quarta-feira, 17 de setembro de 2025

REDFORD, O TEMPO GUARDADO NO OLHAR

Robert Redford sempre carregou consigo uma aura de silêncio. Não o silêncio da ausência, mas o silêncio que contém histórias, como uma sala onde a luz atravessa as cortinas e revela partículas de poeira, dançando no ar. Foi assim que sempre o vi.

No rosto marcado pelo tempo, há um traço de inquietude que nunca se apagou. Redford foi galã, ícone, diretor, mas por trás da tela e dos olhares, sempre pareceu haver um homem que buscava um refúgio - nas montanhas, no deserto, na simplicidade de uma casa de madeira. A sua vida não se limitou ao cinema. Foi, também, uma luta contra o desgaste da fama, um esforço constante para preservar aquilo que é íntimo, que era só dele.

Há quem diga que ele se escondia, mas talvez seja apenas fidelidade a si mesmo. Ao longo dos anos, Redford mostrou que o mais revolucionário, pode ser o gesto de permanecer verdadeiro, mesmo quando o mundo pede máscaras.

Assistir a um filme seu é como atravessar uma janela. Por trás da beleza do herói e do brilho dos olhos azuis, adivinhava-se um homem que nunca deixou de ser espectador do próprio tempo. Um artista que se deu ao luxo de viver na contramão da pressa, de uma forma admirável!

 

O QUE É PRECISO PARA TUDO DAR CERTO?

Perguntaste-me, um dia, o que é preciso para tudo, na vida, dar certo.
E eu só consigo responder-te que não é a vida que precisa acertar. Somos nós que precisamos aprender a olhar. Medita no que te deixo abaixo!

O que é preciso para tudo dar certo?

Talvez menos do que imaginamos.
Não é perfeição, nem um destino alinhado em cada detalhe. É mais como uma dança: estar disposto a mover-se com a música que chega, mesmo quando não foi a que pedimos.

Precisamos de coragem para acreditar naquilo que ainda não se vê, de ternura para cuidar do que nasce pequeno, e de humildade para aceitar que nem sempre sabemos o caminho, mas ainda assim caminhamos.

Tudo dá certo quando deixamos de medir a vida só pelo que conquistamos, e começamos a sentir pelo que tocamos, pelo que deixamos, pelo que amamos.

Às vezes, tudo dá certo simplesmente porque aprendemos a chamar de ‘certo’ aquilo que antes chamaríamos de ‘erro’. E porque o certo não é a ausência de sombras, mas a luz que nasce justamente por causa delas.

 

terça-feira, 16 de setembro de 2025

ADOLESCER

Adolescer é atravessar uma ponte que não tem corrimão.
É estar no meio do rio: já não se pertence à margem de onde se partiu, mas também não se alcançou ainda a outra.
É sentir o corpo se alongar antes que a alma aprenda a caber nele.

Há uma pressa que arde por dentro e, ao mesmo tempo, um medo de crescer rápido demais.
O mundo, de repente, parece grande demais, exigente demais, mas também cheio de portas abertas que antes não se viam.
O coração se torna um tambor inquieto: pulsa por amizades intensas, por amores de instante, por sonhos que mudam de forma a cada semana.

Adolescer é aprender a dizer "eu" sem perder o "nós".
É buscar liberdade e, às vezes, desejar colo.
É se perder em silêncios e se encontrar em gritos.

E no meio de tantas contradições, há beleza: a coragem de ensaiar quem se é, de experimentar rascunhos de identidade, de se reconstruir sem pedir licença.
Adolescer é nascer outra vez — só que de dentro para fora.

 

domingo, 14 de setembro de 2025

ENVELHECER

Envelhecer não é recuar — é permanecer.
É aprender a estar inteiro no silêncio, a ouvir os gestos que o tempo sussurra na pele, a encontrar beleza naquilo que não precisa provar mais nada.

Há quem veja no envelhecer um retrocesso, como se a vida fosse um rio que só tem força quando corre rápido. Mas permanecer é outra coisa: é ser raiz, tronco firme, memória que respira. É continuar a existir com a dignidade dos que já caminharam por muitas estradas e, mesmo assim, não perderam a capacidade de se maravilhar com o pôr do sol.

Permanecer é escolher não se apagar diante das perdas, mas transformar cada ausência em espaço de florescer. É não ser refém da pressa, mas guardião da presença.

Envelhecer, afinal, é permanecer no que importa.
No afeto.
Na verdade.
Na vida que ainda pulsa.

 

sábado, 13 de setembro de 2025

PASSOS PARA SOBREVIVER À DESILUSÃO


 1.     Permita-se sentir

Não tente fingir que não doeu. Chorar, se frustrar, até sentir raiva é parte do processo. Reprimir só prolonga a dor.

2.     Não se culpe sozinho(a)
Muitas vezes, a desilusão envolve expectativas, e isso faz parte da vida. Não significa que você falhou ou não é suficiente.

3.     Afaste-se do gatilho (quando possível)
Se for uma pessoa, situação ou ambiente que reabre a ferida, dê um tempo de contato até se sentir mais forte.

4.     Apoie-se em pessoas seguras
Conversar com amigos, familiares ou até com um terapeuta ajuda a colocar as emoções em perspetiva.

5.     Cuide do corpo para cuidar da mente
Exercícios, boa alimentação e sono regulado têm impacto direto no humor e na clareza mental.

6.     Resgate coisas que lhe dão sentido
Hobbies, aprender algo novo, projetos pessoais… ajudam a reconstruir a autoestima e a criar novas fontes de alegria.

7.     Aceite que o tempo faz parte do processo
Não existe "atalho". Aos poucos, a dor perde força e você vai perceber que consegue enxergar o que aconteceu com mais maturidade.

sexta-feira, 12 de setembro de 2025

12 DE SETEMBRO

Hoje, caminho por dentro de mim,

como quem percorre um labirinto silencioso.
Não há ruas, apenas corredores de lembranças.
Cada porta que abro revela um eco, um rosto, um vazio.

Pergunto-me se viver é colecionar ausências.
Ou se é apenas aprender a sentar-se diante delas, sem fugir.
Sinto que o tempo não corre aqui dentro — ele se dobra,
como uma chama que vacila, mas não se apaga.

Não sei se busco consolo ou apenas sentido.
Talvez nada se revele. Talvez a travessia seja só isso:
um passo após o outro, dentro da própria solidão.

