Outonecer é aprender a caminhar mais devagar, com o coração
cheio de memórias que caem como folhas.
Umas leves, outras ainda pesadas de se soltar. É aceitar que já não se
corre atrás do tempo, mas se recolhe dele o que sobra de luminoso. No outono da
vida, descobre-se que a beleza não está apenas no viço da primavera nem no
fervor do verão. Está, também, nesse silêncio dourado, onde cada gesto tem o
peso exato e cada olhar sabe o que procura.
Outonecer é descobrir que a melancolia pode ser doce, como um
entardecer que não pede pressa, mas contemplação. É encontrar sentido no
inacabado, ternura no que já passou, gratidão no que ainda se pode colher. As
folhas caem, mas não caem em vão, antes tornam fértil o chão, alimentam o que
virá. Assim, também nós, quando deixamos desprender-se aquilo que já não nos
serve, para abrirmos espaço ao que ainda pode florescer.
Há quem tema o outono da vida como o prenúncio da ausência.
Mas quem o habita, sabe que há uma plenitude própria nesse tempo, com o calor
sereno das cores que aquecem por dentro, a liberdade de não precisar provar
mais nada, o enorme luxo de, simplesmente, ser.
Outonecer é uma arte. A de aceitar o ciclo sem nostalgia
amarga, mas com a delicadeza, de quem aprendeu que cada estação, carrega a sua
própria forma de eternidade.
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