Entre nós há laços invisíveis, há heranças que não foram
ditas, há gestos que ficaram pelo caminho. Deram-me um nome, ensinaram-me a
andar, seguraram as minhas mãos quando eu tropeçava. Mas nunca me perguntaram
quem eu sou. E talvez, eu nunca tenha vos tenha perguntado quem vocês são.
Vivemos lado a lado, sob o mesmo teto, partilhamos o sangue,
os rituais, os silêncios. Mas não nos conhecemos. Não de verdade.
Eu vejo-vos como pai, como mãe, como alguém que sempre esteve
aí. Mas não sei quais foram os sonhos que morreram antes de nascer. Não sei as
dores que cada um carrega e esconde, atrás do cansaço, atrás das preocupações
do dia a dia.
Vocês veem-me como filho, como filha. Mas sabem quais são os
medos que me assombram à noite? Sabem as perguntas que não ouso fazer? Sabem as
partes de mim que escondo, porque acho que vocês não entenderiam?
Entre nós há amor, mas também há um desencontro. Porque
sempre achamos que o outro já sabe. Já entende. Já sente. Mas será que sabe?
Será que um dia ousaremos atravessar essa ponte invisível e perguntar, de
verdade, uns aos outros:
"Quem é você?"
Talvez seja tarde. Talvez nunca tenhamos coragem. Mas dentro
de mim ainda existe essa esperança de que um dia possamos ser, não apenas pais
e filhos, mas também desconhecidos que finalmente se encontram.
Em breve uma grande novidade!
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