terça-feira, 30 de dezembro de 2025

A ÚLTIMA BADALADA

A passagem do ano é um instante suspenso no tempo. Não é apenas a mudança de um número no calendário; é um ritual íntimo, quase secreto, que cada pessoa vive à sua maneira. Há sempre uma certa expectativa, como se o futuro estivesse ali, a poucos segundos, pronto para ser tocado. É a sensação de que algo pode mudar — mesmo que nada mude de imediato.

Mistura‑se também uma nostalgia suave, aquela vontade de olhar para trás e revisitar o que fomos. Recordamos vitórias, tropeços, pessoas que chegaram, outras que partiram. É um inventário emocional que fazemos sem perceber, como quem arruma uma gaveta, antes de a fechar.

Ao mesmo tempo, nasce uma esperança teimosa. Mesmo quem não acredita em superstições, sente que a meia‑noite abre uma porta invisível. É o desejo de recomeçar, de fazer melhor, de deixar para trás o que pesou. É a promessa silenciosa que fazemos a nós próprios.

Mas há também uma certa melancolia, porque todo fim carrega um pequeno luto. O ano que passou não volta, e isso tem um peso. É um adeus discreto, mas sentido.

E, claro, existe a alegria — às vezes ruidosa, às vezes tranquila. A alegria de estar vivo, de estar com quem importa, de ter chegado até aqui. A alegria de contar em voz alta os últimos segundos e sentir o coração acelerar, como se fosse a primeira vez.

No fundo, a passagem do ano é um mosaico de emoções contraditórias: esperança e saudade, entusiasmo e medo, alegria e silêncio. É isso que a torna tão humana. É isso que a torna, também, tão pessoal.

 

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