quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

O Ministro e os pópós


“Hoje é muito evidente que quem comprar um carro diesel muito provavelmente daqui a quatro ou cinco anos não vai ter grande valor na sua troca”. O alerta é de João Pedro Matos Fernandes, o ministro do Ambiente, em entrevista publicada esta segunda-feira pelo Jornal de Negócios. O responsável avisa que “os condomínios e as casas têm de se preparar para ter na garagem, como quem tem uma torneira de água, um posto de carregamento”.

Com o achismo opinativo que grassa por esta terra, a velha rábula de que o silêncio é de ouro e a palavra é de prata, deixou de corresponder à realidade. Todos "achamos" sempre qualquer coisa, sobre qualquer assunto, mesmo que nada saibamos do mesmo.
Foi o que aconteceu ao Ministro do Ambiente que "achou" que o futuro do sector automobilístico seria aquele que ele previa. Esquecendo, é evidente, que ninguém pede a opinião pessoal de um ministro e que, quando ele a dá, a mesma é tomada como posição do governo. Claro que lhe caiu todo o mundo em cima e há dois dias que se não fala de outra coisa.
Julgo que ainda terei muita dificuldade em me privar do meu carrito a gasolina, com medo de ficar empanada no meio duma estrada, porque o bólide eléctrico ficou sem bateria. 
E, como vou ter de comprar um novo - o meu tem 12 anos, embora esteja um mimo -, ando a pensar nas palavras do Dr Matos Fernandes... como, aliás, metade do país. 
Aqui está a prova de que o silêncio ainda pode valer ouro e que se o governante não tivesse falado, eu já tinha trocado de carro...

HSC

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Era uma vez...


Era um dia de calor, em Junho, quando recebi um telefonema de uma senhora dizendo-me que o Dr Rangel me pedia que passasse pelo seu escritório. Não conhecia ninguém com esse nome e não consegui arrancar da secretária qualquer indicação sobre a razão de tal convocatória. Um pouco duvidosa lá marquei um dia.
Como não me sentia muito segura, tratei de saber quem seria a pessoa e de que se ocupava. Afinal, percebi que era alguém que conhecia mal, da Radio e que só não identifiquei de imediato porque estava, como acontece a muito boa gente, longe do meio radialista.
No dia da reunião lá confirmei as  minhas parcas informações. Sedutor, rápido e firme disse-me que gostaria que eu fosse a autora e a imagem de um programa televisivo. Na altura, o convite deu-me um ataque de riso.
Com efeito eu só fizera televisão com a Teresa Guilherme, que confiando nas minhas capacidades, mas sem me conhecer, me entregara um espaço de comentário no seu Chá das Cinco - julgo que era assim que se chamava - que não tinha corrido mal, mas me não habilitava a mais do que isso. Respondi que não, nem pensar! Mas, perante a insistência, entendi que se pedisse caro, o assunto ficaria resolvido. E ficou. Com surpresa minha, as condições foram aceites. 
O programa "Segredos" iria, assim, para o ar a 11 de Outubro, ou seja, cinco dias depois de abrir a primeira estação televisiva privada em Portugal. Começaria aí uma carreira na área da comunicação que, até hoje, nunca mais parou. E foi à Sic que fiquei para sempre ligada até ao dia em que de lá saí, de forma um pouco deselegante e com um grau de mágoa que, até hoje, não esqueci. Nunca mais, desde então, pisei a estação. Foi com Daniel Oliveira, de quem gosto muito, que quebrei, por uma única vez, essa posição, aceitando ir ao Alta Definição.
Quando ontem assisti ao fechar das portas em Carnaxide - onde até tenho uma arvore plantada - senti uma espécie de aperto no coração. Ficavam ali algumas das minhas melhores recordações. Das pessoas e do ambiente.
Tenho grande admiração pelo patrão Francisco Balsemão que soube arriscar, muita saudade dos defeitos e qualidades de Rangel, que aprendi a conhecer e a certeza de que a Sic de Daniel Oliveira é um projecto bem diferente daquele que temos tido até aqui e que tem tudo para vencer nessa "guerra de audiências", que todos criticamos mas acabamos por aceitar! 

