terça-feira, 29 de novembro de 2016

A Caixa de Pandora

Depois de sete meses parados, a CGD perde parte da sua administração, mantendo-se Rui Vilar que, pelo que se depreende, irá assumir a governação até que se encontre um novo grupo de gestores que aceite cumprir o programa daqueles que agora saem e trabalhar porventura com menores salários. Uma confusão que me parece estar longe de resolução definitiva.
Até porque não serão muitos os que se disponham a aceitar dirigir a instituição nestas condições. A solução vai, assim, pender para a escolha de um gestor político, que era o contrário do que Antonio Costa preconizava. Enfim, uma baralhada que durou tempo demais, lesou a instituição e acabou por manchar todos aqueles que intervieram no processo, sobre o qual nunca saberemos a verdade. 
E de quem é a culpa disto tudo ? Evidentemente, do PSD e do CDS, como se deduz das palavras que temos ouvido. E uma parcela de culpa pode, de facto, ser-lhes atribuída, porque não souberam ou não puderam, ou não quiseram, dar à Caixa, no seu tempo, a solução que se imporia. E também porque, agora na oposição, não escolheram a melhor via de combater o impasse criado. Mas essa é a velha "estoria" do relacionamento entre os nossos dois maiores partidos ao longo dos anos, quer sejam oposição, quer sejam governo.
Todavia, pretender assacar todas as culpas do que sucedeu nestes lamentáveis sete meses, ao anterior governo, também me parece um excesso, que só descredibiliza quem o afirma. 
Acresce que o silêncio do Ministro das Finanças nesta ultima semana é, no mínimo, confrangedor. O mesmo se pode dizer do chefe de governo, depois de tudo o que veio a lume. Oxalá não se tenha aberto uma caixa de Pandora!

HSC

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Neste tempo de Advento

Daqui a uns dias, entramos num novo ano. Por estranho que pareça numa época de guerra em muitos pontos do globo, de desastres naturais, de refugiados  que tentam escapar a uma morte certa, as palavras que mais se ouviram, os gestos que mais se fizeram, tiveram pouco a ver com estes factos.
O que dominou as noticias não foram o amor pelo próximo, ou a introspecção individual ou colectiva. O domínio pertenceu à política, à finança e à economia. A preocupação com o Brexit, com as eleições em Espanha, com o risco da Itália ou com a necessidade da Grécia e Portugal renegociarem a dívida é que foram as angústias  existenciais da velha Europa. 
E para não ficar atrás a América escolhe Trump para presidir aos seus destinos. Em tempo de Avento tudo isto me parece revelador do mundo em que vivemos no qual tudo se mede em termos de valores. Económicos ou financeiros, claro, porque os outros, esses, estão no domínio da política...
Triste sociedade, aquela em que vivemos!

HSC

sábado, 19 de novembro de 2016

António Ferro


Rita Ferro lançou hoje na Sala dos Espelhos do Palácio Foz o seu livro sobre António Ferro, seu avô. Como já vem sendo tradição havia dois apresentadores Sofia Vala Rocha e António Vitorino e uma surpresa a cargo da actriz brasileira Valéria que leu uma pequena peça do biografado.
Ainda não comecei a ler o livro, que trata uma personagem emblemática do Estado Novo e que a neta vê, com perplexidade, passar de alguém bastante admirado no tempo de Salazar, a um "facínora" nos tempos do 25 de Abril, sem bem compreender porquê. O livro constitui, penso, a sua necessidade de dar a conhecer o "verdadeiro" António Ferro e de finalmente perceber quem era realmente esse avô que ela se habituou a tanto amar.
Assim, a minha opinião sobre a obra irei da-la quando terminar a sua leitura. Decerto vou gostar, porque a aprecio não só como amiga, mas também como escritora. E, creio, se ela se dedicasse só à escrita, nao tenho dúvidas que todos partilhariam da minha opinião.
Depois das palavras da editora, falou António Vitorino que me deixou siderada com a brilhante análise que fez do homem e do país. Seria difícil alguém escalpelizar melhor a personagem de António Ferro, a sua vida política, a sua proximidade de Salazar e a forma como decorreu a sua existência. Para, no fim, acabar por lançar a pergunta crucial que é a de saber o que teria levado o então Presidente do Conselho de Ministros a proteger um homem cuja visão do mundo, em certos aspectos, pouco tinha a ver com a visão paroquiana do chefe do governo. Porque o contrário, ou seja, a obsessão de Ferro pelo patrono, essa, o livro parece dar resposta.
Sofia Vala depois desta primeira intervenção teve a inteligência de só analisar o livro e não o retratado, dando-nos a possibilidade de ter, digamos, dois lados da mesma moeda. E salientando que em muitas situações é a Rita Ferro que se põe no papel do avô.
Uma sala cheia de amigos numa tarde de sábado só a Rita conseguiria. Como só ela conseguiu que Oliveira Martins saísse da plateia para tomar também - e muito bem - a palavra. Enfim, é preciso conhecer bem a autora para perceber este fenómeno de singularidade que caracterizam as suas apresentações!

