Talvez um
dia eu acorde sem esse peso no peito.
Talvez o silêncio não grite tanto,
e eu consiga ouvir o som leve do agora,
sem que o passado ecoe tão alto.
Talvez um
dia eu pare de procurar respostas
nas entrelinhas de conversas antigas,
nas mensagens que nunca vieram,
nos gestos que sonhei, mas não vi.
Talvez eu
entenda, enfim,
que algumas pessoas não ficam —
não porque não sentiram,
mas porque não sabiam como.
Talvez um
dia eu perdoe o tempo,
por não ter sido mais gentil,
por ter levado tudo tão rápido,
ou demorado tanto a trazer paz.
Talvez eu me
veja com os olhos de quem me ama,
sem pressa de ser perfeito,
sem medo de ser vulnerável.
Talvez um
dia,
eu volte a sorrir sem lembrar da dor,
volte a amar sem medo do fim,
volte a ser — só ser —
sem precisar em me esconder no "talvez".
Mas hoje...
Hoje ainda dói.
Hoje ainda espero.
Hoje ainda escrevo,
porque escrever é a forma mais silenciosa de não gritar.
Talvez um
dia eu não precise mais destes versos.
Mas, até lá, são eles que me seguram.
3 comentários:
A poesia estende a mão
e nos vamos.
Versos que nos dão prazer na leitura.
Tenha um excelente fim-de-semana
Só hoje reparei no seu blog. Que bem que V. escreve. Este post tocou-me especialmente, talvez por ter lido há poucas semanas o belo (e premiado) livro de Julian Barnes “The Sense of an Ending”. O seu olhar retrospetivo e ainda inquieto sobre a vida, tal como a reconstruimos pela memória, é precisamente o tema do livro do Barnes, e é fascinante. Vou estar atento ao que escreve. Keep going!
Rui Cartaxo (seu colega no BdPortugal há uns quarenta anos…)
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