segunda-feira, 22 de dezembro de 2025

NATAL EM TEMPO DE GUERRA

O Natal, tradicionalmente marcado pela esperança, pela união e pelo nascimento da paz, adquire um significado profundo e doloroso quando vivido em tempo de guerra. Enquanto em muitos lares o brilho das luzes e o calor das reuniões familiares anunciam celebração, em outros o som que ecoa é o das explosões, das sirenes e do choro silencioso de quem perdeu tudo.

Em cenários de conflito, o Natal deixa de ser apenas uma data no calendário e transforma-se  num ato de resistência. Celebrar, ainda que de forma simples, é afirmar a humanidade diante da destruição. Um pedaço de pão dividido, uma vela acesa, uma oração sussurrada ou um abraço apertado tornam-se símbolos poderosos de fé e sobrevivência. Onde a guerra tenta apagar sonhos, o Natal insiste em reacendê-los.

As crianças, que deveriam associar essa época a presentes e alegria, aprendem cedo demais o significado do medo e da ausência. Muitas esperam não por brinquedos, mas por notícias de pais que não retornaram, por um dia sem bombardeios, por uma noite de sono tranquila. Ainda assim, os seus olhares carregam uma esperança teimosa, como se acreditassem que a paz pode nascer mesmo no meio dos escombros.

O Natal em tempo de guerra também convida à reflexão daqueles que estão longe do conflito. Ele lembra que a mensagem de amor ao próximo não pode ser seletiva, nem limitada por fronteiras. A solidariedade, a empatia e o compromisso com a vida tornam-se presentes urgentes e necessários.

Assim, mesmo cercado pela dor, o Natal continua sendo uma chamada à paz. Um sinal de que, apesar da guerra, a humanidade ainda pode escolher a compaixão. Porque enquanto houver alguém disposto a amar, a partilhar e a esperar, o verdadeiro espírito do Natal não estará perdido — estará apenas lutando para sobreviver.

 

sábado, 20 de dezembro de 2025

PESSOAS: MARIA SERUYA A MULHER DE MIL SUPERFICIES

 

Maria Seruya não cabe em rótulos. É daquelas presenças que, ao entrar numa sala, parecem expandir o ar, como se cada gesto contasse várias histórias ao mesmo tempo. Multifacetada — palavra que nela deixa de ser metáfora e se torna um modo de existir — Maria caminha por diferentes mundos, com a mesma naturalidade com que outros mudam de roupa.

Artista por intuição, pensadora por inquietação e criadora por necessidade vital, ela constrói pontes entre universos que, para muitos, jamais se tocariam. Num dia fala com a precisão de quem decanta ideias; no outro, cria imagens que parecem brotar diretamente do subconsciente. Maria tem o dom raro de transformar fragmentos em sentido, caos em ritmo, silêncio em linguagem.

Os seus projetos — sejam eles artísticos, humanos ou simplesmente quotidianos — sopram a mesma marca: a autenticidade. Nada em Maria é superficial. Cada escolha reflete uma camada dela, e há sempre outra por baixo, vibrando, chamando, pedindo para ser descoberta. Talvez seja por isso que tantos se sentem atraídos pela sua presença: ela é um convite permanente à curiosidade.

Mas o que realmente torna Maria Seruya multifacetada, não é a quantidade de coisas que faz, e sim a profundidade com que habita cada uma. Ela sabe ser plural sem perder o centro; sabe ser vasta sem se dispersar. Uma mulher que reflete muitas luzes — e, ainda assim, guarda o mistério de algumas sombras.

Maria Seruya, na sua multiplicidade, lembra ao mundo que ninguém precisa ser apenas uma coisa. Que a vida, quando vivida com coragem, pode ser um mosaico — e que a beleza está exatamente nisso.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

AS MALVADAS CONTAS

“O primeiro-ministro, que uns dias antes tinha sugerido aproveitar a oportunidade da possível mudança das leis laborais para elevar o salário mínimo para os 1.500 euros e o médio para 2.000 ou 2.500, disse não querer "que o salário médio chegue aos 1.600 ou 1.700", mas sim que "chegue aos 2.500, 2.800 ou 3.000 euros".

Não costumo falar de política, mas esta frase do primeiro-ministro, retirada das notícias que respeitam a economia do país, levantou-me algumas dúvidas, e por isso, obrigou-me a faze umas contas de matemática básica, em que apenas entrei com números que são do domínio público.

De acordo com elas, a afirmação parece-me, sobretudo, retórica e aspiracional. O primeiro-ministro projeta salários médios muito elevados (2.500–3.000 euros) para mostrar ambição política e distanciar-se de metas mais modestas. No entanto, do ponto de vista económico, esses valores parecem pouco realistas a curto prazo, sem um forte aumento da produtividade e reformas estruturais. Falta também clareza, sobre como esses objetivos seriam alcançados, o que reforça o carácter mais discursivo do que prático, da declaração. Isto de acordo com as minhas contas, claro!

 

quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

GLENN MILLER ORCHESTRA

Fui ontem ao CCB - Centro Cultural de Belém-, ouvir a icónica Glenn Miller Orchestra, sob a direção do maestro Ray McVay , que retornou a Portugal para um concerto especial. Foi no fim da tarde de ontem, em que dirigiu os 20 talentosos músicos e cantores desta magnifica orquestra, num espetáculo que, como num estalar de dedos, nos faz recuar até aos anos 1930. Ainda consegui emocionar-me, tantas décadas depois, porque se trata de um dos compositores de quem mais gosto.

O prazer de ouvir a música de Glenn Miller está na forma como ela envolve o ouvinte com leveza, elegância e um sentimento de alegria serena. As suas peças marcadas, pelo som inconfundível dos metais e pelo ritmo suave do swing, criam uma atmosfera acolhedora, capaz de transportar a mente para outra época. Ao ouvir as suas composições, é fácil imaginar salões de dança iluminados, pessoas sorrindo e momentos de descontração que parecem suspensos no tempo.

 A música de Glenn Miller não é apenas entretenimento. É uma experiência que desperta nostalgia, tranquilidade e prazer, mostrando como a arte pode atravessar gerações e continuar a tocar o coração de quem a escuta.

 

segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

O PAI DA CLARA

Não, não venho falar de Clara Pinto Correia. Já muitos, antes de mim, o fizeram e com mais conhecimento de causa do que eu, que pouco a conheci. Venho falar de um homem que era meu amigo, salvou a minha vida e era pai da Clara. Venho falar do Professor José Pinto Correia, consensualmente aclamado como um dos maiores vultos da Gastroenterologia nacional e internacional, e que deixou pegadas demasiado marcadas para que o tempo o consiga apagar. Foi das melhores mais brilhantes pessoas que conheci. E que, enquanto viveu foi o médico que sempre me acompanhou.