HSC 

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Pobre Rainha

O Presidente da República foi ao Palácio de Buckingham ver a Rainha. A  sua visita e conversa foram registadas num vídeo, imperdível, de alta definição, sobre o qual Miguel Esteves Cardoso decidiu escrever este texto.

“Depois de lhe dar um beijinho na mão, o Presidente desatou a falar. Contou à Rainha que se lembrava das duas visitas de Estado que ela tinha feito a Portugal. Na primeira, em 1957, Marcelo observa: “I was a child.” A Rainha, agradecendo a referência à diferença de idade entre eles (ela tem 90 anos, ele faz 68 em Dezembro), conseguiu, sabe-se lá como, interrompê-lo e respondeu, com ironia majestática: “I’m sure you were.”
O Presidente Marcelo continuou: “In Terreiro do Paço, you know, that big square.” A Rainha, mostrando as suas boas maneiras, mas querendo também pô-lo no lugar, disse um longuíssimo “yeeeesss…” (tradução: “Não faço a mais pequena ideia do que está a falar”).
O Presidente intuiu que a Rainha já visitou muitos big squares ao longo da vida e decidiu avivar-lhe a memória: “And the carriage…” E a Rainha, entrando em royal repetition mode, num tom “Nós não acreditamos no que nos está a acontecer”, murmurou: “The carriage…
Aí o Presidente recorreu ao rigor: “With General Craveiro Lopes…” Aí a Rainha, ouvindo o nome do grande general, deve ter sido inundada por recordações daquele dia maravilhoso à beira-Tejo.
É então que o Presidente revela tudo: “I was there, in the front row!” E a Rainha: “Were you?” Mas o Presidente Marcelo ainda não tinha terminado: “And then, in 85, I was invited for dinner on Britannia…” E a Rainha, ao lembrar-se do iate real que lhe tiraram e já tendo desistido de qualquer manobra de disuassão, limita-se a repetir: “Were you?…”
Fulminante, e sem perder uma batida, o Presidente explica: “Because I was leader of the opposition…”
Infelizmente o vídeo termina aqui, abruptamente. Mas o humor do Miguel Esteves Cardoso não termina, como pode deduzir-se do que acabaram de ler!

HSC

Poupem-nos, por favor!

Ontem tive uma experiência inédita, sobretudo porque não costumo assistir a este tipo de programas. Três políticos - um euro-deputado, um antigo ministro socialista e um elemento do BE - falavam sobre o Orçamento e sobre a economia do país. Ninguém conseguia entender nada, porque o euro-deputado não deixava ninguém falar, o ex ministro polidamente tentava rebate-lo e o bloquista pedia para ser ouvido. Um espectáculo lamentável de falta de tolerância e de respeito pelas opiniões diferentes, corporizado entre personagens que deveriam dar exemplo de civismo.
Será que as televisões ainda não entenderam o mau serviço que prestam ao país com emissões deste tipo? E os moderadores servem para quê? 
Confesso-vos que ontem me senti envergonhada pelo espectáculo a que assisti. Por eles e por mim que, por deferência para com terceiros tive de os ouvir. Quando, finalmente, desliguei o aparelho, perguntei a mim própria, a quem teria servido um tal debate, se é que se pode aplicar esta palavra àquilo que vi. 
Os portugueses não são estúpidos nem ignorantes. E não carecem deste tipo de elites para se esclarecerem do que se passa na sua terra. Poupem-nos, por favor! 

