Há vidas que passam silenciosas diante do mundo, mas intensas
dentro de si. Pessoas que constroem, criam, inovam, servem, inspiram – e, mesmo
assim, caminham à margem do aplauso. Só depois que se vai a presença, é que desperta
a ausência. E com ela, surge aquele reconhecimento tardio, quase sempre
acompanhado de um arrependimento coletivo: “Como não vimos antes?”
O reconhecimento póstumo revela, acima de tudo, a dificuldade
humana de valorizar o que está perto, o que é quotidiano, o que não se impõe. É
mais fácil admirar à distância do que contemplar quem está diante de nós.
Talvez porque, no dia a dia, confundimos simplicidade com falta de grandeza, e
humildade com falta de valor.
No entanto, quando alguém parte, a memória ilumina o que os
olhos não enxergaram a tempo. Pequenos gestos ganham profundidade;
contribuições antes discretas revelam-se essenciais; talentos ignorados
tornam-se, de repente, irrefutáveis. A ausência escancara o tamanho da presença,
que antes foi tratada como comum.
Mas o reconhecimento póstumo também serve como espelho. Nele
refletimos nossa tendência a adiar elogios, silenciar gratidões e deixar para
depois, a celebração de quem faz diferença. A partida transforma esse “depois”
em nunca mais.
Por isso, lembrar que muitos só foram reconhecidos depois de partir, é um convite à urgência. A de valorizar hoje. quem merece ser visto. Celebrar em vida, o que tantas vezes, só se exalta na memória. Porque todos carregam dentro de si uma história digna de ser reconhecida — e é injusto permitir que o mundo só a descubra quando não houver mais tempo.
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