quarta-feira, 30 de março de 2022

Um nome, um feito!

Não me é fácil escrever sobre a efeméride aérea que hoje completa o seu centenário. Trata-se como  decerto já terão compreendido, da primeira viagem aérea do Atlântico Sul ligando, deste modo, Portugal e Brasil, assunto sobre o qual já muitos antes de mim, com propriedade, bastante falaram.

Por isso, estas linhas são muito pessoais. Falo de um tio - o irmão mais velho de meu pai - que na perda do seu progenitor, soube ocupar-se do futuro dos restantes dez e do apoio a sua mãe nessa tarefa. Só esse facto chegaria para ter sempre muito orgulho no nome que uso. O feito heroico estimulou-me a tentar ser, durante toda a minha vida, uma pessoa à sua altura

Com alguma pena minha, os meus filhos, embora na sua identificação usem o nome da mãe, limitam-se como é habito entre alguns de nós, a usar apenas o nome do pai que, curiosamente, eu nunca usei.

Dizia-me o meu pai que eu era, de feitio, muito parecida com ele. Creio que se referia ao que ele chamava da "mania de ser a melhor em tudo o que fazia". É verdade. Tenho um enorme respeito pelos compromissos assumidos e só razões de saúde me podem afastar das obrigações.

Seja por semelhança ao meu tio, seja porque nasci assim, tenho uma enorme alegria em pensar que vivi o tempo suficiente, para me ter sido dada a oportunidade de assistir a estas comemorações. O país não é muito dado a vangloriar os seus heróis. E a própria palavra já foi, mesmo,  um pouco banida do jargão nacional.

É pena, porque mostrar aos jovens que houve outros jovens, que quiseram fazer da sua vida uma prova do amor à pátria e do orgulho de ser português, não faz mal a ninguém e pode ajudar-nos a compreender melhor aqueles que o conseguiram!

HSC

terça-feira, 15 de março de 2022

AS CASAS

Há quem passe pelas casas em que viveu e quase se não lembre delas. Talvez porque as escolheram como um mal menor, porque não foram opções próprias ou até porque apenas as utilizaram como quarto e não têm qualquer consciência do que existe para além dele.

Ao invés há quem nutra uma verdadeira paixão pelo local em que vive e nem se imagine a habitar um qualquer outro lugar. No meio há os que se lembram de umas, mas se esqueçam das outras.

Pertenço a uma categoria estranha de definir. Com efeito, ao longo da minha vida conheci cinco casas. Mas só uma é que foi e é propriedade minha. Assim vivi na dos meus pais, na dos meus avós, na minha enquanto não tive filhos, na minha já com filhos e na minha, de novo já sem os filhos. É esta que possuo e na qual resido há cerca de trinta anos.

A todas me ligam profundas recordações e em todas ficaram bocados de mim. Nesta última que é, sem dúvida, uma casa agradável, pensei durante muito tempo, acabar os meus dias. Nela vivi os momentos mais emocionantes e felizes e nela também vivi a maior tristeza que é, sem dúvida, a perda de um filho.

Curiosamente, é dela que, hoje, quero sair. Só muito recentemente percebi porquê. Nela amei profundamente e nela chorei as mais amargas lágrimas que a morte de um filho pode arrastar. Mas a pandemia provocou em mim grandes alterações de objetivos e formas de vida.

Talvez por isso, aos poucos, tudo o que ela representava se foi transformando. E, de repente, um dia, tomei consciência que esta casa tão desejada, tinha começado a tornar-se pesada. De início eram apenas sintomas que se manifestavam por nem sempre ter flores a alegrá-la, ter ido progressivamente retirando para a arrumação bibelôs que sempre me acompanharam, ter feito desaparecer certas fotos, enfim, um conjunto de atitudes que me alertaram para um fato: eu tinha deixado de gostar viver aqui.

A partir de então, o meu desejo é passar a residir num T3 num local calmo, sem subidas nem descidas e, se possivel, com vista para o mar. E não quero mais ser proprietária de uma casa. Quero ser arrendatária.

E esta, hei-de vendê-la porque aqui estão as poupanças de uma vida. As viagens que não fiz. Os vestidos que não comprei. Os concertos a que não assisti. Enfim, todos os prazeres de que me privei para a ter. E fugirei da Lapa, claro!

 HSC

terça-feira, 8 de março de 2022

Lado a lado


Continuamos a celebrar o Dia da Mulher. Mas que mulher? A mãe, a companheira, a filha, a empregada administrativa ou a que já alcançou o direito a ocupar lugares de topo?

É que há uma substancial diferença entre todas estas categorias. Foi para que essas diferenças se atenuassem que se criou o “regime de quotas” como sendo o melhor que se podia arranjar. Ou seja 33% para umas e 67% para os outros, apesar de a percentagem de mulheres instruídas ser superior à dos homens. Mas ficaram todos satisfeitos pelo acordo alcançado.  

Sempre o senti como sendo discriminatório. Não quero chegar a um lugar de direção por ser mulher. Quero-o porque sou competente. E esse devia ser o critério para qualquer dos sexos e qualquer das raças: a competência para exercer as funções que lhes são atribuídas.

Hoje celebrei entre mulheres, o 8 de março. Celebrei entre aquelas que têm voz e que decidiram dá-la, em favor das que a não têm!

HSC