quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Carta a 2021

 MEU CARO 2021         

Estou já a caminho de te deixar. Já só faltam umas sete horas para chegar ao meu novo lar situado em 2021. Despeço-me de ti, como me despedi de outros, sem grande desgosto porque, por mais de uma vez pretendeste que eu partisse mais cedo, Duas operações ao coração e duas quedas que podiam ter sido fatais e que só por milagre de Deus não cumpriam o teu desígnio.

Levaste-me amigos chegados, desafiaste a minha persistência, mas não conseguiste que eu rompesse os meus compromissos nem de trabalho nem de amizade.  Foi duro e tu sabes o que eu passei.

Só queria que em troca de tudo isto me devolvesses os beijos e os abraços que não dei, as gargalhadas que não compartilhei, a brisa no rosto que não senti, aquela mão que não entrelaçou a minha, enfim, até o livre sorriso dos desconhecidos.

Já agora não te esqueças também, de me devolver os jantares com os amigos em que tudo era discutido e sempre com as vozes de quem tinha opinião própria, os concertos a que íamos juntos e nunca mais tivemos, enfim, a felicidade que tínhamos e nem sempre sabíamos que existia.

Eu sei que naquilo que nos espera, algo mudou para sempre e aí pouco ou nada poderás fazer. O mundo continuará perigoso, mas talvez estejamos mais preparados para o enfrentar, se os pedidos que te fiz acima nos pudessem ser devolvidos. Sobretudo o abraço, porque foi sobre ele que toda a nossa civilização se fundou.

 

HSC

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

2021

Que dentro do possível e no enquadramento em que nos encontramos, desejo que o novo ano, nos traga saude e paz. Do meu ponto de vista é aquilo de que mais precisamos neste momento!

HSC 

domingo, 27 de dezembro de 2020

Tens 80 anos? Estás arrumado...

Tenho, como todos nós, acompanhado as dferentes versões sobre o plano de vacinações. Primeiro os velhos eram os últimos a levar a vacina contra o Covid. Depois a decisão deu grande celeuma e o governo veio corrigir e dizer que os velhinhos, como os médicos, enfermeiros e pessoal ligado ao tratamento da doença seriam os primeiros a receber a vacina, nomeadamente os idosos com problemas de saude.

Agora acabo de saber que, ao contrario de outros países, quem tenha 80 anos viveu tempo demais e só receberá prioritariamente a vacina se tiver uma doença das consideradas vitais. Ou seja, assim com este diferimento dos octogenários, sempre se poupam umas vacinas. É que no tempo de espera pode, eventualmente, haver "a sorte" do cidadão saudável, apanhar uma carraspana e ir desta para a melhor... sem se gastar a vacinazinha. 

Em termos económicos é fácil perceber. Sendo o medicamento um bem escasso é preciso evitar desperdiça-lo. Assim o critério inicial foi corrigido e os de oitenta vão para outra fila. Creio bem que poderá ser a fila de espera não de uma operação mas de uma vacina que já não chegará. 

Ah! grandes mentes estas dos nosso dirigentes. Vejam lá se têm uma avozinha ou um avozinho de 80 anos e expliquem-lhes porque é que eles foram, hoje, democraticamente excluídos. Parabéns ao mentor deste critério...

HSC

sábado, 26 de dezembro de 2020

DIZER ADEUS!

Dentro de uma semana estaremos a dizer adeus a 2020, que não creio que deixe muitas saudades. Talvez por isso lembrei-me do que para mim representa dizer adeus. Disse-o já, de forma definitiva, a bastante gente que partiu  deste mundo para outro melhor. Já disse adeus a pessoas que embora continuando vivas, partiram para países longínquos dos quais dificilmente voltariam, porque o seu desejo era não mais voltar.

