segunda-feira, 31 de março de 2025

Porque é que hoje não há heróis?

Vivemos num tempo em que a palavra “herói” perdeu o brilho de outrora. Antigamente, os heróis eram figuras quase míticas, moldadas por atos de coragem, altruísmo e sacrifício. Eram líderes, visionários, ou até simples desconhecidos que, em momentos decisivos, se erguiam acima do comum. Hoje, porém, os heróis parecem ter desaparecido, ou, pelo menos, deixado de ser reconhecidos como tal.

Mas será que realmente deixaram de existir? Ou será que a nossa perceção mudou?

Na era digital, tudo é imediato, filtrado e, por vezes, distorcido. As qualidades heroicas, como humildade, resiliência silenciosa e compromisso com o bem comum, não geram "likes", nem se tornam virais. A fama é confundida com grandeza, e os feitos de muitos deles passam despercebidos. Os heróis de hoje não usam capas, nem espadas. Trabalham em silêncio, longe dos holofotes, muitas vezes invisíveis a um mundo lamentavelmente distraído.

Além disso, vivemos tempos de cinismo. A desconfiança nas instituições, o desencanto com os líderes e a constante exposição de falhas humanas, tornam difícil acreditar em figuras verdadeiramente heroicas. Espera-se a queda antes mesmo da ascensão. O pedestal foi substituído pela lupa.

Contudo, talvez a pergunta devesse ser outra: estamos a olhar nos sítios certos? Talvez os heróis estejam ao nosso lado — professores que moldam vidas, médicos que não desistem, pais e mães que fazem milagres com pouco, jovens que lutam por um futuro melhor. Talvez hoje o heroísmo não esteja na grandiosidade, mas na persistência do bem.

Portanto, talvez não seja verdade que hoje não haja heróis. Talvez tenhamos apenas esquecido ou alterado a forma como reconhecê-los. O que, pessoalmente, eu lamento, porque deixámos de ter à nossa volta figuras que nos inspirem a sermos melhores.

sábado, 29 de março de 2025

A NOVIDADE

Durante algumas semanas terminava os meus textos chamando a atenção para uma novidade que havia de aparecer. Pois bem, é chegado o momento de fazer a tal revelação. De que se trata? Da minha estreia na escrita infantil.
Toda a minha vida, adormeci os meus filhos e netos com histórias inventadas para a ocasião. Para o mais velho chegava mesmo a escrevê-las e atá-las como se fossem um livro, porque ele dizia que as queria ler sozinho aos amigos. E assim se tornou um contador de histórias com talento, melhorando as que eu escrevera.
Já o mais novo gostava de as repetir com desenhos seus, ilustrando assim, com 4 ou 5 anos tudo quanto eu lhe contara. Eram belos desenhos que iam crescendo com ele. Mais tarde gostava de dar cor e vida às criações do irmão. Durou assim, bastante tempo, a editora caseira Portas & Cabral, como eu lhe chamava.
Chegada a esta bela idade e sem bisnetos, a Graça Dimas desafiou-me a voltar ao principio, mas com o olhar da bisavó do século XXI. Na altura achei graça à lembrança e fui ao baú buscar dois contos que lhe enviei. Ela quis começar pelo que era para os mais novinhos. E assim nasceu MÃOS PEQUENAS, CORAÇÃO GRANDE cuja capa vos apresento agora com a bela ilustração de Carolina Branco. A ida para as livrarias será em meados de Abril. Confesso-vos, ando cheia de uma alegria antecipada!

 

sexta-feira, 28 de março de 2025

A Beleza que Vai Além do Olhar

Vivemos numa era em que somos constantemente bombardeados com imagens idealizadas. As redes sociais vendem-nos uma imagem de beleza plastificada, incessantemente comparável, mas quase sempre inatingível. E, nesse processo, esquecemo-nos de olhar ao nosso redor — e dentro de nós — para reconhecer as belezas que não cabem em fotografias: a paciência, o afeto, a empatia, a resistência.

A beleza não é apenas aquilo que os olhos capturam num instante. Ela existe no detalhe silencioso, no gesto espontâneo, na maneira como alguém escuta com o coração. Embora, muitas vezes, seja confundida com o que brilha por fora, a verdadeira beleza tem raízes profundas — cresce nas atitudes, floresce nas palavras e revela-se, sobretudo, na autenticidade.

