terça-feira, 11 de março de 2025

FIÇÕES POLÍTICAS E A HISTÓRIA QUE CONTAMOS A NÓS MESMOS


A política sempre foi feita de histórias. Algumas são bem contadas, outras mal disfarçadas, e há aquelas que insistimos em acreditar porque, de certa forma, precisamos delas. Desde os discursos inflamados dos líderes carismáticos até aos enredos distópico que lemos antes de dormir, tudo parece girar em torno da mesma coisa: como imaginamos o mundo e o nosso lugar nele.

Lembro-me da primeira vez que li “1984 de George Orwell”. Era como se alguém estivesse a mostrar uma realidade alternativa assustadora, mas estranhamente familiar. O controle, a manipulação, o medo—tudo aquilo parecia distante e, ao mesmo tempo, incrivelmente próximo. Porque, no fundo, a política é assim: uma construção de verdades e mentiras, um jogo de palavras e símbolos que desenham os limites do possível.

As ficções políticas não são apenas livros ou filmes. Elas estão no que escolhemos acreditar sobre o nosso país, nosso futuro, nossa história. Estão nas promessas que ouvimos em tempos de eleição, nos mitos que nos ensinaram desde crianças, nos inimigos invisíveis que sempre parecem estar à espreita. Cada governo, cada ideologia, constrói sua própria narrativa—e nós, muitas vezes, entramos nela sem perceber.

Mas o que acontece quando essas histórias se tornam mais reais do que deveriam? Quando um regime opressor deixa de ser apenas um enredo distópico e passa a ser um reflexo do nosso quotidiano? Quando a verdade se torna um campo de batalha e a realidade depende de quem conta?

Acho que, no fim, vivemos cercados por ficções políticas. Algumas são apenas metáforas para nos fazer pensar, outras são ferramentas para nos controlar. Mas há aquelas que podemos reescrever, com as nossas escolhas, as nossas vozes, a nossa consciência crítica. Porque se a política é uma história que nos contam, talvez seja hora de começarmos a contar a nossa própria.

Sem comentários: