domingo, 28 de fevereiro de 2021

É preciso dar tempo ao tempo

Depois de todos os tristes acontecimentos que partilhei convosco esta semana, ontem deitei-me sem sono, sem lágrimas mas com a garganta tão apertada que nela, acho, não cabia um feijão frade. Acontece-me sempre este aperto, quando estou emocionada e não consigo chorar. Não houve livro, revista ou programa televisivo que conseguissem alterar o meu estado de espírito. Já altas horas da madrugada, decidi que era melhor levantar-me e vir para a sala ouvir Vivaldi no meu Spotify. Fechei os olhos e julgo ter repassado mentalmente tudo o que me acontecera. E que, tendo sido invariavelmente mau, ao lado do que muitos meus amigos passaram, não era nada. 

Tudo bem, não via o neto instalado no Algarve, mas falava com ele e ficava compensada. As amigas, em grupos de três e às distâncias convenientes vinham ver-me ou eu ia vê-las. O meu filho quase diariamente almoçava ou jantava comigo e, apesar de tudo, eu ainda fora capaz de escrever outro livro que estará nas livrarias em meados de Abril. Então, porque é que nesta época da Quaresma, eu não oferecia pelos outros as dificuldades que tinha sofrido e agradecia ao Pai estar "vivinha da costa"?

Se assim pensei melhor o fiz. E aninhada no Vivaldi, acabei por adormecer e pregar um susto à minha Melania - sim, é o nome fino da georgiana que tenho em casa há um ano - que ao ver-me a dormir na sala, pensou que me tinha acontecido alguma coisa. Aqui, ri com a aflição dela. Depois, olhei através da janela o sol maravilhoso que despontava e a vida pareceu-me outra vez cheia de promessas!

HSC

sábado, 27 de fevereiro de 2021

Jimmy Risso-Gill

Não consigo situar quando conheci o casal. Mas foi há muitos anos, durante os quais se cimentou uma bela amizade que, de algum modo, cresceu externa aos seus outros amigos. Ao contrário do que é habitual, eu apreciava ambos de forma diferente, mas gostava muito de conversar com o Jimmy. Era um homem nascido em Inglaterra com uma curiosa história de vida, que poucos conheciam e de que ele pouco falava. A mulher, Isabel, era de uma enorme vitalidade e se nunca fora pobre, por herança paterna, creio, tornara-se uma pessoa com um elevado estilo de vida. Com ela podia falar-se de qualquer coisa porque os seus interesses eram muito diversificados.

Com o Jimmy era diferente. Sempre senti nele uma serenidade que parecia assentar em algo bem profundo. Em vários fins de semana que passei a sós com ambos, aproveitei muitas vezes para o ouvir falar do seu modo de ver o mundo e o meu apreço por ele vem daí. Era impossível não se gostar do Jimmy e eu aprendi isso por experiência própria.

Em determinada altura o casal foi viver para Londres e aí a nossa amizade deixou de ser alimentada como antes. Mas eu ia sabendo deles por amigos comuns. E foram justamente esses amigos que, ontem, me disseram que o Jimmy Risso - Gill havia falecido em Portugal, vitima deste desgraçado vírus que já nos dias anteriores havia levado o Alberto Romano, nosso comum amigo.

Deus sabe por que razão as tragédias acontecem. Mas se o ano 2020 foi difícil de suportar, o de 2021 não começa da melhor maneira. Onde quer que estejas, meu caro Jimmy, terás sempre amigos à tua volta. E que Deus proteja a Belucha e lhe dê força par ela aguentar este dramático incidente é o que, do fundo do coração, lhe desejo.

HSC

sábado, 20 de fevereiro de 2021

Adeus Alberto Romano


 Foto Expresso
Ao longo da nossa vida, vamos estabelecendo relações de amizade. Umas perduram, outras perdem-se por caminhos diferentes dos nossos e, outras, mantêm-se adormecidas por razões muito diferentes. Falo disto hoje aqui, porque esta maldita doença matou um dos melhores seres humanos que cruzou a minha vida. Falo de Alberto Romano que entre muita obra que fez no seu concelho de Cascais esteve muitos anos à frente do ACP Automóvel Clube de Portugal. Amigo fiel e dedicado havia perdido a sua lindíssima mulher há cerca de dois anos. Tentou superar a dor dessa perda com a ajuda de bons amigos que sempre teve. Aliás, a sua história pessoal, dava um romance extraordinário na pena de quem o conhecesse bem. Houve um período da minha existência em que a nossa relação de amizade nos aproximou e eu pude conhecer melhor as lutas que teve de travar. Por isso, quando soube do que sofreu com o Covid, o meu coração teve um aperto e, eu que não sou nada passadista, acabei por relembrar um período da minha vida, com muita saudade. Estejas Alberto onde estiveres, terás, lá no alto, aqueles que amaste e partiram antes de ti. E continuarás a ter, aqui, todos os que te conheceram e já sentem saudades tuas!

 HSC

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Alguém me ajuda?

Devo, neste ano de confinamentos e desconfinamentos, a minha resiliencia, ao filho, aos amigos, à leitura e à música. Sem eles eu não teria atravessado este periodo da mesma forma. Ler e ouvir musica, fazem-me tanta falta como comer. Nunca acreditei que se fechassem livrarias e se proibissem os poucos supermercados que têm livros de os venderem. Não pode ser pelo perigo de contágio, porque senão não tocaríamos nos alimentos que vamos comprar. como tocamos. Sejamos sérios: nas lojas de alimentação os riscos são muito maiores do que nas livrarias. E, se temem algo, então, distribuam luvas de plastico para que os possamos folhear. Mas, por favor, não nos impeçam de alimentar o espirito, com livros e música, do mesmo modo que não nos impedem de alimentar o corpo. Estamos a criar uma noção de familia que não tem sobre que falar, a menos que sejam novidades tecnológicas. E é se falarem, porque uma grande parte dos jovens já passam 7horas agarrados ao computador - a olhar sabe-se lá para quê, ou a fazer sabe-se lá o quê - e já nem as refeições tomam em conjunto. Temo que se tenha perdido a riqueza das histórias de adormecer ou a atenção que os avós - hoje na maioria ainda a trabalhar - dedicavam aos netos. Quando eu era pequena deliciava-me a ouvir o meu avô, engenheiro militar, a contar as situações porque tinha passado. E as melhores prendas que me podiam dar eram livros. Tão importantes, como foi O PRINCEPEZINHO, o primeiro livro que li sem ajuda de ninguem, no vocabulário. Senhora Ministra da Cultura não impeça os cidadãos de lerem num período em que já nem histórias pessoais possuem, fechados que estão, no mundo estreito da sua casa, com uma televisão que parece ter gala em só nos falar nos mortos ou nos quasi vivos. Dê-nos, por favor, livros e musica para animar o nosso desanimo. HSC