O 12 de setembro não é data — é estado.

Mas também é o dia em que um filho nasceu de mim!

 

Quando o tempo quiser

Há coisas que não podem ser arrancadas da vida à força. O tempo tem sua própria respiração, e nela cabem pausas que não entendemos. É no silêncio dessas pausas que aprendemos a esperar, mesmo sem querer.

Quando o tempo quiser, o que hoje parece distante, tornar-se-á próximo; o que agora pesa como ausência, um dia transformar-se-á em presença. Há dores que só se dissolvem quando os dias as abraçam devagar, e há caminhos que só se mostram quando aprendemos a caminhar com calma.

Não é a pressa que faz a vida acontecer. É a entrega. É confiar que existe um instante certo para cada revelação, mesmo que o coração se inquiete na espera.

Quando o tempo quiser, tudo se ajeita. E, quando esse instante chegar, iremos perceber que nada foi atraso, mas apenas preparação.

 

quarta-feira, 10 de setembro de 2025

A INFIDELIDADE FÍSICA

A infidelidade física costuma ser uma ferida que não se vê de imediato, mas que se sente no corpo inteiro. É o toque que não foi dado, o beijo que se perdeu em outro rosto, o espaço do abraço que já não é só nosso. Carrega a violência do concreto: pele com pele, desejo materializado fora do vínculo que se acreditava exclusivo.

No entanto, mais do que o ato em si, é o silêncio que o envolve que pesa, o segredo que se instala entre duas pessoas como um muro invisível. A cama, que antes era refúgio, torna-se palco de perguntas mudas: onde mais? quando mais? porquê?

A infidelidade física traz uma estranheza íntima, como se o corpo amado já não coubesse no mesmo lugar dentro da memória. É o choque de perceber que o que parecia inteiro pode, de repente, se romper num gesto breve, num encontro escondido.

Mas, por mais duro que seja, também abre espaço para olhar para dentro: o que ainda se deseja, o que já se perdeu, o que é possível reconstruir. Ou, o que é, talvez, melhor… deixar partir.

 

terça-feira, 9 de setembro de 2025

A Entrega

Entregar-se é dissolver a fronteira do corpo e da alma,
é deixar que o toque do outro invada sem pedir permissão,
mas com a mais profunda aceitação.

É o instante em que os olhos já dizem o que a boca não ousa,
e o desejo se torna oração silenciosa.
A pele arde, o coração dispara,
e o tempo perde importância.

Na entrega não há resistência,
há confiança absoluta,
há o convite para ser desfeito e recriado
nas mãos que sabem, na boca que busca,
no ritmo que nasce entre dois.

É mergulhar sem medo no abismo do prazer,
sabendo que lá em baixo não existe queda,
apenas o encontro.

Entregar-se é permitir-se ser descoberto,
é despir não só o corpo,
mas a alma inteira,
e ainda assim sentir-se inteiro no outro.

 

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

ELEVADOR DA GLÓRIA: UMA NOTA

O incidente registado com o Elevador da Glória é naturalmente motivo de preocupação. Trata-se de um meio de transporte histórico, com grande valor patrimonial e cultural, mas também de um serviço público que diariamente transporta lisboetas e visitantes. Logo, o que aconteceu foi bastante grave.

Mas, o que me parece mais relevante, agora, é apurar com rigor as causas do descarrilamento e a sua divulgação de forma transparente. É fundamental garantir que existem planos de manutenção preventiva eficazes, fiscalizações regulares e respostas rápidas, sempre que surjam sinais de desgaste ou risco. A preservação de um património desta importância deve caminhar lado a lado com a segurança de quem o utiliza.

É igualmente importante sublinhar que este não deve ser um momento para acusações precipitadas ou aproveitamentos políticos. O foco deve estar na responsabilidade coletiva de assegurar que o Elevador da Glória e outros equipamentos semelhantes, possam continuar a funcionar em condições de plena segurança.

Mais do que apontar culpados, este episódio serve de alerta para reforçar a cultura de prevenção, a valorização do património e o respeito por todos os que, diariamente, confiam nos transportes públicos da cidade.

 

domingo, 7 de setembro de 2025

INFIDELIDADE EMOCIONAL

A infidelidade emocional é um fenómeno cada vez mais discutido nos relacionamentos modernos. Diferente da traição física, ela não envolve necessariamente contato íntimo ou sexual, mas sim a criação de um vínculo afetivo profundo com alguém fora da relação oficial. Muitas vezes, começa de forma sutil: uma amizade, uma troca de mensagens frequentes, a partilha de segredos ou a busca de apoio emocional que deveria, em primeiro lugar, ser encontrado no parceiro ou parceira.

O que torna a infidelidade emocional tão complexa é sua natureza silenciosa. Como não há, de imediato, um "ato concreto" para ser apontado, ela pode ser negada, relativizada ou mesmo invisível por um tempo. No entanto, o impacto é real. O parceiro preterido pode sentir-se excluído, traído ou substituído emocionalmente, ainda que não haja uma traição física.

Os sinais mais comuns envolvem segredos, falta de transparência e a priorização de outra pessoa em detrimento do companheiro. A intensidade das conversas, o desejo de compartilhar conquistas ou desabafos com alguém de fora e a sensação de "pertencer" emocionalmente a outra pessoa, são indícios de que os limites do relacionamento foram ultrapassados.

É importante ressaltar que amizades profundas e laços externos não são, por si só, infidelidade. O que caracteriza a quebra de confiança é esse vínculo passar a ocupar o espaço central da intimidade, que deveria ser preservada no casal.

Lidar com a infidelidade emocional exige diálogo honesto, reflexão sobre as necessidades do relacionamento e, em muitos casos, uma redefinição de limites saudáveis. Reconhecê-la não significa, necessariamente, o fim da relação, mas pode ser um convite à reconstrução da confiança e ao fortalecimento da parceria.

 

sábado, 6 de setembro de 2025

GOTAS NO CHARCO

Não sou crítica literária, mas isso não me impede de aconselhar livros e autores.

Publicar um livro é sempre um ato de coragem, mas no caso de Mafalda Ribeiro- que sempre conheci como Mafaldinha- é, também, um ato de superação e de fé. A sua escrita carrega a marca da resiliência e da autenticidade, algo bastante raro e profundamente admirável."

