Há 68 anos casei-me pensando que era para toda a vida. Levei
11 anos a perceber que, o toda a vida tinha, afinal, um curto prazo de
validade. À época o divórcio não existia para aqueles que, como eu, tinham
contraído matrimónio pela Igreja.
Mas, apesar disso, curiosamente, dou comigo muitas vezes, a
tomar consciência do que me ficou, dessa união, entranhado na pele. Hoje sou
uma apreciadora de jazz – a educação paterna fora profundamente clássica- e
isso devo inteiramente ao meu ex marido.
Com ele aprendi, também, algo sublime que é “saber ver”, que
é bem diferente de saber olhar. Foi, ainda, ele que, numa longa viagem que
fizemos a Barcelona, me ensinou a importância dos volumes, das cores e da luz.
Hoje, não posso deixar de sorrir, enternecida, por este
imenso património que ele me deixou e que nunca mais esqueci. Recentemente, em
Paris, fui com o meu filho a uma bela exposição. A certa altura dei comigo a
apreciar o modo como certos quadros eram bafejados pela luz e pela escolha
notável dos outros que o rodeavam
Às vezes é preciso deixar passar muito tempo – 60 anos- para
se ter a capacidade de reconhecer um pequeno lado bom, nas lembranças de algo
que foi, manifestamente, o maior erro da minha vida!
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