Conhecemo-nos numa reunião da então JUC – Juventude Universitária Católica- e a partir daí, foram várias as razões que nos juntaram, para além da saúde. Havia um lado de humor e até de diversão nele, que só os mais próximos sabiam.

Conheci, assim, os pais muito antes das filhas. Mas a existência delas, sentia-se nos pais que conheci. Havia neles um amor repartido, treinado na partilha, um cuidado que sabia multiplicar-se sem perder profundidade. Não falavam de uma filha só, mas de um pequeno mundo construído a várias vozes.

Nos gestos, via-se a experiência de quem criou mais do que uma vida: a paciência, a atenção ao detalhe, a capacidade de ouvir. Clara vinha desse espaço cheio, onde ninguém cresce sozinho, onde se aprende cedo a existir com o outro ao lado.

Ao conhecer os pais, percebi que Clara — e as irmãs — eram fruto desse equilíbrio discreto: um amor firme, silencioso, que não distingue para diminuir, mas que sustenta todas por igual.

 

sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

O RECONHECIMENTO PÓSTUMO

Há vidas que passam silenciosas diante do mundo, mas intensas dentro de si. Pessoas que constroem, criam, inovam, servem, inspiram – e, mesmo assim, caminham à margem do aplauso. Só depois que se vai a presença, é que desperta a ausência. E com ela, surge aquele reconhecimento tardio, quase sempre acompanhado de um arrependimento coletivo: “Como não vimos antes?”

O reconhecimento póstumo revela, acima de tudo, a dificuldade humana de valorizar o que está perto, o que é quotidiano, o que não se impõe. É mais fácil admirar à distância do que contemplar quem está diante de nós. Talvez porque, no dia a dia, confundimos simplicidade com falta de grandeza, e humildade com falta de valor.

No entanto, quando alguém parte, a memória ilumina o que os olhos não enxergaram a tempo. Pequenos gestos ganham profundidade; contribuições antes discretas revelam-se essenciais; talentos ignorados tornam-se, de repente, irrefutáveis. A ausência escancara o tamanho da presença, que antes foi tratada como comum.

Mas o reconhecimento póstumo também serve como espelho. Nele refletimos nossa tendência a adiar elogios, silenciar gratidões e deixar para depois, a celebração de quem faz diferença. A partida transforma esse “depois” em nunca mais.

Por isso, lembrar que muitos só foram reconhecidos depois de partir, é um convite à urgência. A de valorizar hoje. quem merece ser visto. Celebrar em vida, o que tantas vezes, só se exalta na memória. Porque todos carregam dentro de si uma história digna de ser reconhecida — e é injusto permitir que o mundo só a descubra quando não houver mais tempo.

SERIA BOM PENSAR

Este tema, infelizmente, continua a ser objeto de preocupação das Famílias. Não será altura de tomar decisões por parte do Ministro da Educação, ou ele está inteiramente de acordo com o que aqui se transmite?
 

quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

ELOS QUE NÃO SE EXPLICAM


Há vínculos que desafiam a lógica com a mesma naturalidade com que a gravidade mantém os corpos próximos, sem que precisemos compreender o fenómeno. São laços que emergem antes do pensamento, como se encontrassem o seu fundamento em algo mais antigo do que as palavras — talvez na própria estrutura da experiência humana.

A filosofia tenta, muitas vezes, reduzir o mundo ao que pode ser dito. Mas há relações que pertencem ao domínio do indizível, aquilo que Wittgenstein chamaria de “o que se mostra”. Não são explicáveis, apenas reconhecíveis. Revelam-se em gestos mínimos como a familiaridade imediata, o conforto espontâneo, o sentido de continuidade sem história prévia.

Estes laços insinuam que o encontro entre duas consciências, não é apenas um cruzamento acidental, mas a atualização de possibilidades invisíveis, que existiam antes. Como se cada pessoa carregasse potenciais de afinidade, que só despertam diante de certas presenças - e não de outras - sem qualquer aparente explicação causal.

Aristóteles diria que há amizades que nascem da virtude ou da utilidade. Mas, talvez exista um tipo de afinidade, que antecede ambas, um modo de reconhecimento, que depende de uma espécie de harmonia ontológica. Dois modos de ser que, por razões insondáveis, vibram na mesma frequência.

O mistério desses laços lembra-nos que a vida não pode ser totalmente contida no racional. Há dimensões que a linguagem não captura e que, no entanto, orientam profundamente o nosso caminho. Talvez a função desses vínculos seja, justamente, ensinar-nos humildade diante do inexplicável, aceitar que nem tudo o que nos toca pode ser dissecado, e que parte da beleza da existência, reside justamente em convivermos com aquilo que apenas se sente e não se resolve, não se define.

Em última análise, os laços que não se explicam são um testemunho silencioso de que o humano ultrapassa o humano. São fissuras por onde o mistério escorre, lembrando-nos de que a vida acontece também no que escapa, no que surpreende, no que não cabe em nenhum porquê.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

COMO SE PASSA DE POBRE A MENOS POBRE (com leveza, porque rir é de graça)


Passar de pobre a menos pobre é espécie de videogame: começa-se sem itens, sem moedas e com um monstro chamado “conta de luz a perseguir-nos. Mas dá para avançar.

Primeiro, terá de descobrir para onde seu dinheiro se some, ou melhor, foge. Controlar gastos é, basicamente, pôr uma coleira neste bicho.

Depois, vem o ritual de expulsar dívidas. Não é exorcismo, mas quase. Renegoceia aqui, corta juros ali e, de repente, sobram uns trocados que antes se evaporavam misteriosamente.

A seguir, aparece a fase de ganhar um qualquer extra. Vender algo, fazer um biscate, aceitar, sim, aquele concerto que não queremos, mas que o dono quer. Cada moeda a mais, deixa-nos menos na masmorra.

Aprender algo novo também ajuda. Quanto mais habilidades, mais valemos — tipo Pokémon evoluindo, só que mais cansado.

E, claro, começa a guardar um pouquinho. Mesmo que seja tão pouco, que nem vale a pena pensar “para quê?”.  

Calma: isto é a armadura anti- imprevistos. Sem ela, qualquer problema vira desastre total.

