Há lugares onde o Natal não
chega. Lugares onde a neve, o calor do lar ou o tilintar de sinos são
substituídos pelo frio do aço, pelo eco dos tiros e pelo vazio das noites
insones. Lugares onde o cheiro do pinheiro decorado é trocado pelo da pólvora,
e onde a esperança, esse presente tão esperado, parece perdida entre
trincheiras e ruínas.
Para aqueles em guerra, o Natal é
apenas um lembrete distante de um tempo de paz que já lhes não pertence. São
homens, mulheres, jovens e até crianças, cujas mãos, em vez de carregarem laços
de presentes, seguram armas e escudos. Corações endurecidos pela sobrevivência
batem em ritmos diferentes, lutando para não esquecer o que significa ser
humano, mesmo quando tudo ao redor conspira para lhes roubar essa humanidade.
Enquanto em muitas casas ao redor
do mundo as mesas se enchem de fartura e risos, há mesas vazias em tendas
improvisadas, onde o único banquete é a memória de um abraço perdido ou a
saudade de uma voz querida. E ainda assim, mesmo no meio do caos, há quem feche
os olhos por um instante, tentando imaginar o calor de uma vela ou o som de um
"Feliz Natal" sussurrado por alguém amado.
O espírito natalício, dizem, vive
naqueles que acreditam. Mas como acreditar quando tudo ao redor parece morrer?
Como celebrar o nascimento de uma promessa de paz, quando as bombas caem mais
rápido do que as estrelas? Eles não têm coro de anjos, mas o som de aviões
rasgando o céu. Não têm luzes coloridas, apenas o brilho esporádico das
explosões que iluminam a noite como um grotesco simulacro de festa.
E ainda assim, alguns resistem.
Nas trincheiras, compartilham entre si pedaços de pão ou uma canção sussurrada,
como se quisessem, por um breve instante, recriar a magia perdida. Há quem
escreva cartas que talvez nunca sejam enviadas, cheias de desejos para um
futuro onde o Natal possa ser, novamente, o que ele deveria: um dia de
reencontros, risos e esperança.
Esses que não podem fazer Natal nos lembram do quanto ele é mais do que presentes ou ceias. É o fio frágil que une corações partidos e dá sentido ao caos. Para eles, o Natal não é uma data, mas um anseio. Não é uma celebração, mas uma resistência. É a promessa, ainda que distante, de que um dia, quem sabe, a paz chegue e eles possam voltar a sonhar.
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