segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Haverá hoje uma ditadura da juventude?

A ideia de uma "ditadura da juventude" sugere que os jovens estão a exercer uma influência desproporcional ou autoritária sobre a sociedade, impondo os seus valores, comportamentos e preferências. Esse conceito pode ser interpretado de várias maneiras, dependendo do contexto. Hoje, há algumas tendências que podem levar a essa perceção.

  1. Cultura digital e redes sociais: Os jovens dominam as plataformas digitais e as redes sociais, que são espaços onde se moldam grande parte das discussões públicas, tendências culturais e até mesmo influências políticas. Isso dá aos jovens um poder significativo para influenciar a opinião pública e moldar comportamentos.
  2. Transformações culturais: Movimentos sociais contemporâneos, como os relacionados ao ambientalismo, igualdade de género, direitos LGBTQ+, entre outros, são frequentemente liderados e energizados por jovens. Isso pode ser visto como uma forma de as novas gerações desafiarem e, por vezes, substituírem os valores tradicionais.
  3. Cultura do cancelamento: A chamada "cultura do cancelamento" é frequentemente associada a jovens, que usam as redes sociais para responsabilizar figuras públicas por comportamentos ou discursos considerados problemáticos. Críticos dessa cultura podem ver isso como uma forma de pressão autoritária para conformidade.
  4. Mercado e cultura pop: A indústria da música, moda, entretenimento e tecnologia é fortemente moldada por gostos e comportamentos de jovens, o que pode dar a impressão de que os valores e preferências da juventude dominam o mercado e a sociedade como um todo.

Contudo, chamar a isto de "ditadura" pode ser um exagero, já que a sociedade continua a ser influenciada por diferentes grupos etários, económicos e culturais. As transformações que vemos podem ser parte de um ciclo natural, no qual cada geração faz valer as suas ideias, assim como ocorreu com as gerações passadas.

domingo, 20 de outubro de 2024

O PASSADO

Anos depois, olhamo-nos com uma mistura de estranheza e de familiaridade. Enxergamos a versão de nós mesmos que existia num tempo distante, quase como se fôssemos duas pessoas diferentes. Aquelas escolhas, os medos e as certezas que pareciam tão inabaláveis, agora parecem quase ingénuos ou desnecessários. O que, um dia, foi essencial, talvez tenha perdido peso, e o que parecia insignificante, agora carregue um valor profundo.

Vemos os sonhos que tivemos — alguns realizados, outros deixados pelo caminho — e perguntamo-nos como nos deixámos ser moldados pelas circunstâncias, pelas mudanças, pelas surpresas da vida. Aquela nossa versão antiga, cheia de vontades e esperanças, ainda vive em algum lugar dentro de nós, mesmo que um pouco desgastada pelo tempo.

Com o passar dos anos, aprendemos a olhar para nós mesmos com mais compaixão. O que antes era motivo de arrependimento ou crítica, agora pode ser visto com uma certa dose de compreensão. A pessoa que éramos fez o melhor que podia, com o que sabia e com o que tinha. E hoje, enquanto olhamos para trás, entendemos que não chegámos aqui, apesar do que éramos, mas por causa disso.

Há uma certa doçura em perceber que a jornada nos moldou de formas que nem imaginávamos. E, embora o reflexo de quem fomos, não seja mais o mesmo no espelho, ele ainda nos pertence. É uma lembrança viva de tudo o que vivemos, amámos, perdemos e aprendemos.

sábado, 19 de outubro de 2024

OUTONO

O outono, para mim, traz sempre uma sensação de introspeção e renovação. É aquela época do ano em que tudo parece desacelerar, como se a natureza se estivesse a preparar para uma pausa. O ar fica mais fresco, e as manhãs ganham um toque de neblina, dando uma beleza melancólica ao dia a dia. Gosto de caminhar pelas ruas cobertas de folhas secas, sentindo aquele aroma terroso que só o outono tem, e ouvindo o som das folhas quebrando-se sob os meus pés.

Há algo de muito reconfortante nesta estação. Talvez seja o contraste com a vivacidade do verão que a antecede — o outono parece convidar-nos a ficar mais quietos, mais presentes no momento. Adoro quando o vento começa a trazer um friozinho que pede por casacos mais quentes, e também pelas primeiras chávenas de chá ou café quentes da temporada, que aquecem as mãos e o espírito.

Para mim, o outono é como uma pausa, um momento para refletir. As folhas caindo lembram-me que é preciso deixar algumas coisas irem embora, assim como a natureza faz, para que o novo possa surgir. É um tempo para estar mais em casa, não só no sentido físico, mas dentro de mim mesmo, religando-me com o que é essencial

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Nada é para sempre

Há uma melancolia silenciosa na ideia de que nada é para sempre. Às vezes, isso nos pesa, como se tudo o que amamos pudesse escorrer por entre os nossos dedos, sem aviso. Outras vezes, parece libertador, como se as dores, as feridas, as ausências, também tivessem um prazo de validade. Nada permanece do jeito que conhecemos — nem nós, nem o mundo ao redor.

Os momentos que parecem eternos — um sorriso, um olhar que diz mais do que mil palavras, aquele abraço que traz aconchego — um dia vão se dissipar no ar. As pessoas que amamos podem partir, perder-se, seguir por caminhos que não cruzam mais os nossos. E nós, presos ao inevitável fluxo do tempo, seguimos como andarilhos, tentando segurar pedaços do que já foi.

Mas talvez haja beleza nisso. Talvez a efemeridade seja o que dá valor ao que vivemos. Talvez seja o fim iminente que torna o presente tão precioso. É no breve que se aninha a intensidade; é no efêmero que o extraordinário surge, sutil, mas marcante.

Se nada é para sempre, então cada segundo é único. As despedidas ganham uma profundidade que só o fugaz permite. As chegadas tornam-se celebrações do reencontro, sabendo que podem ser as últimas, e cada instante ao lado de quem amamos vira um presente que não se repete.

Há uma suavidade na aceitação de que a vida é um contínuo movimento de chegadas e partidas. Nada dura, mas, paradoxalmente, é isso que deixa cada pequena eternidade gravada em nós. O que vivemos não se apaga — se transforma. E, mesmo que o tempo passe, levando com ele tudo o que achamos que temos, a verdade é que nada se perde por completo.

Nada é para sempre. Mas, enquanto dura, é tudo o que temos. E talvez seja isso que torne a vida, por mais breve que seja, tão cheia de significado.

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

FINGIR

Fingir é algo que muita gente faz, e geralmente se deve a razões de medo ou de insegurança. Pode ser por não se querer mostrar uma fraqueza, por medo de não ser aceite ou até por se tentar proteger de situações desconfortáveis. Às vezes, as pessoas fingem para se encaixar, para parecerem mais fortes, ou porque sentem que, se mostrarem quem realmente são, vão acabar magoadas ou rejeitadas.

