quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Os pessimistas nacionais...

Acabo de ouvir as declarações do Primeiro Ministro de Portugal, devidamente assessorado pelo senhor Ministro das Finanças. Não consigo furtar-me às recordações. Até mesmo às mais recentes.
Recordo tudo o que neste blogue escrevi sobre o estado da nação. Recordo os discursos otimistas do eng Socrates e as sua invectivas contra os "bota baixistas" de serviço. Recordo os empolgamentos com crescimentos de 0,7%, dos quais continuo, aliás, a duvidar. Recordo todas as mentiras e encobrimentos que foram cometidos. Recordo todos aqueles que se indignavam do pessimismo de certos analistas ou opinadores. Recordo que os socialistas governaram o país durante mais de treze anos. Recordo tudo e não me esqueço de nada.Resta-me apenas perguntar, depois dos discursos de hoje, onde estão os otimistas nacionais...

HSC

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Só nos faltava esta...

Acabo de ouvir no primeiro noticiário. Não acreditei. Ouvi no segundo, às nove horas. Confirmei.
O destacado responsável da OCDE que esteve hoje entre nós para apresentar o seu relatório sobre a economia portuguesa, falou às televisões. Em português, para todos entendermos. As medidas deste organismo internacional para resolver a crise que estamos a atravessar, para variar, passam todas pela mesma solução. Ou seja, curiosamente, o aumento da receita. Quanto à necessária diminuição da despesa, nada. Niet. Kaput.
Para quê se, afinal, o aumento de impostos é sempre o caminho mais imediato para pôr dinheiro nos cofres do Estado?
Mas o senhor quiz dizer mais. E para finalizar outorgou-se, até, o direito de vir meter o bedelho nos asuntos de política interna, aconselhando o PSD a entender-se com o PS. Qualquer coisa como chegar a França e dizer que o Senhor Sarkozy se devia entender com o PS. Ou vice versa, se preferirem...

HSC

sábado, 25 de setembro de 2010

Uma tarde no cinema

Ontém fui ao cinema à sessão das 21h30. Estava tão cansada de ver paginações de livros que precisava de qualquer coisa leve para me distrair. Assim, a escolha não teve qualquer critério e recaíu num filme que se chamava "A troca". A história é um pouco disparatada, mas tambem não é do filme que quero falar.
A sala estava cheia. De jovens. Ruidosos. Com pipocas e Coca Colas. Que ocupavam filas inteiras e pouco se ralavam se incomodavam ou não os outros, menos jovens, que haviam decidido lá ir.
Ao meu lado ficou uma rapariga que andaria pelos 16 ou 17 anos. Fazia parte do grupo que ocupava o resto da fila. Uma vez sentada resolveu pôr os pés nos braços do banco da frente e com eles lá continuou mesmo depois da respectiva cadeira deixar de estar vaga . O ocupante por várias vezes limpou o braço da camisola branca que os pés da menina iam sujando. Mas esta não se mexeu. E o incomodado não teve a coragem de lhe dizer que tirasse dali os pés.
Eu, pelo meu lado, tolerei um quarto de hora de barulhos de pastilha elástica que ela ia mascando e rebentando sincopadamente. A certa altura, disse em tom audível, " por favor pare com essa barulheira porque eu paguei o bilhete e quero ver o filme em silêncio". Quando percebi que se preparava para me retorquir, disse-lhe, em tom algo ameaçador, "não ensaie nem tente responder-me. Faça o que eu lhe pedi, já". Os meus olhos devem ter chispado porque, no minuto seguinte, a pastilha foi parar ao sapato. E o silêncio reinou por instantes.
À saída, com o chão repleto de pipocas, olhei-a. E pensei que tipo de educação ela teria em casa. É que, infelizmente, é em casa que este género de comportamentos se aprende...

HSC

Saudades

Ando há já alguns dias a conviver com um sentimento estranho. Que, aliás, não sei definir bem. Talvez um misto de insegurança e de preocupação. Como este tipo de estados de alma não é nada natural em mim e sou uma pessoa que se conhece razoavelmente, tentei perceber um pouco melhor a razão desta anímica insatisfação.
Julgo que os tempos que vivemos são os grandes responsáveis. De facto, sempre vivi do meu trabalho. E, até hoje, ele não me faltou. Mas tenho amigos a viver problemas financeiros graves. Uns porque ajudavam a família e hoje sofrem por não o poder fazer. Outros, ao contrário, recebiam ajuda familiar e agora não podem contar com ela.
Por outro lado, quando se abre a televisão ou os jornais, a cada cinco minutos contam-se desgraças. São roubos, são assaltos, são mortes, são doenças, são medidas governativas, são previsões, são lutas palacianas, enfim, este país foi-se aos poucos transformando num local em que é cada vez mais difícil viver com alegria.
Deve ser a ressaca de tudo isto, de mistura com um futuro de pouco futuro que, de algum modo, está na base deste meu estado. Espero, ansiosa, que haja petróleo em Portugal, para que possamos recuperar um pouco da paz de espírito de que tanto necessitamos. Porque é dela que, na verdade, tenho saudades!

