Casou duas vezes. E perdeu duas vezes. A primeira, pela morte. A segunda, pelo divórcio. Duas dores bem diferentes — e ambas a marcaram profundamente.
Quando ficou viúva, parecia que o chão tinha sumido. Ele se
foi de repente. Sem aviso, sem tempo, sem escolha. Doeu demais. A casa ficou
muda, os dias longos, e o coração cheio de saudade. Mas era uma dor que vinha
junto com o amor. Ela sabia que as pessoas se amavam até o fim. E isso lhe dava
algum tipo de paz. Ela chorava com a certeza de que o que tivera fora real,
bonito, inteiro.
Depois de um tempo, achou que nunca mais fosse amar. Mas a
vida surpreende. Conheceu outra pessoa. Casou de novo. Só que esse segundo
casamento não durou. O amor foi mudando, tornado cobrança, distância, desgaste.
E quando terminou, a dor foi outra.
Não era silêncio. Era ruído. Discussão, frustração, mágoa. Perguntou-se
mil vezes onde errara, se poderia ter feito diferente. Sentia vergonha,
fracasso. A dor do divórcio amachuca o coração, mas também o orgulho.
Na viuvez, não houve culpa. No divórcio, teve muita. A
saudade do primeiro era triste, mas leve. O fim do segundo foi pesado. Confuso.
Desfê-la de dentro para fora.
Hoje ela entende. Na viuvez, a vida decidiu por ela. No
divórcio, ela precisou de decidir seguir sozinha. Uma dor veio da perda
inevitável. A outra, da escolha difícil. Nenhuma foi fácil. Mas cada uma lhe
ensinou algo. E ela segue agora mais forte, mais consciente, e ainda aberta ao
amor. Mesmo sabendo que amar, sempre carrega algum risco de dor.
1 comentário:
Amiga aqui em Macau, já regressou a Portugal, viuvou três vezes.
Não me atrevo sequer a imaginar a dor.
Tenha um excelente fim de semana.
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