Penso que, no fundo, todo mundo já fingiu em algum momento da vida. Pode ser uma risada que se força numa conversa pouco importante, ou fingir que está tudo bem quando, na verdade, se está desmoronando por dentro. É uma maneira de lidar com as pressões diárias — das expectativas sociais, do medo do julgamento, das responsabilidades que nós carregamos.

Mas fingir o tempo todo pode ser exaustivo. Vamo-nos afastando de quem realmente somos, porque se está sempre tentando agradar ou adaptar ao que os outros esperam de nós. E isso pode fazer com que nos sentamos desconectados, perdidos, porque, no fim das contas, ninguém está realmente vendo quem somos de verdade.

Então, no fundo, nós fingimos para nos protegermos, para evitar que vejam as nossas vulnerabilidades. Mas é um hábito perigoso. Quanto mais se finge, mais difícil fica ser autêntico e se aceitar como somos. E, às vezes, as pessoas que mais importam na nossa vida querem conhecer a nossa versão real, não a que  inventamos para nos sentirmos mais seguros.

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Quem comanda as minhas emoções

As emoções são geradas e influenciadas por vários fatores, mas quem "comanda" minhas emoções, em grande parte, sou eu. Embora as emoções sejam reações naturais a situações e estímulos externos, cada um tem o poder de geri-las e moldá-las com o tempo. Vamos explorar isto mais a fundo.

  1. Respostas automáticas: Emoções como medo, raiva, tristeza e alegria são respostas automáticas do cérebro a diferentes estímulos. Elas surgem sem muito controle consciente, como uma forma de proteção ou de sinalizar algo importante.
  2. Influência do cérebro: Regiões como o sistema límbico, que inclui a amígdala e o hipocampo, desempenham um papel central na geração das emoções. Essas áreas reagem rapidamente a eventos, muitas vezes antes mesmo de a mente consciente processar completamente a situação.
  3. Autoconsciência emocional: A chave para "comandar" as  nossas emoções está no desenvolvimento da inteligência emocional, que envolve:
    • Reconhecer as nossas emoções: Ser capaz de identificar como você se sente.
    • Entender a causa das emoções: Perceber o que está gerando determinada emoção.
    • Regulá-las conscientemente: Usar estratégias como respiração, reflexão ou mudança de perspetiva para gerir a intensidade das emoções.
  4. Influências externas: as nossas emoções também podem ser influenciadas por outras pessoas, pelo ambiente e até pela nossa saúde física. No entanto, ao praticar a autoconsciência e trabalhar no controle emocional, é possível diminuir a influência desses fatores externos.

Portanto, embora as emoções possam surgir sem controle consciente, a pessoa tem o poder de decidir como reagir a elas e, com a prática, regular como essas emoções afetam a nossa vida.

OLHOS NOS OLHOS

Olhos nos Olhos é uma expressão que carrega um forte simbolismo relacionado com a conexão direta e intensa entre duas pessoas. Quando falamos de "olhos nos olhos", normalmente estamos a referir-nos a um momento de honestidade, verdade e, muitas vezes, de confrontação. Olhar nos olhos de alguém significa encarar a outra pessoa sem disfarces ou fugas, permitindo uma comunicação mais profunda, na qual as palavras podem ser desnecessárias, já que o olhar por si só transmite sentimentos e intenções.

Esta expressão também nos remete à vulnerabilidade, já que quando olhamos diretamente nos olhos de alguém, expomos parte de nós próprios. É um gesto que exige coragem, especialmente em situações emocionais delicadas, como declarações de amor, discussões ou pedidos de desculpas. O contato visual carrega significados universais: confiança, sinceridade e intimidade. Muitas vezes, ele é, mesmo, a forma mais poderosa de se conectar com o outro, porque o olhar tem a capacidade de revelar o que está escondido por trás das palavras.

Na arte e na música, "Olhos nos Olhos" pode ser explorado como tema para tratar de relações humanas, tanto no amor quanto nos conflitos. Um exemplo famoso é a canção de Chico Buarque, em que a expressão é usada para falar sobre o fim de um relacionamento e a difícil tarefa de encarar o outro, agora numa nova realidade, a da separação. A ideia de enfrentar a verdade, seja ela qual for, está profundamente atrelada ao conceito de "olhos nos olhos".

O meu livro "Olhos nos Olhos" , que hoje vai para as livrarias, simboliza, assim, o encontro com a verdade e a essência de uma relação. É um convite ao diálogo, sincero, onde as emoções são expostas de maneira crua, e os olhares se tornam a principal linguagem entre duas almas.

 

terça-feira, 15 de outubro de 2024

O instante depois do beijo

Li hoje um texto de Mia Couto. Intitulado o “Instante antes do beijo”. A expressão ficou na minha cabeça e eu resolvi escrever sobre o “depois”. Aqui fica.

"O instante depois do beijo" é um momento carregado de emoções e significados, que pode variar consoante o contexto e os personagens envolvidos. Pode representar um instante de magia, confusão, expectativa ou até mesmo alívio. É um momento de suspensão, onde o tempo parece desacelerar e as emoções se tornam intensas.

Nesse instante, muitos sentimentos podem estar presentes: surpresa, conexão, nervosismo, ansiedade, desejo, ou mesmo uma sensação de completude. O beijo, geralmente visto como um clímax de tensão entre duas pessoas, abre as portas para um novo capítulo — seja ele de amor ou de incerteza. Esse momento é marcado pelo olhar trocado logo após o beijo, pelas respirações aceleradas, pelo toque que talvez se mantenha ou se afaste.

Visualmente, o "instante depois do beijo" pode ser descrito como um cenário íntimo, onde os dois protagonistas se encontram próximos, os rostos ainda perto um do outro, e o mundo em volta parece momentaneamente desaparecer, deixando apenas os dois e a intensidade daquele breve segundo de silêncio e emoções não ditas

segunda-feira, 14 de outubro de 2024

A necessidade de reformar mentalidades

A frase "A necessidade de reformar mentalidades" sugere que, em determinados contextos, é crucial mudar a forma como as pessoas pensam, agem e se relacionam com determinadas questões. Essa reforma de mentalidades envolve a transformação de crenças, valores e atitudes que podem estar ultrapassados, limitadores ou prejudiciais ao desenvolvimento de uma sociedade mais justa, igualitária e aberta ao diálogo.

Essa necessidade de mudança mental pode estar ligada a diferentes áreas. Saliento as que para mim são mais importantes.

