quarta-feira, 30 de abril de 2025

PARABÉNS, MIGUEL!

1 de Maio de 1958

Acordei ao sentir que o meu coração ainda guarda aquele vazio tão grande que nos deixaste e que, por vezes, parece consumir tudo. Há 13 anos, partiste e, apesar do tempo, esse adeus nunca deixa de doer. Hoje, celebramos o que foi e o que ainda permanece. São 57 anos, com tantas memórias que, para mim, são como estrelas no céu. Cada lembrança tua brilha, mesmo na escuridão da ausência.

Lembro o teu sorriso, a tua risada fácil, a tua voz que me acalmava, como um abrigo seguro. E eu queria tanto mostrar-te as coisas que a vida trouxe neste tempo. Queria mostrar-te o quanto ainda és lembrado e como a tua ausência, apesar de tudo, nunca conseguiu apagar o amor que deixaste.

Cada dia, ao olhar para o Paulo e para o André, vejo pedaços de ti em cada gesto, em cada palavra, em cada olhar. E é isso que faz com que tua presença não se apague. Mesmo com a saudade, tu estás presente em tudo o que fizemos e no que ainda fazemos.

Hoje, celebro o que tu foste, o que tu significaste e o quanto a tua vida, mesmo curta, foi cheia de beleza. E se pudesse dar-te um presente, seria a promessa de que, enquanto eu respirar, continuarás vivo em mim, em nós. Amo-te, meu filho. Para sempre.

AMAR E DESEJAR

Amar e desejar, dois movimentos da alma que muitas vezes se entrelaçam, mas que têm nuances e ritmos próprios, como se fossem danças distintas, mas que, por vezes, se tornam uma só. Amar é como respirar profundamente em um espaço seguro, é o conforto de encontrar no outro um lugar onde a vulnerabilidade se torna a nossa força. Amar é o toque suave que acalma as feridas, o olhar que entende, mesmo sem palavras, e o sorriso que diz mais do que qualquer frase poderia expressar. É como se o tempo parasse quando estamos ao lado de quem amamos, e o mundo ao redor se tornasse uma extensão do nosso próprio ser.

Desejar, por outro lado, é um fogo que arde, um desejo insaciável que pulsa na pele e no coração, como se o futuro inteiro se concentrasse naquele momento de querer, de anseio profundo. O desejo é como uma chama que nos atrai para o desconhecido, que nos empurra para o que está além do que já conhecemos. É a expectativa de algo que ainda não se concretizou, mas que já nos habita, nos define, nos transporta para lugares que não ousamos alcançar sem esse desejo.

Quando o amor e o desejo se encontram, é como se o vento tocasse o mar em uma tarde tranquila: a brisa suave do amor interage com as ondas intensas do desejo, criando algo único, imprevisível, mas profundamente belo. Amar é o abrigo onde o desejo encontra morada, e desejar é o impulso que mantém vivo o calor do amor. São duas forças que se complementam, se desnudam e se revelam na mais pura intimidade.

Mãos pequenas, coração grande

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terça-feira, 29 de abril de 2025

CUIDAR E POSSUIR

Cuidar e possuir são palavras que dançam num jogo silencioso de interdependência, onde uma não existe sem a outra, mas cada uma tem o seu próprio peso, o seu próprio modo de ser vivido. Cuidar é um ato de entrega, de se tornar parte do que se ama, de colocar a alma em cada gesto, em cada palavra e, talvez, até em cada respiração. Quando cuidamos de algo ou alguém, fazemo-lo porque o que está diante de nós toca uma parte íntima e profunda da nossa existência. O cuidado não exige posse, mas faz com que o que tocamos, de certa forma, se enraíze dentro de nós.

Por outro lado, possuir é um movimento de afirmação, de vínculo que vai além daquilo que apenas tocamos com carinho. Possuir é ter, é afirmar o direito sobre o outro, sobre o espaço, sobre o que se conquistou. Mas essa posse, que parece ser de controle, na realidade, não é um domínio absoluto. Quando possuímos, algo de nós também se perde, pois ao mantermos o que amamos perto, corremos o risco de sufocar. A posse, por mais que se apresente como um selo de segurança, muitas vezes carrega consigo a sombra da insegurança, do medo de perder, do controle que se busca para não se despojar.

E é no entremeio desses dois gestos – cuidar e possuir – que encontramos as nossas relações mais delicadas. Quando cuidamos, a posse se torna menos relevante, pois o que importa é a fluidez, o ato contínuo de cuidar e ser cuidado. Quando possuímos, talvez o que buscamos, no fundo, seja o alicerce do cuidado, a confirmação de que aquilo ou aquela pessoa que tanto amamos é, na verdade, um reflexo de quem somos. Mas, ao fazer isso, precisamos lembrar que a posse nunca será absoluta. O que possuímos é sempre vulnerável ao tempo, ao desejo do outro e, principalmente, ao nosso próprio ser.

Cuidar e possuir, não se opõem, mas completam-se, oferecendo-nos a chance de explorar os limites da nossa humanidade, da nossa capacidade de amar, respeitar e, talvez, deixar ir.

Mãos pequenas, coração grande

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LANÇAMENTO

É já no dia 10 de Maio. Um sábado para crianças, avós, pais , mães e restante família aparecerem no El Corte Inglês, para partilharem da minha alegria de apresentar o meu primeiro livro para crianças. Vão com certeza gostar tanto quanto os meus filhos gostavam quando eu o lia para eles!
Apareçam e passem uma tarde de sábado muito agradável e cheia de surpresas!
Mas atenção porque não é o meu numero de telemovel que aparece nos convites, é o da editora!

domingo, 27 de abril de 2025

Quando a vontade desaparece

Quando a vontade desaparece o mundo ao redor parece perder um pouco da cor. As coisas continuam acontecendo — o sol ainda nasce, o café ainda esfria, as mensagens ainda chegam — mas há uma ausência silenciosa por dentro. Não é o fim de tudo, mas um intervalo sem nome entre o desejo e a desistência.

É nesse espaço que mora o cansaço não físico, aquele que nem o sono resolve. Talvez porque o querer não se apaga de uma vez, ele vai se apagando aos poucos, como uma vela que arde em silêncio até só restar o pavio.

Mas será que a vontade some de verdade? Ou será que ela apenas muda de forma, se esconde, se transforma em algo que ainda não conseguimos entender? Talvez o que parece desinteresse seja só um pedido de pausa, uma necessidade de recomeçar, mas sem a pressão de saber exatamente para onde ir.

Talvez o desaparecimento da vontade não seja um fracasso, mas um sinal. Uma chamada subtil para olhar com mais cuidado para dentro. Porque existe uma diferença entre estar perdido e estar em transição — embora, por fora, pareçam a mesma coisa.

Quando a vontade desaparece, surge a chance de escutar o que ficou escondido sob o ruído dos planos, dos objetivos, da pressa. O corpo fala, mesmo que em silêncio. Às vezes, a alma apenas sussurra: "ouve-me sem me tentar consertar."

E é nesse ponto, entre a apatia e o recomeço, que mora um tipo estranho de esperança. Não aquela eufórica, cheia de planos e metas. Mas uma esperança calma, quase tímida. Uma semente de vontade que ainda não brotou, mas está lá — esperando o tempo certo, o solo certo, a luz certa.

Aceitar esse momento é, talvez, um dos maiores gestos de coragem. Porque viver também é isso: permitir-se não saber, não querer, não conseguir. E ainda assim, continuar a respirar.

 Mãos pequenas, coração grande

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sábado, 26 de abril de 2025

O Meu Primeiro Livro Infantil

Olá, queridos leitores!

Hoje é um dia muito especial para mim. Tenho o prazer de compartilhar convosco uma nova jornada, algo que sempre esteve no meu coração, mas que só agora encontrei a coragem e o momento para dar vida: o meu primeiro livro infantil,  editado pela Livros Horizonte e com a feliz ilustração de Carolina Branco.

Após mais de 45 livros voltados para os adultos, nunca imaginei que chegaria o dia de escrever para as crianças. A verdade é que, por muito tempo, pensei que o universo infantil fosse algo completamente alheio ao que eu costumava explorar. Mas, ao longo dos anos, percebi que, na essência, não há, assim, tanta diferença. A escrita, seja para adultos ou para crianças, sempre parte de um lugar de emoção, de busca por sentido, de partilha de histórias e sentimentos.

Este livro, MÃOS PEQUENAS, CORAÇÃO GRANDE, nasceu de uma necessidade pessoal de voltar aos temas mais simples e profundos da vida: a curiosidade, a imaginação e, claro, a magia do mundo que se revela aos olhos das crianças. Ao escrever, pensei no que seria capaz de tocar os seus corações, de maneira leve, mas com a mesma intensidade que as histórias para adultos sempre me permitiram explorar.

Em cada página deste livro, quis transmitir algo que considero essencial: que as aventuras, os desafios e as descobertas, fazem parte de um processo contínuo de crescimento. E que, em cada jornada, é a amizade, o amor e a coragem que nos guiam, seja qual for a nossa idade.

Espero que, assim como eu, vocês se sintam encantados pelas páginas ilustradas desta história. E que ela seja, apenas, o início de muitas mais aventuras que eu possa vir a compartilhar com vocês.

Obrigada por me acompanharem nessa nova etapa da minha carreira. Que este livro toque o coração de cada criança – e de cada adulto que ainda guarda dentro de si a criança que foi.

sexta-feira, 25 de abril de 2025

Encontrar o "eu" em "nós"

Às vezes perdemo-nos na tentativa de pertencer. Vamo-nos moldando,  ajustando, silenciando, tudo pra caber em lugares onde, no fundo, já não era para estarmos por inteiro.

Estar com alguém — seja num amor, numa amizade, numa família — é bonito, mas também é perigoso quando o "nós" apaga o "eu". Quando o carinho se torna concessão constante. Quando o cuidado com o outro se transforma em descuido connosco próprios.

Só que, com o tempo, as pessoas aprendem. Aprendem que dá pra amar e ainda assim manter-se inteiro. Que dá para dividir a vida sem se dividir por dentro. Que o verdadeiro "nós" só existe quando cada "eu" é respeitado.

Encontrar o "eu" em "nós" é isso: não abrir mão da própria voz, só para manter o coro afinado. É olhar-se com verdade, mesmo quando o outro espera outra versão. É saber dizer "isto sou eu". E se o outro não souber lidar, talvez o problema não esteja em si.

Porque o amor de verdade — o amor saudável, o que constrói — não exige que cada um se apague. Ele convida. Ele acolhe. Ele permite que cada um seja o que é, mesmo no plural.

E aí sim, quando o "eu" está bem posicionado, o "nós" deixa de ser prisão e torna-se abrigo.

Mãos pequenas, coração grande

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quinta-feira, 24 de abril de 2025

“A dor de perder duas vezes”


 Casou duas vezes. E perdeu duas vezes. A primeira, pela morte. A segunda, pelo divórcio. Duas dores bem diferentes — e ambas a marcaram profundamente.

