A passagem do ano é um instante suspenso no tempo. Não é
apenas a mudança de um número no calendário; é um ritual íntimo, quase secreto,
que cada pessoa vive à sua maneira. Há sempre uma certa expectativa,
como se o futuro estivesse ali, a poucos segundos, pronto para ser tocado. É a
sensação de que algo pode mudar — mesmo que nada mude de imediato.
Mistura‑se também uma nostalgia suave, aquela vontade
de olhar para trás e revisitar o que fomos. Recordamos vitórias, tropeços,
pessoas que chegaram, outras que partiram. É um inventário emocional que
fazemos sem perceber, como quem arruma uma gaveta, antes de a fechar.
Ao mesmo tempo, nasce uma esperança teimosa. Mesmo
quem não acredita em superstições, sente que a meia‑noite abre uma porta
invisível. É o desejo de recomeçar, de fazer melhor, de deixar para trás o que
pesou. É a promessa silenciosa que fazemos a nós próprios.
Mas há também uma certa melancolia, porque todo fim
carrega um pequeno luto. O ano que passou não volta, e isso tem um peso. É um
adeus discreto, mas sentido.
E, claro, existe a alegria — às vezes ruidosa, às
vezes tranquila. A alegria de estar vivo, de estar com quem importa, de ter
chegado até aqui. A alegria de contar em voz alta os últimos segundos e sentir
o coração acelerar, como se fosse a primeira vez.
No fundo, a passagem do ano é um mosaico de emoções
contraditórias: esperança e saudade, entusiasmo e medo, alegria e silêncio. É
isso que a torna tão humana. É isso que a torna, também, tão pessoal.
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