Todos nós estamos a atravessar um tempo estranho quer a nível
internacional quer a nível nacional. É uma época em que a palavra individual ou
em grupo se sobrepõe a tudo, mas depois não é cumprida. Perdeu-se completamente
a noção de ética e de compromisso. E as populações deixaram de acreditar no que
se lhes promete, porque deixaram de respeitar os seus dirigentes e os governos
que, à base deles se formam.
Ora viver em tempos de incerteza é conviver com um silêncio
estranho: aquele que se instala quando as respostas não chegam, quando os
planos não se confirmam e o futuro parece sempre escorregar das mãos. Não é
fácil aceitar que, por mais que tentemos, há sempre uma margem de
imprevisibilidade que nos governa.
O que muda, talvez, é a nossa relação com esse vazio. Podemos
olhá-lo como ameaça, sentindo o peso da instabilidade a cada passo. Mas também
podemos enxergá-lo como um espaço de abertura, onde cabem novas possibilidades,
ainda invisíveis, mas já latentes.
A incerteza desorganiza o terreno conhecido e expõem-nos ao
desconforto de não ter garantias. Mas, ao mesmo tempo, aproxima-nos de uma
forma mais real de estar no mundo. Descobrimos que a vida nunca foi estável —
apenas nos habituámos a acreditar que era. E nesse reconhecimento há um certo
alívio q2ue é o de não precisarmos mais sustentar a ilusão do controle
absoluto.
É nesse cenário instável que o presente ganha valor. Cada
gesto, cada encontro, cada pequeno instante de clareza se torna mais precioso.
Talvez viver a incerteza seja, afinal, aprender a encontrar solidez naquilo que
é breve — e confiar que, mesmo sem garantias, seguimos capazes de atravessar o
mundo que nos espera!
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