"O seu livro, GOTAS NO CHARCO, acabado de sair, prefaciado pelo nosso Cardeal Tolentino de Mendonça, é mais do que páginas escritas. Cada página é uma gota da sua essência e um testemunho da coragem, da fé e de uma força criadora, que vence todas as limitações do seu corpo.

A sua escrita, fresca e inspiradora, prova bem que a grandeza não se mede em altura, mas na capacidade de transformar a dor em beleza e a luta em esperança."

NOTA: o livro pode ser adquirido autografado através de

https://linkd.in/dKVgYzMs

 

O QUE É PRECISO PARA TUDO DAR CERTO?

Perguntaste-me, um dia, o que é preciso para tudo, na vida, dar certo.
E eu só consigo responder-te que não é a vida que precisa acertar. Somos nós que precisamos aprender a olhar. Medita no que te deixo abaixo!

O que é preciso para tudo dar certo?

Talvez menos do que imaginamos.
Não é perfeição, nem um destino alinhado em cada detalhe. É mais como uma dança: estar disposto a mover-se com a música que chega, mesmo quando não foi a que pedimos.

Precisamos de coragem para acreditar naquilo que ainda não se vê, de ternura para cuidar do que nasce pequeno, e de humildade para aceitar que nem sempre sabemos o caminho, mas ainda assim seguimos.

Tudo dá certo quando deixamos de medir a vida só pelo que conquistamos, e começamos a sentir pelo que tocamos, pelo que deixamos, pelo que amamos.

Às vezes, tudo dá certo simplesmente porque aprendemos a chamar de ‘certo’ aquilo que antes chamaríamos de ‘erro’. E porque o certo não é a ausência de sombras, mas a luz que nasce justamente por causa delas.

 

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

ARMANI, O MEU ÍDOLO

Para mim, Giorgio Armani não é apenas um estilista — ele é um verdadeiro maestro da elegância. Entre tantos nomes que já passaram pela história da moda, Armani sempre foi, e continua sendo, o maior.

Admiro a forma como ele nunca precisou de exageros para se destacar. Enquanto outros buscavam chocar, ele buscava harmonia. Os cortes impecáveis, a simplicidade das linhas, a escolha das cores — tudo nele transmite uma sofisticação silenciosa, quase sussurrada, mas impossível de ignorar. É como se cada peça tivesse a alma da Itália, mas ao mesmo tempo fosse universal, eterna.

Armani redefiniu a alfaiataria, deu liberdade aos corpos, mostrou que a verdadeira classe está em vestir-se de maneira natural, sem esforço. E isso, para mim, é genialidade. Ele não criou apenas roupas, criou uma atitude.

Quando penso em Armani, penso em alguém que transformou o luxo em algo íntimo, humano, acessível à sensibilidade. Ele não segue tendências — ele é a tendência. Para mim, Giorgio Armani é e sempre será o maior nome da moda, porque conseguiu algo que poucos alcançam – SER ETERNO.

 

terça-feira, 2 de setembro de 2025

AI! AS RECORDAÇÕES…

Há 68 anos casei-me pensando que era para toda a vida. Levei 11 anos a perceber que, o toda a vida tinha, afinal, um curto prazo de validade. À época o divórcio não existia para aqueles que, como eu, tinham contraído matrimónio pela Igreja.

Mas, apesar disso, curiosamente, dou comigo muitas vezes, a tomar consciência do que me ficou, dessa união, entranhado na pele. Hoje sou uma apreciadora de jazz – a educação paterna fora profundamente clássica- e isso devo inteiramente ao meu ex marido.

Com ele aprendi, também, algo sublime que é “saber ver”, que é bem diferente de saber olhar. Foi, ainda, ele que, numa longa viagem que fizemos a Barcelona, me ensinou a importância dos volumes, das cores e da luz.

Hoje, não posso deixar de sorrir, enternecida, por este imenso património que ele me deixou e que nunca mais esqueci. Recentemente, em Paris, fui com o meu filho a uma bela exposição. A certa altura dei comigo a apreciar o modo como certos quadros eram bafejados pela luz e pela escolha notável dos outros que o rodeavam

Às vezes é preciso deixar passar muito tempo – 60 anos- para se ter a capacidade de reconhecer um pequeno lado bom, nas lembranças de algo que foi, manifestamente, o maior erro da minha vida!

 

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

NÃO COMPARE A SUA JORNADA

Não compare a sua jornada com a dos outros, porque a verdade é que o caminho de cada um, é único. Cada pessoa tem um ritmo, um tempo e uma história diferente. Muitas vezes, olhamos para fora e enxergamos, apenas, o resultado da vida das pessoas: as conquistas, os sorrisos, as vitórias. Mas raramente vemos as lutas silenciosas, os dias de dúvidas, os medos e os fracassos, que também fizeram parte da caminhada delas. Quando nos comparamos, estamos a medir o nosso “processo” contra o “resultado” do outro, e isso nunca será justo.

Cada ser humano carrega a sua própria história, marcada por situações, desafios e oportunidades diferentes. O que parece fácil para alguém, pode ter custado anos de esforço. Da mesma forma, aquilo que hoje parece um atraso na nossa vida pode ser, justamente, o tempo necessário para amadurecer, aprender e nos fortalecer.

A vida não é uma corrida. Não existe linha de chegada que todos precisam alcançar ao mesmo tempo. O que existe, é um caminho de aprendizagem constante, feito de passos grandes e pequenos, de quedas e recomeços. Comparar-se, é desperdiçar energia que poderia estar a ser usada para construir o que realmente importa: a nossa própria evolução.

Valorizemos cada conquista, por menor que pareça. Celebremos o simples fato de se estar avançando. Reconheçamos que o que vivemos hoje, está a preparar-nos para o que ainda virá. O progresso não precisa de ser visível aos olhos dos outros, para ser verdadeiro.

O mundo precisa da nossa história, não de uma cópia da história de alguém. O que torna a nossa vida especial é, justamente, o fato de ela ser singular, diferente de todas as outras. Caminhe no seu ritmo, com confiança e coragem, porque o seu caminho é único e só pode ser trilhado por si. 

 

domingo, 31 de agosto de 2025

A BELEZA QUE NÃO SE VÊ

Quando sentimos que a nossa beleza não se vê, é como se estivéssemos escondidos atrás de uma cortina, que só deixa passar uma sombra de quem realmente somos. Olhamo-nos no espelho à procura sinais, mas parece que o reflexo não devolve aquilo que carregamos por dentro. É uma sensação silenciosa, quase injusta, de estar invisível ao mundo e às vezes, até, a nós mesmos.

