terça-feira, 31 de dezembro de 2024

AS DOZE BADALADAS

As doze badaladas chegam como um sussurro poderoso, arrastando lembranças e ecos do ano que termina. A primeira batida desperta a melancolia dos momentos que ficaram para trás — é como uma saudade do que não se repetirá, mas que deixará marcas profundas. Na segunda, sente-se a ansiedade de tudo o que ainda não se fez, de todas as promessas que fizemos a nós mesmos e não cumprimos. É um lembrete suave, porém firme, de que a vida tem pressa e que cada instante é um convite à mudança.

Quando a terceira badalada invade o ar, um sopro de renovação alcança o peito. Pensamos em tudo o que ainda está por vir: as oportunidades, as descobertas, os recomeços. Por instantes, o futuro parece uma folha branca, aberta a infinitas possibilidades. A cada novo toque do relógio, sentimos soltarem-se as amarras do passado e invadir-nos uma nova leveza. A quarta, quinta e sexta badaladas dissolvem medos antigos, cedendo espaço para a coragem de escrever novos capítulos.

Chegando à sétima e à oitava, o coração já bate em sintonia com o desejo de nos perdoarmos a nós próprios e aos outros. Há uma ternura que se espalha, um sorrisinho de esperança que se instala, sem pedir licença. Então a nona e a décima anunciam que o tempo não para, que há muito mais a viver, a descobrir e a sentir. Entendemos que a vida é feita de ciclos que vão e voltam, como ondas incansáveis no mar.

Na décima primeira, sente-se um arrepio, uma chamada silenciosa para abraçar quem somos e, ao mesmo tempo, lançarmo-nos ao que podemos vir a ser. Quando, enfim, a última badalada rompe o véu da noite, um silêncio solene se impõe. Nesse intervalo entre o que foi e o que está por vir, há um convite íntimo à renovação, à liberdade de reescrever o próprio destino. E ali, no breve hiato em que o tempo quase para, reconheço que o novo ano é também um voto de confiança na força que nasce dentro de nós e nos impulsiona para diante.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

O NOVO ANO

Quando pensamos num novo ano, como 2025, é quase como abrir um caderno em branco, pronto para ser preenchido com novas histórias, lições e conexões. Talvez você queira experimentar algo que nunca fez antes, ou cuidar do que já existe em sua vida de uma forma mais profunda. Não há certo ou errado nesta jornada — apenas a descoberta de quem você é, e de quem se quer tornar.

Cada dia traz uma oportunidade de se aproximar de alguém que você ama, de criar memórias que aquecem o coração e de arriscar em busca de um sonho, que ainda está a crescer dentro de si. 2025 pode ser o tempo de olhar para dentro de si e perceber o quanto você já percorreu, o quanto você ainda tem para viver e, sobretudo, o quanto você merece o próprio caminho. Que seja, então, um ano de aconchego e coragem para se tornar quem deseja ser.

sábado, 28 de dezembro de 2024

A VERDADE DÓI

"A verdade dói" é uma frase que encapsula a ideia de que confrontar a realidade pode ser emocionalmente desafiador. Muitas vezes, preferimos ignorar ou evitar a verdade, porque ela pode revelar aspetos desconfortáveis sobre nós mesmos, as nossas circunstâncias ou o mundo ao nosso redor. Essa evasão pode ser uma forma de defesa psicológica, para proteger sentimentos ou preservar uma ilusão de segurança e conforto.

Quando somos confrontados com a verdade, especialmente quando ela contradiz crenças ou expectativas nossas, pode ser uma experiência dolorosa, que nos faz sentir vulneráveis, expostos ou até mesmo envergonhados. Aceitar a verdade requer coragem e autoconsciência para lidar com emoções que surjam ao enfrentar a realidade.

No entanto, é importante reconhecer que, apesar da dor inicial, enfrentar a verdade pode ser uma oportunidade para crescimento pessoal e de autodescoberta. O que nos permite aprender com as nossas experiências, corrigir equívocos e, no futuro, fazer escolhas mais informadas. A verdade também pode promover relacionamentos mais autênticos e saudáveis, baseados na transparência e na honestidade mútua.

Portanto, embora a verdade possa causar algum desconforto inicial, ela é, muitas vezes, um elemento essencial para alcançar uma compreensão mais profunda de nós próprios e do mundo que nos rodeia.

 

sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

O ADEUS

Há um silêncio especial que antecede o adeus — um intervalo quase sagrado, no qual o tempo parece suspender a respiração, como se cada segundo procurasse estender-se um pouco mais, hesitante, antes de entregar à realidade a última palavra. É nesse vácuo que a consciência da perda se faz mais aguda. Ali, entre o agora e o depois, percebemos a inevitável despedida não apenas como um ato, mas como um movimento interno de soltar o que, até então, havíamos apreendido com tanta força. Nessa pausa, quase podemos sentir as partículas de poeira iluminadas pela claridade difusa da tarde, pairando no ar, testemunhas mudas do que está por acontecer. A partida em si, o gesto exterior de virar as costas, é apenas a metade visível do adeus. A outra metade permanece entranhada no olhar húmido, no aperto da garganta, no sabor amargo que fica entre a língua e o céu da boca. Há uma espécie de desalinhamento do mundo, quando alguém se vai: o corredor parece mais longo, o quarto maior, as gavetas mais vazias. A ausência não é um simples silêncio, mas um eco persistente, a imagem desbotada de alguém que antes moldava os nossos dias e que agora deixa um contorno invisível em cada objeto tocado. As chávenas guardam ainda o calor de um último café compartilhado, a mesa conserva uma mancha quase impercetível, herança de outros tempos, e o cheiro familiar do casaco esquecido no guarda-fato teima em não desaparecer. E, no entanto, mesmo sob o peso da despedida, há sementes a germinar. Após o choque do adeus, aprendemos a tecer novos significados, a costurar as lembranças entre si, formando uma tapeçaria íntima do que se foi e do que permanece. Com o tempo, a lembrança deixa de ser ferida e torna-se memória, um território onde o carinho e a compreensão podem florescer. O adeus coloca-nos diante do mistério do desapego e do amadurecimento, ensina-nos que não podemos reter nada além do que somos, e que o outro, partindo, não nos retira a própria essência — apenas nos deixa a tarefa de reorganizar o mundo interno, acomodando o vazio ao lado do que resta. Talvez seja essa a sabedoria contida no ato de dizer adeus: reconhecer que, para além da dor, existe uma aprendizagem subtil, um movimento inevitável de expansão e acolhimento. Ao libertarmos quem parte, abrimos espaço para que, dentro de nós, caiba a verdade do que é a vida: um contínuo fluxo entre chegadas e partidas, encontros e desenlaces, cada qual moldando a paisagem íntima do que chamamos de existir.


quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

NO ENTRETANTO

Há algo sutil e quase suspenso nos dias que separam o Natal do Ano Novo. É como se o tempo, de súbito, respirasse fundo, abrindo espaço para uma pausa delicada. Os enfeites natalícios ainda decoram as ruas e iluminam as casas, mas já soam como uma lembrança agridoce de um instante que ficou para trás. O coração reconhece esse hiato, essa pequena fresta entre um ano que termina e outro que, ansioso, se prepara para nascer.

Nesse intervalo, cada gesto parece ganhar um tom mais suave, como se o corpo, ainda aquecido pelo calor das festas, merecesse repousar por um momento. A memória resgata abraços, risadas e suspiros, enquanto a mente insiste em tecer expectativas e promessas. Ronda o ar uma melancolia gostosa, mistura de nostalgia e esperança, que nos convida ao recolhimento.

É nesse espaço entre o ontem e o amanhã que a alma encontra o seu lugar de comunhão consigo mesma. Um suspiro a mais antes da contagem regressiva, um relance para dentro antes de se projetar à frente. O mundo  prepara-se para renascer, mas aqui, nesse entreato silencioso, o que aflora é o desejo de estar presente, de sentir o pulsar do agora e de guardar nele a semente de tudo o que ainda pode ser.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Aqueles que não podem fazer Natal

Há lugares onde o Natal não chega. Lugares onde a neve, o calor do lar ou o tilintar de sinos são substituídos pelo frio do aço, pelo eco dos tiros e pelo vazio das noites insones. Lugares onde o cheiro do pinheiro decorado é trocado pelo da pólvora, e onde a esperança, esse presente tão esperado, parece perdida entre trincheiras e ruínas.

Para aqueles em guerra, o Natal é apenas um lembrete distante de um tempo de paz que já lhes não pertence. São homens, mulheres, jovens e até crianças, cujas mãos, em vez de carregarem laços de presentes, seguram armas e escudos. Corações endurecidos pela sobrevivência batem em ritmos diferentes, lutando para não esquecer o que significa ser humano, mesmo quando tudo ao redor conspira para lhes roubar essa humanidade.

Enquanto em muitas casas ao redor do mundo as mesas se enchem de fartura e risos, há mesas vazias em tendas improvisadas, onde o único banquete é a memória de um abraço perdido ou a saudade de uma voz querida. E ainda assim, mesmo no meio do caos, há quem feche os olhos por um instante, tentando imaginar o calor de uma vela ou o som de um "Feliz Natal" sussurrado por alguém amado.

O espírito natalício, dizem, vive naqueles que acreditam. Mas como acreditar quando tudo ao redor parece morrer? Como celebrar o nascimento de uma promessa de paz, quando as bombas caem mais rápido do que as estrelas? Eles não têm coro de anjos, mas o som de aviões rasgando o céu. Não têm luzes coloridas, apenas o brilho esporádico das explosões que iluminam a noite como um grotesco simulacro de festa.

E ainda assim, alguns resistem. Nas trincheiras, compartilham entre si pedaços de pão ou uma canção sussurrada, como se quisessem, por um breve instante, recriar a magia perdida. Há quem escreva cartas que talvez nunca sejam enviadas, cheias de desejos para um futuro onde o Natal possa ser, novamente, o que ele deveria: um dia de reencontros, risos e esperança.

Esses que não podem fazer Natal nos lembram do quanto ele é mais do que presentes ou ceias. É o fio frágil que une corações partidos e dá sentido ao caos. Para eles, o Natal não é uma data, mas um anseio. Não é uma celebração, mas uma resistência. É a promessa, ainda que distante, de que um dia, quem sabe, a paz chegue e eles possam voltar a sonhar.

JESUS

Não encontro em mim para hoje partilhar nada que me encante mais do que esta lição!