quarta-feira, 24 de setembro de 2025

SÓS, SOZINHOS E SOLITÁRIOS

Num jantar de amigos surgiu a questão das diferenças contidas neste título.

Para mim há uma diferença subtil entre estar só, estar sozinho e sentir-se solitário.

Estar é um estado natural, quase neutro. É o silêncio da casa, depois que as vozes se calam, o espaço vazio que convida à introspeção. Ser só pode ser descanso, ou reencontro. É um tempo em que se ouve o próprio coração sem interferências.

Estar sozinho já é outro patamar. É o que se sente quando a ausência do outro se torna presença. É perceber-se, sem companhia, no meio da multidão, ou à mesa posta para um. O "sozinho" carrega a consciência da falta, do que poderia estar ao lado e não está. É o quarto com apenas uma chávena sobre a mesa, é o eco que responde a si mesmo.

Já a solidão é mais funda. É uma ferida que se abre mesmo em ambientes cheios. O solitário não é apenas quem está sem companhia. É quem não se sente alcançado, compreendido, tocado. É um desencontro existencial, em que a alma estende a mão e não encontra outra.

E, no entanto, cada um destes estados, pode alterar-se. O "só" pode virar um refúgio, o "sozinho" pode ser libertação, e até a solidão, às vezes, pode tornar-se campo fértil para o florescer de algo novo — uma escrita, um olhar para dentro, uma força inesperada.

Porque, no fundo, somos todos um pouco sós, sozinhos e solitários. Mas também, paradoxalmente, penso eu, estamos sempre em busca do outro, que nos devolva a sensação de pertença.

 

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