A vida é uma sucessão de instantes que se dissolvem no tempo.
Corremos atrás deles, mas, paradoxalmente, nunca os seguramos por completo. A
pressa torna-se a nossa forma de existir, um movimento incessante que nos
arrasta como folhas num vendaval. É um frenesim de metas, horários,
compromissos – um turbilhão onde a presença se dilui.
E se tudo fosse um grande equívoco?
Se a pressa fosse apenas o medo disfarçado de eficiência? O
medo de encarar o que existe no vazio, o receio de nos vermos inteiros, sem
distrações, sem justificativas, sem desculpas?
A pausa, então, não é apenas o intervalo entre dois
compromissos. É um mergulho. Um convite àquilo que evitamos sentir quando
corremos demais. É na pausa que o silêncio se expande, e no silêncio, que o que
somos se revela. O que nos dói, o que nos falta, o que nos transborda.
A pausa exige coragem. Porque parar significa encarar os ecos
do que deixamos para depois. O amor não vivido, os sonhos adiados, as palavras
que engolimos por medo ou por orgulho. A pausa obriga-nos a reconhecer o que a
pressa esconde: a vulnerabilidade, a impermanência, a beleza fugaz daquilo que
nunca volta.
E se o sentido da vida estiver menos no avançar e mais no
permanecer? No instante que pulsa agora, entre uma respiração e outra? No
detalhe esquecido de um entardecer, no toque leve da brisa, no olhar demorado
de quem amamos?
A verdade é que passamos a vida correndo atrás do tempo, sem
perceber que ele nunca esteve fugindo. Apenas esperava que o víssemos.
E talvez seja isso: a felicidade não está em chegar primeiro, mas em aprender a permanecer.
1 comentário:
Não consigo perceber essa sofreguidão.
Gente que não saboreia a vida.
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