No fim, ficar “menos pobre” é isto: controlar o caos, ganhar uns extras, aprender coisas e juntar migalhas até virar pão.

E quando se dá conta… ops! Já subiu um degrauzinho. Não é riqueza, mas já dá para respirar (e talvez até para pedir sobremesa de vez em quando).

É assim que, uma modesta economista, explica como se fica menos pobre, sem ter, sequer o suficiente!

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

O ESPANTO

O espanto é uma das experiências humanas mais antigas e fundamentais. Ele surge no intervalo entre o que conhecemos e o que excede a nossa compreensão, abrindo uma fissura no quotidiano pela qual percebemos, ainda que por um instante, a dimensão profunda do real. Não é apenas surpresa; é um estremecimento que reorganiza o olhar, uma chamada silenciosa que nos faz reconsiderar aquilo que julgávamos estável.

Diante do espanto, a mente suspende os seus automatismos. As explicações prontas perdem força, e o mundo revela aspetos que passam despercebidos quando estamos presos ao ritmo habitual da vida. Esse estado desperta uma lucidez particular: ao mesmo tempo em que nos sentimos pequenos perante o desconhecido, reconhecemos a vastidão das possibilidades que existem além das fronteiras do familiar.

O espanto é também fértil. Dele nascem perguntas, investigações, teorias, obras de arte. A filosofia, por exemplo, encontra na capacidade de espantar-se a sua origem. É quando algo nos desacomoda que começamos a pensar com profundidade. A ciência, igualmente, avança quando o espanto diante de um fenómeno desafia certezas e exige novas respostas.

Num tempo marcado pela pressa, cultivar o espanto é quase um ato de resistência. Exige atenção, presença e a disposição de admitir que não sabemos tudo — talvez, nem mesmo, o essencial. Mas é justamente essa abertura, que permite que o mundo continue a ser uma fonte inesgotável de sentido.

O espanto, portanto, não é, apenas, uma emoção. É uma forma de despertar. Ele lembra que a realidade é maior do que as nossas explicações, e que a vida, em toda a sua complexidade, ainda pode — e deve — surpreender-nos!

 

segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

A IMPORTÂNCIA DE UM TIL

Vamos, hoje, aprender um pouco da língua portuguesa. Julgam que sabem tudo? Vamos ver e brincar um pouco com o til.

O til (~) é um sinal gráfico fundamental na língua portuguesa e exerce um papel importante na correta pronúncia e compreensão das palavras. Ele aparece principalmente sobre as vogais a e o, formando as sequências ã e õ, que indicam nasalização. Essa nasalidade muda completamente o som e, muitas vezes, o sentido das palavras.

Sem o til, diversas palavras ficariam ambíguas ou teriam significados completamente diferentes. Por exemplo, “maca” e “maçã”, “pelo” e “pêlo”, “cor” e “côr” eram tradicionalmente diferenciados por acentos e sinais gráficos; no caso específico do til, ele é indispensável em termos como “cão”, “irmã”, “maçã”, “nação” e tantos outros, nos quais a nasalização é parte essencial da forma correta.

Além disso, o til cumpre uma função histórica, já que muitos de seus usos derivam de abreviações de antigas letras ou combinações de vogais nasais. A sua presença ajuda a preservar a identidade sonora da língua portuguesa e garante que a leitura e a escrita sejam coerentes com a fala.

Portanto, o til não é apenas um detalhe gráfico, mas um elemento que assegura clareza, precisão e musicalidade ao idioma. Sem ele, a escrita perderia parte de sua expressividade e dificultaria a comunicação. Então, sabiam?

 

domingo, 7 de dezembro de 2025

A TRADIÇÃO COMO VANGUARDA

Num mundo que avança a ritmo vertiginoso, onde cada inovação parece superar a anterior, antes mesmo de amadurecer, há um movimento silencioso — porém cada vez mais evidente — que resgata o valor do que já existiu. A tradição, muitas vezes vista como algo estático ou ultrapassado, ressurge como força criativa, como fonte de identidade e como instrumento de resistência cultural.

A verdadeira vanguarda de hoje não está apenas no rompimento com o passado, mas na capacidade de revisitá-lo com novos olhos. O antigo torna-se matéria-prima para o novo: as técnicas artesanais ganham releituras contemporâneas, as narrativas ancestrais inspiram expressões artísticas modernas, e os valores que pareciam esquecidos reaparecem como contraponto ao excesso de superficialidade do presente.

A tradição, quando reinterpretada, não limita — expande. Ela ancora, dá profundidade, oferece autenticidade. É justamente essa combinação entre raízes sólidas e olhar renovado que define o espírito da nova vanguarda. Um futuro que não teme dialogar com o seu passado.

 

ANIVERSARIANDO

Hoje é meu aniversário – dizem, porque eu não me lembro de nada. Acreditando que assim seja, parabéns a mim própria, que consegui sobreviver mais um ano, sem virar meme, sem fugir para um planeta desabitado e sem ser abduzida (embora eu não descartasse a última opção).

Trata-se daquele dia especial, em que as pessoas dizem “aproveita muito!”, como se eu fosse fazer algo extraordinário… tipo pular de paraquedas, aprender mandarim e reorganizar minha vida inteira entre o bolo e os parabéns…
A realidade? Julgo que com a gripe que apanhei, vou comer, rir, fingir que estou mais sábia e aceitar que a minha maior conquista do dia, é não dormir durante os festejos longos demais.

Também vou receber mensagens do tipo “mais um ano de vida!”, como se eu tivesse ganhado isto numa promoção. Adoraria ganhar cupons, inclusive. Ou cashback. Mas não. Ganhei mais responsabilidades, rugas e a chance de preencher mais formulários. E perdi, de acordo com a futura legislação, a minha liberdade de conduzir para onde quisesse e quando me apetecesse.

De qualquer forma, aqui estou eu a comemorar convosco mais um capítulo da minha saga anual, torcendo para que este, seja o ano em que, finalmente, descubro o segredo da vida… ou pelo menos onde deixei as minhas chaves.

Enfim, ironicamente, parabéns para uma das mulheres mais interessantes do país, a quem desejo que venham mais 365 dias de caos estiloso, expectativas duvidosas e boas histórias para contar.

 

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

LEMBRAR OS VIVOS SEM ESQUECER OS MORTOS

Há épocas do ano em que o tempo parece diminuir o passo, convidando-nos a olhar para dentro. São dias em que os encontros ganham outro brilho, e a memória, silenciosa, também pede lugar à mesa. É então que percebemos, como é importante lembrar os vivos sem esquecer os mortos.

Porque aqueles que estão connosco a hoje precisam do nosso cuidado, da nossa presença inteira, dos gestos que constroem o que ainda pode ser vivido. São eles que continuam a escrever, ao nosso lado, a história que segue adiante.

Mas os que partiram também permanecem — não no mesmo lugar, não da mesma forma, mas naquilo que deixaram em nós. Honrar a sua memória é reconhecer que uma parte do que somos foi moldada pelos passos que já não ouvimos, mas que ainda nos acompanham. Lembrá-los não é ficar no passado; é permitir que o amor, mesmo transformado, continue a iluminar o presente.

Assim, entre o que permanece e o que falta, aprendemos a equilibrar a saudade com a gratidão. Celebramos os vivos com alegria e abraçamos os mortos com a ternura da lembrança. E é nesse gesto duplo que a vida encontra profundidade — porque nenhuma ausência apaga o valor de uma presença, e nenhum luto impede que a esperança continue a crescer.

A minha mãe morreu no dia de Natal e levou com ela, uma parte da minha alegria nesta época. Mas o mano mais novo adorava reunir todos em casa dele e até há dois meses era assim que faríamos. A sua morte, completamente inesperada, vai tornar este período mais difícil. Primeiro lembraremos os ausentes e só depois abraçaremos os presentes. Para o ano será melhor!  

 

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

O LAMENTÁVEL DESÂNIMO

Pessoalmente, não sou dada a desânimos. Mas, às vezes, fico verdadeiramente impressionada com “os desânimos” que vejo por aí. E ontem pensei bastante no assunto, porque uma malvada gripe me deixou num estado lamentável.

O desânimo chega silencioso. Às vezes, ele não anuncia a sua chegada: apenas se encosta ao nosso lado, pesa nos ombros e sussurra que nada vale a pena. Ele é aquele intervalo sombrio entre o que queremos ser e o que conseguimos fazer, entre o que sonhamos e o que, na prática, enfrentamos.

É normal sentirmo-nos assim. O desânimo faz parte da experiência humana. Ele aparece quando estamos cansados, quando algo não saiu como esperávamos ou quando o caminho parece maior do que as nossas forças. Mas é importante lembrar que o desânimo é um estado, não uma sentença. Ele não define quem somos, nem determina onde vamos chegar.

Há momentos em que parar é necessário. Respirar. Reorganizar. Permitir-se sentir. Mas, após essa pausa, vale a pena olhar ao redor e perceber que ainda há motivos para continuar. No fundo há pequenos progressos que talvez não tenhamos notado, pessoas que torcem por nós, capacidades que ainda nem sequer foram exploradas.

Superar o desânimo não é dar um salto. Muitas vezes, é apenas, dar o próximo passo — pequeno, simples, mas na direção certa. E cada passo feito com coragem, mesmo quando a vontade falta, é uma vitória silenciosa que fortalece o coração.

O desânimo pode até visitar, mas não precisa morar em nós. Há luz que espera, para além do momento escuro. E nós, mesmo sem perceber, carregamos o brilho necessário para a alcançar. Talvez seja esta a razão, para eu não ser dada a desânimos, mesmo quando a gripe ma apanha…

 

sábado, 29 de novembro de 2025

A BANALIDADE


A banalidade infiltra-se silenciosamente no quotidiano, como um véu tão fino que quase não percebemos sua presença. Ela ocupa os intervalos entre grandes acontecimentos, preenche a rotina com gestos automáticos e palavras repetidas. À primeira vista, parece desprovida de valor — o contrário do extraordinário, do memorável, do urgente. Mas é justamente nela que se escondem, muitas vezes, os contornos mais autênticos da vida.

É na banalidade que descobrimos quem somos, quando não estamos tentando ser nada especial. Nos rituais mínimos — preparar um café, observar a rua pela janela, procurar uma chave perdida — revelam-se formas de sensibilidade, paciência, inquietação ou alegria que, raramente, aparecem em momentos grandiosos. A repetição pode cansar, mas também pode confortar, porque oferece um chão, um ritmo, uma espécie de continuidade que nos protege do caos.

Ao mesmo tempo, a banalidade pode funcionar como anestesia. Quando tudo se torna igual, o olhar se embacia. O que antes era vivo e pulsante se transforma em paisagem estática. É por isso que a banalidade exige atenção. Não para ser evitada, mas para ser percebida. Quando a olhamos de verdade, ela deixa de ser mera repetição e transforma-se em matéria poética — uma chance de redescobrir o mundo no que ele tem de mais simples.

Assim, a banalidade não é inimiga do sentido. Ela é o território onde o sentido pode nascer sem alarde, devagar, quase tímido. Entre o extraordinário e o vazio, há esse espaço discreto que sustenta os nossos dias. Olhar para ele é, de certa forma, olhar para nós mesmos.

quinta-feira, 27 de novembro de 2025

A educação aos olhos de hoje

A educação contemporânea vive um momento de transformação profunda. Se antes o foco estava quase exclusivamente na transmissão de conteúdo, hoje ela é vista como um processo amplo, que envolve competências socio emocionais, pensamento crítico, tecnologia e diversidade cultural.

Um dos aspetos mais marcantes é a presença da tecnologia. A escola deixou de ser o único espaço legítimo de acesso ao conhecimento; plataformas digitais, vídeos educativos, ambientes virtuais e inteligências artificiais ampliaram as possibilidades de aprender. Isso traz oportunidades, como maior personalização do ensino, mas também desafios, incluindo desigualdade de acesso e dificuldade em filtrar informações confiáveis.

Outro ponto importante é a valorização das habilidades socio emocionais. Empatia, colaboração, autonomia e criatividade passaram a ter peso semelhante ao das disciplinas tradicionais. O mercado de trabalho atual exige profissionais flexíveis e capazes de resolver problemas, o que obriga a escola a repensar suas práticas pedagógicas.

Além disso, a educação aos olhos de hoje busca ser mais inclusiva. Há maior conscientização sobre a necessidade de atender diferentes ritmos, estilos de aprendizagem e realidades sociais. A diversidade passa a ser vista não como obstáculo, mas como potência.

Por fim, cresce a perceção de que educar é responsabilidade compartilhada entre escola, família e comunidade. A formação integral do estudante depende de um ecossistema de cuidado, diálogo e parceria.

 

segunda-feira, 24 de novembro de 2025

INVERNO!