  1. Educação: A reforma de mentalidades na educação pode significar a adoção de uma visão mais inclusiva, crítica e participativa, que vai além da mera transmissão de conteúdo, preparando os cidadãos para refletir e agir de forma autónoma.
  2. Preconceitos e discriminação: Combater racismo, machismo, homofobia e outras formas de opressão, exige uma transformação cultural profunda, onde as mentalidades preconceituosas precisam ser questionadas e superadas.
  3. Sustentabilidade: A mudança de mentalidades no que diz respeito ao meio ambiente é necessária para que se adote uma postura mais consciente e responsável em relação ao uso de recursos naturais, consumo e impacto ambiental.
  4. Economia e trabalho: Reformar a forma de pensar sobre trabalho, sucesso e produtividade pode levar a novas formas de organizar o tempo, de valorizar o bem-estar e de reconhecer a importância da colaboração e da inovação no desenvolvimento económico.

Estas transformações exigem tempo, paciência e, muitas vezes, enfrentam resistência, já que mudar hábitos e crenças profundamente enraizadas não é algo fácil. No entanto, a reforma de mentalidades é fundamental para enfrentar os desafios do presente e construir um futuro mais justo e sustentável.

sábado, 12 de outubro de 2024

Women on Boards: A Força e o Prazer de Ser Mulher

A VdA Academia organizou o 12º programa Women on Boards. A sua Presidente, Dra Margarida Couto convidou-me para fazer a sessão de abertura. Aqui fica o que lá disse.

Ser mulher é uma experiência poderosa, marcada por resiliência, força e, acima de tudo, pelo prazer de construir histórias de sucesso em múltiplas frentes. As conquistas femininas ao longo da história revelam a capacidade única de equilibrar sonhos pessoais com realizações profissionais, desafiando as barreiras impostas e conquistando cada vitória com orgulho e determinação.

É com essa inspiração que surge o Women on Boards, um espaço que celebra e fomenta o protagonismo feminino no ambiente corporativo, abrindo portas e criando novas oportunidades para que mais mulheres ocupem posições de liderança e tomem assento nas mesas onde as grandes decisões são tomadas. Compreendemos que cada mulher traz consigo uma bagagem rica de experiências, e ao ocupar esses espaços, ela não só se eleva a si mesma, mas transforma o ambiente ao seu redor.

O prazer de ser mulher vai além das conquistas individuais. Está em cada passo dado em direção a um futuro mais igualitário, onde a pluralidade de vozes femininas enriquece o diálogo e molda organizações mais inclusivas e inovadoras. É na força coletiva que encontramos o verdadeiro prazer de ser mulher — em saber que a vitória de uma é a vitória de todas.

O Women on Boards acredita nesse potencial transformador. E existe  para apoiar e celebrar cada trajetória, fortalecendo redes de apoio, encorajando o crescimento e reafirmando que as mulheres não estão apenas prontas para liderar, elas já estão liderando.

Juntas, são o reflexo do prazer e da força de ser mulher. Cada vitória no mundo corporativo não é apenas um marco individual, mas um símbolo de que estamos no caminho certo para a verdadeira igualdade e para um futuro onde o sucesso feminino será regra, e não exceção.

O prazer e a força de ser mulher está profundamente ligado às vitórias coletivas e individuais, especialmente em ambiente corporativo, o que reflete a missão das Women on Board de impulsionar o papel das mulheres em cargos de liderança.

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

O REPÚDIO

O repúdio é uma forma forte e enfática de rejeição, manifestada por pessoas, grupos ou sociedades diante de comportamentos, atitudes ou ações consideradas inadequadas, imorais ou ofensivas. Expressar repúdio vai além da simples discordância; trata-se de um posicionamento claro e contundente contra algo que fere valores éticos, sociais, culturais ou pessoais.

Esse sentimento de rejeição pode ser percebido em diferentes contextos, como na política, quando a população ou uma parte dela manifesta repúdio a governantes ou políticas públicas que julgam injustas; ou no campo das relações humanas, quando ações discriminatórias, preconceituosas ou violentas são rechaçadas pela sociedade.

O repúdio também se faz presente no campo da moralidade e da ética. Por exemplo, atos de corrupção, violação de direitos humanos, racismo, homofobia, violência doméstica e outras práticas danosas à convivência pacífica e à justiça social são alvos frequentes de manifestações de repúdio. Quando a sociedade se une para repudiar determinado comportamento, ela sinaliza a necessidade de mudança e de construção de um ambiente mais justo e inclusivo.

Em termos legais, o repúdio pode ser formalizado por meio de declarações, moções ou atos oficiais, como protestos ou abaixo-assinados, em que grupos exigem responsabilização e mudanças. É, portanto, um instrumento de pressão social, um reflexo da insatisfação coletiva que busca a correção de injustiças e a defesa de princípios considerados fundamentais para a convivência humana.

Assim, o repúdio serve como um alerta, uma resistência ao que é percebido como prejudicial ou inaceitável, e um apelo por transformações necessárias na sociedade.

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

O SAL DA VIDA

"O Sal da Vida" é aquele elemento essencial que dá sabor às coisas simples e intensifica o que, de outra forma, seria apenas quotidiano. E o que torna os momentos comuns extraordinários, o tempero invisível que transforma a vida em algo maior do que a soma dos dias que passam. Ele não se revela nos grandes feitos ou nos eventos grandiosos, mas nos detalhes sutis do abraço apertado de um amigo, do sol morno na pele durante uma caminhada despretensiosa, da risada que escapa sem aviso.

É aquele olhar compartilhado em silêncio com quem amamos, que diz mais do que as palavras poderiam, ou o conforto inesperado de um cheiro familiar que nos transporta para uma memória querida. O sal da vida está nas pequenas alegrias, naquilo que muitas vezes deixamos passar, mas que, quando percebido, enche o coração de uma gratidão quase palpável.

Talvez seja uma música que toca na rádio e faz o mundo parecer mais leve, ou a simplicidade de uma tarde em que o tempo parece desacelerar, permitindo que possamos respirar e apenas ser. O sal da vida está nas pausas, nos interstícios do viver, nos momentos em que nos sentimos mais conectados com nós mesmos e com os outros.

Não são as conquistas que acumulamos, mas as emoções que experimentamos, as pessoas que tocamos, os sorrisos que despertamos.

E, assim, "O Sal da Vida" lembra-nos que a vida é um mosaico de instantes, e o sabor dela depende de quão presentes estamos para senti-los. É sobre encontrar plenitude no ordinário, beleza na simplicidade e valor nos momentos que, muitas vezes, parecem escapar pelos nossos dedos.

