segunda-feira, 17 de março de 2025

ENTRE DOIS MUNDOS

Os filhos não deveriam ter de escolher entre pai e mãe. Mas, às vezes, a vida costura os seus caminhos de forma desigual, e o coração pesa mais para um lado do que para o outro.

Não é uma decisão consciente, não é um cálculo frio. É um processo subtil, quase impercetível. Um afastamento que começa em silêncios prolongados, ligações que se tornam raras, mensagens vistas e não respondidas. A criança que antes pertencia a dois mundos passa a habitar apenas um. E, no outro, fica o eco de um amor que ainda existe, mas que não sabe mais como se fazer presente.

Há tantas razões, algumas ditas, outras apenas sentidas. Às vezes, é porque um abraço ofereceu mais colo nos dias difíceis. Outras vezes, é porque a dor de uma separação construiu muros invisíveis. Nestes casos a dor é maior quando o escolhido foi justamente aquele que menos deu. Pode ser por influência, pode ser por ressentimento. Pode ser apenas o rumo natural de um amor que, ao invés de se dividir, parece precisar de se escolher.

Para quem fica, há sempre uma ausência gritante. O amor não desaparece, mas torna-se uma saudade incómoda, um espaço vazio à mesa do jantar, uma vontade de pegar no telefone e perguntar: “Estás             bem?”. Mas a pergunta fica presa, porque o medo da resposta – ou da falta dela – também pesa.

Para quem vai, há o alívio de um pertencimento, de um lado escolhido, de uma segurança emocional. Mas, no fundo, também há um luto silencioso. Porque mesmo quando se opta por um caminho, existe sempre uma lembrança do outro.

O tempo pode curar, pode trazer de volta os passos perdidos. Mas, enquanto isso, o coração daqueles que amam segue esperando, em silêncio, sem culpas, sem cobranças, apenas com a porta entreaberta – para quando possa ser a hora de voltar.

Em breve uma grande novidade!

Sem comentários: