Há um tipo de silêncio que só quem já esteve no meio de
muita gente entende.
Não é o silêncio do som — é o silêncio dentro de nós.
Às vezes estamos ali, parados no metro, numa festa, no
corredor da escola, no trabalho, entre risos, vozes, movimentos. E algo dentro
de nós se retrai.
Como se houvesse uma distância invisível entre o corpo e o mundo.
Como se estivéssemos presentes só de corpo, mas a alma estivesse olhando de
longe, com as mãos no bolso, perguntando:
"O que é que eu estou a fazer aqui?"
Nesse momento, surge uma tristeza muda.
Não é um choro, nem um drama. É só um vazio quieto.
Como quem queria ser notado, mas não quer chamar a atenção.
Como quem queria um abraço, mas não sabe como o pedir.
Como quem quer conversar, mas não encontra palavras que caibam no peito.
Olhamos em volta e vemos gente demais.
Mas parece que ninguém nos vê de verdade.
Todo mundo a falar, a rir, a tocar-se — e nós ali,
silenciosos, tentando não afundar por dentro.
Não é inveja.
Não é raiva.
É só aquela sensação de estar fora de lugar até dentro de nós mesmo.
É estranho, porque a solidão na multidão não grita.
Ela cochicha. Ela sussurra dentro da mente:
"Ninguém aqui te entende."
E talvez seja isso mesmo.
Ou talvez seja só uma fase.
Talvez todos estejam a sentir-se assim também, mas ninguém sabe como dizer.
Então seguimos…
Silenciosos.
Esperando que, no meio dessa multidão, alguém veja.
Não o nosso rosto, não o nosso nome.
Mas aquilo que quase ninguém enxerga:
A vontade de ser encontrado, mesmo estando ali o tempo todo.
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