Ontém Mário Crespo, no seu programa, entrevistou-o. Como não podia deixar de ser a conversa foi sobre a actual crise e as formas de a atacar. O retrato foi claro. Portugal gasta cerca de 10% mais do que produz e vive, por isso do crédito externo. Se um dia esse crédito falhar, ele nem quer pensar no que nos aconteceria...
Só que esse crédito está cada vez mais caro e o serviço da dívida cada vez mais difícil. Piores que nós só a Grécia e a Irlanda cujos juros pagos são superiores aos nossos. Ele admite que a contração do PIB possa vir a atingir 2,5%. De facto, quer o consumo quer as exportações estão a retrair-se. O investimento, como se sabe, vai pelo mesmo caminho.
Embora apoie as medidas tomadas pelo governo, é clara a sua preferência pelo investimento público em obras de pequeno porte. Que ajudariam, no imediato, o emprego e as empresas sem ir sobrecarregar as gerações futuras que, neste momento, não podem decidir. Ou seja, prefere a construção e reparação de escolas, por exemplo, a projectos como o TGV ou a terceira ponte sobre o Tejo, cujos elementos de análise crítica estão longe de serem conhecidos.
Silva Lopes tem a enorme vantagem de já ter dado provas da sua competência num dos mais difíceis períodos que Portugal atravessou. Pode, portanto, falar e ser ouvido. Além de dever ser levado muito a sério, porque não pertencendo a partidos, é um homem cuja formação não é de direita. Pelo contrário.
Mais uma vez pude comprovar, nesta conversa, como a idade, no seu caso, só aprimora as qualidades que antes sempre lhe reconheci. Talvez porque não sou de direita nem de esquerda. E tendo dificuldade em me rever no leque partidário actual, sou muito sensível a quem tem a coragem de pensar e dizer, sempre, sem espartilhos, o que considera melhor para Portugal!
H.S.C