quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Feliz Ano Novo

A todos os que pacientemente me leram durante o ano que agora finda eu desejo que 2017 traga a cada um a sua dose de felicidade!

HSC

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

O idoso e a criança de colo

“Entra amanhã, dia 27, em vigor o decreto-lei que estende a todas as entidades públicas e privadas a obrigatoriedade de ser prestado atendimento prioritário às pessoas com deficiência ou incapacidade, pessoas idosas, grávidas e pessoas acompanhadas de crianças de colo.
…As entidades que não cumprirem estas regras podem vir a ser multadas por tal, visto que, com a nova lei imposta, quem não prestar atendimento prioritário nos casos previstos incorre na prática de uma contraordenação social, punível com coima de 50 a 500 euros se for pessoa singular.
Se se tratar de uma pessoa coletiva ou do próprio Estado, a coima vai dos 100 aos mil euros.”

                          (In País ao minuto)

É pena que um país tenha de legislar sobre esta matéria. Mas já que a isso o nível educacional da terrinha obriga, pergunto:
Que idade estabelece a lei para um “idoso”?
Que idade tem uma “criança de colo”?
Gostava de ver esclarecidas estas questões, porque já assisti, várias vezes, a pessoas com mais de 70 anos, não serem tratadas como idosas e, em compensação muitas mães com crianças de dois e três anos ao colo, serem objecto de tratamento prioritário. Ora o que a lei estabelece é “criança de colo” e não criança “ao colo”.
Pessoalmente penso que um idoso é alguém com mais de 65 anos e uma criança de colo é aquela que não anda, ou seja, que tem no máximo ano e meio..
Portanto, mais uma vez, cá estamos nós a legislar sem especificarmos os conceitos que utilizamos. Nada que surpreenda, confesso!

HSC

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

O mundo às avessas?

Já todos os que me lêem sabem que o Natal me traz tristes recordações com a morte da minha mãe a ensombrar este dia. Entro quase sempre num período de nostalgia que, felizmente, se concentra todo nesta semana. 
Este malfadado 2016 levou-me bons amigos, deu-me outros - sim, maravilha das maravilhas, ainda continuo a fazer amizades, como se os anos não pesassem - e mantém alguns sob o peso da doença, o que entristece todos nós.
Mas podiam, ao menos, as noticias do mundo serem boas para alegrar a época. Por azar, não são. O mundo acorda todos os dias com uma loucura pior. São atentados horríveis, desgraças naturais, aviões que caem ou são desviados, pessoas que morrem por estarem no local errado, enfim, países que até elegem presidentes como Trump.
Salva-se Portugal que sorri com ou sem razão. É que a geringonça caminha de mão dada ao PR e os partidos de esquerda que apoiam o governo, parecem não lamentar muito que as suas exigências fiquem apenas pela metade. 
Alguma vez alguém terá considerado isto possível? Duvido. Mas que, num mundo às avessas e à esquerda, Portugal anda direitinho, disso não há qualquer dúvida...

HSC

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Aos meus amigos neste Natal

Contei meus anos
E descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente
Do que já vivi até agora
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.
As primeiras ele chupou displicente,
mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram,
Cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis,
para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias
que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas
que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigam pelo
Majestoso cargo de secretário geral do coral.
As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência,
Minha alma tem pressa...
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana,
Muito humana; que sabe rir de seus tropeços,
não se encanta com triunfos,
não se considera eleita antes da hora,
não foge da sua mortalidade.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,
O essencial faz a vida valer a pena.

"AMIGOS NÃO SE DESPEDEM,MARCAM UM NOVO ENCONTRO"

                    (Poema de Mário de Andrade)

sábado, 17 de dezembro de 2016

Cair na esparrela...