Quando ficou viúva, parecia que o chão tinha sumido. Ele se foi de repente. Sem aviso, sem tempo, sem escolha. Doeu demais. A casa ficou muda, os dias longos, e o coração cheio de saudade. Mas era uma dor que vinha junto com o amor. Ela sabia que as pessoas se amavam até o fim. E isso lhe dava algum tipo de paz. Ela chorava com a certeza de que o que tivera fora real, bonito, inteiro.

Depois de um tempo, achou que nunca mais fosse amar. Mas a vida surpreende. Conheceu outra pessoa. Casou de novo. Só que esse segundo casamento não durou. O amor foi mudando, tornado cobrança, distância, desgaste. E quando terminou, a dor foi outra.

Não era silêncio. Era ruído. Discussão, frustração, mágoa. Perguntou-se mil vezes onde errara, se poderia ter feito diferente. Sentia vergonha, fracasso. A dor do divórcio amachuca o coração, mas também o orgulho.

Na viuvez, não houve culpa. No divórcio, teve muita. A saudade do primeiro era triste, mas leve. O fim do segundo foi pesado. Confuso.  Desfê-la de dentro para fora.

Hoje ela entende. Na viuvez, a vida decidiu por ela. No divórcio, ela precisou de decidir seguir sozinha. Uma dor veio da perda inevitável. A outra, da escolha difícil. Nenhuma foi fácil. Mas cada uma lhe ensinou algo. E ela segue agora mais forte, mais consciente, e ainda aberta ao amor. Mesmo sabendo que amar, sempre carrega algum risco de dor.

Mãos pequenas, coração grande
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quarta-feira, 23 de abril de 2025

MIGUEL.


Faz agora13 anos que o meu filho Miguel partiu para o outro lado da Eternidade. Durante todo este tempo esteve presente, diariamente, na minha vida, acompanhando alegrias e tristezas, como se fisicamente aqui estivesse.
Passarei o dia em Fátima, não porque isso seja importante para ele, mas porque ele é fruto de um casamento que ali se realizou, na plena consciência de que seria para sempre.
O Miguel foi um homem feliz. Viveu a vida que quis, como quis, com quem quis, onde quis. Recebeu uma educação diversa - a que cada um dos pais lhe deu -, mas fez de ambas, a sua própria interpretação.
Num país de pouca liberdade esta foi, toda a vida, a sua companheira. E eu estarei sempre muito grata a Deus, pelo filho que me deu durante 54 anos!

Ando a sentir saudades


Ando a sentir saudades como quem tropeça num cheiro antigo, numa música esquecida, numa rua por onde já não passo há tempo demais.
Não sei bem do quê. Talvez de alguém. Talvez de mim.

É uma saudade que não avisa. Chega em silêncio, senta-se ao meu lado e fica. Não faz barulho, mas pesa.
É como se o coração ficasse um pouco mais apertado, como se o peito ganhasse um espaço vazio — mas um vazio cheio de memórias, ecos, vontades.

Ando a sentir saudades dos abraços que não dei, das palavras que engoli, das tardes que não voltei a viver. Dos silêncios partilhados, das risadas inesperadas, do olhar cúmplice que hoje só existe na lembrança.

E há dias em que essa saudade me veste inteira. Me torna mais lenta, mais pensativa. Outros dias, ela só roça a pele, como brisa — mas ainda assim, deixa marca. Talvez a saudade seja o jeito mais belo de dizer que algo valeu a pena.
Mesmo que hoje doa.

Ando a sentir saudades...
E, de alguma forma estranha, a saudade também é um jeito de amar.

terça-feira, 22 de abril de 2025

O Poder dos Influencers na Era Digital

Na era das redes sociais, os influencers tornaram-se figuras centrais na forma como consumimos conteúdo, produtos e até ideias. Um influencer é alguém que, por meio de sua presença digital e carisma, conquista a atenção de um público e exerce influência sobre seu comportamento, principalmente em plataformas como Instagram, TikTok, YouTube e Twitter.

Esses criadores de conteúdos podem atuar em diversas áreas — moda, beleza, tecnologia, jogos, educação, entre outras — e muitas vezes constroem comunidades altamente comprometidas. Diferente de celebridades tradicionais, os influencers são vistos como mais "acessíveis" e autênticos, o que cria uma conexão emocional mais forte com os seus seguidores.

Empresas e marcas reconhecem o valor desses perfis e investem, cada vez mais, em parcerias com influenciadores para campanhas publicitárias, lançamentos de produtos e ações de marketing. O chamado marketing de influência tornou-se uma estratégia poderosa, capaz de gerar resultados expressivos em termos de alcance e conversão.

No entanto, a atuação dos influencers também levanta debates importantes sobre responsabilidade, autenticidade e impacto na saúde mental — tanto dos seguidores quanto dos próprios criadores. Questões como transparência em publicidade, disseminação de informações falsas e padrões irreais de vida e aparência, são temas que vêm ganhando espaço nas discussões sobre o universo digital.

Com grande poder vem, também, grande responsabilidade. Por isso, é fundamental refletir sobre o papel dos influencers na sociedade atual e a forma como escolhemos relacionar-nos com esse tipo de conteúdos.

segunda-feira, 21 de abril de 2025

DESPEDIDA


A morte do Papa Francisco, para um católico, representa muito mais do que a partida de um líder da Igreja. É como perder um pai espiritual, alguém que, mesmo distante fisicamente, fazia parte do quotidiano da fé. Ele tocou muitas almas com a sua humildade, a sua ternura e a sua coragem de romper com formalismos em nome do Evangelho vivo.

A morte de Francisco será, para muitos católicos, como o silêncio que fica, quando alguém que nos acolhia com o olhar, já não está mais ali. Um vazio que dói, mas que também demonstra gratidão. Gratidão por um papa que falava com o coração, que se deixava tocar pelo sofrimento do outro, que amava os pobres e que ousava lembrar, incansavelmente, que Deus é misericórdia.

É possível que uma mulher, católica como eu, sinta neste luto, algo muito pessoal — como se perdesse alguém que a compreendia, que dava voz às inquietações da sua alma e que acreditava, sinceramente, que o Evangelho podia mudar o mundo.

Ao mesmo tempo, há consolo. Francisco viveu como acreditava. A sua morte não apaga o que ele plantou — ao contrário, talvez faça crescer ainda mais o desejo de continuar o caminho que ele indicava, com passos simples, mas cheios de sentido.

Para quem tem fé, a morte nunca é só ausência. É também presença transformada. E o Papa Francisco, como seu jeito doce e firme, provavelmente continuará sendo farol, mesmo do outro lado da eternidade. 

A MORTE DE FRANCISCO


A morte de um Papa representa um marco de imensa relevância não apenas para a Igreja Católica, mas também para o cenário geopolítico e espiritual do mundo. Para os católicos, ela simboliza o fim do pontificado de um sucessor de São Pedro, figura central na condução da fé, da doutrina e da unidade da Igreja. É um momento de luto profundo, reflexão e oração, que mobiliza milhões de fiéis ao redor do planeta.

Para o restante mundo, a perda de um líder com tamanha influência moral e diplomática tem uma ampla repercussão: o Papa é uma voz ativa nas questões sociais, ambientais e de paz internacional. A sua morte abre um período de transição e expetativa, onde o conclave para eleição de um novo pontífice atrai os olhares de todas as nações, refletindo o papel singular que o papado ocupa no diálogo entre fé, cultura e política global. 

sábado, 19 de abril de 2025

UMA FELICIDADE TEMPORÁRIA

Deus deu-me uma grande capacidade de trabalho e de resiliência. Também não me tem poupado em qualquer delas. Mas dotou-me igualmente de uma sanidade mental, que me permite fugir de tudo o que é tóxico e faz mal, sem qualquer problema de consciência. Assim, desde que começaram as faenas políticas o televisor está quedo e mudo. Daí que só tem imagem e som para ouvir o Sousa Pinto e agora o Sousa Tavares, pai. E, mesmo assim, com muitíssima cautela, porque se o segundo só tem um interlocutor, o outro tem tido uma enorme variedade de estrelas do sexo feminino, sobre as quais nem me pronuncio.

Ou seja, nada sei das histórias que por aí correm de casas, casinhas, taxas, taxinhas e, fico caladinha que nem um rato, quando entre amigos me perguntam em quem vou votar. Largo logo uma gargalhada porque, como é evidente, antes de saber em “quem”, é preciso saber “se”!

Porém, estando, ao que julgo, a aproximar-se o momento da verdade, não quero deixar de partilhar convosco, a felicidade que é estar sem ouvir televisão, oportunamente substituída por música e livros. Assim, pode dizer-se, em verdade, que esta é uma forma concreta de felicidade que eu vivi!

Feliz Páscoa para todos.

sexta-feira, 18 de abril de 2025

"Já Não Sei


 Ela apareceu entre os dias, como um hábito antigo que eu não lembrava de ter criado.

Não sei dizer o momento exato em que começou a fazer parte da minha rotina. Só percebi quando, certa manhã, ela já estava tomando café na minha cozinha, como se sempre tivesse feito isso. Conhecia o lugar dos copos, o nome do meu gato, os horários dos meus silêncios.

"Desde quando você está aqui?", perguntei.

Ela sorriu com aquele olhar que nunca me respondia diretamente.
"Você sempre soube."

Comecei a encontrar fotos em que ela aparecia ao fundo. Sempre desfocada, sempre ali.
Mensagens antigas com sua voz, mas sem número.
Perfume no meu casaco.
Nome escrito à margem de livros que jurei nunca ter emprestado.

Ninguém mais a via.
Mas eu sentia — cada vez mais — que ela sabia de mim o que nem eu mesmo lembrava.

E, mesmo assim,
já não sei quando te conheci.
Só sei que agora… não sei mais como te esquecer.

quinta-feira, 17 de abril de 2025

Saber Encantar - Uma História que Levo Comigo


Hoje vou falar de mim. Nunca me considerei alguém especialmente encantadora. Sempre admirei os que chegavam aos lugares fazendo todos rirem, os que pareciam ter uma luz natural, quase magnética. Eu era mais do silêncio. Mais da escuta. Demorei a entender que, às vezes, é aí que mora o encanto.

Aprendi isso devagar, sem grande perceção. Foi, sim, observando pessoas que me tocavam de maneiras subtis. Um café entregue com um sorriso sincero, uma mensagem enviada na hora certa, um abraço dado sem pressa. Pequenas coisas que não se compram, nem se ensaiam. Coisas que se sentem.
Um dia, alguém me disse: “tens um jeito de ser que acalma”. Fiquei em silêncio, sem saber o que responder, mas aquilo ficou a soar dentro de mim. Porque eu nunca havia pensado, que acalmar alguém, também fosse uma forma de encantar.
Comecei a perceber que o encanto não está na performance. Está na presença. Está em saber ouvir sem interromper, em rir com os olhos, em lembrar de detalhes que o outro nem imaginava que tinha    . Está em ser gentil mesmo quando ninguém está olhando.
E foi então que percebi. Encantar é muito mais sobre como nós fazemos o outro sentir-se do que sobre como nós aparecemos. É sobre deixar uma marca invisível, mas profunda. Sobre fazer do quotidiano algo especial, só com a forma como se oferece atenção.
Hoje, não me esforço para impressionar. Esforço-me para ser inteira. Para estar por completo, mesmo em momentos breves. Porque entendi que saber encantar não é um talento que se exibe — é um dom que se vive. E quando nós vivemos com verdade, o encanto simplesmente acontece.
Talvez seja isso que eu possua de mais bonito: a certeza de que, mesmo sendo feita de silêncios, há em mim algo que fica. Que toca. Que, de algum jeito, encanta.

quarta-feira, 16 de abril de 2025

A QUEM POSSA INTERESSAR.

