quinta-feira, 3 de abril de 2025

E SE TUDO FOSSE UM EQUÍVOCO?

A vida é uma sucessão de instantes que se dissolvem no tempo. Corremos atrás deles, mas, paradoxalmente, nunca os seguramos por completo. A pressa torna-se a nossa forma de existir, um movimento incessante que nos arrasta como folhas num vendaval. É um frenesim de metas, horários, compromissos – um turbilhão onde a presença se dilui.

E se tudo fosse um grande equívoco?

Se a pressa fosse apenas o medo disfarçado de eficiência? O medo de encarar o que existe no vazio, o receio de nos vermos inteiros, sem distrações, sem justificativas, sem desculpas?

A pausa, então, não é apenas o intervalo entre dois compromissos. É um mergulho. Um convite àquilo que evitamos sentir quando corremos demais. É na pausa que o silêncio se expande, e no silêncio, que o que somos se revela. O que nos dói, o que nos falta, o que nos transborda.

A pausa exige coragem. Porque parar significa encarar os ecos do que deixamos para depois. O amor não vivido, os sonhos adiados, as palavras que engolimos por medo ou por orgulho. A pausa obriga-nos a reconhecer o que a pressa esconde: a vulnerabilidade, a impermanência, a beleza fugaz daquilo que nunca volta.

E se o sentido da vida estiver menos no avançar e mais no permanecer? No instante que pulsa agora, entre uma respiração e outra? No detalhe esquecido de um entardecer, no toque leve da brisa, no olhar demorado de quem amamos?

A verdade é que passamos a vida correndo atrás do tempo, sem perceber que ele nunca esteve fugindo. Apenas esperava que o víssemos.

E talvez seja isso: a felicidade não está em chegar primeiro, mas em aprender a permanecer.

1 comentário:

Pedro Coimbra disse...

Não consigo perceber essa sofreguidão.
Gente que não saboreia a vida.