Num jantar de amigos surgiu a questão das diferenças contidas
neste título.
Para mim há uma diferença subtil entre estar só, estar
sozinho e sentir-se solitário.
Estar só é um estado natural, quase neutro. É o
silêncio da casa, depois que as vozes se calam, o espaço vazio que convida à
introspeção. Ser só pode ser descanso, ou reencontro. É um tempo em que se ouve
o próprio coração sem interferências.
Estar sozinho já é outro patamar. É o que se sente
quando a ausência do outro se torna presença. É perceber-se, sem companhia, no
meio da multidão, ou à mesa posta para um. O "sozinho" carrega a
consciência da falta, do que poderia estar ao lado e não está. É o quarto com
apenas uma chávena sobre a mesa, é o eco que responde a si mesmo.
Já a solidão é mais funda. É uma ferida que se abre
mesmo em ambientes cheios. O solitário não é apenas quem está sem companhia. É
quem não se sente alcançado, compreendido, tocado. É um desencontro existencial,
em que a alma estende a mão e não encontra outra.
E, no entanto, cada um destes estados, pode alterar-se. O
"só" pode virar um refúgio, o "sozinho" pode ser
libertação, e até a solidão, às vezes, pode tornar-se campo fértil para o
florescer de algo novo — uma escrita, um olhar para dentro, uma força
inesperada.
Porque, no fundo, somos todos um pouco sós, sozinhos e
solitários. Mas também, paradoxalmente, penso eu, estamos sempre em busca do
outro, que nos devolva a sensação de pertença.
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