E disse adeus a pessoas  que embora fizessem quase parte de mim, eu tive que afastar do meu mundo porque eram personagens tóxicas ou porque sentia que, para continuar a existir, teria que as afastar da minha vida. É o adeus que talvez mais doa, porque quando despedimos este tipo de gente estamos também a despedir-nos de um bocado de nós, às vezes bem importante e que nos irá, possivelmente, no futuro, fazer muita falta.

Neste ultimo caso as lágrimas que choramos são pela toxicidade de quem nos despedimos, mas por nós próprios, que choramos a perda de algo ou alguém, que sentimos ainda nos fazer falta. Nesta situação a única solução é não termos pena de nós e  acreditarmos que a importancia dos outros só existe porque nós a concedemos indevidamente. E, nesse caso, é lutar dia a dia , minuto a minuto, para que aquele adeus seja definitivo.

Disse, varias vezes, adeus. Nuns casos mais dolorosamente que noutros. Mas hoje, com a experiência de vida que tenho, nem a mágoa se justificaria. Apenas, a pena de poder ter acontecido. 

HSC

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

A tua Estrela brilhará sobre nós

 A tua Estrela finalmente brilhará sobre os nossos dias insolúveis, entre penúria e sede.

Brilhará sobre o nosso coração blindado, sobre os invisíveis muros do egoísmo que nos isola, sobre os ávidos motivos que nos prendem ao seu comércio repetido e sonâmbulo.

Brilhará sobre as múltiplas formas de cegueira que defendemos acriticamente; sobre o peso insustentável das nossas omissões, sobre a paz e a justiça que permanecem para nós uma missão sempre adiada.

Brilhará sobre as inúteis razões que acumulamos para mascarar o medo, que nos torna sempre mais indisponíveis à viagem que Tu nos sugeres.

A tua Estrela brilhará sobre a austeridade que impomos à circulação dos afetos; sobre a dança interrompida e as mãos silenciadas, sobre o silêncio mastigado em solidão apesar do previsível incremento de presentes e de desculpas; sobre a incapacidade de transformar os nossos passos erráticos e afadigados numa confiante marcha de peregrinos.

A tua Estrela brilhará sobre os caminhos que tantas vezes percorremos sem conduzir a lado nenhum; sobre esta aliança hesitante, ainda que assídua; sobre a imperfeição das promessas que acendemos; sobre o nosso olhar demasiadas vezes se rompe do lado de cá; sobre a incompletude da oração e sobre a fragilidade do dom.

A tua Estrela brilhará sobre nós.

 

 Card. José Tolentino Mendonça 

 

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Beditos sejam...

É com esta oração que vos desejo um caloroso Natal e que apreciem quanto era bom termos os nossos familiares à nossa volta e com eles poder partilhar o calor da união.

"Benditos sejam os que chegam à nossa vida em silêncio, com passos leves para não acordar nossas dores, não despertar nossos fantasmas, não ressuscitar nossos medos.

Benditos sejam os que se dirigem a nós com leveza, com gentileza, falando o idioma da paz para não assustar nossa alma.

Benditos sejam os que tocam o nosso coração com carinho, nos olham com respeito e nos aceitam inteiros com todos os erros e imperfeições.

Benditos sejam os que podendo ser qualquer coisa em nossa vida, escolhem ser doação.

Benditos sejam esses seres iluminados que nos chegam como anjo, como flor ou passarinho, que dão asas aos nossos sonhos e tendo a liberdade de ir, escolhem ficar e ser ninho.”

Bendito sejam os Amigos!

HSC

Catorze anos

Este blog vai fazer 14 anos de existência, Lembro-me bem da noite em que o comecei, sem perceber rigorosamente nada de net. Um amigo deu-me uma ajuda nessa ocasião, depois tive dificuldades sucessivas e perdi vários textos. A certa altura resolvi fechar-me no escritório e treinar. Consegui. Ainda cometo erros, sobretudo quando o blogger decide fazer alterações, mas na generalidade sei o indispensável para ter aberto cinco blogues, aos quais um dia he~de voltar, dado que um deles era de prosa poética e eu gosto cada vez mais de poesia.