HSC

domingo, 27 de janeiro de 2019

O valor da amizade

Aqueles que me lêem sabem que os dois grandes pilares da minha vida são os amigos e a família. Não porque sejam perfeitos, mas porque é do seu oxigénio que me alimento. Depois vem o trabalho, o sonho - sim ainda tenho sonhos - e o silêncio. Dito isto só não faço por eles o que não sei ou não posso. 
Na sexta feira fazia anos uma das minhas maiores amigas. Andamos sempre quatro, neste grupo "da vida airada", como nós nos chamamos e, embora eu estivesse um pouco adoentada com este frio que irrompe sob um sol radioso, não podia deixar de estar presente no jantar que reunia os seus 27 amigos mais íntimos. Lá fui.
A Golden - como a chamamos -, tinha reservado o segundo andar do IBO, um restaurante do qual gosto muito, porque se come bem, se vê o rio e me lembra Moçambique, essa terra que me fez "sentir" África.
A primeira surpresa foi ver uma boa parte dos gestores que conheço da televisão e da vida de economista, estarem ali como se estivessem em casa. Tanto, que foram os veículos da poesia lida a meio do jantar. E ouvimos desde poemas de Régio até aos versos de autor!
A segunda surpresa foi a qualidade do que comemos e bebemos, sem deixar de referir que até o bolo de aniversário era excelente. E tudo no meio de enormes risotas pelas piadas que davam à aniversariante, com especial referência ao Pedro Rebelo de Sousa que nessa noite estava "implacável".
Por fim, a terceira surpresa, essa anunciada no momento, era um professor de Tai Chi que nos iria ensinar alguns golpes. Aí começou a agitação, vendo-se cada um retratado em posições que pudessem ser aproveitadas pelos telemóveis mais competentes. Quando a agitação acalmou viemos, de facto, para a rua não para uma aula, mas para lançarmos balões brancos que levavam um pequena chama de led e que ao subirem muito alto, faziam um céu todo estrelado por cima das nossas cabeças. Um espectáculo lindo!
A nossa Golden fazia 66 anos, uma capicua que só se repete aos 77. Se eu ainda cá andar, espero poder lançar os meus balões e desejar-lhe que viva mais onze para festejarmos os seus 88. 
Bem hajas, Esmeralda, por me incluires neste teu grupo, sem ter passado pelo City Bank, que esteve na origem de muitas destas tuas perenes amizades!

HSC

sábado, 19 de janeiro de 2019

Privilégios da idade...

Moro num ultimo andar que, por isso mesmo, sofre com mais facilidade das oscilações do tempo. Acresce que o arquiteto que desenhou a casa, devia ter a fobia das janelas, já que quase não tenho paredes, o que, como se calcula, só acentua aquela característica.
Assim, no inverno não me apetece sair e aproveito o fim de semana para fazer tudo o que está por fazer. Mas com o frio imenso que temos apanhado, este sábado olhei para o monte de papeis e para o comprimento da lista dos pendentes e, "feita cega", sentei-me no meu quarto a ler e ouvir música, que é algo que me enche de prazer. Cheguei, mesmo, a recusar o convite filial para ir ao cinema - o que raramente faço porque o tempo de que ele dispõe para mim é, agora, muito pouco - e mandei às urtigas as obrigações para ficar como um lagarto, enrolada no meu canto.
Trata-se, de facto, de um privilégio da idade, poder dar-me ao luxo de passar um fim de semana sem fazer coisa nenhuma. E, confesso, sorri para dentro, ao lembrar-me dos heróicos fins de semana, a cozinhar para receber toda a familia. É que, depois desse lado muito agradável do convívio, ficavam uma cozinha e uma casa de jantar em pé de guerra, e apenas eu para as arrumar. À época, a célebre divisão do trabalho doméstico era, apenas, uma frase para certos intelectuais aproveitarem o sentimento de culpa das mulheres com vida profissional, para não fazerem qualquer esforço no sentido de partilharem tarefas. Por isso, agora, ao escrever estas linhas, ainda sorrio com a liberdade de que, no momento, disponho, com filhos e netos já criados. Faz sempre bem ver o lado positivo das situações. Ou, como diz o nosso povo, " ver o copo meio cheio"!

HSC

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

O que falta roubar?

