domingo, 28 de abril de 2019

Esta nova Lisboa



António Costa queria uma Lisboa a duas rodas. Fernando Medida seguiu-lhe o passo. E nós, transeuntes ou condutores, assistimos impávidos a reduções sucessivas do espaço de rodagem para os automóveis, que deram, claro, lugar às bicicletas e às motorizadas, como se fossemos uma capital plana e com chão de auto estrada.
Mas isto não bastou e para modernizar mais a nossa vida surgiram os tuktuk que enxameiam a cidade, cheios de turistas e estacionam onde bem querem, sobem a passo de caracol criando autenticas filas de carros, eléctricos e autocarros que só conseguem apitar com a situação. Enfim, uma medida para dar cabo da nossa cabeça, aliada às inversões de sentido, igualmente tomadas sem que nos explicassem as razões.
Mas faltava algo mais, para sermos completamente modernos e planos. Falo das trotinetes eléctricas, largadas em qualquer lado e cujos manobrantes nem capacetes usam, para poderem partir melhor a cabeça deles e de quem tenha a infelicidade de os atropelar. São um terror...
Lisboa é uma cidade de sete colinas e estes tipos de transporte a duas rodas eléctricas, não obedecem às regras de trânsito, ultrapassam pela direita e pela esquerda sem o menor cuidado e até o fazem com uma mão ocupada pelo telemovel.
Haverá alguém na Camara Municipal de Lisboa que regulamente e fiscalize estes transporte e os individuos que o utilizam? 
Mais tarde ou mais cedo vai ocorrer um desastre com perda de vidas. Será preciso isso, para serem tomadas as devidas providências?

HSC

sábado, 27 de abril de 2019

A minha revolução


Resolvi ir a Valinhos de Fátima comemorar o meu dia 25, acompanhada de mais duas amigas. Uma é católica mas não conhecia aqueles frondosos terrenos, onde se diz terem ocorrido as duas das aparições feitas aos pastorinhos. A primeira em 1916, do Anjo de Portugal (ou Anjo da Paz) e a segunda, da Virgem no dia 19 de Agosto de 1917
A outra amiga é ateia, mas tem o espírito aberto característico das mulheres que são muito inteligentes. Talvez por isso, não é a primeira vez que me acompanha porque, diz, o silencio do local lhe retempera a alma.
Faço esta visita normalmente duas vezes por ano. Uma entre o fim de Abril e o principio de Maio e a segunda quase sempre em Novembro. O ritual não se altera, vá sozinha ou acompanhada. 
Chego a Fátima e vou à Tia Alice almoçar e dar-lhe um beijo. A Tia Alice é uma senhora dona de um espaço de restauração belíssimo, de quem eu gosto muito e que, creio, também gosta de mim. Depois, vou à cozinha cumprimentar todos os que preparam aqueles maravilhosos repastos.
Terminada a refeição sigo, então, para Valinhos, onde fico a tomar consciência de mim, de quem sou e do que posso fazer para ser melhor. Perco muito a noção do tempo, naquele imenso manto de verde, onde até o silêncio se pode ouvir. Da ultima vez segui, o caminho da Via Sacra. Este ano escolhemos o caminho da Loca do Anjo, que é mais curto.
Voltei refeita por dentro e por fora. E contente com o que fiz do meu dia 25 de Abril. É que acredito cada vez mais que as revoluções mais importantes se fazem por dentro. Foi o caso!

HSC

quinta-feira, 25 de abril de 2019

The Aftermath



Hoje decidi ir ao cinema ver The Aftermath, um filme lançado no Reino Unido em Março último, dirigido por James Kent e estrelado por Keira Knightley.
Poderá ser encarado como uma bela história de amor passada no pós - guerra, em 1946, numa Alemanha vencida pelos ingleses. Todavia eu prefiro considera-lo como uma história de compaixão - essa palavra tão esquecida! -, porque foi exactamente esse sentimento que tive ao longo do filme.
O desempenho é excelente e a película vive muito do jogo de luzes que põem em evidência o olhar e os rostos dos protagonistas. Não é um filme de diálogo intenso, mas os gestos, em várias ocasiões, substituem muito bem as palavras por dizer.
Pessoalmente gosto de modo particular de estórias nas quais a linguagem corporal marca o ritmo e a intensidade do enredo e em que cada espectador tem a sua própria leitura dos acontecimentos.
Não se trata de uma filme excepcional. Mas é um belíssimo ensaio sobre a guerra. E é, sobretudo, uma narrativa sobre a natureza do ser humano e o que as circunstâncias em que vive podem fazer dele. Uma fita que vale mesmo a pena ver!