Todos os que me lêem sabem que não tenho Natal com alegria, desde que há muitos anos, perdi a 25 de Dezembro a minha Mãe. Nada a fazer. Estou presente nas reuniões de família, mas o meu espírito está sempre longe. Assim, e ao contrário de tudo o resto, em que muito antes de chegado o prazo limite, as obrigações estão já cumpridas, este ano não me apeteceu fazer compras.
Sentindo culpas no cartório e tendo a possibilidade, hoje, de usufruir de motorista, eis que me desloquei ao Corte Inglês, para tentar comprar uns presentes. O desenlace de cair em tal esparrela, ultrapassou tudo o que pudesse esperar. Só consegui adquirir duas agendas - uma para mim, outra para o escritório - e um mínimo de bens alimentares para aguentar o fim de semana. E já foi uma violência psicológica tremenda. O mar de multidão, ao meio dia, era indiscritível. Saí dali a correr e a pedir ar fresco. Cheguei a casa morta de cansaço e a única actividade que consegui ter, foi escrever este post!
Não volto, de certeza, a cair na esparrela de ir a um centro comercial, em vésperas de Natal, fazer compras. Mas não arrisco dizer irrevogavelmente...

HSC

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Inovar Saúde: Cancro 2020

Hoje participei da 4ª edição do Think Tank que se ocupou do tema que dá titulo a este post e que tem sido uma iniciativa da Universidade Nova e da Escola de Saúde Pública, com o apoio da Roche. Quando me convidaram para fazer um depoimento tive muitas dúvidas em aceitar, porque considerava que nada poderia acrescentar ao que uma plêiade de especialistas iriam debater sobre a matéria. E falar de cancro continua a doer-me muito.
Pedi, por isso, um tempo para pensar. Acabei por aceitar, entendendo que com isso, faria um preito de homenagem à minha Mãe, que se debateu 18 anos com a doença, e ao meu filho Miguel cuja luta, infelizmente, pouco mais durou do que dois anos. E, confesso, por acreditar que se tivesse engenho e arte, poderia dar testemunho do caminho percorrido nas três décadas que separam estas minhas duas perdas. Se o consegui ou não, só os que me ouviram poderão avaliar.
Pelo meu lado, assisti a uma boa parte das mesas redondas e aprendi muito com o que ouvi, nomeadamente com a preocupação de centrar a atenção no doente, para quem se pretende não só o melhor tratamento clínico, mas também a humanização que a partir da descoberta  da doença ele vai necessitar de ter.
Pode muita coisa ficar pelo caminho, pode dizer-se que depois não há seguimento, que o interior se sente discriminado em relação ao litoral, que as coisas não passam do papel. Será verdade em muitos casos. Mas também é verdade que em Portugal os índices de saúde são melhores do que em vários países ricos e que a diferença entre o que havia no tempo da minha progenitora e o que houve no tempo do meu filho não tem comparação.
Três palavras finais de apreço. Uma para a Clara de Sousa, que conduziu de forma exemplar a moderação dos debates. Outra para o Ministro da Saúde que fez o encerramento com um discurso que me tocou e que me vai fazer estar atenta ao seu percurso no governo. Finalmente, outra à farmacêutica Roche, pela forma como tratou os seus convidados. Enfim, uma manhã que me enriqueceu e que por algumas horas me trouxe de volta a Mãe e o Filho.

HSC

domingo, 11 de dezembro de 2016

As maroscas da Google

Ando um pouco baralhada com as inovações que a Google introduz nas nossas contas, sempre para ajudar, melhorar, arejar e ...complicar a vida de quem tem mais do que um blogue, como quem nos diz, fecha lá uns para dares menos trabalho.
Ultimamente voltei à Agenda dos Sabores e tem sido uma trapalhada. Penso que estou  a escrever no Fio de prumo e sai-me o Estado da Arte. Penso que estou neste e sai-me a Agenda. Enfim, uma pequena diversão a ver se eu desisto. Mas, como sou persistente, qualidade que herdei quer da familia paterna quer da materna, vou "marrando" e acabo sempre por lhes dar a volta econseguir publicar.
Assim, quem quiser, tem lá na Agenda, mais uma receitinhas novas. E talvez venha a abrir o blogue não para comentários mas para sugestões de comidas que cada um prepare e considere boas.
Pronto, hoje ia falar da alegria e do riso que foi o tema da homilia deste III Domingo do Advento. Mas entrei pelas comidas e como o Sporting perdeu, deixo a matéria para amanhã.