Há beleza num sorriso tímido, em rugas que contam histórias, em cicatrizes que carregam coragem. Existe beleza em quem erra, aprende e continua. Ela vive no amanhecer silencioso, no vento que dança com as folhas, na voz que consola — tudo isso é a beleza que o tempo não apaga.

Ser belo é ser inteiro, mesmo com falhas. É acolher a própria essência e enxergar valor onde muitos só veem o superficial. A beleza mais real é aquela que, ao invés de chamar atenção, toca profundamente o coração.

Por isso, talvez a beleza não seja algo que se tem, mas algo que se percebe. Algo que se cultiva mais do que se exibe. Um jeito de estar no mundo com delicadeza, de enxergar com sensibilidade, de viver com presença. Porque, no fim, a beleza mais verdadeira é aquela que desperta vida dentro de nós.

 

quinta-feira, 27 de março de 2025

SOLIDÃO SONORA

Há um tipo de silêncio que não é vazio, mas denso, cheio de ecos que sussurram ao coração. Uma solidão sonora, onde cada ausência ressoa em ondas invisíveis, onde o tempo desacelera e a alma se escuta.

É na quietude que os pensamentos ganham volume. O barulho do próprio respirar torna-se companhia, o pulsar do sangue nas veias soa como um tambor distante. A mente percorre memórias, revive diálogos que nunca aconteceram, revisita despedidas que ainda doem.

Às vezes, essa solidão surge como um alívio. Um refúgio onde não há vozes a contradizer, nem expectativas a pesar sobre os ombros. Outras vezes, é um labirinto sem saída, onde cada passo ecoa e volta para nos lembrar do vazio em redor.

Mas mesmo na solidão, reparem, há melodia. No vento que atravessa a janela, nas gotas de chuva que ritmam a madrugada, no ranger discreto dos móveis quando a casa respira. A solidão não é o silêncio absoluto, mas a sinfonia do que ficou.

E talvez, no fundo, seja isso: a solidão sonora não é ausência. É a presença de tudo que um dia nos preencheu e que, agora, se manifesta como lembrança, como eco, como música suave tocando dentro de nós.

Em breve uma grande novidade!

sábado, 22 de março de 2025

Eles nunca ficam sozinhos!

É frequente ver homens, que após um divórcio ficam sozinhos, refazerem a vida mais rapidamente do que as mulheres. Não porque superem mais rápido, mas porque têm uma necessidade, quase instintiva, de preencher o vazio que a separação deixa. Para muitos, a solidão não é um lugar de refúgio ou crescimento, mas um território desconhecido e desconfortável. Durante anos estiveram acostumados a ter alguém ao lado – uma presença no sofá, uma voz no fim do dia, uma rotina compartilhada. Quando tudo isso desaparece, o silêncio pode ser ensurdecedor. E, para escapar desse vazio, buscam companhia, mesmo que ainda estejam em pedaços por dentro.

Diferentes das mulheres - que muitas vezes vivem o luto do relacionamento com intensidade, mergulham na dor e renascem mais fortes -, eles tendem a fugir desse enfrentamento. Não foram ensinados a lidar com a vulnerabilidade. Desde cedo, aprenderam a ser fortes, a seguir em frente, a não demonstrar fragilidade. Então, em vez de se permitirem sentir, procuram distrair –se. E, muitas vezes, a maneira mais fácil de fazer isso, é através de um novo relacionamento.

Não é que a ex-esposa seja esquecida rapidamente, ou que o amor desapareça do dia para a noite. Mas a necessidade de pertencimento, de estar com alguém, de reconstruir a rotina, fala mais alto. O novo relacionamento pode ser um reflexo disso – não necessariamente um recomeço verdadeiro -, mas um alívio momentâneo para a dor da ausência.

No fundo, a rapidez com que refazem a vida pode ser apenas uma tentativa de provar a si mesmos que continuam no controle, que ainda são desejáveis, que podem seguir adiante sem se perderem na solidão. Mas o coração tem o seu próprio tempo. E, mais cedo ou mais tarde, as emoções não resolvidas, sempre encontram um jeito de se fazer ouvir.

quinta-feira, 20 de março de 2025

O que é o sucesso?

Sucesso é um conceito escorregadio, quase intangível. Por muito tempo, fomos levados a acreditar que ele se mede por números, por títulos, por uma coleção de feitos que possam ser exibidos e reconhecidos. Mas, no silêncio da noite, quando a plateia se dispersa e os holofotes se apagam, o que resta?

