quinta-feira, 30 de abril de 2020

A falta de um abraço

Hoje, sei lá porquê, eu que não sou dada a romantismos, acordei com uma enorme vontade de dar e receber um abraço. Era uma sensação tão estranha, um vazio tão grande, uma secura tão profunda que quase me tirava o fôlego. Felizmente tenho no quarto a fotografia do Miguel agarrado a mim e o irmão a rir-se de nós. Foi o que me valeu, para retomar o ar e a normalidade. 
Elas não matam, mas moem...e o Miguel amanhã fará anos!

HSC

terça-feira, 28 de abril de 2020

O que esquecemos facilmente

Depois desta pandemia algumas certezas que eu tinha tornaram-se mais fortes. Já não falo de ideologias ou crenças religiosas. Falo do ser humano em geral.
Hoje saí para ir ao cabeleireiro, porque a imagem que o espelho refletia, já nem o telemovel reconhecia. 
Dias houve em que o que mais me apetecia era sair do duche e vestir um pijama acabadinho de lavar,  e continuar assim o dia inteiro.
Porquê? Porque não ia sair de casa e portanto ficava mais cómoda. Porém, à terceira vez que cedi a esta moleza, aconteceu o meu filho vir almoçar e ficar perplexo a olhar para mim.
- Mãe, estás doente? 
- Não. Porquê?
- Porque estás de pijama à hora do almoço
- Mas se só vens tu qual é o mal?
- Essa agora, mãe... então eu não mereço almoçar com a minha mãe arranjada?
- Ó filho. tu és familia
- Não é isso que está em causa. O que está em causa é o respeito por si. E não é o confinamento que decerto a vai pôr a andar de pijama. Sempre me deu o exemplo do que gostava de si. O que é que se passa? Em 3 meses deixou de gostar? Que decisão mais estapafúrdia. Sabe que mais? não me desiluda nesta idade. E mais não digo!
Quando ele saíu, eu fiquei a pensar na nossa conversa. Tinha carradas de razão. Se não me prevenisse, era muito natural que os lindos pijamas que tenho, passassem a ser traje diurno... 
Fiquei muito envergonhada, mas cortei o mal pela raiz. Gostar de mim é uma obrigação . Por-me bonita é uma opção. É nestas duas escolhas que assentei uma boa parte da minha vida. Não vai haver Covidus que as altere, nem pijama que volte a sair do quarto!

HSC 

segunda-feira, 27 de abril de 2020

O 25 de Abril em Itália

   

Neste 25 de Abril a Itália também celebrou a sua liberdade, a insubmissão a Mussolini e à sua política. Será para os italianos uma data tão importante quanto ´é para os portugueses. Mas a maneira como cada país homenageou essa celebração é que foi completamente diferente.
O Presidenta Sergio Mattarella foi, sozinho e de máscara, assinalar a data junto ao monumento Altare Della Patria. O mesmo momento, o mesmo valor, o mesmo empenho, o mesmo orgulho. Mas o estrito cumprimento das regras impostas a todos pela saúde publica. Um gesto que marca a diferença entre os povos!

HSC

sábado, 25 de abril de 2020

À procura de Grandola


Tive azar. Na minha área nem um pio. Nem sequer uma janela aberta. Silêncio sepulcral. Resolvi meter-me no carro e dar uma volta. Nadinha. Estava tudo afónico.
Não sei como foi na Assembleia da Republica. Se cantaram ou só ouviram discursos. A única coisa que sei é que sem selfies o nosso Professor não é um homem feliz. O discurso bem podia ser mais curto. E, sobretudo, falou-se pouco do que se devia  e mais do que se não devia. Do restante nada sei e, confesso, nada irei saber. Porque cada um só é obrigado a saber o que pode...

HSC

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Embaixador Leonardo Mathias


Foi com enorme pesar que tomei conhecimento da funesta notícia. Era alguém de quem se gostava naturalmente.
Amiga que sou da Família, em particular do seu irmão Marcelo, também ele Embaixador, avalio a dor imensa que tal morte trará, nas condições actuais em que vivemos. À família o meu abraço e os meus pêsames.