HSC

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

As fortes convicções

Alguém me disse ontem que eu chegava à provecta idade que tenho, porque sou uma mulher de fortes convicções. Ri-me, porque primeiro duvido que a minha longevidade tenha a ver com algo mais que os desígnios da Providência e a equipe de médicos amigos que me têm gostosamente prolongado a existência. Depois, porque não sei se sou o que se chama de uma mulher de convicções. As que tenho são muito reduzidas e não hesito em revê-las sempre que a vida me mostra a  fraca fiabilidade das mesmas. Ao longo da minha existência fui fazendo escolhas e estas impõem, sempre, abandonar alguma coisa. Hoje as tais convicções básicas reforçaram-se, é certo, mas as outras têm evoluído comigo, felizmente!
Tenho menos certezas do que há umas décadas atrás e gosto cada vez mais de quem não pensa como eu, me dá luta e me faz encarar-me a mim própria. Isto, sim, talvez seja um bom caminho para ir fazendo anos!

HSC

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

A poesia de Boaventura Sousa Santos

Na morte de Fidel
É urgente um verso vermelho
que suspenda a animação deste desastre
pensado para durar depois do inverno
É urgente um verso vermelho
com todas as cores do arco iris
e o vento natural do universo
É urgente um verso vermelho
que ponha de novo em movimento os comboios da imaginação
azeite puro em manivelas de razão quente
o peso da história de novo levíssimo
a rodar sobre perguntas livres e ruínas vivas
a paisagem mudar primeiro lentamente
enquanto vão entrando vozes ainda submersas
e corpos mal refeitos da desfiguração da guerra e do comércio
das crateras e promoções
É urgente um verso vermelho
que desate os nós da memória e do medo
e resgate os rios da rebeldia
a palavra cristalina inabalável
inconfundível com as mordaças sonoras
à venda nos supermercados da ordem
É urgente um verso vermelho
para anunciar barco polifónico da dignidade
pronto a navegar
os rios libertos das barragens calcinadas
"dos sistemas de irrigação industrial da alma
É urgente um verso vermelho
uma luz manual portátil que vá connosco
sem esperar a que virá no fundo do túnel se vier
porque a cegueira da viagem é sempre mais perigosa
que a da chegada
talvez só entrega
talvez só paragem
É urgente um verso vermelho
que trace um território inacessível
aos vendedores de mobílias espirituais
e turismo de acomodação
É urgente um verso vermelho
vinho de bom ano para acompanhar
sonhos sãos e saborosos
preparados em brasas de raiva e a brisa da alegria
É urgente um verso vermelho
sem solenidades nem códigos especiais
para devolver as cores ao mundo
e as deixar combinar com a criatividade própria dos vendavais

                                Boaventura Sousa Santos

Surpreendente mundo este...

A política na Europa tornou-se imprevisível. Espanha, Austria, Inglaterra, Itália e em breve a  França deram cabo de todas as sondagens feitas para eventos politico eleitorais. O que mostra uma de duas: ou as agências não percebem nada do que fazem, ou a realidade ultrapassa, em muito, as bases em que aquelas assentam. De facto, o desacerto tem sido excessivo.
Parando um pouco para olhar o mundo, vemos que a América não vai melhor e o Oriente é um potencial foco de infecção. Isto para não falar já das complicações de Moçambique, do anuncio  da retirada de José Eduardo dos Santos em Angola, do Brasil ou de Cuba.
Levámos oito dias a acompanhar a subida aos ceus de Fidel de Castro, com votos de louvor na Assembleia da Republica, cujos deputados, dada a sua tenra idade, não devem perceber bem que Fidel teria todo o direito a estas homenagens se tem morrido em 1959. Mas como faleceu em 2016, nem sei como as classificar... É este o surpreendente mundo novo em que vivemos!