Como se sabe há ocasiões em que a desgraça quase dá vontade de rir. Acontece com todos nós. Uma pessoa cai na rua e fica numa posição fora do comum e aqueles que assistem, ajudam, mas muitas vezes a rir com o caricato da situação. 
Ora parece que é o que está a acontecer ao país. Roubam-se armas em Tancos, pistolas Glock na policia e agora até equipamento médico num hospital. Mas o que é que se passa na terrinha, em matéria de segurança? Como é que se consegue levar de um hospital equipamento destinado a exames de estômago e intestinos - quem já os fez sabe como são -, sem a cumplicidade de alguém que pertença à instituição alvo do furto? Confesso que tenho alguma dificuldade em imaginar a saída de material deste tipo, sem que ninguém desse por isso, já que não são propriamente caixas de cartão.
Julgo que estas situações se estão a repetir vezes demais e que se impõe que as autoridades competentes ajam com a "urgente competência" que tais casos impõem. A menos que queiramos interrogarmo-nos sobre o que falta roubar. Nem me atrevo a falar nisso, não vá ser acusada de dar sugestões...

HSC

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Bohemian Rhapsody


Tem estado um Janeiro pleno de dias solarengos e temperaturas baixíssimas. Esta conjugação provoca em mim uma certa letargia. Nuns momentos apetece-me gozar o sol, noutros anichar-me no meu canto e ler a ouvir música. 
A semana que passou foi complicada porque perdi uma amiga que morreu e podia estar viva, se não se isolasse tanto, e foi submetido a uma intervenção cirúrgica um amigo por quem tenho muito apreço. Assim, o fim de semana anunciava-se cinzento e eu cortei o mal pela raiz, escolhendo um restaurante dos muitos que pululam no ultimo andar do Corte Inglês, que me serviu uma péssima refeição. Mas o erro foi meu que o escolhi contra a opinião de alguém que me sugeria que fossemos a outro.
No entanto, depois fui compensada com Bohemian Rhapsody o belíssimo filme que vi sobre a vida de Freddie Mercury, um cantor, pianista e compositor de quem sempre fui fã e de quem tenho quase todos os discos. 
É a história de uma vida especial e que fala de afectos também especiais. É, por isso, muito mais do que um documentário. É o encontro e o desencontro que atinge muitos de nós. Mas, neste caso, com a agravante de se tratar de um artista. Que praticamente só se aceita como é, quando o tempo de vida já lhe é muito escasso.
Não é uma película para toda a gente. É para ser vista por pessoas que gostem de rock e não tenham preconceitos de nenhuma natureza. Para esses, são duas horas que fazem pensar em como todos somos diversos e como essa diversidade pode ser uma das nossas maiores riquezas.
Para mim foi importante tê-lo visto, porque apesar de saber alguma coisa sobre a história pessoal do artista, verifiquei que afinal sabia muito pouco.
Por fim, uma palavra para o actor, Rami Malek - para mim desconhecido -, que encarna o protagonista. A sua interpretação é tão boa que dificilmente se encontraria quem fizesse melhor. O seu trabalho tem sido muito elogiado. 
O filme recebeu o prémio para o melhor filme de 2018 nos Globos de Ouro e tem sete nomeações para os Bafta 2019. A critica especializada tem sido bastante dura. Todavia, a opinião do espectador é bem diferente, como se vê por estas linhas. A não perder, antes que se vá embora, porque já está há bastante tempo em cartaz.

HSC

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Dias felizes


                        

Foi no Petit Vingtième - jornal católico belga - que Tintin se estreou, a 10 de Janeiro de 1929. Uma certa esquerda nunca lhe perdoou a sua viagem pelos sovietes e o seu anti-comunismo. Como se isso fosse defeito...
Teria hoje 90 anos, uma bela idade. Curiosamente, parece que o tempo não passa por ele. Continua com o mesmo aspecto enérgico e defensor dos pobres e desprotegidos. Mas tão actual que, quer eu, quer o meu filho e os meus netos continuamos a lê-lo com idêntico prazer, o que pode considerar- se um verdadeiro um espanto, de tão contemporâneo que é. A jovialidade que o caracteriza constitui, também, uma arte de associação que infelizmente se perdeu.
Estes livros acompanharam-me a vida inteira. E muitas vezes, posso garantir-vos, terão transformado dias pesados, nalgumas horas bem felizes!