Fui convidada pela FUNDAÇÃO SANTANDER para uma conversa com Rui Miguel Nabeiro sobre SUCESSO, moderada por Martim Sousa Tavares. Gostei imenso de lá ter ido. Hoje recebi, no Linkedin, um comentário muito elogioso de uma senhora, Alexandra Almeida e Silva, a quem respondi com o texto que se segue. E que publico porque é a prova de um reconhecimento mais do que merecido.

“Foram pessoas como a Alexandra que sempre me ajudaram a ser quem sou. Pessoas como Rui Nabeiro que me ensinaram o valor do legado de uma família. Pessoas como o Martim que me ensinaram que um maestro é sempre um maestro, mesmo quando a orquestra tem apenas duas pessoas. Finalmente, instituições como o Santander, que me ensinaram que certos bancos para além do lucro que possam justamente desejar, têm consciência do papel social que podem e conseguem exercer. Obrigada, ainda a todos aqueles que encheram o auditório do Santander. Por fim, o meu agradecimento ao Senhor Presidente, Pedro Castro e Almeida, ao Rui Miguel, ao Martim e a todos aqueles que encheram o auditório do Santander.

Obrigada, Helena Sacadura Cabral.
Obrigada, Rui Miguel Nabeiro.
Obrigada, Martim Sousa Tavares
Obrigada, Fundação Santander Portugal.”

FOI…

De vez em quando apetece-me brincar á prosa poética!

Foi numa bela tarde de maio,
que o sol dourava os telhados
e um cheiro de flor tomava o ar.
As andorinhas riscavam o céu
como traços vivos de liberdade,
e o tempo, por um instante,
pareceu suspenso no calor brando da estação.

Na pracinha do bairro,
crianças riam em coro,
velhos jogavam às cartas
e alguém dedilhava um violão,
tocando uma melodia
que lembrava coisas antigas e boas.

E foi ali,
na curva tranquila daquela tarde,
que os olhos dela encontraram os meus —
e o mundo, antes tão sereno,
ganhou o tumulto doce
de um coração desavisado.

segunda-feira, 14 de abril de 2025

A MORTE DE UM GÉNIO

A morte de Mário Vargas Llosa marca o fim de uma era literária e intelectual. O seu legado vai muito além da figura do romancista. Ele foi um pensador, um crítico e um observador incansável das dinâmicas políticas e sociais do mundo. A sua obra, sempre desafiadora e provocadora, tocou temas que atravessam as fronteiras do tempo, como a liberdade, o poder, a memória e a identidade. E, ao mesmo tempo, sua vida pessoal, com as suas contradições e complexidades, refletiu muitas das questões que ele explorou nos livros.

Embora ele não tenha sido um "modelo de bom comportamento" para muitos, isso é parte do que torna a sua figura ainda mais fascinante. Ele não se restringiu a seguir uma linha moral ou política, o que o tornou mais real, mais humano, com as suas falhas e acertos. Mas no centro disso tudo, havia uma visão de mundo rara e uma habilidade literária inigualável, que o fez ser um dos maiores nomes da literatura mundial.

Vargas Llosa não foi apenas um escritor. Ele foi um homem que se permitiu ser contraditório, que se permitiu errar e, ao mesmo tempo, criar obras imortais que continuam a provocar e inspirar. Ele não nos ofereceu respostas prontas, mas perguntas que nunca perdem a relevância, obrigando-nos a refletir sobre o que é ser livre, o que é ser humano, e como essas questões moldam o nosso destino pessoal e coletivo.

A sua morte é, sem dúvida, um momento de luto para a literatura e para todos aqueles que, como eu, foram tocados pela sua obra. Mas a sua grandeza autor é que a sua voz nunca se calará completamente. Os seus livros continuarão a ser lidos, discutidos e revisitados, garantindo que o seu pensamento e a sua escrita sigam vivos, provocando reflexões, gerando diálogos e desafiando as gerações futuras.

O que Vargas deixa não é apenas uma obra literária, mas um convite para pensarmos sobre os limites da nossa liberdade, sobre a fragilidade das nossas certezas, e sobre como, até nas falhas e nos erros, podemos encontrar algo essencial para entender o ser humano.

domingo, 13 de abril de 2025

SABER ENCANTAR

Saber encantar é mais do que saber falar bem ou ter presença marcante. É uma delicadeza rara, que nasce do coração e floresce nos pequenos gestos. É caminhar pelo mundo deixando rastos de beleza, não nos lugares, mas nas pessoas.

Encantar é olhar nos olhos com verdade, ouvir com atenção plena, e tocar a alma do outro sem precisar sequer estender a mão. É oferecer calma no caos, sorriso na dor, abrigo na dúvida. Quem sabe encantar tem um brilho que não cega — ilumina.

Não se trata de aparência, e muito menos de querer impressionar. Quem encanta de verdade não faz força. Encanta porque é inteiro. Porque sabe ser simples sem ser superficial. Porque transmite paz sem se esconder da própria intensidade.

Encantar é um gesto silencioso que diz: “estou aqui e vejo você”. É um jeito de existir que não grita, mas ecoa. Está na leveza com que se vive, na honestidade com que se sente, e no respeito com que se encontra o outro.