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

CICATRIZES

As cicatrizes são lembranças silenciosas que o corpo carrega, testemunhas do que já foi dor, mas que agora repousam como marcas serenas. Cada uma tem a sua história, desenhada na pele, no silêncio dos dias que passaram. São como pequenas geografias de nossas batalhas, pedaços de um mapa íntimo, só nosso, que poucos conhecem de verdade.

Algumas cicatrizes são profundas, outras quase invisíveis, mas todas falam sobre resistência. Falam do que resistimos, do que sobreviveu. São marcas de curas tanto quanto são de feridas. Às vezes, passamos os dedos sobre elas, num gesto automático, tentando lembrar do que doeu ou agradecendo o que não dói mais.

Há também as cicatrizes que não se veem. As que estão guardadas em camadas mais profundas, nas dobras da alma. Elas são feitas de memórias, de sentimentos que cortaram fundo e que, aos poucos, também foram cicatrizando. Embora invisíveis, essas talvez sejam as mais difíceis de carregar, pois não há toque que alivie, nem remédio que cure instantaneamente.

Mas, no fim, todas as cicatrizes – as do corpo e as do coração – são sinais de que seguimos em frente. São marcas de vida. Não importam os caminhos tortuosos que nos trouxeram até aqui, elas nos lembram que fomos fortes o suficiente para sobreviver. E é isso que importa.

terça-feira, 8 de outubro de 2024

DIZER NÃO COM VONTADE DE DIZER SIM

Dizer "não" quando a vontade interna é de dizer "sim", constitui uma experiência que envolve conflito entre desejo e razão. Isto pode acontecer por várias razões, como medo de rejeição, pressão social, necessidade de agradar aos outros ou, mesmo, o entendimento de que o "sim" seria prejudicial a longo prazo, apesar do desejo imediato.

Esse tipo de conflito revela uma luta interna entre os sentimentos e o sentido de responsabilidade ou autocontrole. Muitas vezes, dizemos "não" para preservar os nossos limites, manter a nossa integridade ou cumprir compromissos, mesmo que o desejo profundo seja o oposto.

Quando se deseja algo, mas nos sentimos presos por dizer "não", por dentro é como um turbilhão de sensações contraditórias. Às vezes é aquele momento em que o corpo já deu todos os sinais de que quer, de que deseja estar mais próximo, de que a conexão é o que falta para fechar a lacuna entre nós e a outra pessoa. Mas a mente interfere. Ela traz todas as dúvidas, as inseguranças, os medos.

Podemos estar ali, ao lado de alguém, sentindo que o mundo poderia parar naquele instante e que só o toque, o olhar, ou até mesmo o silêncio compartilhado, poderia fazer-nos sentir completos. No entanto, dizemos "não" — talvez por medo de como a outra pessoa vai reagir ou por um receio de estar indo rápido demais.

Por fora, pode parecer firme, uma decisão concreta, mas por dentro é como segurar uma maré que nos quer arrastar. Esse "não" vem com um gosto amargo, porque o "sim" está-nos sufocando por dentro. A pele pode até arrepiar ao imaginar o que poderia acontecer se simplesmente disséssemos o que queremos. Mas, ao mesmo tempo, “aquela ponta de orgulho”, que todos conhecemos, soa que admitir o desejo é uma derrota, uma perda de controle sobre quem somos.

Esse dilema entre o desejo e a autoproteção é algo muito real, algo que todos nós já sentimos em algum nível. É como se disséssemos "não" para evitar o possível desconforto de sermos vulneráveis. Mas, com isso também nos privamos do prazer, da conexão, daquilo que poderia ter sido um momento de intimidade profunda.

Esses sentimentos de tensão, vulnerabilidade e desejo são, afinal, parte do que significa ser humano!

segunda-feira, 7 de outubro de 2024

UM CONTO REAL

Imagine um casal que, após uns anos de casamento, decide divorciar-se. A separação foi dolorosa, mas inevitável devido a problemas que pareciam insuperáveis na época: discussões constantes, diferenças de personalidade, talvez até o desgaste natural do tempo, que deu origem ao aparecimento de uma nova mulher. No entanto, mesmo com o divórcio assinado e cada um seguindo a sua vida, algo profundo e inegável, permaneceu entre eles.

Encontravam-se esporadicamente, em encontros casuais que inicialmente pareciam inocentes. Talvez fosse um café rápido para falar sobre a profissão comum, um encontro por acaso num lugar que costumavam frequentar juntos, ou uma mensagem enviada sem pensar muito. Mas cada encontro reacendia uma chama, que nunca se apagou por completo.

Nos momentos em que estão juntos, há um silêncio que fala mais do que as palavras. O toque das suas mãos ainda é familiar, o cheiro um do outro traz memórias vívidas, e os olhares carregam uma mistura de saudade, carinho e tristeza. Eles são amantes que conhecem cada detalhe um do outro, que já dividiram uma vida e que, apesar de tudo, ainda se desejam de uma maneira que não conseguem explicar.

Esses encontros não são apenas físicos. Eles compartilham confidências, desabafam as frustrações da vida pós-divórcio, e se apoiam numa intimidade que só eles entendem. Há ali um conforto que é difícil encontrar noutro lugar, uma espécie de porto seguro que, embora instável e cheio de contradições, ainda oferece abrigo.

Por mais que tentem seguir em frente, algo os puxa de volta um para o outro. Não é apenas desejo, mas uma conexão profunda, que nunca foi realmente quebrada. Eles são divorciados, mas também são amantes – de um amor que, mesmo cheio de falhas e cicatrizes, se recusa a morrer.

Este relacionamento é um segredo, não apenas para os outros, mas até mesmo para eles próprios. Não há rótulos, promessas ou planos para o futuro – apenas momentos roubados, onde por alguns instantes, eles se permitem ser o que sempre foram, mesmo que isso não faça mais sentido para o mundo à sua volta.

sábado, 5 de outubro de 2024

O PRAZER DE SER MULHER

O prazer de ser mulher é uma experiência íntima e profunda, que vai muito além das convenções sociais ou dos padrões de beleza. Ele reside na capacidade de ser múltiplo: ser forte e vulnerável, ser cuidadora e independente, ser criativa e pragmática. É encontrar força nas próprias emoções, na conexão com o corpo e na liberdade de ser quem se deseja ser, apesar das expectativas alheias.

Há prazer em se reinventar, em cuidar de si e dos outros, em sentir orgulho das próprias conquistas. O prazer de ser mulher está também na delicadeza de se reconhecer nas vitórias, no autoconhecimento e na autonomia que só o tempo proporciona. É um sentimento que floresce nas sutilezas da vida quotidiana, nas conversas íntimas, nas trocas de olhares cúmplices, e no encontro consigo mesma em momentos de introspeção.