HSC

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

D. Sebastião

É comum em Portugal esperar que um D. Sebastião nos venha salvar em tempos difíceis. Uma espécie de Nossa Senhora de Fátima em versão ateia...
O Ministro das Finanças andava ausente. O que pressagiava não só maus ventos, como piores casamentos.
Mas ontem, qual D. Sebastião dos tempos modernos, o ministro reapareceu. E fê-lo para, zangado, nos deixar a todos boquiabertos. Porque a culpa de tudo o que está a acontecer no país era dos portugueses, da oposição, da falta de solidariedade institucional, etc, etc.
Ou perdi todos os neurónios, ou a idade tolda o meu raciocínio, ou o Ministro está irritado e descarrega em todos nós. Que não temos culpa nenhuma. Todos nós, os que pagamos impostos, vemos diminuir o nosso poder aquisitivo, lutamos para manter os filhos a estudar, não temos prémios nem carros topo de gama para levar crianças às escolas, nem temos cartão de crédito para despesas ditas de representação, pagas pelo erário público ou seja pelos que trabalham e cumprem. Sem um agradecimento, sequer!
Tenho muito respeito pelo Dr. Teixeira dos Santos. Sei que se lhe está a pedir um enorme esforço. Mas foi ele quem aceitou o desafio. Não foi obrigado. É isso que costumo dizer aos meus filhos.
Ontem as suas palavras não foram as do técnico competente. Foram as do político que não sabe fazer política. Ao Ministro das Finanças pede-se competência. Pede-se verdade. Pede-se coragem. Coragem para abandonar coisas como o TGV. E pulso firme para evitar a vinda do FMI. Se é que alguma vez isso será possível.
E ainda há quem nos chame pessimistas... Depois das palavras que ontem ouvi, gostaria de saber quem é que é pessimista!

HSC

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O FMI

Acabo de ver e ouvir, na televisão, Manuel Alegre e Soares a falarem acerca de uma eventual vinda do FMI pôr cobro nas contas nacionais. O último - talvez lembrando-se do seu tempo - foi mais moderado e afirmou que embora não o desejasse, se tal acontecesse não seria o fim do mundo. Tem toda a razão. Talvez fosse, apenas, o fim do descalabro orçamental em que vivemos.
Alegre foi mais longe. Disse que tem confiança em Portugal e que o país dispensa o FMI e a senhora Merckl. O discurso é poético. Mas o problema é outro. Não são os portugueses que desejam o FMI, mas fomos nós que nos pusemos a jeito para a sua intervenção. E é o governo que anda de mão estendida a pedir dinheiro emprestado a qualquer deles.
Patriotismo é bonito. Mas bom senso também. Porque quem gasta o que não tem sofre as consequências...

HSC

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Alguem percebe?!

Não sou engenheira e até já duvido que seja economista, porque tudo quanto me ensinaram na Universidade é o contrário do que vejo ser feito entre nós.
Hoje ao ouvir o noticiário da hora do almoço fiquei completamente baralhada. Ao que entendi a construção do troço de alta velocidade entre Lisboa e o Poceirão já não se faz. Mas mantem-se a ligação Poceirão Caia que irá arrancar no primeiro trimestre de 2011, de acordo com as palavras do presidente executivo da Soares da Costa.
Não queria acreditar no que estava a ouvir. Estão todos loucos? Então a futura linha do TGV que une Lisboa a Madrid, começa no troço do meio? E de Lisboa ao Poceirão vai-se como? Toma-se o taxi até lá?
Não seria urgente negociar já o abandono deste troço antes que ele nos fique mais caro? Se não temos dinheiro nem para mandar cantar um cego, como é que mantemos este que não nos serve para nada? Alguem tem mão nesta desorientação toda? Que interesses é que estão aqui em jogo? Os nossos, certamente não...

HSC

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Retorno

É sempre difícil o retorno de férias. Em particular, se elas foram muito necessárias e muito boas.
No fim deste ano estarão no mercado livreiro quatro livros meus. Um publicado no final de Maio e mais três que irão agora aparecer. Seguem-se, assim, um de biografias de nove mulheres do século XX, outro de culinária e mais um de "short stories".
Julgo que a forma que tive de vencer as preocupações familiares que o ano 2010 - de má memória -, me trouxe, foi trabalhar que nem uma danada. Muito poucas pessoas compreenderão que há quem tenha este comportamento. Mas foi, de facto, o trabalho que me salvou. Porque, ao longo destes meses terei, talvez, tomado umas cinco pastilhas para a ansiedade. Não mais!
O ano que vem tem de ser diferente. Estiquei tanto a máquina que agora vou-lhe dar folga. A ela e a mim. E de algum modo, também aqueles que me lêm...

HSC

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Prefixos 707...

