A política
sempre foi feita de histórias. Algumas são bem contadas, outras mal
disfarçadas, e há aquelas que insistimos em acreditar porque, de certa forma,
precisamos delas. Desde os discursos inflamados dos líderes carismáticos até
aos enredos distópico que lemos antes de dormir, tudo parece girar em torno da
mesma coisa: como imaginamos o mundo e o nosso lugar nele.
Lembro-me da
primeira vez que li “1984 de George Orwell”. Era como se alguém
estivesse a mostrar uma realidade alternativa assustadora, mas estranhamente
familiar. O controle, a manipulação, o medo—tudo aquilo parecia distante e, ao
mesmo tempo, incrivelmente próximo. Porque, no fundo, a política é assim: uma
construção de verdades e mentiras, um jogo de palavras e símbolos que desenham
os limites do possível.
As ficções
políticas não são apenas livros ou filmes. Elas estão no que escolhemos
acreditar sobre o nosso país, nosso futuro, nossa história. Estão nas promessas
que ouvimos em tempos de eleição, nos mitos que nos ensinaram desde crianças,
nos inimigos invisíveis que sempre parecem estar à espreita. Cada governo, cada
ideologia, constrói sua própria narrativa—e nós, muitas vezes, entramos nela
sem perceber.
Mas o que
acontece quando essas histórias se tornam mais reais do que deveriam? Quando um
regime opressor deixa de ser apenas um enredo distópico e passa a ser um
reflexo do nosso quotidiano? Quando a verdade se torna um campo de batalha e a
realidade depende de quem conta?
Acho que, no fim, vivemos cercados por ficções políticas. Algumas são apenas metáforas para nos fazer pensar, outras são ferramentas para nos controlar. Mas há aquelas que podemos reescrever, com as nossas escolhas, as nossas vozes, a nossa consciência crítica. Porque se a política é uma história que nos contam, talvez seja hora de começarmos a contar a nossa própria.
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