quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

NO ENTRETANTO

Há algo sutil e quase suspenso nos dias que separam o Natal do Ano Novo. É como se o tempo, de súbito, respirasse fundo, abrindo espaço para uma pausa delicada. Os enfeites natalícios ainda decoram as ruas e iluminam as casas, mas já soam como uma lembrança agridoce de um instante que ficou para trás. O coração reconhece esse hiato, essa pequena fresta entre um ano que termina e outro que, ansioso, se prepara para nascer.

Nesse intervalo, cada gesto parece ganhar um tom mais suave, como se o corpo, ainda aquecido pelo calor das festas, merecesse repousar por um momento. A memória resgata abraços, risadas e suspiros, enquanto a mente insiste em tecer expectativas e promessas. Ronda o ar uma melancolia gostosa, mistura de nostalgia e esperança, que nos convida ao recolhimento.

É nesse espaço entre o ontem e o amanhã que a alma encontra o seu lugar de comunhão consigo mesma. Um suspiro a mais antes da contagem regressiva, um relance para dentro antes de se projetar à frente. O mundo  prepara-se para renascer, mas aqui, nesse entreato silencioso, o que aflora é o desejo de estar presente, de sentir o pulsar do agora e de guardar nele a semente de tudo o que ainda pode ser.

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