Há épocas do ano em que o tempo parece diminuir o passo,
convidando-nos a olhar para dentro. São dias em que os encontros ganham outro
brilho, e a memória, silenciosa, também pede lugar à mesa. É então que
percebemos, como é importante lembrar os vivos sem esquecer os mortos.
Porque aqueles que estão connosco a hoje precisam do nosso
cuidado, da nossa presença inteira, dos gestos que constroem o que ainda pode
ser vivido. São eles que continuam a escrever, ao nosso lado, a história que
segue adiante.
Mas os que partiram também permanecem — não no mesmo lugar,
não da mesma forma, mas naquilo que deixaram em nós. Honrar a sua memória é
reconhecer que uma parte do que somos foi moldada pelos passos que já não
ouvimos, mas que ainda nos acompanham. Lembrá-los não é ficar no passado; é
permitir que o amor, mesmo transformado, continue a iluminar o presente.
Assim, entre o que permanece e o que falta, aprendemos a
equilibrar a saudade com a gratidão. Celebramos os vivos com alegria e
abraçamos os mortos com a ternura da lembrança. E é nesse gesto duplo que a
vida encontra profundidade — porque nenhuma ausência apaga o valor de uma
presença, e nenhum luto impede que a esperança continue a crescer.
A minha mãe morreu no dia de Natal e levou com ela, uma parte
da minha alegria nesta época. Mas o mano mais novo adorava reunir todos em casa
dele e até há dois meses era assim que faríamos. A sua morte, completamente
inesperada, vai tornar este período mais difícil. Primeiro lembraremos os
ausentes e só depois abraçaremos os presentes. Para o ano será melhor!
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