HSC

À beira do ataque de nervos

Tranquilizem-se, não sou eu quem está à beira de um ataque de nervos. É uma parte importante dos portugueses ,que não têm a preparação necessária ao confronto com a situação pela qual estamos a passar. E estes não valem menos do que os outros , eventualmente mais habilitados .
Nós somos o resultado da sociedade em que vivemos, da familia em que nascemos e do modo como fomos educados. Depois da infância, aos poucos, vai-se definindo o peso de cada uma dessas variáveis e da vontade própria, surgindo, assim, seres muito diferentes, mesmo quando à partida, possuíam idênticas circunstâncias.
Assim uma parte substancial da nossa população está a viver horas de angústia, medo, desespero e outra, ao contrário aceita o inevitável, cumpre a quarentena e pensa sempre que há gente que está muito pior e a quem é preciso atender.
Tenho a sorte imensa de ter feito análise e portanto saber reconhecer os sinais que o corpo ou a psique me dão de que algo está a perturbar-me. E, reconhecido o sinal, eu sei que técnicas usar para controlar a causa desses sinais. 
Porém, penso imensas vezes em como ajudar quem não tem essas ferramentas e o que poderia fazer-se no sentido de minorar essas dores. Nem todos têm o refugio dos livros e da música, ou da meditação, como eu tenho. Por isso, creio que talvez fosse possível, por freguesias, organizar grupos para combater esses estados de alma e fazer um trabalho comunitário que interligasse as pessoas. 
Não sabemos ainda como tudo vai acabar, nem quando. Por isso. talvez esta sugestão pudesse ser aproveitada para, no entretanto, tentar fazer alguma coisa!

HSC

Entrevista Portugal em Noz* - Helena Sacadura Cabral

quarta-feira, 22 de abril de 2020

A terceira vaga

Ouvi há pouco o Dr Machado Vaz falar de uma mensagem que tinha recebido e que levantava a questão de nos termos de preparar para uma "terceira vaga". No inicio não percebi bem o que iria seguir-se, porque, creio, ainda andamos a fugir da segunda e a tentar sair da primeira.
Mas, como sempre, depois veio a claríssima explicação. Se uma segunda houver ela será ainda do domínio sanitário. A terceira, essa que há-de chegar, resultará da exaustão dos profissionais de saude, situação que só compreenderá quem tenha assistido ao que se lhes tem pedido e à forma inexcedível como eles têm correspondido.
Não quero sequer falar de uma noticia que ouvi, de que eles não seriam aumentados quando toda a função publica será. Acredito que seja falsa porque, se for verdadeira, eu começo a perguntar em que país vivo. Vamos por isso, considera-la uma fake new.
Quando isto passar estes profissionais vão obrigatoriamente ter que rever a sua vida. Muitos deles não vão a casa, não vêem cônjuge e filhos há semanas. Alguém avalia o que podem ser as consequencias emocionais e psicológicas que resultam de uma tal situação? 
Vai ser necessário mobilizar psicólogos, psiquiatras e analistas para recuperar parte da população e parte dos clínicos que a trataram, ao mesmo tempo que vão ser necessários mais médicos para acompanhar  as doenças tradicionais, um pouco abandonadas pelo medo do contágio hospitalar.
Será esta a tal terceira vaga que nos cairá em cima, num período em que a situação económica e financeira constituirá, só por si, uma avalanche de ondas gigantes. É para isto que temos de nos preparar, unidos. Porque uma rotura ideológica, por mais idiota que seja, pode dar cabo de todos nós. Como dizia o filósofo, "os países não desaparecem, mas as pessoas sim"!