 Quem encanta tem um dom: transforma o ambiente sem se dar conta. A presença é bálsamo, a conversa é ponte, o riso é lar. É alguém que, mesmo em silêncio, conforta. Mesmo de longe, inspira. Mesmo sem querer, fica.

E é justamente isso que torna o encanto tão poderoso: ele não prende, não exige, não cobra. Ele liberta. Ele revela. Ele mostra que ser encantador é, acima de tudo, ser humano — no melhor sentido que essa palavra pode ter.

Saber encantar, afinal, não é sobre conquistar. É sobre tocar. E quem toca de verdade, permanece.

sábado, 12 de abril de 2025

OS QUE PRECISAM DE SE ELOGIAR

Os que precisam de se elogiar não o fazem por vaidade, ao contrário do que muitos pensam. Elogiam-se por necessidade. É quase sempre um gesto de sobrevivência. A sua autoestima, frágil como elefante em loja de cristais , precisa de ser sustentada por palavras — mesmo que venham da própria boca.

Não sabem, ou já esqueceram, o que é ser reconhecido, de verdade. Aquela validação silenciosa, quase sagrada, que vem dos olhos atentos de quem vê. Porque há um tipo de pessoas que vê. Que percebe o detalhe, o esforço, o talento cru. Mas essas, andam ocupados demais, para distribuir pancadinhas nas costas.

E então, restam os espelhos. E os perfis das redes sociais, os discursos ensaiados, os sorrisos envernizados. “Eu sou isso”, “eu conquistei aquilo”, “eu fui o primeiro”, “sou o melhor”. Palavras grandes, mas ocas. Palavras que, ditas repetidamente, ganham o volume de verdades — ao menos para quem as diz.

O elogio auto proferido é, muitas vezes, um pedido de socorro disfarçado de arrogância. Um grito abafado: “por favor, acreditem em mim, porque eu mesmo ainda estou tentando”. E há neles, nos auto elogiosos, uma solidão imensa. Porque o que mais querem — ser vistos, admirados, amados — se torna mais distante a cada palavra que usam para se exaltar.

O que brilha sozinho atrai, mas também cega. E o excesso de luz pode esconder a falta. Às vezes, o verdadeiro valor está naqueles que não dizem nada, mas agem. Os que fazem sem alarde, os que criam no escuro, os que não precisam repetir o próprio nome para serem lembrados.

Esses, quando são elogiados, ficam até um pouco sem jeito. Porque não esperavam. Não mendigavam. Só faziam. E talvez seja isso: o verdadeiro elogio chega quando nós já nem pensamos mais nele!

quinta-feira, 10 de abril de 2025

Já não sei quando te conheci

Hoje resolvi fazer poesia. Talvez prosa poética romântica!

Já não sei quando te conheci.

Não foi num dia exato, com sol ou chuva, com um marco, ou um gesto grandioso. Foi antes da memória querer guardar, antes da consciência decidir registar.

Talvez tenha sido num riso leve, desses que escapam sem compromisso. Ou numa frase jogada no ar, que por acaso, eu peguei e nunca mais devolvi.
Talvez nos olhos — os teus — que pousaram nos meus com aquela calma antiga de quem já me conhecia de outras vidas ou de outras perdas.

Não me lembro do início, e isso me assusta e me acalma.
Assusta porque gosto de começos, de saber o ponto exato onde tudo se alterou.
Mas acalma, porque o que é verdadeiro, às vezes, não começa — apenas é.

Estavas lá quando dei por mim.
Entre palavras que se entendiam sem esforço,
no silêncio que não pesava,
na ausência que doía, leve.

Já não sei quando te conheci,
mas sei que, desde então,
há um antes e um depois em mim.

A SEDE DA ALMA

Às vezes, esta sede se disfarça. Vem em forma de rotina, de metas frias, de listas de afazeres que só crescem. Corremos, trabalhamos, prometemos que está tudo bem — mas, por dentro, carregamos um vazio que só aumenta. Não por ingratidão, mas por essa inquietação silenciosa, de quem sabe que ainda não chegou onde o coração gostaria de estar.

É curioso como, mesmo no meio a tantas vozes, esta sede é solitária. Cada um sente-a de um modo diferente. Uns querem paz, outros, barulho. Uns procuram casa, outros estrada. Há quem busque respostas e há quem só queira o direito de fazer perguntas. Há a sede que arde, há a sede que silencia.

E ainda assim, apesar de tudo, seguimos. Porque essa sede também é o que nos humaniza. É ela que nos conecta uns aos outros. Vemo-nos nos olhos de quem também espera, de quem também sonha. Dividimos silêncios como quem oferece abrigo.

Talvez o grande segredo não seja saciar a sede, mas aprender a caminhar com ela. Entendê-la não como um defeito, mas como bússola. Um lembrete de que ainda há muito para viver, para sentir, para descobrir.

No fundo, esta sede é uma promessa: a de que ainda há mais. Que o mundo não se esgota no que já conhecemos. Que sempre há um novo jeito de amar, de ser, de recomeçar.

quarta-feira, 9 de abril de 2025

E se nós soubéssemos o futuro?

E se soubéssemos?
Se a vida viesse com manual, spoilers, previsão do tempo e do tempo emocional?
Se soubéssemos onde dói antes de doer, onde acaba antes de começar, onde floresce antes mesmo da semente?

Talvez evitássemos alguns erros, mas também evitaríamos encontros.
Desviar-nos-íamos das dores, sim, mas talvez também dos amores.
Porque há beleza no tropeço, há aprendizagem no susto, e há poesia no que não se pode controlar.

