baixas pagas, remédios à borla, complementos de reforma, 30 dias de férias. Estas são algumas das regalias e benefícios ainda em vigor nos acordos de empresa no sector dos transportes.

O Governo, através da tutela, fez um levantamento destas e de outras situações, tendo chegado a conclusões como a existência de trabalhadores de baixa que recebem como se estivessem ao serviço, assistência medicamentosa paga por inteiro ou viagens gratuitas para os funcionários da CP, incluindo reformados e familiares.

Só na Refer o custo com estas viagens ascende a quatro milhões de euros/ano. Está tudo num documento interno divulgado no dia em que os maquinistas da CP voltam a entrar em greve e em que os trabalhadores do metro de Lisboa param, alegando incumprimento do acordo de empresa no que respeita às horas extraordinárias.

Só que o hábito é falar da banca, em particular o Banco de Portugal... e esquecer que são aquelas empresas, com aqueles benefícios e mais alguns outros que ali não estão discriminados que, ao entrarem em greve, paralisam todo o país!

Claro que houve responsáveis por este tipo de acontecimentos. Mas, sabe-se lá porquê, ninguém fala do assunto. Memória curta, ou conveniência do momento?!

HSC