O inverno costuma exercer uma influência marcante sobre o estado de espírito das pessoas. As temperaturas mais baixas, os dias curtos e a luminosidade reduzida alteram não apenas a rotina, mas também processos biológicos ligados ao humor. A menor exposição à luz solar, por exemplo, impacta a produção de serotonina — neurotransmissor associado ao bem-estar — e pode aumentar a sensação de cansaço, desânimo ou irritabilidade. Também influencia o ritmo circadiano, fazendo com que muitas pessoas sintam mais sono ou apresentem dificuldade para manter a disposição do dia a dia.

Além dos fatores fisiológicos, o inverno pode afetar aspetos emocionais e sociais. As atividades ao ar livre diminuem, os encontros tornam-se menos frequentes e a tendência ao isolamento aumenta, o que pode potencializar sentimentos de solidão ou melancolia. Para alguns, o clima frio desperta um desejo de recolhimento e introspeção, que pode ser vivido de forma positiva, como um período de pausa e reflexão. Para outros, porém, o mesmo cenário traduz-se em queda de motivação e maior sensibilidade emocional.

Por outro lado, muitas pessoas associam o inverno a conforto e acolhimento. Rituais como beber uma bebida quente, usar roupas aconchegantes ou passar mais tempo em casa podem gerar sensação de segurança e tranquilidade. A estética da estação, com seu clima mais intimista, também pode inspirar criatividade e promover momentos de conexão consigo mesmo.

Em geral, o impacto do inverno sobre o estado de espírito varia de pessoa para pessoa. Enquanto alguns enfrentam desafios emocionais, outros encontram nessa estação um convite ao descanso e ao aconchego, como é o meu caso. O importante é reconhecer como o corpo e a mente reagem às mudanças e buscar estratégias saudáveis — aproveitar a luz natural, manter uma rotina equilibrada e cultivar vínculos — para atravessar a estação de forma mais leve.

 

domingo, 23 de novembro de 2025

UM JORNAL…

Hoje, a propósito da imparcialidade jornalística e dum post de Pedro Chagas Freitas, lembrei-me de uma história passada comigo. Havia publicado um livro e pediram-me várias entrevistas. Entre elas a de um parente que tinha, à época, um programa de livros, num respeitado jornal, do qual, aliás, eu era assinante desde o início. Passados dias e, francamente atrapalhado, o jornalista em causa, desconvidava-me porque, ao apresentar o meu nome, lhe haviam dito que eu” merecia uma conversa em horário nobre”. Sem convite oficial, a entrevista nunca aconteceu, até hoje, pese embora terem, entretanto, saído mais três livros meus!

Com o tempo, percebi que, talvez, não tivesse sido, apenas, uma questão de agenda. Admito que a causa possa estar nalguma animosidade, talvez não propriamente comigo, mas com eventuais conjunturas familiares. Que me sendo alheias, acabaram, todavia, por influir no modo como fui tratada.

Este episódio, aparentemente banal, deu-me, contudo, uma lição. A tão falada isenção jornalística, que deveria ser um princípio fundamental é, muitas vezes, relativizada por interesses pessoais, disputas internas ou até pequenas vinganças. Tendo eu carteira de jornalista há muitos anos, sei que a imparcialidade - que deveria ser regra -, se mostra, na prática, uma paleta cheia de tonalidades, num ofício cujo objetivo deveria ser a transparência.

No meu caso, não fez diferença. Nem todos têm de me apreciar, claro. Deixei, apenas, de ser assinante e leitora! Por seu lado, o jornal, livrou-se de mim, de forma menos correta. É a vida, como diz um amigo meu! Da comunicação social, digo eu!

 

sexta-feira, 21 de novembro de 2025

Gerir Emoções: O Caminho para uma Vida Mais Equilibrada

Gerir emoções é uma habilidade essencial para o bem-estar. Porém, é muitas vezes negligenciada no dia a dia. Sentimentos como alegria, tristeza, raiva, medo ou ansiedade fazem parte da experiência humana e surgem naturalmente. No entanto, quando não são compreendidos ou acolhidos, podem afetar relações, decisões e até a saúde física.

O primeiro passo para gerir emoções é reconhecê-las sem julgamento. Em vez de rotular um sentimento como “bom” ou “mau”, é mais útil perguntar: o que é que esta emoção está a tentar mostrar-me? Cada emoção tem uma função — a raiva pode sinalizar limites ultrapassados, o medo pode indicar necessidade de proteção, e a tristeza pode convidar ao recolhimento ou à reflexão.

Depois do reconhecimento, vem a regulação. Isso não significa “controlar” ou “esconder” o que se sente, mas sim, encontrar formas saudáveis de expressar e canalizar essas sensações. Respiração consciente, pausas intencionais, escrever sobre o que se sente, conversar com alguém de confiança ou praticar atividades físicas são estratégias que ajudam a trazer clareza e equilíbrio.

Por fim, gerir emoções é um processo contínuo. Requer paciência, autoconhecimento e compaixão consigo mesmo. Cada vez que escolhemos lidar com uma emoção de forma consciente, fortalecemos a nossa capacidade de enfrentar desafios e construir relações mais harmoniosas. Por isso, aprender a gerir emoções, não é apenas uma habilidade — é um ato de cuidado profundo com a própria vida.

 

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

A IMPORTÂNCIA DOS DEBATES ELEITORAIS

1.     Transparência e informação aos eleitores
Os debates eleitorais permitem que os cidadãos vejam os candidatos exporem as suas propostas, ideias e visões para o país, de forma direta e pública. Isso ajuda os eleitores a compararem os partidos, não apenas pelas promessas, mas pela forma de argumentar, os valores pessoais e a credibilidade dos candidatos.

2.     Confronto de ideias
Num debate, os candidatos são obrigados a responder a críticas e perguntas difíceis em tempo real — não é apenas comunicar um discurso preparado, mas reagir a argumentos adversários. Isso dá uma dimensão mais genuína ao confronto político e ajuda a clarificar as diferenças entre visões políticas.

3.     Formação da opinião pública
Através dos debates, temas centrais da campanha eleitoral — como economia, saúde, educação, justiça — são trazidos para o centro da discussão pública. Muitos eleitores decidem com base em como cada candidato lida com esses temas sob pressão.

4.     Responsabilização
Os debates funcionam como um mecanismo de responsabilidade: os candidatos sabem que estarão em público, perante jornalistas e cidadãos, e suas palavras podem ser usadas depois para cobrar promessas. Isso pode incentivar um discurso mais sério e menos populista.