Saber o futuro nos pouparia de noites mal dormidas.
Mas também roubaria o frio na barriga, o arrepio da dúvida, o mistério de um olhar novo.
Como viver sabendo a exata hora em que tudo termina, ou que tudo começa?
Como sonhar sabendo a resposta antes da pergunta nascer?

Talvez a graça da vida esteja justamente na curva que não vemos,
no “e se” que ainda é semente,
no instante que não sabemos nomear, mas sentimos.

Porque o futuro — ah, o futuro… — ele vem do jeito que quer, no tempo que decide, com os caminhos que nem sempre entendemos.
E, no fundo, talvez seja melhor assim.
Que ele continue sendo esse lugar secreto onde nossos passos ainda não pisaram, mas nosso coração já imagina.

terça-feira, 8 de abril de 2025

Fundação Santander Portugal

No próximo dia 15 de abril, às 13:00, tem lugar no Auditório Santander mais uma Beyond Profit Talk, sob o tema: "O que significa ter sucesso?".
Rui Miguel Nabeiro (CEO Delta Cafés) e Helena Sacadura Cabral (Economista) são os convidados de uma conversa que será mais uma vez orquestrada por Martim Sousa Tavares e que se pretende que responda a perguntas como:
👉 De que forma o legado e as experiências de vida moldam a forma como lideramos e tomamos decisões?
👉 Num mundo onde o curto prazo domina a economia e a sociedade, como podemos garantir que os valores que nos orientam resistem à passagem do tempo?
As inscrições estão abertas: https://lnkd.in/dh8sXfuc
hashtag#BeyondProfit

Escrevi recentemente sobre o que, para mim, representa o sucesso. Espero poder partilhar convosco o que penso, rodeada de pessoas que, como Miguel Nabeiro, bem melhor saberá falar sobre o tema. E tudo, sob a batuta do Martim, que dirigirá o dueto. Assistam se puderem, porque acredito que vai valer a pena! 😏

O que nos move quando buscamos a espiritualidade

Nem sempre sabemos explicar. Às vezes, é uma inquietação silenciosa. Outras, um chamamento claro, como se algo dentro de nós estivesse batendo à porta, pedindo atenção. A busca pela espiritualidade não nasce, necessariamente, de uma crença pronta ou de uma tradição religiosa. Muitas vezes, ela nasce de um vazio. Um sentimento de que falta alguma coisa, mesmo quando tudo parece estar no lugar.

Pode vir também da dor. A perda de alguém, o fim de um ciclo, a fragilidade da saúde ou a sensação de que estamos perdendo o controle. Diante da vulnerabilidade, voltamo-nos para dentro — e, nesse movimento, muitas vezes encontramos uma dimensão que vai além do racional, do visível, do imediato.

Outras vezes, é o sentido da vida que nos escapa. As repetições do quotidiano, a correria, os compromissos… tudo pode começar a parecer mecânico, desconectado. Então algo desperta uma vontade de compreender mais profundamente quem somos, por que estamos aqui, o que realmente importa. A espiritualidade surge como esse espaço onde podemos fazer perguntas sem garantias de resposta, mas com a confiança de que vale a pena perguntar.

Também há o desejo de conexão. Num mundo cada vez mais individualista, muita gente sente falta de algo maior, de pertencer, de se unir, de se sentir parte de algo que transcende o próprio “eu”. Para alguns, essa conexão dá-se com Deus. Para outros, com a natureza, com o universo, com a vida em si. O nome importa menos do que a experiência de comunhão que ela proporciona.

Por fim, talvez o que mais nos mova seja o anseio por viver com mais consciência, com mais profundidade. Olhar para dentro, cultivar a presença e agir com mais intenção. A espiritualidade não resolve todos os dilemas, mas frequentemente ensina a habitá-los com mais leveza, coragem e humanidade

sábado, 5 de abril de 2025

A sede de tudo o que ambicionamos

A sede de cada um de nós
não é apenas por água,
mas por tudo o que brilha
além do que se pode tocar.

Temos sede de futuro,
de respostas,
de sentido.
Sede de um nome que ecoe,
de um abraço que dure,
de uma vida que valha.

Queremos a sede inteira,
a sede que não se sacia,
porque é ela que nos move —
feito chama que insiste
mesmo no vento contrário.

E no fim, talvez não seja a conquista
que nos define,
mas a sede que nos empurrou até ela.

sexta-feira, 4 de abril de 2025

Carta ao tempo — ou talvez, a você

Cheguei a uma fase da vida em que os dias têm outro ritmo. O silêncio pesa diferente, e a memória tem um gosto agridoce, que antes eu não compreendia. Com o passar dos anos, aprendi que há coisas que simplesmente... ficam. Mesmo quando pensamos que ficou lá para trás.

Tu foste uma dessas memórias. Especial!

A verdade é que, entre tantos rostos, sorrisos e caminhos, o teu nunca saiu do meu. O tempo passou, a vida levou-me por outras estradas, mas houve sempre um canto da alma que voltava pra ti. E é só agora, com a calma — ou a solidão — que vem com a idade, que eu consigo encarar isso de frente.

O grande amor da minha vida foste tu. E não, eu não soube aproveitar.

Na época, talvez eu estivesse ocupado demais, sendo quem achava que devia ser. Tentando controlar a vida, os sentimentos, os medos. Talvez eu tenha confundido amor com liberdade, ou pensado que haveria outras chances iguais. Fui tolo, distraído ou simplesmente covarde. E tu… tu foste tudo o que eu não soube cuidar.

Hoje, se me perguntarem do que mais me arrependo, não é de erros escancarados, nem de decisões mal tomadas. É do silêncio. Da falta de um gesto. De não ter dito com todas as letras que era amor. Que eras tu.