HSC

sábado, 5 de janeiro de 2019

Altíssima Definição


Acabei de ouvir o programa Alta Definição, do Daniel Oliveira, cuja entrevistada foi Cristina Ferreira. Como declaração prévia, devo esclarecer que admiro ambos. Já aqui, uma vez, o disse. Mas isso não me impede de criticar o que entenda ser menos bom. Não foi, felizmente, até agora, o caso.
Daniel tem um raríssimo condão para "tirar" das pessoas, quase em silêncio, o que elas têm de melhor. Com efeito, ele questiona um mínimo, para dar largas e brilho ao seu entrevistado. Sei do que falo, porque já fui ao seu programa e considero que essa foi uma das cinco melhores entrevistas que me fizeram. Alem dele, Pedro Rolo Duarte, Manuel Luis Goucha, Cristina Ferreira e Fátima Lopes são as restantes a que me refiro. A todos devo um muito obrigada pelo profissionalismo e pelo afecto demonstrados.
Daniel é, para mim, um caso muito especial, porque quando a entrevista ia para o ar, o Miguel acabara de falecer e ele teve a extrema delicadeza de me perguntar se eu queria ou não que ela fosse emitida. Quis, mas jamais esquecerei esse gesto. O que nele pressenti, indiciava que a sua vida pessoal iria ser o suporte essencial do sucesso da sua vida profissional. Julgo não me ter enganado. Ele irá fazer da SIC uma nova estação televisiva.
Cristina Ferreira que, na segunda feira, iniciará o seu novo programa, mostrou-nos hoje no Alta Definição quem é aquela mulher que eu conheci no Porto há já alguns anos . Ela não se lembrará certamente desse encontro. Mas eu registei-o e nas breves palavras que trocámos, tive a noção de que estava ali alguém com potencial para ser melhor aproveitado.
Ao longo dos anos que foram passando tivemos vários contactos na promoção dos meus livros e nessa altura ela já tinha uma posição na televisão. Já era admirada e também criticada. Pertenço ao grupo de quem sempre admirou a dupla Manel/Cristina, um caso pouco comum na tv portuguesa. 
Mas também confesso ter, a partir de certa altura, pressentido que ela não poderia durar eternamente, já que o meu amigo Manuel, em televisão fizera tudo o que queria e a juventude de Cristina  teria ainda, certamente, sonhos por realizar. É que a vida, neste aspecto e nesta área, é mais cruel para as mulheres do que para os homens. E ai daquelas que o não percebam!
Com efeito, face à tendência crescente de, no entretenimento se recorrer, cada vez mais, às jovens no ecrã, os próximos 10 anos seriam decisivos para Cristina.E ela percebeu-o.
Não sei nada do que se passou na transferência entre canais. Nem quero saber. Sou amiga e admiradora dos três e quero manter-me como tal.
Voltando à entrevista - como sempre muito boa -, Cristina explicou bem quem é e quem pretende continuar, genuinamente, a ser. Não teve tabus em falar do que devia falar, não fez teatro para explicar a sua mudança, como muitos detractores estariam à espera que fizesse e mostrou bem a sua força, sem esconder as suas fragilidades.
Gostei muito de a ver e de a ouvir. Se vou gostar do programa ou não, só daqui a uns dias poderei saber. Para já, como admiradora dela e do Daniel, só lhes posso desejar muito sucesso.
E ao meu querido Manuel Luis desejar que se bata pelo seu programa, como sempre faz com tudo o que é importante na sua vida.

HSC

Os Stylos Rouges



Os professores em França, inspirados nos chamados Gilets Jaunes resolveram criar no Facebook um movimento denominado Stylos Rouges que já conta com 46000 adesões e cujo objectivo é, entre outros, a melhoria salarial da profissão.
Contrariamente aos sindicatos que não estão presentes em todos os estabelecimentos escolares, as redes sociais permitem discutir em directo, com a vantagem de agrupar privado e publico, escolas e colégios, mas também os principais conselheiros de educação.
Não descartando a ação salarial, este movimento pretende criar um caminho paralelo que impulsione os objectivos pretendidos dado que nem toda a classe se encontra sindicalizada.

Movimentos desta natureza retiram, como é evidente, força aos sindicatos. E, acredito, terão nascido pelas medidas, muitas vezes demasiado agressivas, que estes últimos preconizam.
Se este tipo de actuação política, que parece acentuar-se, pega, os sindicatos podem ter que ser forçados a rever muitos dos seus métodos e políticas. Não há dúvida que as redes sociais vieram, sob muitos aspectos, mudar radicalmente a nossa forma de viver...e o equilíbrio de forças vigentes!

HSC