HSC

terça-feira, 21 de abril de 2020

Ainda eu e o SAMS


O Senhor tem por hábito testar-me. Demorei algum tempo a habituar-me, mas hoje convivo com o facto, com algum à vontade, porque sei que é uma manifestação do seu Amor por mim.
Durante todo o tempo que tem durado este confinamento, andei de credo na boca, com medo que me pudesse acontecer necessitar de um dentista ou de um oftalmologista. No primeiro caso porque tenho um canino que já me deu problemas e no segundo porque tenho de fazer uma benigna intervenção cirúrgica.
Os problemas do canino advieram das diatribes a que me sujeitou um médico de uma Clinica finíssima, para me desvitalizar o dente. Profundamente insatisfeita, decidi procurar o Prof. Francisco Salvado que me disse que a raiz estava partida e só havia duas soluções; ou um implante ou uma cirurgia em que ele tiraria o dente, colaria a raiz e voltaria a pô-lo no lugar. Neguei o implante, porque achava que já tinha tido implantes suficientes na minha vida. Contrariado, mas bom profissional lá fez a cirurgia, avisando-me logo que o resultado duraria o tempo que durasse.
Dito e feito. Há uma semana acordei com dor no tal dente. Prevenida face à situação do Centro Clínico do SAMS e das outras clínicas dentárias estarem fechadas deitei mão do Clamoxyl e no fim das pastilhas, telefonei-lhe a pedir orientação. Sempre atencioso disse-me para eu ir ao Centro Clinico às 11h que a Dra Ana Vieira, que eu já conhecia, me veria. Fiquei tão espantada que até tive dúvidas se teria ouvido bem. Ouvi.
Hoje lá estava eu num Centro quase deserto para ser tratada. A Dra Ana que já me tinha visto noutra ocasião, recebeu-me com a simpatia de sempre e, dentro das limitações – por exemplo não se pode usar broca – fez o que podia fazer. Pelo que percebi, mas sem certezas, a saúde oral vai, para já, funcionar duas vezes por semana.
À saída comecei a pensar no futuro. E as perguntas vieram em catadupa. É que os meus olhos estão entregues ao Dr. Pedro Cruz e a mesoterapia que faço está entregue à Dra Cecília Vaz Pinto e o meu corpinho está nas mãos do Dr. Faustino Ferreira que nunca me abandonou. Ora, à exceção de um, todos eles trabalham no Centro Clínico. E a todos agradeço a forma amiga como sempre se ocuparam de mim.
Então a quem é que eu vou pôr as questões de saber qual o meu futuro sanitário próximo? Ao Dr. Sorriso que preside ao maior sindicato do país e tem acompanhado toda esta situação? À ministra da saúde que seguramente sabe dela? À Dra Graça Freitas? À administração? Alguém me explica?
É que, agora, só falta mesmo uma inflamaçãozinha ocular. É evidente que não sou eu nem as minhas maleitas, que estão aqui em causa. Estão, sim, em causa, milhares de sócios que querem saber o futuro dos seus dividendos, neste caso, o que vai acontecer ao que pagam pela sua saúde...

HSC

segunda-feira, 20 de abril de 2020

As minhas datas


No dia 24 de Abril será o aniversário da morte do meu filho Miguel e no dia 1 de Maio o aniversário do seu nascimento. Escusado será dizer que foram, no passado, os dias mais nefastos da minha vida. O primeiro, porque me relembram 62 anos de vida que se não pôde cumprir até ao fim . O segundo, porque foi a alegria e a esperança que me foram brutalmente roubadas. 
Mas há um ano, o meu luto pela sua morte terminou. Hoje essas datas não são de comemorações, mas são-lhe inteiramente dedicadas, como se ele estivesse entre nós. Vou, muitas vezes, aos locais onde eu sabia que ele se sentia bem e, então, a sua presença é algo que não sei explicar. Mas ele está comigo e é isso que entre 24 de Abril e 2 de Maio verdadeiramente me interessa. O país, esse, pode fazer o que quiser, porque não estará sequer no meio de nós!

HSC

sábado, 18 de abril de 2020

A lei não é igual para todos

Estamos todos obrigados a um confinamento que só desaparecerá quando o governo muito bem entender. Nem para a morte e despedida dos entes queridos, que nos deixaram nesta época, o confinamento foi levantado. Por questões de saúde pública, argumentou-se.
Cumprindo estritamente essas regras, o actual Papa, que representa milhões de católicos, rezou sozinho a missa de Páscoa. Mas Portugal é diferente. Não há confinamento para 130 pessoas que se irão reunir na Asssembleia da Republica no próximo dia 25.
Que autoridade tem um governo que me proíbe de sair de casa para me despedir do Pai, Mãe ou qualquer outro ente querido, e permite hoje que estes cidadãos se reunam para abençoar e festejar o 25 de Abril? O que sentirão centenas de médicos e enfermeiras que para nos proteger correm o risco da sua própria vida? Que sentiremos todos nós, ao ver infringidas as mais rigorosas medidas de defesa da saude publica que, nesta pandemia são, seguramente, o objectivo maior? E com que autoridade eu serei punida se, não obedecendo ao confinamento, invocar o que se vai passar na Assembleia? Quando o exemplo não vem de cima, não surpreende o seu incumprimento por quem está por baixo!