Não escrevo isto esperando resposta. Nem reencontro. Escrevo porque chegou a hora de admitir o que sempre esteve aqui dentro, quieto, mas vivo: que o maior amor da minha vida foi aquele que eu deixei escapar. E que, apesar de tudo, sou grato por ter vivido isso contigo, mesmo que só por um tempo.

Com carinho — e uma saudade enorme,
luis

quinta-feira, 3 de abril de 2025

SUCESSO

No dia 20/3 escrevi aqui um texto sobre O QUE É O SUCESSO. No dia 15 de Abril muito bem rodeada irei conversar sobre o mesmo tema!

 

E SE TUDO FOSSE UM EQUÍVOCO?

A vida é uma sucessão de instantes que se dissolvem no tempo. Corremos atrás deles, mas, paradoxalmente, nunca os seguramos por completo. A pressa torna-se a nossa forma de existir, um movimento incessante que nos arrasta como folhas num vendaval. É um frenesim de metas, horários, compromissos – um turbilhão onde a presença se dilui.

E se tudo fosse um grande equívoco?

Se a pressa fosse apenas o medo disfarçado de eficiência? O medo de encarar o que existe no vazio, o receio de nos vermos inteiros, sem distrações, sem justificativas, sem desculpas?

A pausa, então, não é apenas o intervalo entre dois compromissos. É um mergulho. Um convite àquilo que evitamos sentir quando corremos demais. É na pausa que o silêncio se expande, e no silêncio, que o que somos se revela. O que nos dói, o que nos falta, o que nos transborda.

A pausa exige coragem. Porque parar significa encarar os ecos do que deixamos para depois. O amor não vivido, os sonhos adiados, as palavras que engolimos por medo ou por orgulho. A pausa obriga-nos a reconhecer o que a pressa esconde: a vulnerabilidade, a impermanência, a beleza fugaz daquilo que nunca volta.

E se o sentido da vida estiver menos no avançar e mais no permanecer? No instante que pulsa agora, entre uma respiração e outra? No detalhe esquecido de um entardecer, no toque leve da brisa, no olhar demorado de quem amamos?

A verdade é que passamos a vida correndo atrás do tempo, sem perceber que ele nunca esteve fugindo. Apenas esperava que o víssemos.

E talvez seja isso: a felicidade não está em chegar primeiro, mas em aprender a permanecer.

quarta-feira, 2 de abril de 2025

DOS SONHOS QUE NUNCA SE REALIZAM

Esta frase é bela e profunda. Ela carrega a ideia de que até mesmo os sonhos que não se concretizam têm valor. Eles movem-nos, inspiram-nos, mantêm-nos de pé. É como se o simples fato de sonhar já fosse, por si só, um alicerce da nossa existência.

 Os sonhos têm esse poder silencioso de nos guiar, mesmo quando parecem distantes. Alguns sonhos nunca se realizam. E, por muito tempo, isso dói-nos. Julgávamos que sonhar sem alcançar, era tempo perdido, força desperdiçada. Mas hoje vejo diferente.

Há sonhos que carregamos como abrigo. Eles não se tornam reais no mundo lá fora, mas criam raízes dentro de nós. São eles que nos fazem seguir, mesmo quando tudo parece parado.

Às vezes, só a circunstância de imaginar já é suficiente pra dar sentido ao dia. Sonhar é respirar um pouco mais fundo, é ter um motivo para tentar de novo. Eu, por exemplo, percebi que mesmo os sonhos que não aconteceram... acabaram por me sustentar.

Eles me fizeram quem sou. Moldaram as minhas escolhas, a minha sensibilidade, os meus silêncios. Não precisei vivê-los para entender seu valor. Eles me ensinaram a esperar, a acreditar, a continuar.

Talvez seja verdade que alguns sonhos existem só para isto mesmo. Para nos manter de pé, mesmo quando tudo parece incerto…

terça-feira, 1 de abril de 2025

UMA AMBIÇÃO ESPECIAL

A ambição é um daqueles temas que mexem connosco. Pode ser força propulsora ou armadilha, dependendo da forma como se lida com ela.

No sentido positivo, ambição é o que nos faz querer mais da vida — crescer, conquistar, realizar sonhos. É aquela faísca interna que nos move, que não nos deixa acomodar. Mas, quando vira obsessão, ou quando vem sem propósito, pode cegar. Pode faze atropelar valores, relações ou até a própria saúde.

No aspeto pessoal, a ambição costuma nascer do desejo de ser mais do que se é hoje. Às vezes vem da falta, às vezes do excesso. Pode vir da infância, de traumas, de querer provar algo para o mundo (ou para si mesmo). Em muitos casos, ela é um espelho: mostra o que valorizamos, o que tememos e até onde estamos dispostos a ir por um ideal.

Quando Fernando Pessoa diz: "Tenho em mim todos os sonhos do mundo." , está a referir-se a uma ambição poética, quase dolorosa, de quem sente que carrega o peso de possibilidades infinitas e, ao mesmo tempo, a angústia de nunca realizar tudo.

Na literatura, a ambição é um motor dramático fortíssimo. Dá origem a heróis, vilões, tragédias e epifanias como Macbeth, de Shakespeare, um estudo brilhante sobre ambição desmedida.  Ou a O Grande Gatsby, de Fitzgerald onde temos uma ambição romântica. Já em Dom Casmurro, a ambição de  controle, certeza, pureza e o que ele perde no caminho, é justamente o que ele mais amava (ou julgava que amava).

A literatura mostra que a ambição, quando escrita com profundidade, revela mais sobre o humano do que qualquer outro sentimento, porque envolve desejo, ego, medo, esperança, identidade.