HSC

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

"So long", Leonard Cohen


Ando deliberadamente em época de más noticias. Leonard Cohen foi o meu companheiro de momentos menos felizes em que só ouvir a sua voz me tirava de amarguras. E foi também companheiro fiel das musicas que, ao som da sua voz, dancei nos braços de quem amava.
Só isto bastaria para sentir a sua partida. Acresce que gostava e gosto do que escreveu. Às vezes e sem sabermos bem porquê há almas que tocam a nossa e ficam para sempre ligadas às recordações que não queremos esquecer.
Com Cohen, como com Aznavour, a idade não conta, porque aquilo que nos toca é intemporal. Vou, por isso, ter muitas saudades deste velho canadiano, que foi jovem ao mesmo tempo que eu...

HSC

Mãos à horta


O livro “Mãos à Horta”, produzido pela Associação Portuguesa de Horticultura - APH, tem a chancela da Agrobook  uma conhecida editora de conteúdos técnicos de agronomia. Escreveram-no 15 autores e destina-se a todos os leitores que gostam de plantas.
Quando me pediram para o prefaciar, fiquei aflita. De agricultura apenas percebia dos “cheiros” que tenho cultivados para as minhas experiências culinárias, o que me parecia manifestamente pouco para alinhavar umas linhas  sobre o assunto. Mas o pedido foi tão empenhado que aceitei ler o livro. Em boa hora o fiz!
“Mãos à Horta” pretende ajudar, incentivando cada um a criar a sua horta ou o seu jardim e ensina os princípios básicos para cuidar deles com amor e alegria.
Para mim, foi uma revelação. Tudo o que tinha cá em casa - coentros, salsa, rosmaninho, tomilho, orégãos, cebolinho – está agora mais viçoso. E se o meu campo dos produtos de eleição acabou por se tornar mais vasto, o meu jardim, até aí inexistente, começa agora a ser motivo de orgulho.
Assim, quem ficou a lucrar com o convite feito, fui eu. E a gente cá de casa, que sempre elogiou os meus pratos, diz agora que eles têm um toque de sabor especial, que atribuem à minha renovada horta!

HSC


quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Hillary, a sétima mulher a não conseguir...


“...Talvez mais do que um feito a crédito de Trump, a sua vitória é a constatação, clara e chocante, de que uma parte importante da América se rege por estímulos extremamente simples, assentes em ideias-chave quase caricaturais, por inseguranças e medos, por preconceitos e crenças, muitas vezes incapazes de passarem no teste da verdade dos factos. 

Sabia-se que essa América existia, ironizava-se com esse mundo bizarro que víamos nos filmes, herdeiro moderno das “vinhas da ira”. Não se pensava que a cumulação de todos esses múltiplos fatores de descontentamento e de mal-estar viesse a ter uma expressão tão forte. Trump teve a arte de saber captar em seu favor a chave para transformar esses sentimentos em votos. E, goste-se ou não, a democracia também é isto..."

                          in http://duas-ou-tres.blogspot.pt/

"Poucas vezes tive tanta pena de ver confirmado um receio, quase certeza, que tinha. Dia muito triste e preocupante e um marco no retrocesso civilizacional que tem sido uma consequência cada vez mais visível da crise de valores éticos e morais que tem afetado o mundo ocidental. Próxima etapa, França. Onde é que vamos parar quando "ser anti-sistema", por vago que seja esse conceito, é alçado à categoria de característica mais desejada, mesmo que tudo ou quase tudo aquilo que se defende, sem falar do carácter de quem o faz, devesse ser indefensável para qualquer pessoa de bem?"


                                    Luís Quartin Graça

Os textos acima expressam exactamente o que, neste momento, sinto. Preciso tempo para deglutir o que se passou na mais forte democracia do mundo. Depois, talvez consiga expressar por palavras minhas, o que me vai na alma. Por enquanto sirvo-me das palavras dos outros, que parecem tiradas da minha boca!

HSC 

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Mas, afinal, o que é que o homem tem?!


