quarta-feira, 2 de julho de 2025

Existe Fronteira Para o Riso?

O humor é uma das expressões mais livres e poderosas da linguagem humana. Ele desarma, provoca, aproxima, critica e revela. Pode ser um sopro de leveza em tempos pesados, ou uma forma de resistência e denúncia. Mas, justamente pelo poder que tem, o humor também pode ferir, excluir, reforçar preconceitos e naturalizar violências. Surge então a pergunta inevitável: o humor tem limites?

A resposta mais honesta talvez seja: sim e não. Em termos legais, o humor goza — com o perdão do trocadilho — de uma relativa liberdade, protegida pelo princípio da liberdade de expressão. No entanto, essa liberdade não é absoluta. Quando o riso se apoia em estigmas, quando zomba da dor de grupos historicamente oprimidos, ou quando serve para mascarar discursos de ódio, ele deixa de ser apenas piada e se torna instrumento de opressão.

Há uma diferença crucial entre rir com alguém e rir de alguém. O primeiro une; o segundo humilha. O humor que olha para cima, que satiriza o poder, as contradições sociais ou a hipocrisia das elites, historicamente teve um papel revolucionário. Já o humor que olha para baixo, que escarnece da pobreza, da cor, do género, da origem, ou da orientação sexual, costuma apenas reafirmar desigualdades.

Isso não significa que o humor precise ser "politicamente correto" em todo momento. Muitas vezes, é justamente o incómodo que uma piada gera, que nos faz pensar, refletir e até mudar. Mas há uma linha — às vezes ténue — entre o incómodo criativo e o ataque gratuito.

O bom humor, talvez, não esteja na ausência de limites, mas na consciência deles. Um comediante, um escritor, um criador de conteúdos não precisa ser censurado, mas pode ser responsabilizado. O humor é livre, mas ninguém está livre das consequências do que escolhe dizer em nome dele.

Rir é humano. Mas escolher como e de quê se ri é, também, um ato ético. Eu, por exemplo, não só rio muito de mim própria, como gosto de rir de mim. Talvez seja este, o melhor sentido do humor… 

 

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