Ser mulher é um ato de resistência e, ao mesmo tempo, de celebração. É a constante redescoberta da própria essência e o caminho para a igualdade de género é feito de passos silenciosos, muitas vezes sutis, que vão transformando a realidade ao longo do tempo.

A igualdade começa, muitas vezes, na forma como educamos as próximas gerações: na liberdade de deixar meninas sonharem com o que quiserem e de permitir que meninos expressem os seus sentimentos sem receio

A igualdade avança quando, em pequenos círculos, valorizamos a voz da mulher em discussões profissionais, e quando permitimos que ela seja ouvida sem interrupções. O caminho é pavimentado por mudanças graduais nas mentalidades, nas estruturas e nas oportunidades.

Há uma beleza discreta em cada ato que desafia as expectativas limitantes, em cada espaço que uma mulher conquista, seja ele no campo pessoal ou profissional. A verdadeira igualdade alcança-se quando se reconhece que, em toda a diversidade, há um valor único, e que as diferenças podem coexistir em harmonia.

O movimento em direção à igualdade é contínuo, e cada passo, por menor que pareça, traz consigo o potencial de transformar gerações futuras.

Os cinco sentidos

Os cinco sentidos são portais para o mundo, mas também para dentro de nós próprios. Eles ligam-nos às nuances mais sutis da existência, revelando camadas de sensações que, muitas vezes, passam despercebidas no turbilhão da vida.

O tato é o primeiro sentido a manifestar-se, o mais primitivo. É sentir a textura de uma flor entre os dedos, o calor reconfortante de uma mão que se entrelaça na nossa, ou o abraço acolhedor de uma manta numa noite fria. O toque lembra-nos que somos feitos de matéria, mas também de afeto, de vínculos que se expressam na pele.

O olfato é memória. O cheiro do café fresco, da terra molhada pela chuva, ou do perfume que traz de volta um momento perdido no tempo. É a magia silenciosa que nos transporta para longe, para perto de quem fomos, de onde estivemos, e das histórias que nos marcaram.

O paladar revela o prazer e a simplicidade da vida. Uma fruta doce que explode na boca, uma comida feita com carinho, um sabor familiar que nos acolhe. Cada sabor é uma forma de comunicação íntima com o mundo e com o nosso próprio corpo, uma lembrança da beleza das pequenas coisas.

O ouvido convida a escutar mais do que palavras. É no silêncio entre os sons, no sussurro do vento, num riso distante ou no murmúrio de uma melodia, que encontramos a profundidade das emoções. A audição tem o poder de nos levar para dentro de nós mesmos, de nos fazer ouvir o que sentimos, mesmo quando o coração está em silêncio.

E o olhar? Ah, o olhar. É através dos olhos que o mundo se desenha em cores e formas. Mas, mais do que isso, é nos olhares cruzados que encontramos a verdade dos sentimentos. Um pôr do sol que deixa o peito apertado, o brilho nos olhos de quem amamos, a expressão contida de uma saudade — os olhos capturam o que a alma tenta esconder.

Cada sentido é uma porta de entrada para o mundo exterior, mas também uma jornada para dentro, onde ressoam as lembranças, os afetos e as emoções que nos definem. É nos pequenos detalhes, capturados pelos sentidos, que encontramos a poesia da vida.

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

OLHAR OU VER?

"Ver" e "olhar" embora ligados à visão, têm entre nós nuances diferentes. De fato, ver refere-se ao ato de perceber algo com os olhos, de forma automática ou sem intenção. É um processo mais passivo.  Já o olhar implica direcionar a atenção para algo, de maneira deliberada. É um ato mais intencional.

Enquanto "ver" está ligado à perceção visual geral, "olhar" envolve foco e intenção.

 Ver é algo quase involuntário, como uma abertura natural dos sentidos ao mundo. Quando alguém vê, o ato é imediato, não exige esforço nem escolha — o mundo revela-se, mas de maneira superficial. Ver é como passar os olhos pela vida, absorvendo a superfície das coisas, sem realmente se conectar profundamente. É como estar num ambiente e apenas perceber a existência do outro sem, de fato, o enxergar.

Olhar, por outro lado, é um gesto carregado de intenção, uma escolha de quem decide mergulhar naquilo que está diante de si. Olhar envolve tempo, presença e curiosidade. Quando você olha, há um convite silencioso para conhecer além do que é óbvio, para captar detalhes que podem ser invisíveis ao simples ato de ver. Olhar alguém nos olhos, por exemplo, é uma maneira de reconhecer sua existência, de tentar desvendar o que está para além da aparência — como se, ao olhar, você também estivesse procurando ver-se refletido no outro.

Assim, enquanto ver é um gesto automático e externo, olhar é um ato íntimo e profundo, que requer entrega e atenção.

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

QUANDO O CORPO FALA POR NÓS

"Quando o corpo fala por nós" pode ter um significado muito pessoal e profundo, pois o corpo se torna uma extensão direta das nossas emoções, experiências e vivências, mesmo que às vezes não estejamos conscientes disso. Em momentos de grande emoção — seja tristeza, alegria, ansiedade ou amor — o corpo reage de formas que podem surpreender, revelando aquilo que talvez as palavras não consigam expressar com precisão.

Por exemplo, numa situação em que se está diante de alguém importante, mas se tenta manter a compostura, o coração pode começar a bater mais rápido, as mãos podem suar ou tremer, e talvez se perceba uma tensão nos ombros ou uma respiração mais curta. Mesmo que não se diga nada, esses sinais falam sobre a intensidade do que se está sentindo por dentro.

Em situações de tristeza, o corpo pode manifestar-se com olhos marejados, um aperto no peito, uma vontade de se encolher, como se precisasse de proteção. Da mesma forma, a alegria autêntica pode iluminar o rosto de alguém, com um sorriso genuíno, relaxamento nos músculos, e até lágrimas de felicidade.

Outro exemplo profundo é o cansaço emocional. Quando passamos por situações desgastantes, como estresse prolongado ou um conflito interno, o corpo manifesta-se frequentemente com dores, tensões, ou até problemas de saúde, mostrando que algo dentro de nós precisa de atenção, mesmo que tentemos ignorar ou racionalizar.

Nos momentos mais íntimos, o corpo também fala quando as palavras não são suficientes para traduzir o que estamos vivendo. Seja uma troca de olhares, um toque suave no braço de alguém querido, ou a maneira como inclinamos a cabeça para ouvir melhor, esses gestos expressam sentimentos que talvez não conseguíssemos articular.