O verdadeiro sucesso não é um troféu exposto na estante, nem uma linha reluzente no currículo. Ele é um sentimento que floresce de dentro, uma paz que se instala quando estamos alinhados com aquilo que realmente somos. Sucesso é acordar e sentir que a vida faz sentido — não porque alguém disse que faz, mas porque, ao olhar para o caminho trilhado, nos reconhecemos, mesmo, nele.

A armadilha do sucesso convencional é que ele sempre está um passo à frente, sempre no próximo objetivo, na próxima conquista. Ele promete felicidade, mas a mantém distante, como uma miragem que recua a cada avanço. E, no entanto, há um tipo de sucesso que não exige corrida. Ele não está na chegada, mas no presente. Está na forma como vivemos cada dia, na coragem de escolher o que ressoa com nossa verdade, na capacidade de se sentir inteiro, mesmo em meio às incertezas.

Talvez sucesso seja apenas isso: um estado de presença e autenticidade. A liberdade de ser quem se é, sem máscaras, sem a necessidade de provar nada a ninguém. Sucesso é poder fechar os olhos à noite e sentir, no fundo da alma, que pertencemos à própria vida que construímos. E que, independentemente dos altos e baixos, viver tem valido a pena!

Em breve uma grande novidade!

quarta-feira, 19 de março de 2025

VALORES

Os valores da sociedade atual estão espalhados e, muitas vezes, fragmentados entre diferentes grupos e perspetivas. Algumas pessoas ainda prezam princípios como empatia, solidariedade e justiça social, enquanto outros priorizam o sucesso individual, status e consumo.

Com a influência das redes sociais e da globalização, parece que valores como autenticidade e bem-estar mental, estão ganhando mais espaço, enquanto há um embate constante entre tradição e modernidade.

Será que os verdadeiros valores do ser e não do ter estarão a perder-se? Sim. Parece que os valores do ser – como empatia, honestidade, humildade e autenticidade – estão sendo cada vez mais sufocados pelos valores do ter, como status, riqueza e poder. A sociedade de consumo incentiva a busca incessante por bens materiais e validação externa, enquanto o cultivo do caráter e da essência humana ficam em segundo plano.

Há muitos indivíduos que se sentem pressionados a exibir as suas conquistas nas redes sociais, como se a felicidade e o valor pessoal, fossem medidos por posses e reconhecimento virtual. Isso enfraquece a busca pelo autoconhecimento, pelo equilíbrio emocional e pelos laços humanos genuínos.

Por outro lado, há quem resista a essa tendência, valorizando a simplicidade, o minimalismo e a espiritualidade. Haverá ainda espaço para resgatar os valores do ser na sociedade de hoje? Creio que virão outros cada vez menos válidos pois, o que parece, é que estamos a caminhar para uma inversão de valores, onde os princípios do ser vão sendo substituídos por valores cada vez mais superficiais e descartáveis. A busca pelo imediato, pela aparência e pelo individualismo tende a ofuscar a profundidade das relações humanas e da própria existência.

Se continuarmos neste ritmo, os valores que surgirão poderão ser ainda mais distantes da essência humana, privilegiando apenas aquilo que traz lucro, status ou validação social. A empatia pode ser trocada pela conveniência, a verdade pela narrativa que melhor vende, e a autenticidade pela imagem construída para agradar os outros.

Mas será que isto é inevitável? Ou ainda há formas de resistir e resgatar os valores verdadeiros? O que lhe parece caro leitor

Em breve uma grande novidade!

terça-feira, 18 de março de 2025

MEMÓRIA: O Tempo Guardado

A memória é um lugar sem mapas, onde os instantes se dissolvem e se refazem ao toque do pensamento. Ela não segue regras, não obedece a lógicas lineares. É uma gaveta desorganizada, onde um cheiro pode abrir portas que julgávamos trancadas, onde uma música pode nos transportar para um tempo que já não nos pertence, mas que, de alguma forma, ainda nos habita.

Há lembranças que chegam suaves, como brisa de fim de tarde, e outras que explodem dentro de nós sem aviso, rearranjando tudo o que acreditávamos ser estável. Algumas, escolhemos guardar com carinho, como quem dobra cartas antigas e as esconde no fundo de uma caixa. Outras, gostaríamos de esquecer, mas insistem em nos acompanhar, sussurrando suas histórias no silêncio da noite.

A memória não é só o que ficou. É também o que reinventamos, o que vestimos de outras cores para que o passado se torne suportável, para que possamos seguir em frente sem o peso esmagador do que foi. Ela é moldável, feita tanto do real quanto do que imaginamos, um mosaico de sensações, afetos e lacunas.