Esta revelação merece-me algum respeito porque durante muito tempo só escrevi aqui e fi-lo a ritmo quase diário. Depois passei a escrever também no Delito de Opinião, um excelente blog colectivo do qual saí, porque se falava muito de política e o facto de ter familia nessa "profissão" espartilhava um pouco a minha liberdade.

Quando, finalmente, tive oportunidade de opininar   - com a saida dos filhos dela -, foi a ocasião de eu escrever livremente sobre este divertido assunto. Abri conta e fui para o twitter expressar o que "eu"penso deste género de questões. E tem sido mesmo divertido ver a reação dos outros aos assuntos que me merecem atenção. Em menos de um ano ganhei perto de 6000 seguidores... 

O que me leva a pensar que, se um dia me tivesse passado pela cabeça, rmeter-me em tais meandros, era capaz de vir a ter algum sucesso. Só que felizmente sou dotada de uma razoável dose de bom senso.

Mas não queria deixar de agradecer aos meus leitores a sua dedicação, porque foi ela que permitiu que aqui permanecesse quase década e meia. A todos o meu obrigada1

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

CF

Ao contrário de outros percebo muito bem porque é que a Cristina Ferreira decidiu escrever este seu ultimo livro.  É que "quem não se sente não é filho de boa gente".

HSC

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Uma porta aberta...


Sou uma admiradora fidelíssima do Prof Sobrinho Simões. Tanto que tive a ousadia de, um dia, lhe pedir para apresentar um livro meu. Foi e continua a ser uma das pessoas que mais me marcaram pela humanidade e franqueza com que sempre fala. Para além disto, os temas que aborda remetem-me com frequência para aqueles que também ocupam o Prof. Antonio Damásio. Ambos se dão conta de um facto, poventura inexplicável, que o saber e o sentir estão intimamente ligados. 

Sempre tive consciência, desde bastante nova, de que havia uma inteligência emocional que ditava alguns dos meus actos. Anos mais tarde o chamado QE viria completar o nosso já conhecido QI tão usado para distinguir os mais e os menos inteligentes.

Com a idade e as pesquisas que foram sendo levadas a efeito percebi que ser apenas muito inteligente não chegava. Era também preciso ter uma certa dose de emoção para que as decisões que tomássemos fossem as melhores.

Nesta entrevista, o Prof. Sobrinho Simões fala-nos de aspectos que, no futuro, devem preocupar-nos e salienta que apesar de todas as criticas justas que aqui ou ali se lhe possam fazer, o SNS português aguentou, até agora, com a pandemia. No entanto, perpassa por ele uma certa tristeza. Os seus pacientes de cancro diminuíram, o que o levou a virar as suas pesquisas para este vírus, analisando as tiróides de pessoas que haviam morrido com Covid.

A sua grande preocupação neste momento é a geração do futuro, nomeadamente a que se refere à dos netos, que ninguém sabe como resultará depois de passar por esta experiência. Finalmente, também não  deixa de sentir uma certa pena, por estar a estudar questões de cujos resultados não poderá infelizmente vir a servir-se.

Não é uma entrevista triste. É uma confissão algo amarga de quem já não estará cá para poder assistir ao futuro, que prevê, possa ainda trazer-nos muitas surpresas que a ciência, pese embora o seu avanço,  continuará a não saber dar resposta.

Nao sei se o Professor tem alguma religião. Nem isso, possivelmente no seu caso, teria grande importância. Mas que ele deixa uma porta aberta ao inexplicável, isso deixa. Para mim será uma força que nos ultrapassa e a que chamo Deus. Para os outros, não sei.

HSC

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

AMIZADE

 É sentir o carinho

 É ouvir o chamado

 É saber o momento

 de ficar calado

 Amizade é somar alegrias,

 dividir tristezas.