Não sou muito de me interessar pela vida alheia. Acho a minha muito mais interessante e chega-me perfeitamente. Acontece que a telenovela da CGD atingiu tais proporções, que hoje dei comigo a aventar que tipo de segredos esconderá a vida daquele Conselho de Administração, para se ter deixado extremar de tal modo as posições daqueles homens?. Sim, porque não há elementos do género feminino nesta salgalhada. 
Confesso-vos que comecei a seriar razões plausíveis que pudessem explicar a situação e não descortino nada que já nos não tenha acontecido. Por isso, se o Correio da Manhã ainda não descobriu, é porque se trata de algo que nem passa pela minha cabeça. Na qual, é sabido, se passa muita coisa. O resultado é que agora sou eu eu que, pela primeira vez, gostava de saber aquilo que Antonio Domingues e os seus muchachos tanto tentam esconder!
Por onde é que anda o nosso prestigiado jornalismo de investigação? Porque será que estão tão caladinhos?! Mas afinal o que é que queles homens têm de tão especial ou táo grave, que justififique esta luta intestina?

HSC

domingo, 6 de novembro de 2016

Eu bem me esforço!

Desde que não tenho políticos na família perdi o fio à meada do que, nesta área se passa em Portugal. Quando ligo o aparelho e paro num dos canais informativos, sou perseguida pela novela da CGD que se arrasta há dois meses sem sair do mesmo sitio, pelos licenciados que afinal não o são, pelo ministro da educação a dizer umas coisas e os mail's do secretário de estado a dizerem outra, pelos analistas do futebol a explicarem o que não tem explicação, pelas eleições americanas a darem quase maioria a um louco varrido e uma Hillary a utilizar mail´s privados para tratar de assuntos públicos e, enfim, ao pacato silêncio dos nossos sindicatos que andam num deficit de greves maior que o do próprio país.
Eu bem me esforço por apanhar uma notícia nova, mas não consigo. Pode ser que na terça feira isto mexa um bocadinho, com os resultados das eleições americanas e a resposta do Tribunal Constitucional ao Presidente dos afectos.
Mas já pensaram quem é que vai aceitar a CGD se não tiver as mesmas regalias salariais que estes tinham? Ninguém. O nosso ministro das finanças meteu-se numa camisa de sete varas e se estes administradores saírem, não pode ser ele a convidar os seguintes. O mesmo será dizer que terá de ser outro a faze-lo...
Percebem porque é que eu bem me esforço por perceber o que se passa e não consigo?!

HSC

A desilusão de Woody Allen

Julgo que, até hoje, nenhum filme de Woody Allen me desiludiu. Mesmo aqueles que eram menos bons tinham sempre qualquer coisa que me levava a pensar que tinham valido a pena. Curiosamente - e ao contrário do que me acontece com outros directores - o homem, enquanto pessoa, não me interessava muito. Mas o realizador e o intérprete, ao contrário, sempre me despertaram uma enorme curiosidade.Talvez porque houvesse nesses dois papeis, na obra e na interpretação, um qualquer lado feminino mais escondido, uma ironia ácida, uma tristeza que provocava riso. Enfim, percebia-se que como pessoa não se levava muito a sério, que, para mim, é um factor de extrema importância. De enfatuados, cheios de si, estou eu bastante farta. Basta ligar o aparelho de tv e eles ali estão a debitar a cassete gasta das suas pomposas certezas.
Assim, fui para o cinema com uma amiga também fã de Allen, ambas convencidas do bom bocado que iríamos ter. Sessão das seis, para jantar em seguida, contentinhas da vida, já que pelo meu lado, ando, há dois meses, em exames, para decidir se opero as duas mãos, afectadas pelo síndroma do canal cárpico. Para os que não sabem o que é, continuem sem saber, porque as dores são piores do que más.
Confesso, que quando acabou o filme quer eu, quer a minha amiga perguntámos "mas o que é isto?". É um filme triste, de alguém que sente a velhice e se angustia com isso. Ora não era essa a tónica da obra deste homem, até aqui. Os velhos existiam mas, felizmente, nao se compadeciam com a sua velhice ou a saudade dos tempos em que eram jovens.
Neste filme, essa compaixão manifesta-se num triste triângulo amoroso, ao qual o realizador não soube dar a volta. E eu saí, pela primeira vez, desiludida com a desilusão de Woody Allen. 

HSC