E, no fim, somos feitos dela. Dos dias que guardamos, das pessoas que se tornaram parte de nós, das palavras que ecoam mesmo depois do tempo as levar. A memória é o que nos ancora e, ao mesmo tempo, nos permite voar – porque é nela que mora tudo o que já fomos e tudo o que ainda somos.

Em breve uma grande novidade!

segunda-feira, 17 de março de 2025

ENTRE DOIS MUNDOS

Os filhos não deveriam ter de escolher entre pai e mãe. Mas, às vezes, a vida costura os seus caminhos de forma desigual, e o coração pesa mais para um lado do que para o outro.

Não é uma decisão consciente, não é um cálculo frio. É um processo subtil, quase impercetível. Um afastamento que começa em silêncios prolongados, ligações que se tornam raras, mensagens vistas e não respondidas. A criança que antes pertencia a dois mundos passa a habitar apenas um. E, no outro, fica o eco de um amor que ainda existe, mas que não sabe mais como se fazer presente.

Há tantas razões, algumas ditas, outras apenas sentidas. Às vezes, é porque um abraço ofereceu mais colo nos dias difíceis. Outras vezes, é porque a dor de uma separação construiu muros invisíveis. Nestes casos a dor é maior quando o escolhido foi justamente aquele que menos deu. Pode ser por influência, pode ser por ressentimento. Pode ser apenas o rumo natural de um amor que, ao invés de se dividir, parece precisar de se escolher.

Para quem fica, há sempre uma ausência gritante. O amor não desaparece, mas torna-se uma saudade incómoda, um espaço vazio à mesa do jantar, uma vontade de pegar no telefone e perguntar: “Estás             bem?”. Mas a pergunta fica presa, porque o medo da resposta – ou da falta dela – também pesa.

Para quem vai, há o alívio de um pertencimento, de um lado escolhido, de uma segurança emocional. Mas, no fundo, também há um luto silencioso. Porque mesmo quando se opta por um caminho, existe sempre uma lembrança do outro.

O tempo pode curar, pode trazer de volta os passos perdidos. Mas, enquanto isso, o coração daqueles que amam segue esperando, em silêncio, sem culpas, sem cobranças, apenas com a porta entreaberta – para quando possa ser a hora de voltar.

Em breve uma grande novidade!

domingo, 16 de março de 2025

Diálogo e Opinião: A Essência da Comunicação

(Dedicado a políticos e comentadores)

O diálogo é um dos pilares fundamentais da comunicação humana. Ele permite a troca de ideias, o compartilhamento de informações e a construção de conhecimento coletivo. No entanto, para que o diálogo seja efetivo, é essencial que haja respeito pelas diferentes opiniões e disposição para ouvir o outro.

Opinião é a manifestação do pensamento individual sobre determinado assunto. Cada pessoa forma as suas convicções a partir de experiências pessoais, valores culturais e acesso à informação. Por isso, as opiniões podem ser diversas e, muitas vezes, conflituantes. No entanto, é exatamente essa diversidade que enriquece as discussões e promove a aprendizagem.

Para que um diálogo seja produtivo, é necessário que os participantes pratiquem a escuta ativa, evitando interrupções e julgamentos precipitados. Além disso, argumentar com respeito e com fundamento fortalece o debate e evita que a conversa se transforme num simples embate de ideias, sem qualquer propósito construtivo.

No ambiente social e político - especialmente aquele que vivemos agora -, o respeito pelo diálogo e opiniões divergentes é essencial para a democracia. A pluralidade de ideias permite que diferentes perspetivas sejam analisadas, favorecendo a tomada de decisões mais justas e equilibradas.

Portanto, cultivar o diálogo respeitoso e valorizar a diversidade de opiniões são atitudes fundamentais para o crescimento individual e coletivo.  Num mundo cada vez mais conectado, saber ouvir, refletir e argumentar, são qualidades essenciais para construir relações saudáveis e sociedades mais harmoniosas. Apenas por meio de um diálogo aberto e construtivo é possível superar desafios, resolver conflitos e avançar como sociedade.

É disto - ouvir e dialogar - que Portugal e os portugueses, mais precisamos neste momento!

sábado, 15 de março de 2025

JE TE SOUHAITE BEAUCOUP DE CHOSES...


