O humor é uma das expressões mais livres e poderosas da
linguagem humana. Ele desarma, provoca, aproxima, critica e revela. Pode ser um
sopro de leveza em tempos pesados, ou uma forma de resistência e denúncia. Mas,
justamente pelo poder que tem, o humor também pode ferir, excluir, reforçar
preconceitos e naturalizar violências. Surge então a pergunta inevitável: o
humor tem limites?
A resposta mais honesta talvez seja: sim e não. Em termos
legais, o humor goza — com o perdão do trocadilho — de uma relativa liberdade,
protegida pelo princípio da liberdade de expressão. No entanto, essa liberdade
não é absoluta. Quando o riso se apoia em estigmas, quando zomba da dor de
grupos historicamente oprimidos, ou quando serve para mascarar discursos de
ódio, ele deixa de ser apenas piada e se torna instrumento de opressão.
Há uma diferença crucial entre rir com alguém e rir de
alguém. O primeiro une; o segundo humilha. O humor que olha para cima, que
satiriza o poder, as contradições sociais ou a hipocrisia das elites,
historicamente teve um papel revolucionário. Já o humor que olha para baixo,
que escarnece da pobreza, da cor, do género, da origem, ou da orientação
sexual, costuma apenas reafirmar desigualdades.
Isso não significa que o humor precise ser
"politicamente correto" em todo momento. Muitas vezes, é justamente o
incómodo que uma piada gera, que nos faz pensar, refletir e até mudar. Mas há
uma linha — às vezes ténue — entre o incómodo criativo e o ataque gratuito.
O bom humor, talvez, não esteja na ausência de limites, mas
na consciência deles. Um comediante, um escritor, um criador de conteúdos não
precisa ser censurado, mas pode ser responsabilizado. O humor é livre, mas
ninguém está livre das consequências do que escolhe dizer em nome dele.
Rir é humano. Mas escolher como e de quê se ri é, também, um
ato ético. Eu, por exemplo, não só rio muito de mim própria, como gosto de rir
de mim. Talvez seja este, o melhor sentido do humor…
Sem comentários:
Enviar um comentário