Cada pessoa tem uma forma única de manifestar o que está sentindo fisicamente, e prestar atenção ao que o corpo comunica, pode ajudar-nos a entender melhor as nossas emoções, especialmente aquelas que não conseguimos colocar em palavras.

Esse conceito é sobre a linguagem íntima e pessoal entre corpo e alma, onde o físico e o emocional se entrelaçam de maneira silenciosa, mas profundamente reveladora. O corpo se torna uma janela para o que guardamos dentro de nós.

quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Mais do que palavras

"Mais do que palavras" é uma expressão que sugere que as ações são mais poderosas ou significativas do que simples palavras. Em muitas situações, as palavras podem ser usadas para expressar intenções ou sentimentos, mas são as ações que realmente demonstram o que alguém quer dizer ou sente de verdade.

Esta expressão ficou muito conhecida por causa da música "More Than Words", da banda Extreme, lançada em 1990, onde a letra mostra como o amor verdadeiro vai além de apenas dizer "eu amo-te", e que é preciso demonstrar esse sentimento através de gestos.

Então, em qualquer contexto, "mais do que palavras" geralmente implica que o que realmente importa é o que fazemos, e não apenas o que dizemos.

Num contexto mais intimista a frase pode evocar a profundidade de sentimentos que não podem ser completamente expressos verbalmente. É sobre aquele momento em que o silêncio entre duas pessoas comunica mais do que qualquer discurso longo, ou quando um gesto simples — um olhar, um toque de mão, um abraço — carrega um significado emocional profundo, que vai além do que as palavras são capazes de descrever.

É o tipo de conexão onde o entendimento mútuo transcende a linguagem, onde as emoções são sentidas intensamente sem a necessidade de explicações. Nesse sentido, a expressão representa a essência da intimidade, do carinho e do amor não dito, mas vivenciado e sentido nos pequenos detalhes, nos momentos compartilhados que falam diretamente ao coração.

Cada um de nós pode imaginar um cenário onde estar ao lado de alguém, sem dizer nada, é mais significativo do que qualquer conversa. Isso captura a ideia de que algumas coisas são tão profundamente verdadeiras, que não precisam ser ditas. Elas simplesmente são.

terça-feira, 1 de outubro de 2024

A SURPRESA

Ontem falei-vos daquele olhar tão especial e revelador daquilo que as pessoas sentem e muitas vezes não mostram. Há uns dias, tinha prometido uma surpresa aos meus leitores. Chegou, agora, a altura de juntar os dois fatos, e revelar um pouco mais. Trata-se de um novo livro que irá para as livrarias a 16 de Outubro. De um livro cujo título – OLHOS NOS OLHOS-, espero, vos dê muito prazer ler.

Como sabem, por detrás de cada livro, há sempre uma história, uma memória, um flash, mais ou menos pessoal, que nos impele a escrevê-lo. No meu caso, esta obra está profundamente ligada ao período da pandemia, no qual a minha vida sofreu variadíssimas e inesperadas transformações. Que a alteraram mais do que eu, alguma vez, pudesse esperar.

Olhos nos Olhos é uma expressão que carrega um forte simbolismo relacionado com a conexão direta e intensa entre duas pessoas. Quando se fala de "olhos nos olhos", normalmente estamos a referir-nos a um momento de honestidade, verdade e, muitas vezes, de confrontação. Olhar nos olhos de alguém, significa encarar a outra pessoa sem disfarces ou fugas, permitindo uma comunicação mais profunda, na qual as palavras podem ser desnecessárias, já que o olhar por si só, transmite sentimentos e intenções. A ideia de enfrentar a verdade, seja ela qual for, está profundamente atrelada a este conceito.

"Olhos nos Olhos" simboliza, por isso, o encontro com a verdade e a essência de uma relação, seja de amor, de amizade ou até mesmo de confronto. É um convite ao diálogo sincero, onde as emoções são expostas de maneira crua, e os olhares se tornam a principal linguagem entre duas almas. Neste livro, entre mim e cada um dos meus leitores.

Ele corporiza, deste modo, o encontro com a verdade e a essência de uma relação, seja de amor, de amizade ou até mesmo de confronto. É um convite ao diálogo sincero, onde as emoções são expostas de maneira crua, e os olhares se tornam a principal linguagem.

Olhos nos olhos revela, nos temas que aborda que, mesmo quando a nossa vida se aproxima do fim, é sempre possível mudar e sentir um profundo regozijo nessa mudança provando que, em qualquer idade podemos - devemos –, tornarmo-nos melhores pessoas porque, afinal, é isso que nos faz felizes!

domingo, 29 de setembro de 2024

OS MEUS OLHOS NOS TEUS

"Os meus olhos nos teus" pode, num contexto mais intimista, sugerir aquele instante em que o mundo ao redor parece desaparecer, deixando apenas duas pessoas frente a frente, envolvidas num silêncio carregado de significado. É o encontro de olhares que transcende a superfície, onde se vê e se sente mais do que o simples físico. Nesse momento, há uma vulnerabilidade exposta, como se o olhar abrisse portas para o mais profundo de cada um, sem precisar de palavras, apenas presença.

Imagine -se o cenário: um quarto à meia-luz e o som abafado do mundo lá fora. Dois pares de olhos encontram-se devagar, como se houvesse medo da perda desse abismo de emoções, mas, ao mesmo tempo, uma necessidade inevitável de se entregar. Há uma respiração compartilhada, quase impercetível, e um calor que não vem do toque, mas da intensidade do olhar. Nesses segundos, a alma se desarma, e tudo o que não foi dito encontra voz no silêncio entre esses olhos que se entendem.

É aquele tipo de intimidade que vai além do físico e entra num espaço onde só o olhar basta para conhecer o outro, para sentir o outro de forma plena, em toda a sua humanidade. "Os meus olhos nos teus" é o reconhecimento profundo do outro e, ao mesmo tempo, um mergulho em si mesmo.

sábado, 28 de setembro de 2024

A angústia do domingo

A angústia do domingo, também conhecida como "Sunday Blues" ou "Domingo Melancólico", é um sentimento comum de ansiedade, tristeza ou desconforto que muitas pessoas experimentam ao final do fim de semana. Esse estado emocional pode ter várias causas, sendo as mais comuns:

Fim da liberdade do fim de semana: Durante o fim de semana, há mais tempo livre para descanso, lazer ou para fazer o que se gosta. No domingo, a perspetiva de voltar ao trabalho ou à rotina na segunda-feira pode gerar um sentimento de perda dessa liberdade.

Ansiedade antecipatória: O domingo muitas vezes vem acompanhado de uma antecipação do que está por vir na semana. A preocupação com prazos, tarefas e obrigações futuras, pode aumentar a sensação de ansiedade e de sobrecarga.

