terça-feira, 29 de abril de 2025

CUIDAR E POSSUIR

Cuidar e possuir são palavras que dançam num jogo silencioso de interdependência, onde uma não existe sem a outra, mas cada uma tem o seu próprio peso, o seu próprio modo de ser vivido. Cuidar é um ato de entrega, de se tornar parte do que se ama, de colocar a alma em cada gesto, em cada palavra e, talvez, até em cada respiração. Quando cuidamos de algo ou alguém, fazemo-lo porque o que está diante de nós toca uma parte íntima e profunda da nossa existência. O cuidado não exige posse, mas faz com que o que tocamos, de certa forma, se enraíze dentro de nós.

Por outro lado, possuir é um movimento de afirmação, de vínculo que vai além daquilo que apenas tocamos com carinho. Possuir é ter, é afirmar o direito sobre o outro, sobre o espaço, sobre o que se conquistou. Mas essa posse, que parece ser de controle, na realidade, não é um domínio absoluto. Quando possuímos, algo de nós também se perde, pois ao mantermos o que amamos perto, corremos o risco de sufocar. A posse, por mais que se apresente como um selo de segurança, muitas vezes carrega consigo a sombra da insegurança, do medo de perder, do controle que se busca para não se despojar.

E é no entremeio desses dois gestos – cuidar e possuir – que encontramos as nossas relações mais delicadas. Quando cuidamos, a posse se torna menos relevante, pois o que importa é a fluidez, o ato contínuo de cuidar e ser cuidado. Quando possuímos, talvez o que buscamos, no fundo, seja o alicerce do cuidado, a confirmação de que aquilo ou aquela pessoa que tanto amamos é, na verdade, um reflexo de quem somos. Mas, ao fazer isso, precisamos lembrar que a posse nunca será absoluta. O que possuímos é sempre vulnerável ao tempo, ao desejo do outro e, principalmente, ao nosso próprio ser.

Cuidar e possuir, não se opõem, mas completam-se, oferecendo-nos a chance de explorar os limites da nossa humanidade, da nossa capacidade de amar, respeitar e, talvez, deixar ir.

Mãos pequenas, coração grande

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1 comentário:

Pedro Coimbra disse...

Cuidar implica dar liberdade, espaço.
E exige confiança.
O oposto de possuir neste apecto específico.