quarta-feira, 1 de março de 2023

Não me abandones agora...

 


- Não me abandones agora. Deixa-me ficar nos teus braços mais uns minutos. Aperta-me como antes, quando tínhamos desaseis anos.

- Mas nós não temos mais desaseis anos, Bárbara. Temos cinquenta e muita coisa passou por nós. Já não somos as mesmas pessoas que então éramos.

- Não é verdade, Tiago. Nós somos os mesmos. O mundo que nos rodeia é que é diferente. O teu coração, que eu ouço, bate como sempre bateu. Os teus braços envolvem-me do mesmo modo e os teus beijos têm o mesmo sabor da adolescência. Será que não sentes a mesma onda de calor que eu, nesta praia onde há tantos anos nos amávamos, neste céu que continua a nos envolver do mesmo modo?

Fica comigo, Tiago, nem que seja apenas por uma noite. Eu quero ficar contigo, relembrar outro tempo, que foi só nosso.

- O tempo que temos já não é mais nosso. O "nosso" é um possessivo que foi verdadeiro. Não é mais. Também a mim me sabia bem recordar a nossa história, descobrir em nós a rapariga e o rapaz que já fomos. Mas para quê?

- Fica comigo, Tiago. Só esta noite. Para que tenhamos uma lembrança viva, atual, do que ainda somos um para o outro.

- Não sei, Bárbara, se "ainda" é um termo que se aplique a nós...

- Se não ficares, Tiago, nunca saberás.

A noite ia longa naquela praia que foi, durante anos, o leito de amor dos dois adolescentes que ambos haviam sido. E onde acabaram por ficar, um no outro, aquela madrugada. 

Levantaram-se e caminharam mãos nas mãos à borda de água. Depois pararam, beijaram-se com sofreguidão e cada um caminhou para o seu carro. Para seguir a sua vida. Mas ambos tinham, agora, uma lembrança mais fresca, intensa, gostosa, um do outro. O que iriam fazer dela, no futuro, seria o segredo de cada um!

 HSC