Ritmo mais lento: O domingo costuma ser um dia mais calmo e introspetivo, o que pode levar as pessoas a refletirem mais sobre as suas vidas, as suas metas e até os seus problemas. Isso pode gerar um sentimento de insatisfação ou inquietude.

Descompasso entre expectativa e realidade: Muitas vezes, as pessoas têm expectativas altas para o fim de semana, esperando realizar várias atividades prazerosas. Quando o domingo chega, pode haver uma sensação de frustração por não se ter aproveitado o tempo como se gostaria.

Ideias para lidar com a angústia do domingo:

Planeie algo positivo para domingo à noite: Tente fazer algo que dê prazer, como assistir a um filme, cozinhar uma refeição especial ou encontrar amigos. Isso ajuda a mudar o foco da ansiedade para uma atividade relaxante.

Organize a semana com antecedência: Ter uma lista de tarefas ou planos para a semana pode reduzir a ansiedade, já que a pessoa se sentirá mais preparada para o que está por vir.

Pratique mindfulness ou meditação: Estas práticas podem ajudar a reduzir a ansiedade ao trazer o foco para o momento presente e diminuir o excesso de preocupações com o futuro.

Respeite o seu descanso: Tente não sobrecarregar o fim de semana com muitas obrigações e dedique tempo para descansar e recuperar as energias.

A angústia do domingo é uma experiência comum e não está relacionada necessariamente à insatisfação com o trabalho ou com a vida em geral. Com algumas mudanças na rotina, é possível minimizar esse desconforto.

quinta-feira, 26 de setembro de 2024

ACONTECE CADA VEZ MAIS!

A atração de homens mais novos por mulheres mais velhas não é uma regra universal, mas é um fenómeno que ocorre por várias razões. Cada pessoa é única, e a preferência por mulheres mais velhas pode variar bastante de acordo com as experiências de vida, interesses e valores pessoais de cada homem. Algumas razões comuns levam homens mais novos a sentirem-se atraídos por mulheres mais velhas.

Maturidade: Mulheres mais velhas tendem a ter mais experiência de vida e uma visão mais madura das coisas, o que pode ser atraente para homens que buscam relacionamentos mais profundos e significativos.

Segurança: Mulheres mais velhas geralmente são mais seguras de si mesmas, o que pode ser atraente. Essa autoconfiança pode criar um ambiente de relacionamento mais estável e confortável.

Independência: Muitas mulheres mais velhas já alcançaram independência financeira e emocional, o que pode atrair homens que apreciam um relacionamento onde ambos os parceiros são autossuficientes.

Experiência sexual: Homens mais novos podem ser atraídos pela experiência e confiança sexual que algumas mulheres mais velhas possuem, o que pode tornar este tipo de relação mais gratificante.

Perspetivas de vida diferentes: Mulheres mais velhas podem oferecer perspetivas e conselhos de vida que homens mais novos ainda estão descobrindo. Isso é, muitas vezes, um aspeto enriquecedor do relacionamento.

Estabilidade emocional: Mulheres mais velhas por norma têm uma melhor compreensão das suas emoções e uma abordagem mais equilibrada dos desafios da vida, e que, eventualmente, seja atraente para homens que valorizam a estabilidade emocional.

Esses fatores variam de pessoa para pessoa, e a atração entre homens mais novos e mulheres mais velhas, pode ser baseada numa combinação destes elementos, ou mesmo noutros fatores pessoais.

quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Políticas Públicas e a Economia da Felicidade III

Governos de todo o mundo estão a começar a incorporar a felicidade e o bem-estar nas suas agendas políticas. Citamos alguns exemplos.

Butão: Pioneiro no conceito de Felicidade Interna Bruta (FIB), Butão avalia o sucesso nacional através do bem-estar dos seus cidadãos, em vez de apenas indicadores económicos tradicionais.

Nova Zelândia: Em 2019, Nova Zelândia lançou seu "Wellbeing Budget", priorizando investimentos em saúde mental, redução da pobreza infantil e proteção ambiental.

Reino Unido: O governo britânico mede regularmente a felicidade e o bem-estar de sua população e usa esses dados para informar políticas públicas.

Desafios e Críticas

Embora a economia da felicidade ofereça uma abordagem mais holística para medir o progresso e o desenvolvimento, ela também enfrenta desafios e críticas. Alguns críticos argumentam que a felicidade é subjetiva demais para ser medida de forma confiável e comparável entre diferentes culturas e contextos. Além disso, há o risco de que políticas focadas exclusivamente na felicidade possam negligenciar outros aspetos importantes, como liberdade e justiça.

Conclusão

A economia da felicidade representa um avanço significativo no entendimento de como as políticas econômicas e sociais afetam o bem-estar humano. Ao considerar a felicidade como um objetivo legítimo das políticas públicas, sociedades podem buscar um desenvolvimento mais equilibrado e sustentável, que promova não apenas a prosperidade econômica, mas também a qualidade de vida e o bem-estar emocional de seus cidadãos. Fim.

terça-feira, 24 de setembro de 2024

Fatores Determinantes da Felicidade II

Diversos fatores influenciam a felicidade, incluindo:

Renda e Desigualdade: Enquanto a renda pode melhorar a qualidade de vida até certo ponto, a desigualdade de renda pode reduzir a felicidade geral de uma sociedade, aumentando o estresse e a sensação de injustiça.

Saúde: A saúde física e mental é um componente crucial da felicidade. Políticas de saúde pública que promovem o acesso universal aos cuidados de saúde podem ter um impacto positivo significativo no bem-estar.

Relações Sociais: Laços familiares e sociais fortes estão entre os maiores preditores de felicidade. Comunidades coesas e redes de apoio social são fundamentais para o bem-estar emocional.

Trabalho e Emprego: A qualidade do emprego, incluindo segurança no trabalho, equilíbrio entre vida pessoal e profissional, e ambiente de trabalho, é essencial para a felicidade. O desemprego, por outro lado, é uma das principais fontes de infelicidade.

Ambiente e Sustentabilidade: O acesso a um ambiente limpo e seguro contribui para a felicidade. Questões ambientais, como poluição e mudanças climáticas, têm um impacto negativo no bem-estar. (Continua amanhã)

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

UMA VISÂO DA ECONOMIA DA FELICIDADE

A economia da felicidade é um campo interdisciplinar que explora a relação entre bem-estar individual e coletivo e variáveis económicas e sociais. Diferente da economia tradicional, que se concentra principalmente em indicadores como Produto Interno Bruto (PIB), taxas de emprego e produtividade, a economia da felicidade busca entender e medir o impacto das políticas públicas, da distribuição de renda e das condições de vida na felicidade das pessoas.

