- Não me abandones agora. Deixa-me ficar nos teus braços mais uns minutos. Aperta-me como antes, quando tínhamos desaseis anos.
- Mas nós não temos
mais desaseis anos, Bárbara. Temos cinquenta e muita coisa passou por nós. Já
não somos as mesmas pessoas que então éramos.
- Não é verdade,
Tiago. Nós somos os mesmos. O mundo que nos rodeia é que é diferente. O teu
coração, que eu ouço, bate como sempre bateu. Os teus braços envolvem-me do
mesmo modo e os teus beijos têm o mesmo sabor da adolescência. Será que não
sentes a mesma onda de calor que eu, nesta praia onde há tantos anos nos
amávamos, neste céu que continua a nos envolver do mesmo modo?
Fica comigo, Tiago,
nem que seja apenas por uma noite. Eu quero ficar contigo, relembrar outro
tempo, que foi só nosso.
- O tempo que temos já
não é mais nosso. O "nosso" é um possessivo que foi verdadeiro. Não é
mais. Também a mim me sabia bem recordar a nossa história, descobrir em nós a
rapariga e o rapaz que já fomos. Mas para quê?
- Fica comigo, Tiago.
Só esta noite. Para que tenhamos uma lembrança viva, atual, do que ainda somos
um para o outro.
- Não sei, Bárbara, se
"ainda" é um termo que se aplique a nós...
- Se não ficares,
Tiago, nunca saberás.
A noite ia longa
naquela praia que foi, durante anos, o leito de amor dos dois adolescentes que
ambos haviam sido. E onde acabaram por ficar, um no outro, aquela
madrugada.
Levantaram-se e
caminharam mãos nas mãos à borda de água. Depois pararam, beijaram-se com
sofreguidão e cada um caminhou para o seu carro. Para seguir a sua vida. Mas
ambos tinham, agora, uma lembrança mais fresca, intensa, gostosa, um do outro.
O que iriam fazer dela, no futuro, seria o segredo de cada um!