 É respeitar o espaço

 silenciar o segredo.

 É a certeza

 da mão estendida.

 A cumplicidade que

 não se explica,

 apenas se vive.

(Anónimo)

Um bom amigo mandou-me hoje estes versos, para me alegrar da tristeza de ter um próximo bastante mal e para me lembrar que a amizade existe e está aqui muito bem descrita. Tenho a sorte de ter bons amigos, ombros e mãos fortes para que eu nunca sinta sozinha. Salvo uma vez na nha vida, nunca me senti só. Felizmente tenho uma familia que se preocupa comigo e com quem eu me preocupo. Mas com quem também rio com vontade. Quando os namoros da segunda geração começaram a pergunta tradicional é sempre "e de alegria ele/ela percebe alguma coisa?"

HSC

E o que aprendemos?!

Após tudo o que me aconteceu no ano de 2020, em que até um amigo que eu não via há trinta anos, surgiu das brumas, como se  nos tivéssemos despedido ontem, confesso estar convencida de que já nada mais me poderia surpreender. Isto digo eu que sou uma crente. Porque, na verdade, todos os dias me aparecem situações novas. Se elas surgem estando eu confinada há quase um ano, o que não me aconteceria se eu andasse na rua...

Ora foi justamente na rua que me dei conta de que já não havia uma série de locais por onde sempre passava e que, em simultâneo, havia surgido um lote de coisas novas que eu desconhecia completamente. 

Da primeira vez foi em Campo de Ourique onde tencionava abastecer- me de bordado inglês numa loja conhecida. Qual quê? Não só a loja já não se dedicava a este tipo de acessórios, como, quando entrei noutra da especialidade a rapariga que me atendeu não sabia o que era bordado inglês e me trouxe bordado de Viana do Castelo...

Resolvi, então, dar um passeio pelo bairro, que adoro e, foi através dessa bela caminhada, que me dei conta de como tinham mudado certas coisas, que muito possivelmente não teriam acontecido sem a pandemia. Aliás há muitas dessas alterações que já entraram no quotidiano, transformando, deste modo, a nossa forma de viver. Por exemplo: quem põe baton para colocar uma máscara por cima? quem põe sapatos de salto alto se está em regime de teletrabalho? quem muda de carro, se não sai diariamente? quem compra roupa nova se não precisa dela, por ter deixado de haver convívio social? quem compra joias se não tem a possibilidade de as exibir?

Algumas destas  questões voltarão a existir com o retorno ao normal. Mas outras - bastantes - entranharam-se já de tal maneira nos nossos hábitos, que terão vindo para ficar porque simplificam muito a nossa vida. E nem sequer falo da série de actividades que acabaram por surgir devido ao malvado virús. Um dia far-se-á um balanço sério do que passámos neste 2020. E quando isso acontecer estou convicta que houve uma pequena revolução positiva nos nossos hábitos de vida.

HSC

domingo, 13 de dezembro de 2020

Inverno ou inferno?

É preciso, urgentemente, aprender a rir, ao contrário do que diz a maior parte das pessoas  para quem, muito riso é sinal de pouco sizo. Há uns tempos, decidi ir com um grupo de seis "confinados" lanchar a Sintra. Foi um ímpeto meu, um grito de alerta, de quem estava fechada, sem caminhar, porque chovera uma série de dias seguidos.

 

Estas parcas saídas são, fundamentalmente, para nos rirmos uns com os outros. Das graças ou das desgraças, para desmontar a angustia vigente. Porém, desta vez foi diferente. Chegados a Seteais tivemos o primeiro óbice. O empregado teimava que só podiam sentar-se numa mesa cinco pessoas. Mas um dos elementos do grupo insistia que a ultima determinaçao do confinamento em vigor, apontava para seis pessoas. Bom, como dali não saiamos, resolvemos ficar 3 em cada mesa,