HSC


sexta-feira, 17 de abril de 2020

O meu (con)finamento

Como estive com uma pneumonia antes desta pandemia começar, nao minto ao dizer que estou aproximadamente há cerca de 90 dias confinada à minha casa. O que é surpreendente, porque até hoje nunca tal me aconteceu.
Nos primeiros dias foi difícil porque gosto de usar a minha liberdade para fazer o que me dá prazer e logo à partida tive de abandonar as as caminhadas com que abria as manhãs. Depois, também não podia ir à empresa olhar o seu andamento, pesquisar mercados, ver contratos, enfim trabalhar no que gosto e me compensa.
Assim, como primeira alteração,  lá me pus frente ao computador, em casa, a ler os jornais e a olhar os raios de sol que começavam a aparecer e de que eu não podia beneficiar. De seguida ouvia os noticiários e a vontade de comer desaparecia. Refugiei-me na leitura, na musica, na arrumação do que estava desarrumado. Mas, como entretanto a família tinha conseguido vencer-me na batalha de não estar sozinha e me arranjou uma empregada ex russa e da actual Georgia, que me adora, já nem arrumações posso fazer porque ela não deixa e as faz por mim.
Enfim,  a minha vida tornou-se algo verdadeiramente, insólito. Na actualidade tenho toda a familia em Lisboa e não posso abraçar nenhum deles nem girar à sua volta como sempre acontece quando nos juntamos.
A partir de certa altura percebi que se não queria finar-me, se tornavam necessárias medidas para combater o confinamento. Foi então que delineei um manual de sobrevivência para não dar em doidinha, já que os meus percursos começavam a ser demasiado escassos. 
Do quarto para a sala ; da sala para o escritório; do escritório para o quarto; do quarto para a casa de jantar e desta para o quarto. Dei por isto quando comecei a já não distinguir nenhuma das divisões da casa e me apercebi que me tornara uma especialista em nada fazer.
Delineado o objectivo, as coisas modificaram-se. A primeira medida foi ter a televisão sempre fechada. Só se abre à noite para ouvir o Dr Paulo. 
De manhã faço exercícios no terraço qualquer que seja a temperatura. Depois tomo banho e pequeno almoço. Segue-se música a acompanhar a leitura dos jornais. Almoço e faço intervalo para falar com os amigos. Nova sessão de música, mas agora, para meditar. Outra vez para o computador para pesquisar coisas para a empresa e para mim. Segue-se um pequeno intervalo de exercícios respiratórios feitos no terraço ou à janela aberta. Descanso para ler coisas que me interessam e antes de jantar revejo ao telefone, pelo Skype, o que se passou na empresa. De seguida jantar e às 21:15 liga-se a tv para ouvir o Dr Portas. Este chega para ver a mãe e jantar por volta das 22:15 e manda-me beijos à distancia regulamentar. Quando sai, a alforria é completa. Eu e a Melania estamos livres uma da outra.
Por norma vou para o terraço, respiro ar fresco, rezo um pouco e deito-me agradecendo mais um "dia normal" de vida. Ah! e ainda gargalho com algumas mensagens que me mandam e, sobretudo quando me olho ao espelho...

HSC

quarta-feira, 15 de abril de 2020

A máxima solidão



Há dias escrevi sobre a impressão que me tinha causado ver, na cidade que nunca dorme, Nova Iorque, o enterro em vala comum daqueles de que se desconhecia a identificação. O incómodo foi tal, que andei agitada nesse dia e acreditei que aquela imagem me perseguiria para toda a vida. 
Sei que é uma prática seguida há quase dois séculos, mas pensar que ela ainda se mantém, no século XXI, num país  como a América, arrepia-me, choca-me. O sonho americano já não é, de facto, o que era... O que me leva a perguntar como serão, então, enterrados aqueles que morrem nos países miseráveis?
Ontem, numa reflexão sobre a minha semana pascal, descobri que outros dois momentos destes dias estranhos, vão ficar igualmente registados na minha memória. Um, a imensa solidão com que o Papa Francisco percorreu, vergado, a Praça de S. Pedro. 
O outro, o ecoar, no imenso e trágico vazio Duomo, da magnifica voz de Andrea Bocelli, no exterior da Catedral, a cantar Amazing Grace, de John Newton, acompanhado por imagens das principais cidades do mundo, completamente desertas. 
As emoções que ambos me provocaram, representam, creio, a dádiva imensa e inesperada de dois abraços de Deus!

