segunda-feira, 29 de setembro de 2025

VIVER EM TEMPO DE INCERTEZA

Todos nós estamos a atravessar um tempo estranho quer a nível internacional quer a nível nacional. É uma época em que a palavra individual ou em grupo se sobrepõe a tudo, mas depois não é cumprida. Perdeu-se completamente a noção de ética e de compromisso. E as populações deixaram de acreditar no que se lhes promete, porque deixaram de respeitar os seus dirigentes e os governos que, à base deles se formam.

Ora viver em tempos de incerteza é conviver com um silêncio estranho: aquele que se instala quando as respostas não chegam, quando os planos não se confirmam e o futuro parece sempre escorregar das mãos. Não é fácil aceitar que, por mais que tentemos, há sempre uma margem de imprevisibilidade que nos governa.

O que muda, talvez, é a nossa relação com esse vazio. Podemos olhá-lo como ameaça, sentindo o peso da instabilidade a cada passo. Mas também podemos enxergá-lo como um espaço de abertura, onde cabem novas possibilidades, ainda invisíveis, mas já latentes.

A incerteza desorganiza o terreno conhecido e expõem-nos ao desconforto de não ter garantias. Mas, ao mesmo tempo, aproxima-nos de uma forma mais real de estar no mundo. Descobrimos que a vida nunca foi estável — apenas nos habituámos a acreditar que era. E nesse reconhecimento há um certo alívio q2ue é o de não precisarmos mais sustentar a ilusão do controle absoluto.

É nesse cenário instável que o presente ganha valor. Cada gesto, cada encontro, cada pequeno instante de clareza se torna mais precioso. Talvez viver a incerteza seja, afinal, aprender a encontrar solidez naquilo que é breve — e confiar que, mesmo sem garantias, seguimos capazes de atravessar o mundo que nos espera!

 

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