Mas existe uma verdade difícil e bela nisto. É que nem toda beleza foi feita para ser vista de imediato. Algumas só se revelam no jeito de ouvir alguém sem pressa, na coragem de recomeçar quando tudo pesa, no brilho discreto dos olhos quando falamos do que amamos. Essa beleza, ainda que não se mostre em vitrines nem a olhares rápidos, é a que transforma, de verdade, quem cruza o nosso caminho.

Talvez o mais doloroso seja acreditar que ela não existe, só porque não é reconhecida. Mas a beleza que não se vê, continua sendo beleza — e, quando alguém a enxerga, mesmo que seja uma única pessoa, ela ganha o valor de um universo inteiro. 

 

sábado, 30 de agosto de 2025

NO INTERLÚDIO DO CORPO

No interlúdio do corpo, quando a pressa já não dita o compasso, aprendemos a ouvir.
O envelhecer não chega como rutura brusca, mas como um diálogo paciente - um murmúrio entre ossos, músculos e lembranças.

A pele torna-se mapa de caminhos percorridos.
Cada linha, um registo, cada marca, uma história que já não precisa ser contada em voz alta.
Os joelhos lembram que já correram mais depressa, os olhos, que já buscaram longe, antes de aprender a repousar no perto.

Nesse intervalo, descobrimos que o corpo não nos abandona, apenas nos convida a outro ritmo.
A vitalidade não desaparece. Ela apenas muda de lugar.
Sai da velocidade dos passos, para habitar a profundidade do olhar,
abandona a urgência do gesto, para firmar-se na delicadeza do toque.

O interlúdio do corpo é esse tempo de conciliação,
não negamos o que já não somos,
mas também não desistimos do que ainda podemos ser.
Conversamos com as rugas, aceitamos as pausas, celebramos a respiração.

Porque envelhecer é permanecer em diálogo com a vida,
é encontrar beleza no intervalo,
é reconhecer que, no corpo que abranda,
há ainda a música inteira — apenas em outro tom.

 

sexta-feira, 29 de agosto de 2025

A extraordinária beleza de dizer “não sei”

Vivemos num tempo em que a pressão por respostas imediatas e certezas absolutas nos envolve de todos os lados. Espera-se que tenhamos opinião formada sobre tudo, que possamos explicar, argumentar e responder sem hesitação. Mas existe uma beleza rara e poderosa em admitir o contrário: dizer “não sei”.

Esse gesto simples carrega uma honestidade profunda. Reconhecer que não sabemos é um ato de humildade, porque nos coloca diante dos limites do nosso próprio conhecimento. É, também, um ato de coragem, porque desafia a vaidade de parecer sempre seguro e informado.

O “não sei” abre espaço para a curiosidade. Ele convida à busca, à investigação e à aprendizagem contínua. Diferente da falsa certeza, que fecha portas, a dúvida sincera expande horizontes. Quem admite não saber está pronto para descobrir, ouvir e crescer.

Há ainda uma beleza ética nesse gesto: quando dizemos “não sei”, oferecemos ao outro a verdade, em vez de preencher o vazio com respostas precipitadas. Assim, cultivamos relações mais autênticas e transparentes.

No fundo, o “não sei” é um lembrete de que a vida não se resume a controlar tudo ou dominar todo o conhecimento. É a confissão de que somos viajantes num caminho infinito de descobertas. E talvez a maior sabedoria esteja justamente aí: no reconhecimento de que a incerteza é parte essencial de sermos humanos.

 

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

AQUILO QUE NÃO DIZEMOS

Aquilo que não dizemos não desaparece. Fica guardado nos cantos mais silenciosos de nós próprios, como uma forma de respiração suspensa. Há palavras que não encontramos coragem de soltar, não porque sejam pequenas, mas justamente porque carregam um peso que nos desnuda.

No silêncio, elas transformam-se em olhares demorados, em pausas longas demais numa frase simples, em gestos que disfarçam a intensidade. Talvez temamos o que possa acontecer se elas forem ditas: a mudança irreversível, o risco de perder o que já existe ou, simplesmente, o medo de não serem recebidas como as sentimos.

Aquilo que não se diz é, ao mesmo tempo, refúgio e prisão. Refúgio, porque nos protege de expor tudo o que sentimos. Prisão, porque nos impede de viver com a leveza de quem nada esconde.

No fundo, sabemos que o não-dito, não é vazio. Ele fala de outra forma. E, talvez um dia, consigamos aprender a deixar que as nossas palavras encontrem o caminho, sem que o coração precise de se esconder atrás do silêncio.

 

quarta-feira, 27 de agosto de 2025

AS LÁGRIMAS

No sentido simbólico, as lágrimas carregam um valor profundo — não como fraqueza, mas como linguagem secreta da alma.

Elas são palavras que escorrem pelo rosto quando a voz se cala, são memórias líquidas que carregam tanto de dor quanto de ternura. Uma lágrima pode significar saudade, amor, arrependimento, gratidão ou até um alívio depois de uma longa espera.

De certo modo, cada lágrima é uma espécie de oferta silenciosa. Entrega- se ao mundo aquilo que não se conseguiu traduzir em palavras ou gestos. E, ao mesmo tempo, devolve -se a nós próprios um pouco de clareza, como se lavássemos o olhar para que víssemos, de novo, o que importa.

Por isso, valem não pelo que resolvem, mas pelo que revelam, ou seja, pelo que ainda sentimos, que ainda nos importamos, que ainda estamos vivos.

 

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

A ALEGRIA, MOTOR DE VIDA

A alegria não significa ausência de problemas, mas a energia vital que nos motiva a seguir em frente, a criar, a transformar e a ter esperança de encontrar sentido no caminho. É como um combustível interno: quanto mais a cultivamos, mais força temos para viver plenamente.

A alegria é um motor de vida. Ela não elimina as dificuldades, mas dá-nos a energia necessária para as enfrentar com coragem e esperança. É a centelha que ilumina os dias nublados, a força silenciosa que nos levanta, quando tudo parece pesar demais.

Quando cultivamos alegria, não estamos a negar a realidade, mas a escolher olhar para ela com gratidão e abertura. É no gesto simples de sorrir, no abraço sincero, no canto dos pássaros ou no pôr do sol que encontramos combustível para seguir em frente.

A alegria não é um luxo, é uma necessidade vital. Ela nos torna mais resilientes, mais humanos e mais próximos uns dos outros. Viver com alegria é lembrar, todos os dias, que apesar das sombras, há sempre uma chama dentro de nós, capaz de nos mover em direção à vida.

Alimentar a alegria, não é a fugir da realidade —  é, sim, ampliar a nossa capacidade de a enfrentar. É essa energia que transforma a rotina em presença, o cansaço em esperança, e a dor em aprendizagem.

Ela não elimina a dor nem nega o absurdo da existência, mas mostra-nos que, apesar de todas as dificuldades, a vida pode ser digna de ser vivida. A alegria é resistência contra o vazio, é afirmação de que somos mais do que circunstâncias passageiras.

Quando a cultivamos, compreendemos que viver não é esperar a ausência de dificuldades, mas aprender a mover-se com leveza no meio a elas. A alegria, afinal, não é um fim. É a afirmação de que somos mais do que quaisquer circunstâncias passageiras.

 

sábado, 23 de agosto de 2025

A CALÚNIA

Nunca tinha sido alvo da calúnia. Foi preciso chegar a esta idade e a 30 anos de comunicação social, para ter tido essa experiência, que me magoou muito, mas simultaneamente me permitiu ver quem, de facto, me aprecia e defendeu.

A calúnia é uma das formas mais cruéis de injustiça, porque ataca aquilo que é mais precioso numa pessoa: a sua honra e a sua dignidade. Diferente de uma agressão física, que deixa marcas visíveis, a calúnia age de maneira silenciosa e corrosiva, espalhando desconfiança, mágoas e ruturas muitas vezes irreparáveis. Uma palavra distorcida, uma mentira repetida, pode destruir amizades, abalar famílias, manchar reputações construídas ao longo de anos e, até, comprometer a vida profissional e social de alguém.

O mais doloroso é que, depois de espalhada, a calúnia dificilmente pode ser totalmente reparada. Mesmo quando a verdade vem à tona, as dúvidas já foram lançadas, e o olhar das pessoas nunca mais é o mesmo. É como uma mancha que permanece, mesmo após tentativas de limpeza.

A devastação da calúnia não atinge apenas a vítima direta. Ela corrói laços de confiança na comunidade, incentiva a injustiça e alimenta a maldade. Quem calunia fere não só o outro, mas também a si mesmo, pois revela a própria fragilidade de carácter.

Por isso, é fundamental refletir antes de falar e cultivar a responsabilidade nas palavras. A verdade pode ferir, mas liberta.  A calúnia, por sua vez, aprisiona todos num ciclo de dor e desconfiança.

 

sábado, 16 de agosto de 2025

O Íntimo e o Privado das Figuras Públicas I

A condição de figura pública carrega consigo uma dupla dimensão: a visibilidade e a exposição. Políticos, artistas, atletas, influenciadores e outros indivíduos conhecidos da sociedade acabam sendo constantemente observados, analisados e, muitas vezes, julgados. Entretanto, é importante compreender a distinção entre o que é de interesse público e o que pertence ao campo da vida privada.

O íntimo refere-se ao núcleo mais restrito da existência pessoal: sentimentos, relações afetivas, escolhas espirituais, familiares ou de saúde, aspectos que, por sua própria natureza, dizem respeito apenas ao indivíduo e ao seu círculo mais próximo. Já o privado abrange uma esfera um pouco mais ampla, como preferências pessoais, momentos de lazer, rotinas domésticas ou opções de estilo de vida, que não necessariamente se conectam com a função social ou profissional exercida por aquela pessoa.

Embora o fato de alguém ocupar espaço na mídia desperte a curiosidade do público, isso não autoriza a invasão irrestrita de sua vida íntima e privada. A liberdade de imprensa e o direito à informação encontram limites no respeito à dignidade humana, princípio fundamental em sociedades democráticas. O que é de interesse público — como condutas que impactam a coletividade, atos de corrupção, discursos, decisões profissionais ou políticas — não deve se confundir com o interesse do público, que muitas vezes se volta apenas para a curiosidade ou o entretenimento.

Assim, preservar o íntimo e o privado das figuras públicas é um exercício de equilíbrio entre a transparência necessária à vida social e o direito individual de cada pessoa à intimidade. Reconhecer esses limites é também uma forma de reafirmar que, apesar da notoriedade, celebridades e autoridades continuam sendo seres humanos que merecem respeito, dignidade e proteção de sua esfera pessoal.

 

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

A TEGGY

Conheci a Teresa Caeiro há muitos anos. Apesar da sua brilhante carreira política, aquilo que hoje me interessa ressaltar é, obviamente, a mulher, que se encontrava escondida debaixo da armadura da política.

Era, talvez, das pessoas mais carentes de afeto que encontrei ao longo da vida. E, também, das pessoas mais protegidas por esse afeto, de que ela tanto carecia.

Dotada de um grande sentido do humor, sempre que estávamos juntas não era de política que falávamos, mas sim, daquilo de que todos os seres humanos carecem, para se sentirem felizes. E, também, para rir.

Ela achava-me uma mulher forte e eu dizia-lhe que ela ainda só aprendera a reconhecer as suas fragilidades. Faltava ir mais fundo para, verdadeiramente, se encontrar.

Eu sabia que a Teresa podia ser forte, porque houve ocasiões em que essa caraterística veio ao de cima. Assisti a algumas delas. Infelizmente, outros fatores e dependências, arrastavam-na para o lado difícil da vida.

Choro por isso, por saber que, com tantos amigos a protegê-la, ela não tivesse tido a capacidade e a vontade, de sublimar as pedras que a vida, por vezes, põe no nosso caminho para nos testar! Adeus, querida Teresa. E que, finalmente, encontres a paz!

 

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Educação Sexual nas Escolas: um pilar para a formação integral


Pertenço a uma geração em que a sexualidade era tabu nas famílias e muito mais nas escolas. Assim, se não fosse a mãe que tive, o que saberia era a pouquíssima abordagem da matéria em livros proibidos. Nunca me conformei com esse condicionamento.

Para já, a educação sexual nas escolas, deve ir muito além do ensino sobre anatomia ou prevenção de doenças. Ela é uma ferramenta essencial para promover o conhecimento, o respeito e a autonomia dos estudantes sobre os seus próprios corpos e relacionamentos. Quando tratada de forma responsável e adequada à faixa etária, ajuda a combater tabus, a reduzir a desinformação e a prevenir situações de risco.

O ensino estruturado da sexualidade aborda temas como consentimento, diversidade, igualdade de género, prevenção de infeções sexualmente transmissíveis, menstruação, métodos contracetivos e desenvolvimento afetivo. Essas informações, transmitidas de maneira clara e respeitosa, fortalecem a autoestima e a capacidade de tomar decisões conscientes.

Além disso, a presença da educação sexual nas escolas contribui para diminuir casos de gravidez na adolescência, violência sexual e discriminação. E também cria um ambiente mais seguro, onde os estudantes se sentem à vontade, para esclarecer dúvidas e aprender, sem medo de julgamentos ou ideologias, porque estas matérias estão muito acima disso.

Negar esse acesso é deixar jovens à mercê de informações distorcidas, muitas vezes obtidas de forma insegura na internet, ou em conversas informais. A escola, como espaço de formação dos cidadãos, tem o papel de preparar os seus alunos não apenas para o mercado de trabalho, mas para a vida em sociedade. E a educação sexual é parte fundamental desse processo.

Peregrinação Interior

Há um caminho que não se traça em mapas.
Não há setas pintadas nas pedras, nem placas a indicar o rumo.
É uma estrada que começa no silêncio,
quando o mundo lá fora se dissolve
e a única bússola que resta é o pulsar do próprio coração

Peregrinar por dentro é atravessar desertos invisíveis,
encarar tempestades que ninguém vê,
e caminhar por florestas de lembranças, onde a luz entra aos poucos.
E aceitar que algumas distâncias não se medem em passos,
mas em coragem.

Nesse percurso, encontramos ruínas de antigas versões de nós próprios
e, entre as fendas, sementes que aguardam germinar.
O chão é feito de memórias,
as pontes, de perdão.
E, se há montanhas, são de medos —
que se desmancham ao serem olhados de perto.

A peregrinação interior não tem chegada triunfal.
Tem um retorno.
Voltamos ao mundo com os olhos lavados,
o coração menos pesado,
e a certeza de que, onde quer que estejamos,
há sempre mais estrada dentro de nós.

terça-feira, 12 de agosto de 2025

CEDO DEMAIS

Todos nós, alguma vez, esperámos muito tempo, por alguma coisa ou por alguém, que não aparecia. E, se o problema não for esperar demais, mas receber cedo demais?

Às vezes, o desejo bate à porta antes de aprendermos a morar dentro de nós. E o que parecia presente torna peso, porque não temos ainda mãos firmes para segurar.

Chega como fruta verde: bonita por fora, mas amarga no gosto. Tentamos morder, mas o dente encontra resistência, e o sabor não é o que imaginávamos. Não é culpa da fruta. Nem nossa. É só o tempo — esse maestro que sabe quando a música está pronta para ser tocada.

Ter algo ou alguém cedo demais é, quase, como perder. Porque, sem a devida preparação, o que vem não encontra espaço para se encaixar.

Mais tarde, talvez, olhássemos para aquilo com mais cuidado, mais calma, mais reverência. Mas naquele instante, o que chega cedo vem junto com a pressa, o medo, a confusão.

E a vida, paciente, observa.
Porque ela sabe que o que é nosso pode, até, chegar antes da hora — mas só floresce quando nós já aprendemos a ser jardim.

 

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

O TER E O QUERER

Vivemos entre dois verbos que moldam grande parte da nossa existência: ter e querer.
O ter representa o que já conquistámos — bens, títulos, experiências, relações. Ele traz segurança, estabilidade e, muitas vezes, orgulho. Mas o ter é estático; é a fotografia do que já foi alcançado.

O querer, por outro lado, é movimento. É o desejo que nos impulsiona para a frente, a chama que acende a ambição, o sonho e a curiosidade. Mas ele também pode ser inquieto, insaciável, a pedir sempre mais.

Quando vivemos apenas no ter, corremos o risco de nos acomodar, de prender o olhar ao que já está nas mãos, esquecendo que a vida é mudança. Quando vivemos apenas no querer, podemos cair na eterna insatisfação, correndo atrás de algo que nunca chega — ou que, quando chega, já não basta.

O equilíbrio está em reconhecer e valorizar o que temos, sem matar a capacidade de sonhar e buscar. É saber que o ter dá raízes e o querer dá asas. Porque a vida pede as duas coisas: pés firmes no chão e olhos que enxergam o horizonte.

 

domingo, 10 de agosto de 2025

O AMOR

O amor é maravilhoso em qualquer idade. Ele não se prende ao calendário, não teme rugas nem se embaraça com a contagem dos anos.
O amor é uma chama que se adapta ao tempo. Na juventude, chama intensa, carregada de sonhos e descobertas. Na maturidade, transforma-se em calor constante, que aquece de dentro para fora e dá segurança nos dias frios.

Na juventude, o amor é a pressa de viver tudo de uma vez. São noites passadas em conversas intermináveis, promessas feitas com brilho nos olhos, aquele frio na barriga que parece nunca acabar. É um mergulho sem medo de profundidade, movido pela curiosidade e desejo de conhecer o outro e a si mesmo.

Com o passar dos anos, o amor amadurece. Ele não perde a beleza — ganha novas cores. Deixa de ser tempestade para se tornar rio, que flui sereno, mas segue profundo. É o gesto do abraço profundo, do beijo prolongado, dos corpos aninhados, do silêncio confortável, que dispensa palavras. É entender que amar não é se perder no outro, mas se encontrar nele.

E quando ele chega mais tarde, na vida, torna-se ainda mais precioso. É reencontro connosco e, ao mesmo tempo, a descoberta de um novo lar no olhar do outro. É saber que o tempo é finito, mas ainda assim escolher viver cada momento com intensidade, porque cada riso, cada abraço, cada conversa tem sabor de eternidade.

O amor não exige idade para nascer. Ele floresce onde encontra espaço, cuidado e reciprocidade. E, quando verdadeiro, é sempre jovem — mesmo que os corpos carreguem histórias, mesmo que os cabelos contem o tempo!

Porque amar é viver.
E viver, quando se ama, é sempre um milagre.

 

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

O que sentimos, silenciosos, no meio da multidão

Há um tipo de silêncio que só quem já esteve no meio de muita gente entende.
Não é o silêncio do som — é o silêncio dentro de nós.