A economia da felicidade ganhou força nas últimas décadas, particularmente com os trabalhos de economistas como Richard Easterlin, que apresentou o "Paradoxo de Easterlin" na década de 1970. Esse paradoxo sugere que, além de um certo ponto, aumentos na renda de uma sociedade não se traduzem necessariamente em aumentos proporcionais na felicidade dos seus cidadãos. Esse insight desafiou a ideia de que o crescimento económico contínuo sempre levaria a um maior bem-estar.

Medir a felicidade é um desafio metodológico significativo. Pesquisadores utilizam uma combinação de pesquisas subjetivas e dados objetivos para avaliar o bem-estar. Indicadores subjetivos incluem perguntas sobre a satisfação com a vida e emoções diárias, enquanto indicadores objetivos podem envolver fatores como saúde, segurança, educação e qualidade ambiental. (continua amanhã)

domingo, 22 de setembro de 2024

CRÍTICA VERSUS OPINIÃO

Quando falamos sobre a diferença entre opinião e crítica de uma forma mais  aquilo que estamos avaliando e como comunicamos nossos sentimentos.

OPINIÃO

Ligada às emoções e gostos: Quando damos uma opinião, estamos a expressar algo muito pessoal, muitas vezes sem pensar profundamente. É como dizer o que sentimos sobre algo, seja positivo ou negativo. É mais sobre as nossas preferências, o que nos agrada ou desagrada.

Espontânea e direta: Não pensamos muito em justificar ou explicar, porque a opinião é mais sobre o que faz sentido para nós.

Exemplo pessoal: "Eu amo esse livro porque me fez sentir feliz."

CRÍTICA

Mais reflexiva: A crítica, mesmo que também tenha um toque pessoal, tende a ser mais pensada. Ela envolve refletir sobre por que algo funcionou ou não para nós, indo além das emoções e tentando entender os aspetos específicos que nos influenciam.

Busca ser útil: Muitas vezes, quando criticamos, queremos ajudar os outros a verem o que vimos ou sentirem o que sentimos, oferecendo uma visão que tenha algum sentido lógico, mesmo que seja subjetiva.

Exemplo pessoal: "Achei o livro interessante porque os personagens são bem desenvolvidos, mas o final pareceu-me apressado e deixou algumas pontas soltas."

PORQUE SOMOS SIMULTANEAMENTE CRÍTICOS E OPINATIVOS

Vivência pessoal e julgamento: Somos seres emocionais, então a opinião surge de forma natural. Mas também somos reflexivos, e por isso costumamos transformar as nossas opiniões em críticas, tentando entender melhor o que sentimos e compartilhar isso com os outros de forma mais clara.

Conexão e comunicação: Dar uma opinião é uma maneira de nos conectarmos com as nossas próprias experiências. Já ao fazer uma crítica, buscamos comunicar isso de forma que os outros possam entender e talvez até concordar ou discordar, criando uma troca.

Em resumo, todos nós naturalmente opinamos e criticamos porque temos tanto emoções quanto a capacidade de refletir e argumentar sobre elas. É como se estivéssemos constantemente equilibrando o que sentimos e o que pensamos.

sábado, 21 de setembro de 2024

A voz do silêncio

"A Voz do Silêncio" é um conceito que frequentemente se encontra em obras de filosofia, espiritualidade e literatura, e pode ter diferentes interpretações consoante o contexto. De modo geral, refere-se a um estado de introspeção profunda e meditação, onde a verdadeira compreensão e sabedoria emergem da quietude e da ausência de ruído externo.

Na filosofia oriental, especialmente no budismo e no hinduísmo, a "voz do silêncio" é associada à meditação e à prática do silêncio interior, onde o praticante busca silenciar a mente e ouvir a "voz interior" ou a "voz do espírito". Essa voz não é uma comunicação auditiva convencional, mas uma forma de intuição e conhecimento direto que surge quando se atinge um estado de paz mental e clareza espiritual.

Madame Blavatsky, fundadora da Sociedade Teosófica, escreveu um livro intitulado "A Voz do Silêncio", no qual apresenta ensinamentos espirituais que visam guiar o buscador no caminho da autotransformação e da iluminação. Para Blavatsky, a "voz do silêncio" representa a sabedoria divina e o conhecimento esotérico que podem ser atingidos através da purificação e da disciplina interior.

Na literatura e na poesia, a "voz do silêncio" pode ser uma metáfora poderosa para expressar emoções e pensamentos que são profundos e subjacentes, mas que não são facilmente articuláveis com palavras. Poetas e escritores frequentemente exploram o silêncio como uma fonte de inspiração e uma maneira de comunicar verdades universais que transcendem a linguagem.

O conceito também pode ser aplicado em um contexto mais quotidiano, onde o silêncio é valorizado como um espaço de reflexão pessoal e autoconhecimento.  Num mundo cada vez mais ruidoso e cheio de distrações, a capacidade de encontrar e ouvir a "voz do silêncio" pode ser vista como uma habilidade valiosa para alcançar equilíbrio emocional e mental.

Portanto, "A Voz do Silêncio" é um convite para explorar as profundezas do ser, a ouvir o que não pode ser dito e a encontrar sabedoria e paz na quietude interna. Seja através da prática espiritual, da meditação, ou da apreciação da quietude, essa voz silenciosa nos guia para uma compreensão mais profunda de nós mesmos e do universo ao nosso redor.

O FADO POR CAMANÉ

A convite da CGD e do seu Presidente ouvi, ontem, durante quase duas horas, Camané cantar fado. O seu fado e a sua maneira especial de o interpretar

Ouvi-lo é uma experiência singular, marcada pela profundidade emocional e pela autenticidade do género. Ele é um dos grandes nomes do fado contemporâneo, conhecido pela sua voz expressiva e pela forma como interpreta cada canção com intensidade, respeitando a tradição, mas com um toque pessoal.

Os timbres graves e aveludados de Camané conferem um poder dramático às suas interpretações, evocando a melancolia e a saudade, sentimentos tão presentes na canção nacional. Além disso, a sua técnica vocal e a capacidade de contar histórias através da música, fazem com que cada canção pareça um pequeno relato de vida. Ele navega por temas de amor, perda e nostalgia, com uma sensibilidade que toca profundamente quem o ouve.

Outro ponto interessante é a sua escolha de repertório. Camané recorre frequentemente a grandes poetas, como Fernando Pessoa e David Mourão-Ferreira, para dar ainda mais profundidade às suas canções, o que enriquece a experiência para o ouvinte.

O fado, na voz de Camané, tem uma capacidade quase mágica de transportar as pessoas para um lugar de introspeção e emoção pura, uma conexão íntima com a alma do fado português.