terça-feira, 18 de março de 2025

MEMÓRIA: O Tempo Guardado

A memória é um lugar sem mapas, onde os instantes se dissolvem e se refazem ao toque do pensamento. Ela não segue regras, não obedece a lógicas lineares. É uma gaveta desorganizada, onde um cheiro pode abrir portas que julgávamos trancadas, onde uma música pode nos transportar para um tempo que já não nos pertence, mas que, de alguma forma, ainda nos habita.

Há lembranças que chegam suaves, como brisa de fim de tarde, e outras que explodem dentro de nós sem aviso, rearranjando tudo o que acreditávamos ser estável. Algumas, escolhemos guardar com carinho, como quem dobra cartas antigas e as esconde no fundo de uma caixa. Outras, gostaríamos de esquecer, mas insistem em nos acompanhar, sussurrando suas histórias no silêncio da noite.

A memória não é só o que ficou. É também o que reinventamos, o que vestimos de outras cores para que o passado se torne suportável, para que possamos seguir em frente sem o peso esmagador do que foi. Ela é moldável, feita tanto do real quanto do que imaginamos, um mosaico de sensações, afetos e lacunas.

E, no fim, somos feitos dela. Dos dias que guardamos, das pessoas que se tornaram parte de nós, das palavras que ecoam mesmo depois do tempo as levar. A memória é o que nos ancora e, ao mesmo tempo, nos permite voar – porque é nela que mora tudo o que já fomos e tudo o que ainda somos.

Em breve uma grande novidade!

3 comentários:

Pedro Coimbra disse...

A minha filha Mariana comoveu-me mais uma vez.
Tem uma tatuagem em cada braço.
Escritas por mim e pela mãe.
Expressões que nos ouve desde pequenina.
A minha é - És linda.
Por cima desta tatuagem o que fez agora?
Desenhado por ela - o meu pai, de fato académico e a passear no quintal da casa em Coimbra com a bicharada atrás dele.
Memória tatuada.

Helena Sacadura Cabral disse...

Filha linda!

Pedro Coimbra disse...

Sou tão sortudo que tenho duas.
A Catarina é mais senhorinha (nasceu com 18 anos diziam as minhas cunhadas) mas também é um doce.