O espanto é uma das experiências humanas mais antigas e fundamentais. Ele surge no
intervalo entre o que conhecemos e o que excede a nossa compreensão, abrindo
uma fissura no quotidiano pela qual percebemos, ainda que por um instante, a
dimensão profunda do real. Não é apenas surpresa; é um estremecimento que
reorganiza o olhar, uma chamada silenciosa que nos faz reconsiderar aquilo que
julgávamos estável.
Diante do espanto, a mente suspende os seus automatismos. As
explicações prontas perdem força, e o mundo revela aspetos que passam
despercebidos quando estamos presos ao ritmo habitual da vida. Esse estado
desperta uma lucidez particular: ao mesmo tempo em que nos sentimos pequenos
perante o desconhecido, reconhecemos a vastidão das possibilidades que existem
além das fronteiras do familiar.
O espanto é também fértil. Dele nascem perguntas,
investigações, teorias, obras de arte. A filosofia, por exemplo, encontra na
capacidade de espantar-se a sua origem. É quando algo nos desacomoda que
começamos a pensar com profundidade. A ciência, igualmente, avança quando o
espanto diante de um fenómeno desafia certezas e exige novas respostas.
Num tempo marcado pela pressa, cultivar o espanto é quase um
ato de resistência. Exige atenção, presença e a disposição de admitir que não
sabemos tudo — talvez, nem mesmo, o essencial. Mas é justamente essa abertura,
que permite que o mundo continue a ser uma fonte inesgotável de sentido.
O espanto, portanto, não é, apenas, uma emoção. É uma forma
de despertar. Ele lembra que a realidade é maior do que as nossas explicações,
e que a vida, em toda a sua complexidade, ainda pode — e deve — surpreender-nos!
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