HSC

quarta-feira, 24 de abril de 2019

Luis Aguiar Conraria


Não me lembro há quanto tempo "descobri" Luis Aguiar-Conraria, nem sequer onde li um seu texto - o primeiro - que chamou a minha atenção. Num retrato muitíssimo simplificado, diria que é um economista, docente na Universidade do Minho e opinador no jornal Publico.
Sei que foi há alguns anos e, se me não engano, terá sido um texto publicado num blog. No imediato chamou-me a atenção tratar-se de colega de uma profissão que, talvez me engane, considero em declínio, já que hoje todos são gestores, financeiros ou analistas.
Depois o texto revelava a particularidade de usar a economia com humor. Os poucos que o fazem pertencem, na sua maioria, à minha geração de dinossauros, cujo passado se apresentava prometedor. O problema foi o futuro...
A partir dai passei a estar atenta ao protagonista deste post e a concordar cada vez mais com o que ele escrevia, lá de Braga, onde creio que reside. Factor que constitui, aliás, para mim uma outra sua mais valia. Ou seja, não está na academia cosmopolita lisboeta, apesar de ter estudado lá por fora.
Esta é a história de como eu descobri a sua cabeça. Mas faltava-me vê-lo a funcionar. Teria esse prazer através do " Governo Sombra" que teve a excelente ideia de o convidar, não para falar de Economia, mas sim... de violência doméstica! Não podia ter sido melhor.
Não só confirmei que há "gente" para além do economista, como tudo o que ele disse foi eivado de sense of humor e de um sadio sentido crítico. Tudo características cada vez mais raras... Assim, aconselho vivamente quem me lê, a estar atento a este nome e a não perder nada do que ele escreve!

HSC  

terça-feira, 23 de abril de 2019

Até amanhã

Meu querido Miguel
Finalmente acabei hoje de arrumar as nossas coisas. Dezenas de fotos, de cartas, de bilhetes. Ri-me contigo de algumas dessas lembranças. Agora já estão fechadas num baú e não as irei ver tão cedo. 
A partir deste dia a nossa história vai ser escrita com base nas conversas que diariamente sempre temos. À noite, do terraço mando-te um abraço e no dia 1 de Maio mandar-te-ei um beijo. Amanhã almoço com o André e vamos divertir-nos. À tarde irei à missa por ti!
Depois conto-te tudo com pormenores.

Saudades da mãe

sábado, 20 de abril de 2019

Happiness


Nada mais verdadeiro. A felicidade é uma escolha e não o resultado de algo. A gratidão também. Por isso, apenas o que está dentro de nós poderá fazer-nos felizes. E só quando tivermos essa percepção é que estaremos em condição de partilharmos ambas com os outros.
Mas a maioria das pessoas não faz essa escolha. Limita-se a esperar que a felicidade lhe caia no colo. Talvez por isso é tão difícil ser feliz e tão fácil ser infeliz. É que infelizes somos todos um pouco...

HSC

Sexta Feira Santa

Esta sexta feira foi inteiramente dedicada a mim e vivida em silêncio. 
O filho queria levar-me para férias e dois grandes amigos queriam levar-me para o Alvito, onde seria tratada como uma princesa. Mas eu precisava de estar comigo e com Ele. Foi a opção mais acertada.
A perda daqueles de quem gostamos traz frequentemente consigo a imagem da finitude. Que pode, por estranho que pareça, focar-nos no essencial. Que, para a maioria de nós, se centra na resposta à pergunta "o que é que fizemos com a nossa vida?".
Questiono-me muito sobre este tema. Este ano mais ainda, porque no tempo da Paixão, a morte tem sempre mais impacto. Julgo que as minhas contas pessoais, nesta matéria, estão feitas. Como mulher, como filha, como mãe, creio ter cumprido a minha missão. Mas ela não está terminada. Amanhã vem a Páscoa para lhe dar uma nova dimensão!

HSC

quarta-feira, 17 de abril de 2019

Adeus, Julio!

Ainda não estava refeita da morte da Ana Braga, quando recebi a noticia de que o meu velho amigo Julio Correa Mendes tinha partido. Tive um aperto no coração e relembrei cerca de 50 anos de histórias e vivências comuns. 
Ha muitos anos, já advogado, quer ele quer a mulher, igualmente advogada, foram meus  alunos de Economia. Havia de nascer dessa docência uma amizade que dura até hoje.
O Julio era uma pessoa especial, com enorme sentido do humor e uma total disponibilidade para os amigos.
Esta tarde, sozinha junto ao caixão, relembrei uma fase da minha vida, que sendo dolorosa, ele sempre soube adoçar. E sorri, ao lembrar-me de algumas peripécias, pelas quais ele tivera de passar, na tentativa de resolver os problemas daqueles de quem gostava.
As filhas e os netos, para além da mulher Rosy - que sempre habitou num mundo, também ele bastante especial -, foram a vida inteira o seu suporte. E ele contou a vida inteira com o esteio familiar e com aqueles que o estimavam sem reservas. 
Que à chegada tenhas todos os amigos à tua espera! Qualquer dia vamos ter contigo...

