quarta-feira, 23 de julho de 2025

Saudade que Persiste


A saudade mais funda não é a da ausência total.

É a daquela presença que continua — mas distante.
É o som da voz que ainda ecoa, mas não nos chama mais.
É o toque que a pele recorda, mas que já não alcança.

Há algo cruel em amar alguém que permanece, mas não mais connosco.
Não é luto. É uma espera sem relógio.
Não é partida. É uma permanência em silêncio.
O outro ainda respira, ainda sorri em algum lugar —
mas não aqui, onde os nossos olhos precisam.

A saudade que insiste quando o amor persiste é a mais teimosa.
Ela não se resolve com tempo, porque o tempo não a leva.
Ela não se alivia com adeus, porque não houve despedida.
Ela mora entre o que foi e o que poderia ser,
no espaço suspenso entre o toque e o vazio.

É duro saber que o coração do outro ainda bate,
mas não mais no compasso do nosso.
Que a vida segue - bela ou difícil - mas alheia à nossa falta.

E mesmo assim, mesmo doendo, a gente ama.
Ama no silêncio, no respeito, na distância.
Ama porque amar não depende da presença.
Ama porque, apesar de tudo, o amor ficou.
E com ele, a saudade.

Persistente.
Intensa.
Fiel.

4 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Gostaria tanto de lhe poder dizer que essa saudade um dia desaparece...

Davi Machado disse...

Ela mora entre o que foi e o que poderia ser,
no espaço suspenso entre o toque e o vazio.

Que lindos seus versos.

Anónimo disse...

Querida Helena,

Lê-la é sempre um prazer — daquelas vozes que fazem bem à cabeça e ao coração.

Deixei-lhe uma mensagem no Instagram (sim, eu sei… pouco ortodoxo, mas foi o que se arranjou!).
Se tiver oportunidade de espreitar, ficarei muito grata.

Com admiração,

Pureza

Anónimo disse...

Dear Helena,

I came across the English translation of this text on Facebook — such a moving reflection. Since then, I’ve read a dozen of your posts, each one filled with quiet truth and grace, and I’ll certainly continue to read more.

I don’t speak Portuguese, but I’ve learned that saudade carries meanings far beyond what we have in French or English. Even so, the power of your words carries across language, and this text captures that feeling so beautifully — tender, enduring, and profoundly human.

Thank you for sharing such luminous words.

With respect and appreciation,
Rung Nitipavachon