sexta-feira, 18 de abril de 2025

"Já Não Sei


 Ela apareceu entre os dias, como um hábito antigo que eu não lembrava de ter criado.

Não sei dizer o momento exato em que começou a fazer parte da minha rotina. Só percebi quando, certa manhã, ela já estava tomando café na minha cozinha, como se sempre tivesse feito isso. Conhecia o lugar dos copos, o nome do meu gato, os horários dos meus silêncios.

"Desde quando você está aqui?", perguntei.

Ela sorriu com aquele olhar que nunca me respondia diretamente.
"Você sempre soube."

Comecei a encontrar fotos em que ela aparecia ao fundo. Sempre desfocada, sempre ali.
Mensagens antigas com sua voz, mas sem número.
Perfume no meu casaco.
Nome escrito à margem de livros que jurei nunca ter emprestado.

Ninguém mais a via.
Mas eu sentia — cada vez mais — que ela sabia de mim o que nem eu mesmo lembrava.

E, mesmo assim,
já não sei quando te conheci.
Só sei que agora… não sei mais como te esquecer.

3 comentários:

Janita disse...

Isso é preocupante, Dra. Helena.
O facto de repetir o texto também faz parte da estória?
Cuide-se, por favor.
Boa noite.

Helena Sacadura Cabral disse...

Nem mais. O meu computador gostou tanto do texto que repetiu. Por enquanto, as minhas maleitas não atingiram a minha cabecinha, que funciona que nem um relógio. E eu cuido imenso dela! Obrigada por lembrar!

Pedro Coimbra disse...

Duas senhoras de cabeça desempoeirada que me fazem sempre sorrir.