HSC

domingo, 14 de abril de 2019

A propósito da Semana Santa

"...Uma das grandes tarefas das lideranças da Igreja – bispos, párocos e congregações religiosas – consiste em ajudar as pessoas a perceber o que perdem se não aprofundarem o sentido das celebrações da fé e o que ganham quando são fiéis ao seu espírito e finalidade.
Não adianta muito insistir no que está mandado ou proibido, quanto a práticas religiosas. Importa que se tornem apetecíveis pela sua beleza e sobriedade. Que falem à sensibilidade, ao coração e à inteligência. Que nos comovam.
Quanto à Semana Santa, existem vários tipos de recuperação das tradições e da qualidade das celebrações marcadas pelas exigências do Vaticano II. O turismo religioso explora tradições. A liturgia viva procura uma linguagem de beleza que mostre a urgência de nascer de novo. Só podemos saber se celebramos a Páscoa, se crescer em nós a vontade de servir aqueles que precisam da nossa dedicação: sabemos que passamos da morte para a vida porque amamos os irmãos."

                              Frei Bento Domingues in jornal Publico

HSC

sábado, 13 de abril de 2019

Hoje morreu a Ana Braga


Nem todos a conhecem por este nome, já que nasceu como Ana Nobre Guedes. Mas casou com o fadista João Braga e decidiu assumir o nome do marido.
Era uma mulher discreta, uma amiga verdadeira, uma companheira e mãe fiel aos seus princípios e o motor do clã que criou. Foi na sua casa que, muita gente de direita conviveu com gente de esquerda, apesar de ter sido obrigada a fugir para o Brasil para conseguir sobreviver, e disso não guardar rancor.
Era, enfim, alguém cuja vida foi dedicada à familia, como tantas outras mulheres que ninguém conhece, e que põem, na sombra, o país a funcionar. 
Conheci bem o casal e a descendência que construiu. Possivelmente, ninguém falará da sua morte. Mas eu tenho uma imensa tristeza por a ter perdido e sei que muitos amigos nossos, dirão o mesmo. Que Deus a receba de braços abertos! 

HSC

quarta-feira, 10 de abril de 2019

Tempo de esperança


Abril é um mês duro para mim. Digamos que até ao dia 24 - em que um filho me morreu nos braços -, é uma caminhada árida. Por isso, este ano resolvi que era chegada a altura de dar uma "virada" ao assunto e convocar para essa data algo que me desse prazer. Foi o que fiz.
Assim, no dia 23 de Abril, véspera dessa fatalidade que me aconteceu, chegará às livrarias um novo livro meu, cujo título Tempo de Esperança, diz muito dessa minha intenção de encerrar um ciclo doloroso. É preciso que chegue uma brisa de bonança que encha o meu e os nossos corações. Espero te-lo conseguido!

HSC

terça-feira, 9 de abril de 2019

Os amigos, a familia e a Rita

Com o passar dos anos a familia vai-se, infelizmente, reduzindo. É o meu caso. Perdi os avós, perdi os pais, perdi um filho, perdi um irmão. Também perdi marido, mas essa é outra "estória", porque ele está vivinho da costa, graças a Deus. Foram  perdas difíceis, mas que fui ultrapassando, talvez porque quase diariamente me lembro deles, a propósito das mais diversas razões. É um cheiro, uma cor, uma frase, um por de sol, tudo mos traz até mim.
Provenho, quer do lado materno, quer do lado paterno, de clãs numerosas. Talvez por isso faça amizades com razoável facilidade. E, curiosamente, são-me tão necessárias as antigas como as mais recentes.
Vem este introito a propósito de um jantar a que fui esta semana, celebrar os 50 anos de uma recente mas grande amiga, como se pode deduzir da sua faixa etária. E falo-vos disto, porque ele decorreu no fim de semana passado, mais concretamente no sábado, e foi totalmente organizado pela aniversariante, para receber 25 amigos, em que tudo, mas mesmo tudo, foi pensado  para dar prazer a esses amigos.
Há pessoas cujo maior gosto é dar prazer aos outros, estendendo àqueles que estimam, aquilo que só habitualmente se encontra na família. A casa estava linda e tudo emanava uma rara simplicidade, porque a beleza vinha de algo muito especial e que só quem ama muito os seus amigos, consegue transmitir. 
A Rita, é este o seu nome, podia ser minha filha. Conheço-a há dois anos e não pode ter sido por acaso que a vida nos juntou num mesmo prédio. Quando olho para trás, não deixa de me emocionar que o local onde vivo, me tenha trazido duas das minhas melhores amigas. E que, de certo modo, as sinta como uma espécie de "compensação familiar" para os que amei e perdi.
Adorei fazer 50 anos. Foi a parte melhor da minha vida. Não me canso de o afirmar. Por isso, ver uma pessoa admirável entrar nessa idade e eu ter a sorte de partilhar esse momento, é algo que me torna muito feliz. Acredito que com ela se vá passar o mesmo, porque o merece amplamente!

HSC