Os filhos não deveriam ter de escolher entre pai e mãe. Mas,
às vezes, a vida costura os seus caminhos de forma desigual, e o coração pesa
mais para um lado do que para o outro.
Não é uma decisão consciente, não é um cálculo frio. É um
processo subtil, quase impercetível. Um afastamento que começa em silêncios
prolongados, ligações que se tornam raras, mensagens vistas e não respondidas.
A criança que antes pertencia a dois mundos passa a habitar apenas um. E, no
outro, fica o eco de um amor que ainda existe, mas que não sabe mais como se
fazer presente.
Há tantas razões, algumas ditas, outras apenas sentidas. Às
vezes, é porque um abraço ofereceu mais colo nos dias difíceis. Outras vezes, é
porque a dor de uma separação construiu muros invisíveis. Nestes casos a dor é
maior quando o escolhido foi justamente aquele que menos deu. Pode ser por
influência, pode ser por ressentimento. Pode ser apenas o rumo natural de um
amor que, ao invés de se dividir, parece precisar de se escolher.
Para quem fica, há sempre uma ausência gritante. O amor não
desaparece, mas torna-se uma saudade incómoda, um espaço vazio à mesa do
jantar, uma vontade de pegar no telefone e perguntar: “Estás bem?”. Mas a pergunta fica presa, porque o
medo da resposta – ou da falta dela – também pesa.
Para quem vai, há o alívio de um pertencimento, de um lado
escolhido, de uma segurança emocional. Mas, no fundo, também há um luto
silencioso. Porque mesmo quando se opta por um caminho, existe sempre uma
lembrança do outro.
O tempo pode curar, pode trazer de volta os passos perdidos.
Mas, enquanto isso, o coração daqueles que amam segue esperando, em silêncio,
sem culpas, sem cobranças, apenas com a porta entreaberta – para quando possa
ser a hora de voltar.
Em breve uma grande novidade!
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