Há algo sutil e quase suspenso
nos dias que separam o Natal do Ano Novo. É como se o tempo, de súbito,
respirasse fundo, abrindo espaço para uma pausa delicada. Os enfeites natalícios
ainda decoram as ruas e iluminam as casas, mas já soam como uma lembrança
agridoce de um instante que ficou para trás. O coração reconhece esse hiato,
essa pequena fresta entre um ano que termina e outro que, ansioso, se prepara
para nascer.
Nesse intervalo, cada gesto
parece ganhar um tom mais suave, como se o corpo, ainda aquecido pelo calor das
festas, merecesse repousar por um momento. A memória resgata abraços, risadas e
suspiros, enquanto a mente insiste em tecer expectativas e promessas. Ronda o
ar uma melancolia gostosa, mistura de nostalgia e esperança, que nos convida ao
recolhimento.
É nesse espaço entre o ontem e o amanhã que a alma encontra o seu lugar de comunhão consigo mesma. Um suspiro a mais antes da contagem regressiva, um relance para dentro antes de se projetar à frente. O mundo prepara-se para renascer, mas aqui, nesse entreato silencioso, o que aflora é o desejo de estar presente, de sentir o pulsar do agora e de guardar nele a semente de tudo o que ainda pode ser.
Sem comentários:
Enviar um comentário