Às vezes estamos ali, parados no metro, numa festa, no corredor da escola, no trabalho, entre risos, vozes, movimentos. E algo dentro de nós se retrai.
Como se houvesse uma distância invisível entre o corpo e o mundo.
Como se estivéssemos presentes só de corpo, mas a alma estivesse olhando de longe, com as mãos no bolso, perguntando:
"O que é que eu estou a fazer aqui?"

Nesse momento, surge uma tristeza muda.
Não é um choro, nem um drama. É só um vazio quieto.
Como quem queria ser notado, mas não quer chamar a atenção.
Como quem queria um abraço, mas não sabe como o pedir.
Como quem quer conversar, mas não encontra palavras que caibam no peito.

Olhamos em volta e vemos gente demais.
Mas parece que ninguém nos vê de verdade.
Todo mundo a falar, a rir, a tocar-se — e nós ali,
silenciosos, tentando não afundar por dentro.

Não é inveja.
Não é raiva.
É só aquela sensação de estar fora de lugar até dentro de nós mesmo.

É estranho, porque a solidão na multidão não grita.
Ela cochicha. Ela sussurra dentro da mente:
"Ninguém aqui te entende."

E talvez seja isso mesmo.
Ou talvez seja só uma fase.
Talvez todos estejam a sentir-se assim também, mas ninguém sabe como dizer.

Então seguimos…
Silenciosos.
Esperando que, no meio dessa multidão, alguém veja.
Não o nosso rosto, não o nosso nome.
Mas aquilo que quase ninguém enxerga:
A vontade de ser encontrado, mesmo estando ali o tempo todo.

 

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

As tuas mãos no meu corpo

As tuas mãos no meu corpo são silêncio e tempestade.
Trazem a calma de um porto seguro, mas também o incêndio que me consome por dentro.
Quando me tocas, não é só pele — é alma.
É como se cada gesto teu soubesse exatamente onde mora a minha sede.

Os teus dedos desenham em mim caminhos que nem eu sabia que existiam.
Mapeiam-me, descobrem-me, domam e libertam tudo aquilo que escondo no fundo do peito.
Com um simples toque, fazes-me esquecer o tempo, as dúvidas, o mundo lá fora.

É nos teus gestos que encontro abrigo.
É no calor das tuas mãos que o meu corpo se rende, inteiro,
não por fraqueza, mas por desejo.
Porque quando me tocas, eu deixo de ser só eu —
e passo a ser teu.

 

Esclarecimento com carinho

Tenho recebido comentários que interpretam alguns dos meus textos como relatos da minha própria vida. Por isso, achei importante esclarecer algo.

Embora muitos textos estejam escritos na primeira pessoa, isso não significa que sejam autobiográficos. Alguns, nascem de memórias que outras pessoas me confiaram e que eu descrevo com os meus olhos, com a minha escuta e a minha sensibilidade. Outros, são pura ficção, inventados palavra por palavra.

É verdade que quem escreve, deixa sempre algo de si, em cada linha — um traço, uma sensação, uma sombra. Mas isso não faz da história, a minha própria.

Escrevo para dar voz a muitas vidas, não apenas à minha.

 

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Quando as palavras não saem

Às vezes, o silêncio fala mais alto do que mil palavras. Quando estas não saem, talvez o coração esteja a dizer tanto, que a boca não consegue acompanhar. Pode ser tristeza, cansaço, medo, ou até um sentimento belo demais, para caber em frases.

Quando as palavras não saem

Há um lugar entre o peito e a garganta onde mora o que não se diz.
Não é bem silêncio - é mais denso. Um quase-som.
Um grito que esqueceu como se grita.
Um choro que não encontrou o olho certo para escapar.

Fica ali, latejando.
Não se nomeia o que ainda está sendo sentido.
Não se organiza o que é caos dentro.
E como dizer isso que nem a própria alma entende?

A língua pesa.
A boca seca.
O mundo espera que se diga, que se explique, que se resolva.
Mas como desfazer o nó?
Como explicar o invisível, com palavras que só alcançam a superfície?

Então escolhe-se o silêncio.
Mas não por fraqueza. Por cuidado.
Porque às vezes, o que não se diz… é o que mais verdade carrega.

Mas tudo bem.
Nem todo sentimento precisa sair inteiro para ser real.
Nem toda dor precisa virar discurso para ser válida.
Às vezes, sentir já é dizer tudo.

 

terça-feira, 5 de agosto de 2025

ESTAREMOS A MUDAR?

Na sociedade contemporânea, o conceito de sucesso tornou-se cada vez mais multifacetado e subjetivo. Durante muito tempo, ter sucesso era associado quase exclusivamente a conquistas materiais. Ou seja, ter uma carreira sólida, estabilidade financeira, bens de alto valor e status social. Hoje, embora esses elementos ainda tenham peso, há uma mudança significativa na forma como as pessoas definem o que é, de facto, “ter sucesso”.

Cada vez mais, o sucesso é visto como a capacidade de viver de acordo com os próprios valores e encontrar equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Muitas pessoas já não consideram suficiente ganhar bem ou ocupar um cargo importante, se isso custar a sua saúde mental, os seus relacionamentos ou a sua felicidade. O sucesso, neste novo olhar, está mais relacionado com o bem-estar, a liberdade de escolha e o propósito de vida.

Além disso, há um reconhecimento crescente de que o sucesso não é universal nem definitivo. Para alguns, ele pode significar empreender um negócio próprio; para outros, criar uma família, viajar pelo mundo ou, até mesmo, encontrar paz interior. Essa pluralidade mostra que o sucesso deixou de ser um padrão imposto e passou a ser uma construção pessoal.

Nesse contexto, o autoconhecimento e a autenticidade, tornaram-se elementos centrais da ideia de sucesso. Ter sucesso hoje é, muitas vezes, sinónimo de viver de maneira alinhada consigo próprio - mesmo que isso signifique seguir um caminho diferente do que a sociedade tradicionalmente valorizava.

 

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

O Cheiro do Café

O cheiro do café tem algo de mágico. Ele acorda a casa, antes mesmo que os olhos se abram. Espalha-se pelos quartos como um anúncio silencioso de que o dia começou. É aroma de aconchego, de lembrança, de rotina com afeto. Há quem diga que o café só é bom mesmo quente e forte — mas, para muitos, o verdadeiro prazer está no cheiro que vem antes do primeiro gole.

