sábado, 30 de setembro de 2017

A devida homenagem


“É bonito quando os alunos se juntam para lembrar aquilo que devem a um grande professor. Não é só reconhecimento: é generosidade e inteligência. É pensar nas gerações futuras. Actualiza a gratidão, mantém a memória e refresca a toponímia. É o que estão a fazer os médicos que foram alunos do João Lobo Antunes. Juntaram-se imediatamente milhares de outras pessoas cujas vidas foram melhoradas, academicamente, pessoalmente e medicamente pelo grande professor, investigador, neurocirurgião e ensaísta. São muitas pessoas: a gratidão é gigante. A lista não acaba: o que é difícil é detectar quem é que não está lá.” 
                                 
                                   Miguel Esteves Cardoso in Público

A ideia é dar o nome de João Lobo Antunes ao novo edifício que se está a construir na Faculdade de Medicina de Lisboa e que vai substituir o Instituto Bacteriológico Câmara Pestana.
Não seria apenas uma homenagem. Seria uma forma de agradecimento a um homem que levou a vida a salvar outras vidas e um exemplo e estímulo para os jovens alunos, investigadores e médicos que o irão frequentar.

HSC

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Domingo

São mais dois dias e as promessas entram no limbo. Mais uma vez não se discutiram os problemas das autarquias e mais uma vez se transformaram estas eleições numa espécie de teste nacional  aos partidos e, sobretudo, numa forma de pressão sobre o Orçamento que está a ser negociado.
A campanha não constituiu uma surpresa. Nem no conteúdo nem na forma. E o lado pouco civilizado como decorreram algumas intervenções, talvez se explique porque o governo viu os seus resultados económicos positivos muito ensombrecidos pelos incêndios e pela novela de Tancos. A surpresa só virá se os resultados de Domingo não confirmarem o poder do PS, que insistiu em fazer destas eleições a ante câmara das legislativas que se aproximam. 
Se dissesse que toda esta euforia me não dá alguma preocupação, mentiria. Os dados económicos conhecidos são complexos de interpretar e até sob alguns aspectos contraditórios. Perante o que vejo anunciado, ou o governo tem reservas que desconhecemos ou corremos alguns riscos que nos podem sair muito caros, sobretudo porque a Europa está nas mãos da Alemanha e esta entrou numa fase em que todos os cenários de coligações possíveis levantam problemas que pouco nos beneficiam.
E, se olharmos à nossa volta, Espanha, França, Inglaterra e Itália estão longe de nos darem tranquilidade. Aguardemos, pois, com alguma curiosidade, o que se irá passar aqui e na Catalunha, no próximo dia de descanso.

HSC

Está em vias de...

"Quando peço à minha filha mais nova para arrumar o quarto e lhe pergunto se já está a resposta invariável é "quase".
"Quase" é uma das palavras mais complexas da língua portuguesa. Pior que a firmeza de um "não" e a incerteza de um "talvez" é a desilusão de um "quase". "Quase" é o que podia ter sido, mas não se concretizou.
Costumo dizer à minha filha que gaste mais horas a fazer do que a sonhar, a concretizar do que a planear, a viver do que a esperar, porque, como alguém escreveu, "embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu". 

                        Helena Ferro Gouveia in Facebook

Nunca se sabe ao certo porque é que certas coisas acontecem. Sou pouco frequentadora do Facebook, onde raramente escrevo, mas publico coisas de outros, que, por uma qualquer razão, exprimem coisas em que acredito. Ou seja, publico bonecos que falam sério. Apesar disso, ou por isso mesmo, tenho bastantes comentários e partilhas.
Reconheço que, para quem escreve, o Face é uma boa ferramenta de trabalho e sei que a sua qualidade depende do uso que dela fazemos. Mas o caracter de diário publico da vida privada das pessoas, que caracteriza muitos dos seus utilizadores, tem-me posto de pé atrás relativamente à possibilidade de lhe dar qualquer outra utilização.
Tudo isto para explicar que, num rápido zapping - que uma doméstica mudança de tecnologia agora me impôs - fui, sei lá como, dar ao texto que acima reproduzo.
Escolhi-o porque ele me me trouxe à memória, a terna lembrança de uma luta antiga que travava com os meus filhos e que nunca consegui vencer, pesem embora os esforços despendidos. É que tudo o que eu pedia estava sempre "quase feito". 
O Miguel, mais preciso, respondia "quase, quase". E o Paulo, que numa primeira fase fazia que não ouvia, acabava por fim com um "tá quase". Ambos me obrigavam a dizer, entre dentes, "têm a quem sair"... 
Mas viver muito tempo, também traz compensações. Como era de esperar, o caso havia de repetir-se com os netos que, sabendo da história, tinham modernizado a expressão, e respondiam, com algum humor, " está em vias de"!

