A propósito do post anterior, vários comentadores manifestaram dificuldade em compreender uma regra na qual fui educada, que pratico, e que tem por base um lema muito simples: "consumir as dores e partilhar as alegrias". Uma parte dos comentários defendia que a dor não deve ser vivida em solitário e, como a alegria, deve ser dividida.
A minha posição - cujo exercício está longe de der fácil -, baseia-se num sentimento muito pessoal. Com efeito, aquilo que denomino de dor, é tão íntimo, tão profundo que seria impossível reparti-lo com quem quer que fosse, mesmo sendo muito amigo. Talvez, no máximo, conseguisse faze-lo com a minha mãe, de quem sempre me considerei uma extensão. Jamais com amigos, por muito íntimos que estes possam ser.
Vejamos um exemplo. Perdi um filho há ano e meio. Alguém imagina que essa dor imensa pudesse ser dividida, falada, descrita, chorada com um amigo? Para mim, isso seria insuportável. Essa mágoa, como tantas outras pelas quais já passei, precisaram de um enorme silêncio dentro de mim. Silêncio para aceitar, para suportar, para me não revoltar, enfim, para poder continuar a viver.
O luto que acompanha a perda - pode não ser uma morte, pode ser um divórcio, pode ser uma doença grave - impõe, por norma, percorrer um caminho de pedras, que sendo o "nosso" caminho, tem de ser escolhido pelo próprio.
Acresce a tudo isto, que existem "outras pessoas" que esperam, que precisam do exemplo da nossa fortaleza. Não para sermos tidos por heróis, mas porque uma parte da força deles reside na nossa própria força.
A minha mãe viveu dezasseis anos com um cancro de sangue. Da sua cama, na parte final da sua vida, comandava toda a casa. Nunca vi nos seus olhos senão alegria. Por estar viva e por poder gozar da nossa companhia. Nunca lhe ouvi um queixume. E sempre se riu do médico lhe ter dado seis meses de vida e ela ter durado mais dezoito anos!
Ao contrário, quando partilhamos alegrias, contribuímos para a paz dos outros, para o seu bem estar, para a sua pequena felicidade. Por isso sempre achei útil para mim e para aqueles que me estimam, dividir com eles as minhas pequenas vitórias.
Nada disto inibe que falemos daquilo que nos entristece, se essa conversa tiver alguma utilidade. Para nós e para quem nos ouve. Mas isso não é partilhar a dor...
HSC