Lá encomendámos os ditos scones, mais os doces e as manteigas. Nessa altura eu pedi um chá Roubos. O empregado ficou a olhar para mim. Perguntei-lhe qual era o novo problema. Respondeu-me que não tinham esse chá. Eu fiquei convencida, que ele nem de nome o conhecia. Renovei a encomenda solicitando, então, um chá de hortelã-pimenta natural. Ou seja, feito com a planta e não com aquelas saquetas muito finas, mas de casto sabor. Disse-me que não tinha hortelã fresca. Aí perguntei se naquele jardim todo não havia uma dessas plantas para cortar. Disse que não sabia, mas que não podia cortar. Nessa altura deu-me uma enorme vontade de rir e pedi uma tesoura, perante o olhar esbugalhado do exemplar trabalhador. Vinda a dita desloquei-me a um cantinho do jasrdim, cortei uma ramada que tinha visto ao entrar e pedi-lhe que me fizesse o chá.

Entretanto os meus amigos já comidos - esta pequena querela demorou imenso tempo - acabaram por irem trocando de mesa para me fazerem companhia no lanche tardio. E, quando finalmente iamos sair, apareceu um senhor  algo aflito, a desculpar-se pelo incidente, pois só tinha sido informado, tardiamente, de que afinal se podiam sentar seis pessoas à mesa, desde que guardadas as devidas distâncias. Ao que eu respondi que, por norma, guardo sempre as devidas distâncias...mesmo sem confinamento!

Foi a gargalhada geral perante esta minha tirada teatral. À vinda, já bem alimentados, fui a vitima das mais distintas imitações da minha frase e não parámos de rir até Sintra onde insisti em trazer umas queijadas para alimentar as minhas proverbiais fomes nocturnas!

Definitivamente, inverno e confinamento, pode, como de vê virar um verdadeiro inferno, lá diria o Sartre, se tivesse passado por esta pandemia!

HSC

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Orar

Há uns dias, um amigo perguntou-me como é que eu rezava, nesta época das novas tecnologias. Fiquei surpreendida com a pergunta, confesso, porque nunca se me tinha posto a questão. Por isso lhe perguntei como é que lhe surgira a pergunta, Ele respondeu-me, com simplicidade, que tinha deixado de saber rezar, perante os avanços tecnológicos a que assistia.

Eu sorri, porque talvez devesse ter pensado no assunto Mas, também, à excepção do Padre Nosso, Avé Maria e Credo e poucas mais, todas as orações que rezo são minhas, fazem parte da minha relação com Deus ou, dito de maneira que todos possam entender, fazem parte da minha espiritualidade.

Grande parte delas está escrita num caderninho que anda sempre comigo - já tenho vários - e, às vezes pego num deles e rezo as que mais gosto ou que mais preciso naquela altura. Mas a pergunta básica que me estava, de facto, a ser feita era "o que é rezar?".

Woody Allen, com o seu característico sentido humor dizia " mais do que em qualquer outra época a humanidade está numa encruzilhada. Um caminho leva ao desespero absoluto. O outro, à total extinção. Vamos rezar para que tenhamos a sabedoria de saber escolher."

O termo latino recitāre chegou à nossa língua sob a designação de “rezar”. Esta acção consiste, para os linguistas, em comunicar com uma divindade através de orações religiosas e certos rituais. 

Por mais absurdo que pareça rezar é para a religião o mesmo que pensar é para a filosofia, dizia um filósofo conhecido Tinha razão. Quando eu oro, falo com Deus ou com a Virgem, consoante o meu estado de alma . 

Sou uma "mariologista" convicta e, por isso, são bastante frequentes as minhas converse com Maria. Todavia, cada um reza consoante a sua condição pessoal. Há os que o fazem repetindo as orações que conhecem e outros que ao falarem consigo estão, de facto, a falar com Deus.