HSC

domingo, 4 de dezembro de 2016

LX 80, um livro a não perder


Pode-se falar da alma de um país de diversas formas. Uma – e, a meu ver, das mais originais – é percorrer ruas, bairros, músicas, modas, ícones – e trazer para os livros os factos que a História, como disciplina, não contempla. Todavia, são eles que contam a outra face, a da “estória viva” de uma sociedade, que ainda tem pessoas capazes de recordar as memórias dessas três décadas.
É o que faz Joana Stichini Vilela, uma jornalista nascida nos anos oitenta. Curiosamente foi nessa época que eu renasci, pelo que a data marca para ambas um começo de vida. Ela porque via a luz do dia. Eu porque, finalmente, iniciava a minha verdadeira vida. Só esta circunstância bastaria para que aqui falasse do seu ultimo livro -  "LX80 - Lisboa entra numa nova era" -, que completa a trilogia aberta com os anos 60 em que se recorda  a vida na capital naquela década, muito marcada pelo consumismo e pelas noites  do Bairro Alto.
Jornalista de formação a autora criou uma colecção de livros que recordam a vida na capital portuguesa nas três últimas décadas: depois de Lx60 e de Lx70, surgiu agora o terceiro, a que acima me refiro.
Em 1980 Joana era uma criança cujas memórias mais marcantes recordam a canção do Vitinho que, na altura anunciava a hora de deitar. Ao contrário, eu recordo a Lambada, ritmo que veio do Brasil na mesma ocasião. E ambas, por motivos diferentes, recordamos as idas ao Centro Comercial das Amoreiras, inaugurado em 1985 
A Joana Vilela, pareceu óbvio, depois do livro dos anos 60, continuar com a década seguinte e "naturalmente" chegar aos anos 80. Fazia, de facto, todo o sentido juntar estas três décadas, que apesar de bastante diferentes, em conjunto, constituem um bloco. 
Mas para atingir os seus objectivos também era importante retratar os anos 80 e para tal juntou-se a Pedro Fernandes, o designer gráfico que a acompanha nesta aventura e que cresceu na mesma época.
Se os anos 60 foram a década da ideologia (e de sonhar com um país diferente) e os anos 70 foram marcados pela revolução de Abril (a política estava em todo o lado), esta década de 80 é aquela em que as pessoas querem uma normalidade, procuram recuperar o atraso perdido. 
À medida que se avança na década percebe-se como, não havendo nada, existia essa urgência de trazer tudo para cá, como uma rampa ascendente. É um tempo marcado pela abertura ao mundo - a entrada na CEE em 1985 foi um momento decisivo - e pelo dinheiro, a bolsa, o consumo, os excessos. 
Sentia-se uma grande urgência. Havia uma crescente efervescência, uma profunda sensação de que tudo era possível. É uma atitude que se estende aos jornais, ao cinema, à rádio, às bebidas e aos artistas. Surge alguém como António Variações, que hoje se tornou um ícone da verdadeira música popular de qualidade. 
Foi também a época da D. Branca, a banqueira do povo, que seria condenada a 10 anos de prisão. E de outras coisas menos boas. É que nesta Lisboa dos anos 80 havia prédios em ruínas, o Chiado ficou reduzido a cinzas, a heroína circulava pela cidade e  a Sida começou a fazer parte dos noticiários. Houve também o rapto de um bébé acabado de nascer no hospital, e viveu-se um período de medo de que tal voltasse a acontecer.
Cada história é contada de uma maneira diferente e com uma ética diversa. No final do livro, que também é o final da década, surge "a campanha mais louca do mundo", a de Marcelo Rebelo de Sousa à Câmara de Lisboa. E com ela, o candidato a banhar-se no Tejo e a conduzir um táxi. Que acabaria por perder as eleições. Mas ninguém suporia, então, o que ainda lhe (nos) iria acontecer em 2016.
Trata-se de um excelente livro que fala de Portugal, falando de Lisboa. E que nos retrata com isenção, não escondendo o que estava mal mas, sobretudo, não esquecendo aquilo que então tanto nos animava. Já é muito raro haver quem o faça!