HSC

terça-feira, 14 de abril de 2020

A lista de Costa


António Costa resolveu ouvir, em video conferencia. vinte e cinco nomes ilustres da economia nacional, incluindo a Academia. Fez bem.
Acontece que quando ouvi a noticia, a primeira ideia que me surgiu foi a da sua diversidade, já que  seria esta a apontar as soluções mais diferenciadas. Claro que não sabia nem sei, qual o critério que esteve na base da escolha. Mas não duvido que a competência seria um deles. E, nesse campo, não vale a pena nega-lo, há muito por onde escolher. 
Embora a economia não seja uma ciencia exacta, cada um tem as suas preferências. Ao olhar a lista quase todos os nomes - acentuo o quase - considero que pertencem a gente muito competente. Mas não pude deixar de estranhar a ausência de nomes como João Duque, Vitor Bento ou até Teodora Cardoso.
Porquê? Porque além de competentes têm um currículo de experiência acumulada que os coloca, do meu ponto de vista, numa situação muito especial, priveligiada, e com a vantagem de não virem todos da mesmo geração. 
Poderia, como é evidente, apontar mais uns nomes. Mas isso não é importante. O que me parece essencial, isso sim, é perceber qual terá sido o critério para escolha daqueles nomes e não outros. Se houve qualquer explicação,  ela passou-me completamente ao lado.

HSC

domingo, 12 de abril de 2020

A minha Pascoa

Talvez possa dizer que de todas as Pascoas que fiz, esta tenha sido a mais dura e mais autenticamente vivida. Isolada dos que mais amo - em especial filho, irmão, cunhada e neto -, a semana decorreu com um silêncio que, em condições normais, seria perfeito. E que, afinal, só não o era pela imposição a que estava sujeita.
Nunca fui solitária, sozinha, ou algo parecido. Casada ou não, sempre precisei de um espaço meu, muito próprio,  que não admitia invasões. E quem me levou já sabia disso...
Ora nesta semana da paixão e admitindo que poderia nunca mais abraçar algumas pessoas, senti um aperto no coração. Sabem porquê?
Porque à maior parte delas, não terei dito as vezes suficientes, que as amava e o quanto elas eram importantes para mim, relembrando assim a máxima da minha mãe "não morras, nunca, com palavras por dizer e afectos por demonstrar". Tinha toda a razão. 
Esta Pascoa foi a mais dura, a mais seca, a mais vazia. Também foi aquela em que mais amigos me mimaram. E é por isso que lhes dedico tudo aquilo de que senti falta, mas decerto me fortaleceu!

HSC

Um pedido

Há alguns anos, uma amiga minha fez uma operação muito delicada. Eu estava tão preocupada que, pela primeira vez, pedi aqui àqueles que eram crentes, que rezassem por ela. Foi eficaz a corrente que se criou e a minha amiga esta sã como um mero. Só não anda a passear dada a pandemia que deu volta a nossa vida.
Pois bem, passados estes anos todos, e pela segunda vez, peço a vossa oração para outra amiga que está a viver um momento muito doloroso. Eu sei que ela tem uma fé imensa e uma esperança enorme nos desígnios de Deus. Prometi-lhe que ia tentar fazer uma corrente pela saúde da sua bebé que tem três meses de vida. E estou a tentar fazer-lo. Se me puderem ajudar, talvez todos juntos a consigamos pôr boa!