Esse cheiro tem memória. Lembra manhãs na casa da avó, a chaleira apitando no fogão e o coador de pano pendurado como se fosse parte da decoração. Lembra conversas de domingo, tardes de chuva, pausas no trabalho, reencontros e despedidas. Lembra silêncio e companhia. É como se cada pessoa tivesse o seu próprio café, guardado na memória — com um aroma que não se esquece.

O cheiro do café tem o poder de confortar e de recomeçar. É convite e promessa. Promessa de que o dia pode ser melhor, de que há tempo para um respiro e de que entre um gole e outro, há espaço para viver.

 

domingo, 3 de agosto de 2025

UMA CARTA…

Às vezes, dou comigo a pensar naquele instante, que parece simples para o mundo, mas que vive em mim, como um eco eterno: o teu olhar.
Ainda te lembras? Talvez não. Ou talvez te tenhas lembrado, por tempo demasiado, à espera de que eu dissesse algo, fizesse algo.

Naquele dia — aquele, que tu provavelmente esqueceste, com mágoa — havia um brilho nos teus olhos. Mas não era alegria. Era um brilho estranho, contido, como quem segura um mar inteiro, dentro do peito.
E eu… eu não soube ver.
Ou vi e fingi que não.
Por medo, por orgulho, ou por mera incapacidade.

Hoje, entendo que naquele olhar, havia palavras não ditas, gestos suspensos, uma despedida silenciosa.
E eu, perdido nas minhas distrações, deixei passar o que, talvez, fosse o nosso último momento inteiro.

Sinto falta de tudo o que não foi.
De tudo o que teu olhar me tentou dizer.
E da versão de mim, que te teria escutado, com o coração.

Aceita a minha saudade e profundo arrependimento, se fores capaz.

 

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

FOI AO VIRAR DA ESQUINA


 

FOI AO VIRAR DA ESQUINA
que o tempo parou de correr.
Um perfume antigo no ar,
um olhar que não quis esquecer.

Era outono ou era sonho?
A brisa sussurrava segredos.
E ali, entre o ontem e o agora,
o coração perdeu os seus medos.

As folhas dançavam no chão,
como cartas de um velho romance.
E cada passo em silêncio
guardava a chance de um reenlace.

A rua, de pedras gastas,
sabia mais do que dizia.
Tantas histórias pisadas,
tantas promessas vazias.

quinta-feira, 31 de julho de 2025

DEPOIS DA DOR, A ALEGRIA!

A dor parece interminável quando estamos no meio dela. Ela pesa, cansa, silencia. Nos momentos mais difíceis, a esperança parece distante, e os dias, intermináveis. Mas a dor - embora profunda - é também uma passagem.

Depois da dor, vem o alívio.
Depois do luto, vem a memória viva.
Depois da queda, vem o recomeço.
Depois do choro, vem o sorriso tímido que se transforma em riso pleno.

A alegria que chega depois da dor é diferente.
Ela não é vazia, não é euforia momentânea —
é uma alegria amadurecida, consciente, grata.
É a alegria de quem passou pela tempestade e aprendeu a dançar na chuva.

Depois da dor, a alegria!
Não como quem esquece o que sofreu,
mas como quem honra a cicatriz e escolheu continuar.

 

quarta-feira, 30 de julho de 2025

"O DIVÓRCIO NÃO É O FIM DO AMOR, É O COMEÇO DO AMOR PRÓPRIO."

Muitos de nós encaram o divórcio como um fracasso, como o encerramento doloroso de uma história que prometia ser eterna. Mas o que poucos percebem é que, para muitos, o divórcio é uma forma de renascimento. Porquê? Porque, depois de tanto nos perdermos tentando salvar algo que não existe mais, a pessoa, finalmente, tem consciência de que se encontra.

O divórcio não apaga o amor que houve - apenas reconhece que, apesar do sentimento que existiu, permanecer juntos, já não tem sentido. Amar o outro nunca deve significar esquecer-se de si mesmo. Quando o relacionamento deixa de ser um lugar de crescimento, respeito e paz, escolher sair pode ser o ato mais corajoso e inteligente que possamos fazer por nós.

Recomeçar não é fácil. Há dor, culpa, medo. Mas também há liberdade, espaço e possibilidades. Aos poucos, a dor vira força. A culpa vira consciência. O medo vira impulso. E neste processo, o amor-próprio floresce. Não como um substituto, mas como um novo alicerce.

O divórcio não é o fim do amor. É o momento em que paramos de nos anularmos, para cabermos numa relação. E em que começamos a nos abraçarmos por inteiro, com todas as nossas verdades. É o começo de uma relação mais profunda connosco mesmo. E então, talvez, um dia, com alguém que nos ame na mesma medida. Eu sou um bom exemplo.
 

terça-feira, 29 de julho de 2025

"NÃO QUERO ESTAR NA VIDA DE NINGÉM POR OBRIGAÇÃO..."

Não quero estar na vida de ninguém por obrigação. Se eu tiver de explicar o meu valor, se tiver de convencer alguém a me amar, então esse, não é o meu lugar!” ( palavras de Meryl Streep)

Há uma grande diferença entre ser querido e ser tolerado. Entre estar presente por escolha e estar presente por conveniência. Quando dizemos “não quero estar na vida de ninguém por obrigação”, estamos a posicionar-nos com coragem, diante do que é essencial: o amor genuíno, o afeto verdadeiro e o reconhecimento mútuo.

Os relacionamentos - sejam de amizade, amor ou família - devem ser construídos com base no respeito, no desejo mútuo de estar junto, e não em cobranças ou deveres forçados. Quando precisamos explicar o nosso valor, ou convencer alguém a nos querer por perto, algo está errado. O amor, quando é verdadeiro, não precisa de justificativas. Ele, simplesmente, é.

Estar no lugar errado, onde não somos apreciados ou compreendidos, é uma forma silenciosa de nos abandonarmos. Não é orgulho, é dignidade, sair de onde não há reciprocidade. É um ato de amor-próprio, reconhecer que merecemos mais do que migalhas emocionais.

Portanto, que a nossa presença na vida dos outros seja escolha, e não obrigação. Que sejamos amados pela essência e não por esforço. E que, ao perceber que precisamos convencer alguém a nos amar, saibamos que esse não é o nosso lugar.