5.     Democracia deliberativa
Os debates ajudam a reforçar a democracia não apenas como voto, mas como diálogo. Eles são “momentos de pressão” onde as lideranças são testadas e os eleitores podem ver não só o que cada um promete, mas como raciocina.

6.     Impacto eleitoral
Estudos mostram que os debates podem influenciar indecisos e moldar a agenda da campanha. Mesmo que nem todos os eleitores mudem de opinião, muitos aprendem sobre os candidatos a partir destes eventos.

 

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

O QUE É A ECONOMIA– explicada de forma muito simples


A economia é, basicamente, a maneira como as pessoas, as empresas e o governo organizam o uso dos recursos que existem no mundo. Como tudo é limitado — dinheiro, tempo, produtos, alimentos, energia — precisamos escolher o que produzir, como produzir e para quem produzir.

Economia é o estudo dessas escolhas.

No dia a dia, ela aparece o tempo todo:

  • Quando você escolhe comprar uma marca mais barata no mercado.
  • Quando decide guardar dinheiro para o futuro.
  • Quando o governo usa impostos para construir hospitais e escolas.
  • Quando o preço da gasolina sobe ou desce.

Tudo isso é  a economia a  funcionar.

Podemos dizer que economia é a ciência das decisões, porque ajuda a entender por que as coisas têm preço, por que algumas sobem, outras caem, por que uns produtos faltam e outros sobram. Também ajuda a entender como melhorar a vida das pessoas, criando empregos, aumentando a produção e fazendo o dinheiro circular.

Em resumo:
Economia é o conjunto de decisões e movimentos que fazem um país, uma cidade, uma empresa e até uma família funcionarem. Sem economia, não saberíamos como organizar nada — nem o nosso próprio bolso.

terça-feira, 18 de novembro de 2025

UMA VISÃO DA ARQUITETURA


A arquitetura é a arte e a técnica de conceber, projetar e construir espaços destinados ao uso humano. Mais do que simplesmente criar edifícios, a arquitetura busca organizar o ambiente de forma funcional, estética e harmónica, considerando as necessidades das pessoas, o contexto cultural e o impacto no meio ambiente.

Ela envolve o equilíbrio entre funçãoforma e estrutura. Isso significa que um projeto arquitetónico precisa atender às atividades que ocorrerão no espaço, apresentar uma aparência agradável e coerente, e ser construído com segurança e estabilidade.

A arquitetura também é uma expressão cultural. Ao longo da história, diferentes sociedades deixaram marcas por meio de seus estilos arquitetónicos — templos, casas, cidades e monumentos que revelam modos de vida, valores e tecnologias de cada época. Assim, a arquitetura atua tanto como registo histórico quanto como instrumento de transformação social.

Além disso, a prática arquitetónica integra conhecimentos de várias áreas, como engenharia, artes, urbanismo, sustentabilidade, ergonomia e tecnologia. O arquiteto analisa fatores como iluminação, ventilação, materiais, conforto térmico e acessibilidade, buscando soluções inovadoras que melhorem a qualidade de vida das pessoas.

Em essência, a arquitetura é o encontro entre criatividade e propósito, moldando o espaço para tornar o mundo mais funcional, belo e humano.

 

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

ECONOMIA E POLÍTICA

A relação entre economia e política constitui o núcleo analítico da economia política, disciplina que examina como instituições e estruturas de poder influenciam a produção, a distribuição e o uso de recursos. As decisões políticas — expressas em políticas fiscal, monetária, cambial e regulatória — definem o quadro institucional no qual agentes económicos atuam. Tais decisões determinam níveis de tributação, composição do gasto público, taxas de juros e regras de mercado, influenciando crescimento, inflação, produtividade e emprego.

Estas escolhas não são neutras: refletem disputas distributivas entre grupos com interesses divergentes. Sistemas eleitorais, regras orçamentais e estruturas de governamentação moldam a capacidade do Estado de implementar políticas e mediar conflitos, mostrando que a dimensão institucional é central para compreender resultados económicos.

A direção inversa também é fundamental. O desempenho económico condiciona a dinâmica política, afetando expectativas sociais, estabilidade institucional e legitimidade dos governos.

Crises fiscais, recessões ou choques inflacionários, tendem a intensificar desejos de mudança, alterar coligações de poder e orientar reformas estruturais. Já períodos de expansão económica fortalecem a governabilidade, ampliam receitas públicas e aumentam a previsibilidade das decisões políticas.

No contexto atual - marcado pela globalização, transformação tecnológica, desigualdade e transição energética - a interdependência entre economia e política torna-se ainda mais evidente.

Políticas públicas eficazes dependem da articulação entre instrumentos económicos e capacidade institucional para coordenar interesses heterogéneos.

Assim, economia e política formam um sistema mutuamente condicionado: instituições moldam incentivos económicos, enquanto a performance económica redefine prioridades e equilíbrios no campo político.

 

sábado, 15 de novembro de 2025

FÁTIMA LOPES MERECIA MAIS

O desaproveitamento incompreensível de Fátima Lopes na televisão, é um daqueles mistérios que revelam tanto sobre o estado atual do panorama televisivo, quanto sobre a própria forma como o talento, por vezes, é negligenciado. Num meio onde comunicadores genuínos, empáticos e consistentes são cada vez mais raros, a ausência de Fátima Lopes nos grandes formatos levanta, inevitavelmente, a pergunta: como é possível deixar de lado uma profissional com uma carreira tão sólida, respeitada e versátil?

Ao longo de décadas, Fátima construiu uma relação de confiança incomum com o público. A sua postura humana, a capacidade de ouvir, a sensibilidade sem dramatismos artificiais e a competência jornalística, fizeram dela uma das comunicadoras mais completas da televisão portuguesa. Não se tratava apenas de apresentar programas — tratava-se de criar um espaço de partilha onde histórias reais encontravam acolhimento e respeito.

O mais incompreensível é que, enquanto se multiplicam programas descartáveis, formatos repetidos e opções claramente menos eficazes, uma apresentadora com provas dadas permanece à margem, como se o seu contributo fosse secundário. A televisão perde — mas perde sobretudo o público, que reconhece e sente falta de figuras que realmente acrescentam algo.

Não é apenas um desperdício profissional. É um sintoma de decisões que parecem ignorar o valor da credibilidade, da empatia e do profissionalismo. Fátima Lopes representa, exatamente, aquilo que muitos dizem faltar na televisão de hoje. E ainda assim o seu talento continua subaproveitado, quase como se não houvesse espaço para a qualidade num cenário dominado pela lógica do imediato.