Liga-se muito a religião a "pedir" ou a "agradecer" algo. A verdadeira religião comporta essas atitudes, mas está muito para além delas. A religião é uma escolha, uma forma de vida, um caminho. Quem opta por ela, sabe as responsabilidades que contrai!


HSC

sábado, 5 de dezembro de 2020

The Crown: a nova serie

 


Vi recentemente a nova série The Crown, num daqueles dias em que escrevi tanto, vi tantas contas da minha empresa, que cheguei ao fim do dia como se tivesse estado a carregar fardos.

Assim decidi descansar o corpo e a cabeça, sentada no maple do meu quarto que - agora tem tido ampla utilização - e ver a série. Até jantei no tabuleiro para não perder pitada!

Eram já altas horas quando terminei. E senti que estava irritada, coisa que nos ultimos anos me acontece muito pouco. Com efeito, e ao contrario da primeira série esta irritou-me porque quer o guião quer a realização eram eivados de um "ódio comezinho" contra a figura, aqui central, da senhora Tatcher.

Não fui, nem sou, uma fiel dessa Primeira Ministra que a Inglaterra teve. Mas apresenta-la como alguém que se impõe à rainha, porque no seu curriculum procedia de um pai merceeiro e o lugar atingido lhe permitia falar com Elisabeth no mesmo plano, não foi verdadeiro e apenas correspondeu talvez ao desejo do realizador defender o seu projecto de "luta" de classes.

Eu sei que quem faz uma obra põe nela o seu ponto de vista. É natural. O que não é natural é usar isso para distorcer a história e aliciar o publico para uma versão apócrifa.

A recreação da Diana não me convenceu. A verdadeira tinha e sabia usar um jogo de inocência e sensualidade que a actriz não conseguiu atingir.

Esta é a minha resumida impressão. Outros poderão ter visto ângulos diversos dos meus e até notado muito desta segunda série. Possivelmente é nesta dicotomia que reside o seu eventual sucesso ,,,


HSC


sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Quarenta anos depois...


Francisco Sá Carneiro desempenhou um papel histórico no actual regime: reconciliou a direita portuguesa com a democracia. Esta foi uma missão para a qual estava vocacionado, por uma espécie de sentido messiânico, e em que viria a ser bem sucedido nos dois últimos anos da sua vida, desenrolados de forma vertiginosa, numa desesperada corrida contra o tempo. O facto de ter rompido com o regime anterior ao 25 de Abril após uma fracassada tentativa de levá-lo por rumos reformistas, como viria a suceder em Espanha, conferia-lhe uma legitimidade que poucos tinham na sua área política, dados os compromissos estabelecidos com a ditadura.

O combate decisivo para a implantação da democracia no alucinado Verão quente de 1975, contra a esquerda revolucionária, fora liderado por Mário Soares, com quem Sá Carneiro sempre estabeleceu uma rivalidade que nunca viria a ser superada, apesar da cordialidade pública que exibiam. Desafiado nesta espécie de confronto íntimo com Soares, o fundador do PPD/PSD sentiu ainda mais pressa em entrar na História, o que viria a suceder. Tinha qualidades para o efeito, bem reveladas na sua singular trajectória de uma década no palco da política: visão estratégica, uma inegável capacidade de comunicação e aquele atributo tão indispensável quanto indefinível que à falta de melhor certos politólogos costumam chamar carisma.

Venceu incontáveis batalhas internas até construir um partido influente, com uma sólida base autárquica disputada quase câmara a câmara ao Partido Comunista. Teve razão desde o início ao defender a autonomia regional, o afastamento da tutela militar e o fim do virtual monopólio da economia pública no Portugal pós-25 de Abril. E superou o teste da governação, após duas maiorias conquistadas nas urnas, embora ninguém saiba até que ponto poderia vir a ser vítima dos próprios impulsos se o destino não o tivesse colocado na fatal rota de Camarate, faz agora precisamente 40 anos.