HSC

terça-feira, 29 de novembro de 2016

A Caixa de Pandora

Depois de sete meses parados, a CGD perde parte da sua administração, mantendo-se Rui Vilar que, pelo que se depreende, irá assumir a governação até que se encontre um novo grupo de gestores que aceite cumprir o programa daqueles que agora saem e trabalhar porventura com menores salários. Uma confusão que me parece estar longe de resolução definitiva.
Até porque não serão muitos os que se disponham a aceitar dirigir a instituição nestas condições. A solução vai, assim, pender para a escolha de um gestor político, que era o contrário do que Antonio Costa preconizava. Enfim, uma baralhada que durou tempo demais, lesou a instituição e acabou por manchar todos aqueles que intervieram no processo, sobre o qual nunca saberemos a verdade. 
E de quem é a culpa disto tudo ? Evidentemente, do PSD e do CDS, como se deduz das palavras que temos ouvido. E uma parcela de culpa pode, de facto, ser-lhes atribuída, porque não souberam ou não puderam, ou não quiseram, dar à Caixa, no seu tempo, a solução que se imporia. E também porque, agora na oposição, não escolheram a melhor via de combater o impasse criado. Mas essa é a velha "estoria" do relacionamento entre os nossos dois maiores partidos ao longo dos anos, quer sejam oposição, quer sejam governo.
Todavia, pretender assacar todas as culpas do que sucedeu nestes lamentáveis sete meses, ao anterior governo, também me parece um excesso, que só descredibiliza quem o afirma. 
Acresce que o silêncio do Ministro das Finanças nesta ultima semana é, no mínimo, confrangedor. O mesmo se pode dizer do chefe de governo, depois de tudo o que veio a lume. Oxalá não se tenha aberto uma caixa de Pandora!

HSC

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Neste tempo de Advento

Daqui a uns dias, entramos num novo ano. Por estranho que pareça numa época de guerra em muitos pontos do globo, de desastres naturais, de refugiados  que tentam escapar a uma morte certa, as palavras que mais se ouviram, os gestos que mais se fizeram, tiveram pouco a ver com estes factos.
O que dominou as noticias não foram o amor pelo próximo, ou a introspecção individual ou colectiva. O domínio pertenceu à política, à finança e à economia. A preocupação com o Brexit, com as eleições em Espanha, com o risco da Itália ou com a necessidade da Grécia e Portugal renegociarem a dívida é que foram as angústias  existenciais da velha Europa. 
E para não ficar atrás a América escolhe Trump para presidir aos seus destinos. Em tempo de Avento tudo isto me parece revelador do mundo em que vivemos no qual tudo se mede em termos de valores. Económicos ou financeiros, claro, porque os outros, esses, estão no domínio da política...
Triste sociedade, aquela em que vivemos!

HSC

sábado, 19 de novembro de 2016

António Ferro


Rita Ferro lançou hoje na Sala dos Espelhos do Palácio Foz o seu livro sobre António Ferro, seu avô. Como já vem sendo tradição havia dois apresentadores Sofia Vala Rocha e António Vitorino e uma surpresa a cargo da actriz brasileira Valéria que leu uma pequena peça do biografado.
Ainda não comecei a ler o livro, que trata uma personagem emblemática do Estado Novo e que a neta vê, com perplexidade, passar de alguém bastante admirado no tempo de Salazar, a um "facínora" nos tempos do 25 de Abril, sem bem compreender porquê. O livro constitui, penso, a sua necessidade de dar a conhecer o "verdadeiro" António Ferro e de finalmente perceber quem era realmente esse avô que ela se habituou a tanto amar.
Assim, a minha opinião sobre a obra irei da-la quando terminar a sua leitura. Decerto vou gostar, porque a aprecio não só como amiga, mas também como escritora. E, creio, se ela se dedicasse só à escrita, nao tenho dúvidas que todos partilhariam da minha opinião.
Depois das palavras da editora, falou António Vitorino que me deixou siderada com a brilhante análise que fez do homem e do país. Seria difícil alguém escalpelizar melhor a personagem de António Ferro, a sua vida política, a sua proximidade de Salazar e a forma como decorreu a sua existência. Para, no fim, acabar por lançar a pergunta crucial que é a de saber o que teria levado o então Presidente do Conselho de Ministros a proteger um homem cuja visão do mundo, em certos aspectos, pouco tinha a ver com a visão paroquiana do chefe do governo. Porque o contrário, ou seja, a obsessão de Ferro pelo patrono, essa, o livro parece dar resposta.
Sofia Vala depois desta primeira intervenção teve a inteligência de só analisar o livro e não o retratado, dando-nos a possibilidade de ter, digamos, dois lados da mesma moeda. E salientando que em muitas situações é a Rita Ferro que se põe no papel do avô.
Uma sala cheia de amigos numa tarde de sábado só a Rita conseguiria. Como só ela conseguiu que Oliveira Martins saísse da plateia para tomar também - e muito bem - a palavra. Enfim, é preciso conhecer bem a autora para perceber este fenómeno de singularidade que caracterizam as suas apresentações!