Resta esperar que esta fase seja apenas um intervalo e não um destino. Porque talentos como o de Fátima não desaparecem. Apenas aguardam o momento em que sejam novamente reconhecidos pelo valor que sempre tiveram. Iremos poder matar saudades na nova série AQUI HÁ SABOR, no canal Casa e Cozinha, a partir de 5 de dezembro.

 

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

COMO A LITERATURA PERMITE ENTENDER A ECONOMIA

Hoje resolvi escrever acerca de um assunto que explica a minha dupla situação de economista e autora, tirando de qualquer delas o mesmo prazer. Tentei sintetizar.

1. Humaniza a economia

  • A economia lida com produção, consumo, riqueza, crises… Mas a literatura mostra como isso afeta as vidas reais.
  • Por exemplo, em Vidas Secas de Graciliano Ramos, vemos a seca, a pobreza e a luta pela sobrevivência, de uma família nordestina.

2. Retrata contextos históricos

  • A literatura fixa no imaginário coletivo os efeitos de períodos económicos.
  • Machado de Assis, em Memórias Póstumas de Brás Cubas, critica a elite brasileira do século XIX, dependente do esclavagismo e do parasitismo económico.
  • Em romances russos, como Anna Karenina de Tolstói, percebemos os impactos da modernização agrícola e a aristocracia em declínio.

3. Ilustra conceitos económicos

  • Desigualdade: Charles Dickens, em Oliver Twist, mostra o contraste entre a miséria dos órfãos e a riqueza da elite londrina no capitalismo industrial.
  • Mercado e trabalho: Em Germinal de Zola, o autor faz uma análise quase sociológica das condições dos mineiros na França.
  • Consumo e status: Em O Grande Gatsby de Scott Fitzgerald, vemos a crítica ao consumismo e à desigualdade nos Loucos Anos 20.

4. Crítica e reflexão social

A literatura não apenas descreve, mas questiona:

  • Quais são os custos humanos do crescimento económico?
  • Quem é incluído e quem é excluído?
  • Quais os valores que guiam as nossas escolhas económicas?

 Concluindo a literatura é uma espécie de laboratório imaginativo da economia. Enquanto os economistas usam dados, modelos e teorias, os escritores criam mundos que mostram como esses fenómenos afetam pessoas, culturas e sociedades.

 

terça-feira, 11 de novembro de 2025

O DIA DE S. MARTINHO

Não sei porquê, gosto de certas tradições populares. O dia de hoje é uma delas, que durante anos, celebrei com amigos tão foliões como eu era. Ainda sou!

Para os que não sabem, o Dia de São Martinho celebra-se a 11 de novembro e é uma das tradições mais conhecidas em Portugal. Nesta data, recorda-se São Martinho de Tours, um soldado romano que ficou famoso pela sua bondade e generosidade.

Conta a lenda de São Martinho que, num dia muito frio e chuvoso, Martinho encontrou um mendigo que tremia de frio. Com pena dele, cortou, com a espada, a sua capa ao meio e deu-lhe uma parte, para ele se aquecer. Nesse momento, as nuvens abriram-se, a chuva parou e o sol brilhou. Diz-se que foi assim, que surgiu o chamado “Verão de São Martinho”, um período de dias mais quentes em pleno outono.

Em Portugal, é costume celebrar este dia com magustos, onde se juntam amigos e familiares para assar castanhas, beber jeropiga ou vinho novo e conviver à volta da fogueira. É uma festa que marca o fim das colheitas e o início do tempo frio, mas cheia de alegria e partilha.

O Dia de São Martinho lembra-nos, também, a importância da solidariedade, da generosidade e da amizade — valores que tornam esta tradição tão especial!

 

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Hino à Alegria

Alegria, chama que aquece os corações!
És fonte pura que jorra no íntimo da vida,
és canto que rompe o silêncio das dores,
és luz que vence as sombras do desânimo.

Tu nos levantas quando os passos vacilam,
tu nos recordas que viver é celebrar,
tu és o sorriso que une estranhos,
és abraço invisível que sustenta o mundo.

Sem ti, o fardo se torna pesado,
a esperança se perde no horizonte.
Contigo, tudo se torna possível,
e até a noite escura revela estrelas.

Alegria, a tua presença é sagrada,
teu sopro é alimento da alma,
teu brilho é centelha do eterno
que nos convida a dançar a vida.

Seja em cada gesto, em cada encontro,
em cada lágrima transformada em canto,
seja tu, alegria, nossa oração,
nosso louvor, nosso hino de eternidade.

 

domingo, 9 de novembro de 2025

QUEM NÃO TEM CÃO…

Diz-se por aí que, “quem não tem cão, caça com gato”. Há pessoas que, quando a situação aperta, parece que viram ninjas. Acabou a solução óbvia? Eles inventam outra. O plano deu errado? Eles criam um plano Z, em cinco minutos, e ainda riem do processo. São os verdadeiros representantes do ditado: “Quem não tem cão, caça com gato.”

Mas o ditado é sábio e um pouco malandro. Ele não fala de caçada, fala do improviso. É o resumo português da “arte de dar um jeitinho” quando falta o ideal. Não tem impressora? Vai em foto de telemóvel. O café acabou? Água quente e fé. O plano A deu errado? O B, o C e o D já estão em modo de espera, tremendo nas bases.

“Caçar com gato” é viver no improviso, mas com estilo. É usar clipe no lugar do agrafo, sapato no lugar do martelo e criatividade no lugar dos recursos. Porque, no fim, o gato pode até não ser o cão, mas traz charme, elegância e, com sorte, um bom meme.

Então, da próxima vez que faltar o “cão” na sua vida - seja um recurso, uma pessoa ou um plano - lembre-se de que o gato está aí. Preguiçoso, talvez. Mas quem sabe se ele não dá um jeito diferente (e mais divertido) de conseguir o que queremos? 

 

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

AS FOLHAS DO OUTONO

As folhas do outono dançam ao sabor do vento, num ballet silencioso de despedidas. As suas cores — dourado, vermelho e castanho — pintam a paisagem com tons de melancolia e beleza. Cada folha que cai, conta uma história de tempo, de transformação e de ciclos que nunca cessam.

Há algo de sereno, nesse cair lento, como se a natureza respirasse fundo, antes do repouso do inverno. As árvores, agora mais leves, preparam-se para recomeçar, lembrando-nos que a vida também é feita de deixar ir.