Não teve razão, com alguma frequência, quando deixava a emoção sobrepor-se à implacável lógica cartesiana. Foi, nomeadamente, o que sucedeu no seu desenfreado combate contra o Presidente Ramalho Eanes que lhe consumiu as energias nos últimos meses de vida. A derrota nas presidenciais de 1980, a que já não assistiu, confirmava que tinham razão aqueles que em vão procuraram dissuadi-lo de transformar o popular Chefe do Estado em adversário principal.

Foi admirado e odiado em partes iguais, o que é sina de quem nasceu para líder. Graças a ele, a democracia portuguesa não ficou amputada.  

Ficámos todos a dever-lhe isso."

Texto de Pedro Correia in Delito de Opinião


Admirei o homem e lamento a forma como o politico foi tratado pelo país. Só uma moralidade hipócrita pode levar-nos a aceitar algo de semelhante. Curiosamente Sá Carneiro foi fonte de inúmeras discussões políticas em minha casa, porque eu aceitava muito mal o estimulo que ele dava a um filho meu. A quarenta anos de vista a hipocrisia continua a mesma, mas os seus praticantes são outros, trajados de vestes ultra liberais!


HSC

A solidão de Isabel Allende

"Isabel Allende vive nos Estados Unidos há 30 anos e no momento está fechada em casa com o seu marido e dois cães. Quando lhe perguntaram sobre o principal medo que implica o vírus, "a morte", a escritora contou que desde que a sua filha Paula morreu, há 27 anos, perdeu o medo para sempre.
"Primeiro, porque a vi morrer nos meus braços, e percebi que a morte é como o nascimento, é uma transição, um limiar e perdi o medo pessoal.
Neste momento se apanhar o vírus pertenço ao grupo dos mais vulneráveis, tenho 77 anos e sei que se apanhar o vírus posso morrer, e essa possibilidade neste momento da minha vida apresenta-se muito clara, mas olho-a com curiosidade e sem medo.
O que esta pandemia me tem ensinado é a libertar-me de coisas, nunca foi tão claro para mim que preciso de muito pouco para viver. Não preciso comprar, não preciso de mais roupas, não preciso de ir a lugar nenhum, nem viajar, agora vejo que tenho coisas a mais. Não preciso de mais de dois pratos! Depois, começo a perceber quem são os verdadeiros amigos e as pessoas com quem eu quero estar."
E quando questionada sobre o ensinamento da pandemia para o coletivo Isabel responde:
"Ensina-nos a fazer a triagem das prioridades e mostra-nos a realidade. Esta pandemia sublinha as desigualdades de oportunidade e recursos em que vive a sociedade a um nível global. Alguns passam a pandemia num iate nas Caraíbas, e outros passam fome nas ruas ou fechados em casa.Também traz a mensagem de que somos uma única família. O que acontece com um ser humano em Wuhan, tem um reflexo no planeta inteiro. Estamos todos ligados e isso é uma evidência. Na realidade a ideia tribal de que estamos separados por grupos e que podemos defender o nosso pequeno grupo dos outros grupos é uma ilusão. Não existem muralhas, ou paredes que possam separar as pessoas.
O vírus trouxe uma nova mentalidade e atualmente um grande número de pessoas, entre eles: criadores, artistas, cientistas, jovens, homens e mulheres, caminham para uma nova normalidade. Eles não querem voltar à normalidade antigaO vírus convidou-nos a desenhar um novo futuroO que sonhamos para nós como humanidade global?
Percebi que viemos ao mundo para perder tudo. Quanto mais vives mais perdes. Primeiro perdes os teus pais ou pessoas muito queridas, os teus animais de estimação, alguns lugares e depois lentamente vais perdendo as tuas próprias faculdades físicas e mentais.
Não podemos viver com medo o medo estimula um futuro negro para ser vivido no presente.É necessário relaxar e apreciar o que temos e viver no presente. "

Isabel disse tudo o que eu tenho tentado dizer, ao kongo destes meses . Mas dito por ela, acredito que tenha mais força!

