terça-feira, 9 de dezembro de 2025

O ESPANTO

O espanto é uma das experiências humanas mais antigas e fundamentais. Ele surge no intervalo entre o que conhecemos e o que excede a nossa compreensão, abrindo uma fissura no quotidiano pela qual percebemos, ainda que por um instante, a dimensão profunda do real. Não é apenas surpresa; é um estremecimento que reorganiza o olhar, uma chamada silenciosa que nos faz reconsiderar aquilo que julgávamos estável.

Diante do espanto, a mente suspende os seus automatismos. As explicações prontas perdem força, e o mundo revela aspetos que passam despercebidos quando estamos presos ao ritmo habitual da vida. Esse estado desperta uma lucidez particular: ao mesmo tempo em que nos sentimos pequenos perante o desconhecido, reconhecemos a vastidão das possibilidades que existem além das fronteiras do familiar.

O espanto é também fértil. Dele nascem perguntas, investigações, teorias, obras de arte. A filosofia, por exemplo, encontra na capacidade de espantar-se a sua origem. É quando algo nos desacomoda que começamos a pensar com profundidade. A ciência, igualmente, avança quando o espanto diante de um fenómeno desafia certezas e exige novas respostas.

Num tempo marcado pela pressa, cultivar o espanto é quase um ato de resistência. Exige atenção, presença e a disposição de admitir que não sabemos tudo — talvez, nem mesmo, o essencial. Mas é justamente essa abertura, que permite que o mundo continue a ser uma fonte inesgotável de sentido.

O espanto, portanto, não é, apenas, uma emoção. É uma forma de despertar. Ele lembra que a realidade é maior do que as nossas explicações, e que a vida, em toda a sua complexidade, ainda pode — e deve — surpreender-nos!

 

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