HSC 

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Pobre Rainha

O Presidente da República foi ao Palácio de Buckingham ver a Rainha. A  sua visita e conversa foram registadas num vídeo, imperdível, de alta definição, sobre o qual Miguel Esteves Cardoso decidiu escrever este texto.

“Depois de lhe dar um beijinho na mão, o Presidente desatou a falar. Contou à Rainha que se lembrava das duas visitas de Estado que ela tinha feito a Portugal. Na primeira, em 1957, Marcelo observa: “I was a child.” A Rainha, agradecendo a referência à diferença de idade entre eles (ela tem 90 anos, ele faz 68 em Dezembro), conseguiu, sabe-se lá como, interrompê-lo e respondeu, com ironia majestática: “I’m sure you were.”
O Presidente Marcelo continuou: “In Terreiro do Paço, you know, that big square.” A Rainha, mostrando as suas boas maneiras, mas querendo também pô-lo no lugar, disse um longuíssimo “yeeeesss…” (tradução: “Não faço a mais pequena ideia do que está a falar”).
O Presidente intuiu que a Rainha já visitou muitos big squares ao longo da vida e decidiu avivar-lhe a memória: “And the carriage…” E a Rainha, entrando em royal repetition mode, num tom “Nós não acreditamos no que nos está a acontecer”, murmurou: “The carriage…
Aí o Presidente recorreu ao rigor: “With General Craveiro Lopes…” Aí a Rainha, ouvindo o nome do grande general, deve ter sido inundada por recordações daquele dia maravilhoso à beira-Tejo.
É então que o Presidente revela tudo: “I was there, in the front row!” E a Rainha: “Were you?” Mas o Presidente Marcelo ainda não tinha terminado: “And then, in 85, I was invited for dinner on Britannia…” E a Rainha, ao lembrar-se do iate real que lhe tiraram e já tendo desistido de qualquer manobra de disuassão, limita-se a repetir: “Were you?…”
Fulminante, e sem perder uma batida, o Presidente explica: “Because I was leader of the opposition…”
Infelizmente o vídeo termina aqui, abruptamente. Mas o humor do Miguel Esteves Cardoso não termina, como pode deduzir-se do que acabaram de ler!

HSC

Poupem-nos, por favor!

Ontem tive uma experiência inédita, sobretudo porque não costumo assistir a este tipo de programas. Três políticos - um euro-deputado, um antigo ministro socialista e um elemento do BE - falavam sobre o Orçamento e sobre a economia do país. Ninguém conseguia entender nada, porque o euro-deputado não deixava ninguém falar, o ex ministro polidamente tentava rebate-lo e o bloquista pedia para ser ouvido. Um espectáculo lamentável de falta de tolerância e de respeito pelas opiniões diferentes, corporizado entre personagens que deveriam dar exemplo de civismo.
Será que as televisões ainda não entenderam o mau serviço que prestam ao país com emissões deste tipo? E os moderadores servem para quê? 
Confesso-vos que ontem me senti envergonhada pelo espectáculo a que assisti. Por eles e por mim que, por deferência para com terceiros tive de os ouvir. Quando, finalmente, desliguei o aparelho, perguntei a mim própria, a quem teria servido um tal debate, se é que se pode aplicar esta palavra àquilo que vi. 
Os portugueses não são estúpidos nem ignorantes. E não carecem deste tipo de elites para se esclarecerem do que se passa na sua terra. Poupem-nos, por favor! 