Muito possivelmente a maioria dos que têm a paciência de me ler não sabe disto. Mão amiga fez-me chegar a informação e eu agora partilho-a convosco.
Os números telefónicos começados pelo prefixo 707, apelidados pela PT de Únicos, não são considerados fixos pelo que são pagos, mesmo para quem tenha um pacote em que a rede nacional seja gratuita. Até aqui a novidade será pequena.
O problema é que estes números são pagos a peso de ouro por quem os utiliza e são facturados ao minuto. Minuto esse, cujo preço é altamente variável. A título de exemplo a linha de apoio ao cliente da Fnac, cobrava 0,3025/minuto. Mas há quem, por serviço idêntico, cobre o dobro...
O pior reside, contudo, noutra questão. É que uma parte significativa dos serviços do Estado está mudar para este tipo de linha, ao mesmo tempo que nos dá música, cara, enquanto esperamos pelo atendimento. É o caso da DGCI, das Novas Oportunidades do MTSS, da EPUL, da Secretaria de Estado das Comunidades, etc, etc.
As seguradoras vão pelo mesmo caminho nos seus serviços de assistência, não bastando ao segurado a aflição que o seu problema lhe possa causar. Para o resolver terá de ligar para um número destes e esperar, a pagar, que a música termine e a operadora apareça.
Tal prefixo é muitas vezes acompanhado da indicação de "chamada local" ou "número azul", o que é falso porque o prefixo 808 é que corresponde a estas chamadas.
Por isso aconselho vivamente quem se sentir lesado a dirigir-se ao site da autoridade competente, a ANACOM, e apresentar reclamação. Só assim se podem acabar com este tipo de iniquidades. Porque é delas que, de facto, se trata!

HSC

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Incompetência ou imoralidade?

Quando se pára pensar - e as férias também servem para isso, por mais contraditório que tal possa parecer - tem-se uma estranha imagem de Portugal. Aqui fica apenas uma pálida ideia.
Levamos seis meses a trabalhar exclusivamente para o Estado e este deixa prescrever mais de mil milhões de dívidas ao fisco. Ou seja, enforca os que trabalham e perdoa os que não cumprem. Boa moral!
Em Maio último o governo prometeu que não aumentaria mais os impostos. Mentira. Até os aumentos provisórios se tornaram definitivos...Boa ética!
A despeza do Estado tem vindo, até agora, a subir regularmente. O deficite orçamental também. Para agravar a fotografia, andamos a vender títulos da dívida a dez anos à taxa de 6%. Se as contas forem feitas "dá só" seis milhões de euros de juro a pagar por cada 100 milhões que nos cedam. O que prova a credibilidade que os outros nos atribuem. Boa gestão!
E que explicações nos dá o Dr Teixeira dos Santos? Nenhumas. Nem deve julgar que tenha de explicar o que quer que seja. Pura e simplesmente desapareceu. Boa estratégia!
Aqui está o retrato de um país de mão estendida à espera que o FMI venha fazer aquilo que o que nos governam não tiveram a coragem de fazer. Bom exemplo!
HSC

domingo, 12 de setembro de 2010

Africa

Outro ritmo. Outros cheiros. Outras gentes. Outra temperatura. Outra luz. Outro mundo. Uma imensa noção de infinito.
Em Moçambique o governo recuou nos aumentos anunciados porque os motins ameaçavam multiplicar-se. Mas aqui vive-se de outro modo e paga-se a prestações o preço da independência.
Em Portugal o PM delicia-se face aos progressos do país em matéria de educação infantil. Em sentido inverso, os jornais estrangeiros falam da última emissão de dívida a dez anos e vejo que estamos à beira dos 6%, a chamada barreira perigosa. Não consigo perceber como sobrevivemos...
Deve ser efeito das férias que pararam os meus neurónios. Ou do facto de vivermos num mundo virtual. Ou, quem sabe, de haver quem julgue que isto é puro pessimismo...

HSC

terça-feira, 7 de setembro de 2010

A crise e as férias

Nesta metade de férias que passei no Algarve, cheguei à conclusão de que a crise se cinge apenas aos que não têm trabalho, ou seja aos desempregados. Esses, sim, estão a sofrer...
Os hoteis e os restaurantes, em Setembro, encontram-se mais cheios do que eu poderia imaginar e a democratização do país provocou um fenómeno curioso e difícil de explicar.
É que unidades hoteleiras de cinco estrelas, que apresentam um parque automóvel que levaria a crer estarmos perante hóspedes de elite, revelam surpreendentemente uma frequência que eu situaria na classe média. O que prova que, de facto, o dinheiro mudou não só de mãos... como de forma de aplicação.
Com efeito, quem tem emprego, até pode ter melhorado o nível de vida, dado que o custo desta, até aqui, para muitos bens, baixou.
Assim, a clivagem social se, por um lado, se acentuou para os que não têm trabalho, acabou por se suavizar para outros, que até viram o seu poder de compra melhorado. A situação tem, por isso, algo de bizarro e explica de algum modo, o fenómeno a que assisti.
Acresce que muitos portugueses empregados ainda não interiorizaram a crise ou, pelo menos os seus efeitos a prazo. Daí que as poupanças que deveriam ter sido feitas, só agora comecem a despertar.
Se, a médio prazo, todos iremos sofrer por vivermos acima das nossas capacidades, por enquanto, o problema trágico é para quem não tem trabalho!

HSC