HSC

quinta-feira, 9 de abril de 2020

O perigo do cansaço

Começo a dar sinais de cansaço de não fazer nada. Como não tem estado bom tempo, nem dar a volta ao quarteirão da minha casa consigo. Ora, não fazendo exercício, os meus neurónios não funcionam. Assim, em lugar de me trazerem ideias novas, interesses actuais e futuros, trazem-me à lembrança imagens do passado mais antigo de que já quase me não lembrava. 
O que chamamos passado, no meu caso, conta pouco e não foi muito interessante. Para mim, o dito começa por volta dos 45 anos, que foi a idade do meu renascimento. Pois bem, as partículas do covirus que possam andar no ar, têm-me trazido com cada lembrança que só o diabo recordaria...
A última foi ontem ter-me rememorado do que passei com a "gripe asiática" que me visitou em força, julgo que por volta de 1957, e me ia mandando para os anjinhos... Vá lá que tive a sorte de apanhar um médico bom e lindo, que me não deixou morrer e acabou por ficar meu amigo.
Num outro dia, lembrei-me de um casamento que foi daqueles eventos que ninguém consegue esquecer, porque não há nada que corra bem. 
Enfim, como sou ainda uma pessoa com alguma sanidade mental, acabo por largar sempre uma gargalhada nestas desditas recordações.
Assim, a partir de terça feira, torna-se urgente voltar às minhas longas caminhadas no Jardim da Estrela, para poder arejar a cabeça e ter finalmente a noção de que o mundo continua a existir para além do Covidus...

HSC

terça-feira, 7 de abril de 2020

Ramalho Eanes


Declaração prévia: sou amiga do casal Ramalho Eanes. Porém, a nossa amizade nasceu após a sua saída de funções. Assim só muito indiretamente essa estima terá a ver com o facto de o considerar um dos mais dignos e respeitáveis Presidentes que Portugal teve. 
E esta afirmação é muito séria, porque alguns houve - pertenço a uma geração que, para o bem ou para o mal, teve vários ao longo da vida -, que me não mereceram respeito especial e por um, direi mesmo, que não tive qualquer respeito. 
Assisti à ultima entrevista feita ao General e, confesso, senti orgulho por ter sido governada por uma pessoa com o caracter, a honestidade, o sentido de serviço e o sentido de Estado de António Ramalho Eanes. Como sempre acontece, o ditado diz que atrás - prefiro ao lado - de um grande homem está sempre uma grande mulher. É o caso. A Dra Manuela permaneceu ao lado do marido, apoiando-o e ajudando-o em crises que muitos portugueses ignoram e foram bem difíceis. Conheço algumas, mas não me compete falar delas.
Por tudo isto aconselho vivamente quem não viu a dita entrevista que tente ve-la, pois acredito que muitas pessoas poderão, como eu, ficar emocionadas com o seu conteúdo.

HSC

domingo, 5 de abril de 2020

Redescobrir-se...


Creio já aqui ter dito que, por ter tido uma pneumonia estranha no inicio do ano, estive um período razoável sem as minhas rotinas tradicionais que de manhã incluíam uma caminhada de meia hora no Jardim da Estrela e a ida ao escritório acompanhar e fiscalizar o andamento do mesmo.
Quando, no rescaldo da pneumonia, recomeçava a minha vida profissional, apareceu o corona 19 que, de um momento para o outro, me proibiu o exercício fisico e me colocou em teletrabalho. Resumindo, desde Janeiro que não saio de casa e me transformei numa especialista em "não fazer nada". 
Nos primeiros dias ainda escrevi alguma coisa, sobretudo no twitter, porque lá só me ocupo de politica e de economia. É uma espécie de catarse pelos anos em que a actividade dos meus filhos me aconselhava o silêncio...
Mas, depois da leitura de vários livros e de umas sessões musicais de que tinha saudades, veio um entorpecimento progressivo, no qual a única tarefa de que me ocupo é escolher o que se vai dar de comer ao meu filho que está com uma actividade profissional tal, que sou eu que fico cansada.
Jamais acreditaria que isto fosse possível comigo, a quem sempre falta tempo para fazer tudo o que devo. E, acreditem, com este constrangimento em que vivemos, vim a descobrir em mim facetas totalmente novas. Elas estariam lá, mas eu nem reparava nelas...
A minha vida espiritual fortaleceu-se, o que deu azo a novas formas de olhar os que me rodeiam e até a sociedade em que vivo. Perante o risco de morte, as pessoas tornam-se diferentes, normalmente para melhor. Porque esse risco e o medo tendem a normalizar os comportamentos. E o vírus, sendo altamente democrático, rala-se pouco com as diferenças sociais!

HSC