HSC

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

"So long", Leonard Cohen


Ando deliberadamente em época de más noticias. Leonard Cohen foi o meu companheiro de momentos menos felizes em que só ouvir a sua voz me tirava de amarguras. E foi também companheiro fiel das musicas que, ao som da sua voz, dancei nos braços de quem amava.
Só isto bastaria para sentir a sua partida. Acresce que gostava e gosto do que escreveu. Às vezes e sem sabermos bem porquê há almas que tocam a nossa e ficam para sempre ligadas às recordações que não queremos esquecer.
Com Cohen, como com Aznavour, a idade não conta, porque aquilo que nos toca é intemporal. Vou, por isso, ter muitas saudades deste velho canadiano, que foi jovem ao mesmo tempo que eu...

HSC

Mãos à horta


O livro “Mãos à Horta”, produzido pela Associação Portuguesa de Horticultura - APH, tem a chancela da Agrobook  uma conhecida editora de conteúdos técnicos de agronomia. Escreveram-no 15 autores e destina-se a todos os leitores que gostam de plantas.
Quando me pediram para o prefaciar, fiquei aflita. De agricultura apenas percebia dos “cheiros” que tenho cultivados para as minhas experiências culinárias, o que me parecia manifestamente pouco para alinhavar umas linhas  sobre o assunto. Mas o pedido foi tão empenhado que aceitei ler o livro. Em boa hora o fiz!
“Mãos à Horta” pretende ajudar, incentivando cada um a criar a sua horta ou o seu jardim e ensina os princípios básicos para cuidar deles com amor e alegria.
Para mim, foi uma revelação. Tudo o que tinha cá em casa - coentros, salsa, rosmaninho, tomilho, orégãos, cebolinho – está agora mais viçoso. E se o meu campo dos produtos de eleição acabou por se tornar mais vasto, o meu jardim, até aí inexistente, começa agora a ser motivo de orgulho.
Assim, quem ficou a lucrar com o convite feito, fui eu. E a gente cá de casa, que sempre elogiou os meus pratos, diz agora que eles têm um toque de sabor especial, que atribuem à minha renovada horta!

HSC


quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Hillary, a sétima mulher a não conseguir...


“...Talvez mais do que um feito a crédito de Trump, a sua vitória é a constatação, clara e chocante, de que uma parte importante da América se rege por estímulos extremamente simples, assentes em ideias-chave quase caricaturais, por inseguranças e medos, por preconceitos e crenças, muitas vezes incapazes de passarem no teste da verdade dos factos. 

Sabia-se que essa América existia, ironizava-se com esse mundo bizarro que víamos nos filmes, herdeiro moderno das “vinhas da ira”. Não se pensava que a cumulação de todos esses múltiplos fatores de descontentamento e de mal-estar viesse a ter uma expressão tão forte. Trump teve a arte de saber captar em seu favor a chave para transformar esses sentimentos em votos. E, goste-se ou não, a democracia também é isto..."

                          in http://duas-ou-tres.blogspot.pt/

"Poucas vezes tive tanta pena de ver confirmado um receio, quase certeza, que tinha. Dia muito triste e preocupante e um marco no retrocesso civilizacional que tem sido uma consequência cada vez mais visível da crise de valores éticos e morais que tem afetado o mundo ocidental. Próxima etapa, França. Onde é que vamos parar quando "ser anti-sistema", por vago que seja esse conceito, é alçado à categoria de característica mais desejada, mesmo que tudo ou quase tudo aquilo que se defende, sem falar do carácter de quem o faz, devesse ser indefensável para qualquer pessoa de bem?"


                                    Luís Quartin Graça

Os textos acima expressam exactamente o que, neste momento, sinto. Preciso tempo para deglutir o que se passou na mais forte democracia do mundo. Depois, talvez consiga expressar por palavras minhas, o que me vai na alma. Por enquanto sirvo-me das palavras dos outros, que parecem tiradas da minha boca!

HSC