terça-feira, 2 de setembro de 2025

AI! AS RECORDAÇÕES…

Há 68 anos casei-me pensando que era para toda a vida. Levei 11 anos a perceber que, o toda a vida tinha, afinal, um curto prazo de validade. À época o divórcio não existia para aqueles que, como eu, tinham contraído matrimónio pela Igreja.

Mas, apesar disso, curiosamente, dou comigo muitas vezes, a tomar consciência do que me ficou, dessa união, entranhado na pele. Hoje sou uma apreciadora de jazz – a educação paterna fora profundamente clássica- e isso devo inteiramente ao meu ex marido.

Com ele aprendi, também, algo sublime que é “saber ver”, que é bem diferente de saber olhar. Foi, ainda, ele que, numa longa viagem que fizemos a Barcelona, me ensinou a importância dos volumes, das cores e da luz.

Hoje, não posso deixar de sorrir, enternecida, por este imenso património que ele me deixou e que nunca mais esqueci. Recentemente, em Paris, fui com o meu filho a uma bela exposição. A certa altura dei comigo a apreciar o modo como certos quadros eram bafejados pela luz e pela escolha notável dos outros que o rodeavam

Às vezes é preciso deixar passar muito tempo – 60 anos- para se ter a capacidade de reconhecer um pequeno lado bom, nas lembranças de algo que foi, manifestamente, o maior erro da minha vida!

 

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