Vivemos num tempo em que a palavra “herói” perdeu o brilho de
outrora. Antigamente, os heróis eram figuras quase míticas, moldadas por atos
de coragem, altruísmo e sacrifício. Eram líderes, visionários, ou até simples
desconhecidos que, em momentos decisivos, se erguiam acima do comum. Hoje,
porém, os heróis parecem ter desaparecido, ou, pelo menos, deixado de ser
reconhecidos como tal.
Mas será que realmente deixaram de existir? Ou será que a
nossa perceção mudou?
Na era digital, tudo é imediato, filtrado e, por vezes,
distorcido. As qualidades heroicas, como humildade, resiliência silenciosa e
compromisso com o bem comum, não geram "likes", nem se tornam virais.
A fama é confundida com grandeza, e os feitos de muitos deles passam
despercebidos. Os heróis de hoje não usam capas, nem espadas. Trabalham em
silêncio, longe dos holofotes, muitas vezes invisíveis a um mundo lamentavelmente
distraído.
Além disso, vivemos tempos de cinismo. A desconfiança nas
instituições, o desencanto com os líderes e a constante exposição de falhas
humanas, tornam difícil acreditar em figuras verdadeiramente heroicas.
Espera-se a queda antes mesmo da ascensão. O pedestal foi substituído pela
lupa.
Contudo, talvez a pergunta devesse ser outra: estamos a
olhar nos sítios certos? Talvez os heróis estejam ao nosso lado —
professores que moldam vidas, médicos que não desistem, pais e mães que fazem
milagres com pouco, jovens que lutam por um futuro melhor. Talvez hoje o
heroísmo não esteja na grandiosidade, mas na persistência do bem.
Portanto, talvez não seja verdade que hoje não haja heróis. Talvez tenhamos apenas esquecido ou alterado a forma como reconhecê-los. O que, pessoalmente, eu lamento, porque deixámos de ter à nossa volta figuras que nos inspirem a sermos melhores.