HSC

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

ADVENTO

Como já aqui contei, batizei-me com 20 anos, segura da escolha que havia feito. A alternativa que se me punha era o profano MUD - Movimento de Unidade Democrática - de que ainda hoje ignoro a razão pela qual se terá lembrado de mim...

A partir daí nunca tive quaisquer duvidas de que esse era o meu caminho e prometi a mim própria, ajudar todos aqueles que sabiam pouco do si mesmos, a encontrar a sua rota, mesmo que ela não fosse a minha. Talvez isso tivesse contribuído para que eu tenha tantos e tão bons amigos.

Este Advento vai, creio, ser um longo penar, até que as pombas brancas voem no céu. Se 2020 terminar sem me levar mais pessoas que amo, mesmo assim, direi que foi dos meus piores anos. Apesar disso, das tristezas e dos perigos porque passei, ele foi também o teste da minha resiliência e, sobretudo, o teste à minha alegria. Nestes 11 meses de quarentena estive triste várias vezes, mas aprendi tanto a meu respeito, que não posso deixar de agradecer a 2020 uma série de "boas ações" que ele também me permitiu.

E uma delas foi o meu ABC da Vida que, sob muitos aspectos,. traça os sentimentos e reações de todos nós, mas tentando analisa-los face a este "novo normal" com o qual teremos de conviver ,não se sabe por quanto tempo mais. E o Advento, que será doloroso irá preparar-me, espero, para que eu entre em 2021 com um largo sorriso de esperança!


HSC

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Amanhecer

Que um dia suceda a outro

e dissipe toda a névoa que nos faz duvidar
da consistência da terra.

Um dia que se levante à nossa frente
e solte o fio de prumo da esperança uma vez mais

até ao pôr do sol.

Luis Castro Mendes

Hoje acordei e lembrei-me destes versos e do seu autor. Vá lá alguém tentar perceber o que se passa na cabeça de cada um. Tinha acabado de ler o ultimo livro do António Damásio e, de repente, este AMANHECER saltou-me ao espírito e à mente. Embora não saiba porquê decidi partilha-lho convosco. É lindo!

HSC

Natais

O Natal tem para mim um duplo significado. Um de dor, pela morte da minha Mãe nesse dia e um da alegria que todos os Natais trazem aqueles que esperam por ele os dias do Advento. Confesso que nesta simbiose e com netos ja crescidos e não crentes, a minha familia foi-se alargando a todos aqueles que a não tinham.

Quando a minha progenitora estava viva estas Festas eram em minha casa, mas apareciam-me sempre 3 ou 4 amigos que a minha mãe trazia porque não tinham familia cá. Eram hábitos que adquirira em África e que nunca abandonou até morrer, porque sentia que devia retribuir os que passara fora, sem os filhos e irmãos - que eram muitos - e de quem tinha muitas saudades. Assim, para mim, Natal é confusão, brinquedos no chão, papeis por todo o lado e uma mesa que se renova até ao jantar do dia 25. 

Mais tarde, o casamento veio complicar um pouco mais as coisas porque os meus sogros viviam  no Alentejo e também nos queriam lá. Assim era uma corrida para almoçar com uns e jantar com os outros. Os rapazes, esses, só queriam parar, porque precisavam sempre quaquer coisa ou ficavam enjoados de tanto quilómetro feito.

Ao contrário, estas Festas vão ser, para grande numero de portugueses, de uma grande tristeza, porque a pandemia veio obrigar a divisões familiares, dadas as proibições que foram determinadas pelo confinamento.

Só há uma maneira de superar esta situação: é lembrarmos-nos que, se durante anos, soubemos o que era um Natal em familia, poucos se lembrarão daqueles que nunca o tiveram e estarão agora mais próximos de nós. 

Este ano vamos entende-lo e, eventualmente, dar mais valor aquilo que tinhamos e não sabíamos.

HSC