O desaproveitamento incompreensível de Fátima Lopes na
televisão, é um daqueles mistérios que revelam tanto sobre o estado atual do
panorama televisivo, quanto sobre a própria forma como o talento, por vezes, é
negligenciado. Num meio onde comunicadores genuínos, empáticos e consistentes
são cada vez mais raros, a ausência de Fátima Lopes nos grandes formatos
levanta, inevitavelmente, a pergunta: como é possível deixar de lado uma
profissional com uma carreira tão sólida, respeitada e versátil?
Ao longo de décadas, Fátima construiu uma relação de
confiança incomum com o público. A sua postura humana, a capacidade de ouvir, a
sensibilidade sem dramatismos artificiais e a competência jornalística, fizeram
dela uma das comunicadoras mais completas da televisão portuguesa. Não se
tratava apenas de apresentar programas — tratava-se de criar um espaço de
partilha onde histórias reais encontravam acolhimento e respeito.
O mais incompreensível é que, enquanto se multiplicam
programas descartáveis, formatos repetidos e opções claramente menos eficazes,
uma apresentadora com provas dadas permanece à margem, como se o seu contributo
fosse secundário. A televisão perde — mas perde sobretudo o público, que
reconhece e sente falta de figuras que realmente acrescentam algo.
Não é apenas um desperdício profissional. É um sintoma de
decisões que parecem ignorar o valor da credibilidade, da empatia e do
profissionalismo. Fátima Lopes representa, exatamente, aquilo que muitos dizem
faltar na televisão de hoje. E ainda assim o seu talento continua
subaproveitado, quase como se não houvesse espaço para a qualidade num cenário
dominado pela lógica do imediato.
Resta esperar que esta fase seja apenas um intervalo e não um
destino. Porque talentos como o de Fátima não desaparecem. Apenas aguardam o
momento em que sejam novamente reconhecidos pelo valor que sempre tiveram.
Iremos poder matar saudades na nova série AQUI HÁ SABOR, no canal Casa e
Cozinha, a partir de 5 de dezembro.
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