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Igreja: novo livro do Padre Tolentino(12)


O Padre Tolentino de Mendonça acabou de publicar um novo livro - o segundo num ano -, intitulado O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas que foi apresentado sob forma de conversa entre Guilherme de Oliveira Martins e o autor, moderados pelo jornalista José Pedro Frazão.
Desta vez não pude, com grande pena minha, estar presente. Todavia mão amiga fez chegar às minhas a obra, que no Domingo comecei a ler.
Não posso, para já, emitir qualquer opinião. Mas do que folheei, a perceção que tenho é a de que as perguntas essenciais da Humanidade não variam muito. As respostas, essas, é que são o âmago da questão, neste nosso quotidiano atravessado de interrogações.
Tolentino diz-nos que vivemos numa sociedade que acredita que são os sonhos e as utopias que nos movem, mas frequentemente o ponto fundamental para iniciar um caminho são distopiasDe facto, com a decepção, podemos ser mais autênticos porque partimos de uma realidade que permite um recomeço. Sem ela, esse recomeço não existe.
O embrião desta obra ficou a dever-se ao convite feito por um jornal italiano, o Avvenire, para que Tolentino escrevesse diariamente durante os primeiros três meses deste ano. Todavia, depois, o processo de escrita havia de continuar e, assim, nasceram as micro-narrativas deste livro, que são um género desafiador dado que se aproximam muito da nossa experiência do quotidiano, sem um fio narrativo longo, mas com uma breve respiração .
Quem conhece o padre Tolentino sabe o quanto lhe interessa a religião expressa de forma não-religiosa. São suas, as palavras em que afirma que aprende muito com os não-religiosos, ateus e indiferentes, pois os que não crêem fazem perguntas aos que crêem e é importante que estes as escutem e aprendam.
Acredito, diz, que a crença é um laboratório de descrença e que dentro de um crente há sempre um não crente. Mesmo quem vê Deus por todo o lado, faz a experiência de que Ele não está em sítio algum e o contrário também é verdade.
‘O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas’ é, afinal, uma longa conversa onde se cruzam cinema, literatura e memórias, como pretexto para uma aproximação mais espiritual às questões fundamentais”. Só posso aconselhar a sua leitura!

HSC

domingo, 24 de setembro de 2017

Igreja: morreu D. Manuel Martins, Bispo Emérito de Setubal (11)


Manuel Martins, bispo emérito de Setúbal, morreu hoje, na companhia dos seus familiares e após receber a Santa Unção.
Nascido em 20 de janeiro de 1927, em Leça do Bailio, Matosinhos, foi o primeiro bispo de Setúbal, de que era atualmente bispo emérito. Aliás, chegou mesmo a dizer que era "setubalense para sempre".
Manuel da Silva Martins estudou no seminário do Porto e, mais tarde, na Universidade Gregoriana, em Roma.
Foi pároco de Cedofeita, nos nove anos de exílio do bispo do Porto António Ferreira Gomes (1960-1969), durante o Estado Novo, e foi Vigário Geral após o regresso do prelado.
Em 1975, um ano após o 25 de Abril, foi indigitado para bispo da diocese de Setúbal, de onde só saiu 23 anos depois, em 1998.
Na celebração dos 40 anos da sua ordenação episcopal como primeiro bispo de Setúbal, D. Manuel Martins recordou os tempos em que os seus discursos mais inflamados na defesa dos desfavorecidos lhe valeram rótulos como "bispo vermelho", "bispo sem medo" e até "bispo comunista". Seria ele, de facto, a denunciar com veemência, casos de pobreza extrema, de fome e de desigualdades no distrito de Setúbal.
Homem polémico, nem sempre foi bem compreendido. Mas os mais desfavorecidos foram sempre a sua maior preocupação e Setúbal vai ficar mais pobre com a sua morte!


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 HSC

Relato de uma trapalhada

O semanário Expresso fez manchete com um relatório dos serviços de informações militares que censuava Azeredo Lopes de ter gerido o roubo do armamento militar “com ligeireza quase imprudente”, acusando-o ainda de ter proferido “declarações arriscadas e de intenções duvidosas”.
O relatório secreto que o Expresso diz ter sido elaborado em Julho, qualifica o incidente de Tancos como “de extrema gravidade” e tece duras críticas ao poder militar e político, censurando Azeredo Lopes de ter usado uma atitude de “arrogância cínica” na condução de todo o processo.
António Costa, ouvido, fechou-se em copas com o argumento de estar no meio de uma campanha eleitoral, afirmando que "a única coisa que queria dizer é que desconhecia em absoluto esse relatório.”
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, cuja acção de minimização de estragos em Tancos foi, até, supostamente elogiada pelo documento garantiu, a partir de Serralves que não tinha lido o relatório ou sequer a notícia.
Por seu lado, o Estado-Maior-General das Forças Armadas garantiu em comunicado que o seu Centro de Informações e Segurança Militar (CISMIL) “não produziu qualquer relatório” sobre Tancos.
Horas depois, o Expresso reiterou que o documento “existia e era verdadeiro” e que a sua autoria nunca tinha sido imputada ao CISMIL, mas sim a serviços de informações militares. 
O porta-voz do Exército, tenente-coronel Vicente Pereira, limitou-se, por seu turno, a sublinhar que este ramo militar “desconhece o documento”.
A crer nas declarações de Azeredo Lopes, nesta terça-feira, no Parlamento, as únicas consequências do caso foram, até agora, a abertura de três processos disciplinares e o esvaziamento daqueles paióis.
O que talvez se explique dado que o ministro declarara, dez dias antes, em entrevista ao DN e à TSF que, face à ausência de provas, “no limite podia não ter havido furto nenhum”.
Finalmente, neste sábado, o Presidente que, por inerência, é comandante supremo das Forças Armadas, aproveitou para lembrar que “há-de chegar o dia em que teremos de apurar efectivamente o que existiu naquilo que se configurou como uma actuação potencialmente violadora das regras fundamentais do direito português”.
Digamos que é preciso um enorme esforço para se perceber onde anda a verdade, em tudo isto. Como já é norma entre nós, esperemos para ver o que se prova, como se prova e quando se prova.

HSC