segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Ainda Hillary

A carta, cheia de insinuações, que James B. Comey, director do FBI, enviou ao Congresso na passada sexta-feira, 28 de Outubro, revela a descoberta de novos emails de Hillary. Porém, os moldes em que a missiva é escrita, mostra bem como os conservadores estão dispostos a tudo fazer para impedir que esta mulher vença as eleições. Há, de facto, uma América retrógrada, que conseguiu eleger um negro Presidente, mas não tolera a ideia de ter uma mulher nessa função.
O mais lamentável de tudo isto é que esses mails terão sido descobertos no computador pessoal do congressista Anthony D. Weiner, ex-marido de Huma Abedin, a principal assessora de Hillary e vice-directora da sua campanha.
E porque é que isso aconteceu? Porque Weiner está a ser "oportunamente" investigado por se admitir que terá enviado selfies do seu pénis a uma adolescente. 
Que dizer de tudo isto a dias das eleições e quando em Julho, o FBI tinha encerrado o inquérito aos mails de Hillary, ficando esclarecido que ela não havia difundido material classificado através do seu computador privado?
O mínimo que se pode concluir é que há uma certa América profundamente execrável.


HSC

domingo, 30 de outubro de 2016

Cartas de amor




Acabei hoje de ler as cartas de Mitterrand a Anne Pingeot, mãe da sua filha Mazzarine, agora uma mulher de 41 anos. São centenas de epístolas que revelam o lado mais privado do homem que ocupou o mais alto cargo político na França.
A intimidade, quando revelada, tem sempre o duplo efeito de nos fazer participar de algo que não vivemos. E se, neste caso, isso pode ter um lado algo perverso, visto que se trata de um triângulo amoroso, noutras circunstâncias, pode ajudar a compreender melhor alguém de quem só conhecemos o lado público.
Anne Pingeot e François Mitterrand apaixonaram-se no começo dos anos sessenta. Nessa altura o político francês tinha 46 anos, era casado e pai de dois filhos, e ela tinha 19. Anne tornar-se-ia - nas próprias palavras de François - não apenas a sua amante, mas a mulher da sua vida. 
Esta relação intensa e de enorme cumplicidade, só se tornou pública em 1994, quando a revista Paris Match publicou fotografias do então Presidente da República a sair de um restaurante parisiense com a filha de ambos, Mazarine, nessa altura com 20 anos. Este “escândalo mediático” para a época foi, até então, bem protegido pela comunicação social que o conhecia desde há muito.
E se é verdade que Pingeot terá sofrido pelo silêncio que a rodeou e à sua filha, seguramente que a mulher oficial Danielle e os outros filhos não terão sofrido menos, já que chegaram a habitar em lados opostos no Eliseu.
O livro "Lettres à Anne", que saiu há cerca de quinze dias em França, deixou-me uma sensação estranha, que pouco tem que ver com conceitos morais – embora eles existam – mas que tem mais a ver com o homem e o conceito de família que estão por detrás daquelas cartas.
De facto, se esta mulher era assim tão importante, porque é que ele se não divorciou da primeira? Se esta filha foi o fruto desse imenso amor, porquê esconde-la tanto tempo dos olhares públicos? E porque é que todas estas personagens aceitaram desempenhar um papel que apenas Mitterrand impunha? Finalmente, o é que leva Anne Pingeot a publicar agora estas missivas, quando o seu amor morreu há vinte anos e a sua rival há cinco?
Estas são para mim as perguntas mais inquietantes. Da resposta a qualquer delas, depende, afinal, a ideia que façamos dos diversos intervenientes nesta história.
Que foi uma impressionante história de amor, parece evidente. Mas que tipo de poder tinha este homem, para que ela se tenha desenrolado deste modo?!

HSC


Agora, a Espanha



“...Mariano Rajoy é o único animal no planeta que avança sem se mover. O líder dos Populares não tem carisma, não tem o dom da palavra, lidera um partido com vários militantes e antigos militantes envolvidos em casos de corrupção e de branqueamento de capitais, não fez grandes cedências à oposição apesar de carecer de uma maioria absoluta, mas avança. Aliás, olhando para o percurso de Rajoy na política nacional vemos uma história quase inexplicável de sobrevivência. Uns dirão que se trata do triunfo da mediocridade, outros que é um bom exemplo da importância do sangue-frio e da estratégia em política. Seja como for, o homem resiste.”

                               (Diogo Noivo em Delito de Opinião)

Para o Podemos, os socialistas não podiam ceder aos apelos e deviam ser intransigentes no “não” ao PP, abrindo caminho para as terceiras eleições, que os transformariam no primeiro partido de esquerda em Espanha, dando o terceiro lugar a um PSOE desfeito e sem condições para se reafirmar no panorama político nacional.
Decidida a abstenção socialista no passado domingo, Pablo Iglesias e os seus apelidaram o PSOE de tudo. “Traidores”, “marca branca do PP” ou “casta”, foram os mínimos mimos de quem não sabe perder e se cala – se é que não apoia – perante uma manifestação  que visava impedir Felipe Gonzalez,  histórico líder socialista, de dar uma conferência na Universidade Autónoma de Madrid.
O PSOE optou pela sobrevivência, apesar da pressão da esquerda, que se adivinha, será para durar por longo tempo ainda.
Apesar de toda esta novela política a Espanha tem, desde ontem, um Presidente de Governo. Mariano Rajoy e o PSOE parece terem conseguido sobreviver. Mas os problemas de ambos estão longe de estarem resolvidos. Porque Rajoy ficou nas mãos do PSOE e este corre o risco de ficar nas mãos do Podemos.
Há que aguardar os acontecimentos futuros. Mas Portugal deve estar bem atento ao que se passa aqui ao lado...Por motivos óbvios!


HSC