A memória é um lugar sem mapas, onde os instantes se
dissolvem e se refazem ao toque do pensamento. Ela não segue regras, não
obedece a lógicas lineares. É uma gaveta desorganizada, onde um cheiro pode
abrir portas que julgávamos trancadas, onde uma música pode nos transportar
para um tempo que já não nos pertence, mas que, de alguma forma, ainda nos
habita.
Há lembranças que chegam suaves, como brisa de fim de tarde,
e outras que explodem dentro de nós sem aviso, rearranjando tudo o que
acreditávamos ser estável. Algumas, escolhemos guardar com carinho, como quem
dobra cartas antigas e as esconde no fundo de uma caixa. Outras, gostaríamos de
esquecer, mas insistem em nos acompanhar, sussurrando suas histórias no
silêncio da noite.
A memória não é só o que ficou. É também o que reinventamos,
o que vestimos de outras cores para que o passado se torne suportável, para que
possamos seguir em frente sem o peso esmagador do que foi. Ela é moldável,
feita tanto do real quanto do que imaginamos, um mosaico de sensações, afetos e
lacunas.
E, no fim, somos feitos dela. Dos dias que guardamos, das
pessoas que se tornaram parte de nós, das palavras que ecoam mesmo depois do
tempo as levar. A memória é o que nos ancora e, ao mesmo tempo, nos permite
voar – porque é nela que mora tudo o que já fomos e tudo o que ainda somos.
Em breve uma grande novidade!
3 comentários:
A minha filha Mariana comoveu-me mais uma vez.
Tem uma tatuagem em cada braço.
Escritas por mim e pela mãe.
Expressões que nos ouve desde pequenina.
A minha é - És linda.
Por cima desta tatuagem o que fez agora?
Desenhado por ela - o meu pai, de fato académico e a passear no quintal da casa em Coimbra com a bicharada atrás dele.
Memória tatuada.
Filha linda!
Sou tão sortudo que tenho duas.
A Catarina é mais senhorinha (nasceu com 18 anos diziam as minhas cunhadas) mas também é um doce.
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