O outono ensina o valor do desapego, a arte de aceitar as mudanças e a certeza de que até o fim pode ser belo. Porque, assim como as folhas, nós também precisamos cair, mudar e renascer — sempre com as cores da experiência, gravadas na nossa alma.

 

terça-feira, 4 de novembro de 2025

HUMOR E HUMILDADE

Eu sei que os humoristas me vão matar e considerar alguém que não entende o seu trabalho. Não é verdade. A família já foi -é – alvo de diversos tipos de “humores” …

O humor e a humildade são duas características essenciais que influenciam significativamente a maneira como nos relacionamos com os outros e como vemos o mundo à nossa volta. Embora à primeira vista, possam parecer opostos, quando combinados de maneira adequada, podem resultar numa abordagem equilibrada e saudável da vida.

O humor, quando usado com inteligência e sensibilidade, é uma ferramenta poderosa para promover conexões interpessoais, aliviar tensões e enfrentar desafios com leveza. A capacidade de rir de si mesmo e encontrar o lado cómico das situações, pode ajudar a reduzir o stresse e a ansiedade, além de promover um ambiente mais descontraído e inclusivo nas interações sociais.

No entanto, importa exercer o humor com humildade e respeito pelos sentimentos dos outros. O que pode ter graça para uma pessoa, pode ser ofensivo para outra, e é fundamental estar ciente das diferenças individuais e dos limites de cada um. Além disso, é importante reconhecer que o humor não deve ser usado como uma forma de ridicularizar ou menosprezar os outros, mas sim como uma forma de criar conexões genuínas e até promover um sentido de camaradagem.

Por outro lado, a humildade é uma qualidade que nos permite reconhecer as nossas próprias limitações, aprender com os erros e aceitar as contribuições dos outros. Ao cultivar a humildade, somos capazes de nos relacionar de maneira mais autêntica com os que nos rodeiam, demonstrando abertura para diferentes perspetivas e experiências.

A combinação de humor e humildade, convida a abordar a vida com uma atitude de leveza e aceitação, reconhecendo a importância de não nos levarmos a nós mesmos muito a sério, e a estarmos abertos à aprendizagem contínua. Ao integrar essas duas qualidades na nossa maneira de ser e de interagir, podemos criar relações mais significativas e construir um ambiente mais positivo e inclusivo para todos.

 

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

MEDITAÇÃO TRANSCENDENTAL

A Meditação Transcendental (MT) é uma técnica de meditação introduzida por Maharishi Mahesh Yogi, na década de 1950, fundamentada na repetição silenciosa de um mantra específico. Praticada geralmente durante 15 a 20 minutos, duas vezes ao dia, em posição confortável e com os olhos fechados, a MT visa conduzir a mente para além da atividade mental superficial, alcançando um estado de consciência, caracterizado por profundo repouso fisiológico e alerta mental. Pratico-a desde que o meu filho Miguel partiu.

Diferente das práticas que exigem concentração ou controlo ativo dos pensamentos, a MT é descrita como um processo natural e sem esforço, que permite alcançar o chamado “estado transcendental”. Pesquisas científicas, que posso confirmar, associam esta prática a benefícios psicológicos e fisiológicos, como redução do stresse e da ansiedade, melhoria da saúde cardiovascular, maior clareza cognitiva e aumento do bem-estar geral.

Nos últimos anos, a Meditação Transcendental tem vindo a ganhar reconhecimento, também entre nós, sendo praticada tanto em contextos individuais como em programas de promoção da saúde e do equilíbrio pessoal, o que reflete o crescente interesse pelas práticas de desenvolvimento interior.

 

domingo, 2 de novembro de 2025

O ELOGIO DA VAIDADE

A vaidade, tantas vezes condenada como um vício moral, talvez mereça uma reconsideração mais justa. Sob o olhar atento da razão e da história, percebe-se que ela não é apenas um espelho do ego, mas também um motor silencioso do progresso humano. É a vaidade que desperta no indivíduo o desejo de se distinguir, de se aprimorar, de alcançar a excelência que o olhar do outro confirma.

Longe de ser mera frivolidade, a vaidade é uma forma de auto-perceção que se pode transformar em consciência estética e ética. O cuidado com a aparência, quando não se reduz à superficialidade, revela também o respeito por si e pelos outros. O homem ou a mulher vaidosa, no melhor sentido, não buscam apenas admiração, mas harmonia — entre o interior e o exterior, entre o que são e o que mostram ser.

Na arte, na ciência, na política, a vaidade tem sido impulso e combustível. O desejo de reconhecimento, moveu pintores a criar obras imortais, cientistas a desafiar o impossível, estadistas a sonhar com glórias nacionais. Ainda que o aplauso seja efémero, ele serve como medida simbólica do esforço e do valor.

O perigo da vaidade não está na sua existência, mas no seu excesso — quando o espelho se torna prisão, e o olhar do outro, tirano. Porém, extirpá-la completamente, seria apagar uma das forças que mais profundamente moldaram a cultura humana.

Elogiar a vaidade, portanto, é reconhecer o poder ambíguo que habita em nós: o desejo de ser visto, lembrado e admirado. É admitir que, entre o orgulho e a humildade, há um território legítimo, onde a vaidade, com sua luz e sua sombra, nos ensina a ser mais humanos.

 

sábado, 1 de novembro de 2025

OS IMPROVISADORES

Há quem precise de roteiro para viver. E há quem se lance no vazio do momento, confiando que o chão vai aparecer — ou que, se não aparecer, ao menos o tombo, possa render boas gargalhadas. Os Improvisadores pertencem a esse segundo grupo: artistas do instante, trapezistas sem rede, poetas do agora.

Sobem ao palco com o mesmo desassombro de quem entra num sonho, sem saber o final. O público lança palavras, ideias, desafios absurdos — e eles transformam tudo em cenário. Um amor impossível entre uma torradeira e um astronauta? Uma tragédia no supermercado? Um rumba sobre a reforma tributária? Eles aceitam. E fazem.

Improvisar é brincar de ser deus e criatura, ao mesmo tempo. Inventar o mundo e habitá-lo. É uma arte que nasce e morre diante dos olhos, sem reprise, sem edição, sem chance de “depois nós melhoramos”. Cada erro vira escada, cada tropeço vira piada.

Há um tipo de magia nisto: o riso cúmplice de quem assiste e percebe que, por um instante, todos estão a criar juntos — artistas e plateia respirando o mesmo susto, o mesmo encanto.

Quando as luzes se apagam, nada fica gravado. Só o eco de algo que foi único, efémero e vivo. Porque improvisar, no fundo, é isso: provar que o instante basta!