quinta-feira, 18 de setembro de 2025

O OUTONECER

Outonecer é aprender a caminhar mais devagar, com o coração cheio de memórias que caem como folhas.  Umas leves, outras ainda pesadas de se soltar. É aceitar que já não se corre atrás do tempo, mas se recolhe dele o que sobra de luminoso. No outono da vida, descobre-se que a beleza não está apenas no viço da primavera nem no fervor do verão. Está, também, nesse silêncio dourado, onde cada gesto tem o peso exato e cada olhar sabe o que procura.

Outonecer é descobrir que a melancolia pode ser doce, como um entardecer que não pede pressa, mas contemplação. É encontrar sentido no inacabado, ternura no que já passou, gratidão no que ainda se pode colher. As folhas caem, mas não caem em vão, antes tornam fértil o chão, alimentam o que virá. Assim, também nós, quando deixamos desprender-se aquilo que já não nos serve, para abrirmos espaço ao que ainda pode florescer.

Há quem tema o outono da vida como o prenúncio da ausência. Mas quem o habita, sabe que há uma plenitude própria nesse tempo, com o calor sereno das cores que aquecem por dentro, a liberdade de não precisar provar mais nada, o enorme luxo de, simplesmente, ser.

Outonecer é uma arte. A de aceitar o ciclo sem nostalgia amarga, mas com a delicadeza, de quem aprendeu que cada estação, carrega a sua própria forma de eternidade.

 

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