 

O SILÊNCIO DO SANGUE

Entre nós há laços invisíveis, há heranças que não foram ditas, há gestos que ficaram pelo caminho. Deram-me um nome, ensinaram-me a andar, seguraram as minhas mãos quando eu tropeçava. Mas nunca me perguntaram quem eu sou. E talvez, eu nunca tenha vos tenha perguntado quem vocês são.

Vivemos lado a lado, sob o mesmo teto, partilhamos o sangue, os rituais, os silêncios. Mas não nos conhecemos. Não de verdade.

Eu vejo-vos como pai, como mãe, como alguém que sempre esteve aí. Mas não sei quais foram os sonhos que morreram antes de nascer. Não sei as dores que cada um carrega e esconde, atrás do cansaço, atrás das preocupações do dia a dia.

Vocês veem-me como filho, como filha. Mas sabem quais são os medos que me assombram à noite? Sabem as perguntas que não ouso fazer? Sabem as partes de mim que escondo, porque acho que vocês não entenderiam?

Entre nós há amor, mas também há um desencontro. Porque sempre achamos que o outro já sabe. Já entende. Já sente. Mas será que sabe? Será que um dia ousaremos atravessar essa ponte invisível e perguntar, de verdade, uns aos outros:

"Quem é você?"

Talvez seja tarde. Talvez nunca tenhamos coragem. Mas dentro de mim ainda existe essa esperança de que um dia possamos ser, não apenas pais e filhos, mas também desconhecidos que finalmente se encontram.

Em breve uma grande novidade!

sexta-feira, 14 de março de 2025

OSTRACISMO: A Sombra do Esquecimento

Há um silêncio que pesa mais do que qualquer palavra não dita. Um silêncio que ecoa no vazio dos olhares desviados, no esquecimento disfarçado de descaso. Ser esquecido enquanto ainda se é, talvez, seja a forma mais cruel de solidão.

O ostracismo não chega como um trovão. Ele é uma ausência que se infiltra aos poucos, um desencontro gradual entre a existência e o olhar do outro. Primeiro, as respostas tardam. Depois, os convites cessam. E, de repente, percebe-se que o mundo gira, mas já não se pertence mais a ele.

A dor do ostracismo não é apenas a solidão. É o questionamento interno que ela carrega. O que fiz? Onde errei? Sou indigno de presença, de lembrança, de voz? Mas a verdade é que, muitas vezes, a ausência não é consequência, mas escolha alheia. E lidar com isso exige mais do que força, exige reinvenção.

No entanto, há algo paradoxalmente belo nesse exílio social. Afastado dos ruídos, aprende-se a ouvir a si mesmo. A solidão força o encontro com a própria essência. E talvez seja esse o maior medo do mundo: aqueles que sobrevivem ao ostracismo voltam mais fortes, pois descobriram que, mesmo esquecidos, ainda existem.

E existir, no fim, é o que realmente importa.

Em breve uma grande novidade!

quinta-feira, 13 de março de 2025

AQUI HÁ MÃO


Ela sempre soube o que fazer com os projetos em que se envolveu. Talvez por uma inclinação natural para construir, talvez por um compromisso silencioso consigo mesma. Nunca precisou de estardalhaço para firmar os seus planos – sabia que o tempo é um alicerce mais confiável do que qualquer impulso apressado.

O curioso é que, embora soubesse erguer tanto trabalho, nunca ergueu muralhas contra ninguém. Nem mesmo contra aqueles que, com outro espírito, poderiam ter sido espinhos. Não porque não tivesse sentido o peso de palavras amargas ou gestos frios, mas porque havia nela um entendimento raro: o de que carregar rancor era ocupar as mãos com nada.

Ela mantinha os seus planos como se fossem pequenos jardins. Cuidava, podava o excesso, regava o que pedia atenção. E, quando alguém lhe oferecia pedras em vez de flores, deixava-as simplesmente ali, num canto do caminho, sem jamais permitir que pesassem nos próprios bolsos.

Havia quem a visse como concentrada e até ingénua. Mas não era. Era apenas alguém que havia decidido, muito cedo, que o que realmente vale a pena cultivar não se alimenta de amargura.

Assim prosseguiu com as suas escolhas firmes e o seu coração leve. Trazendo-nos televisão de natureza variada, livros fruto da sua experiência e textos avulsos que ajudaram muita gente!

Agora traz-nos uma nova série do programa AQUI HÁ MÃO, onde nos revela esse Portugal, tão rico, do nosso artesanato, e que leva o nosso nome por esse mundo fora. Mas do qual se não fala em matéria financeira. Ela não desistiu de dar a conhecer esse tesouro, para que políticos e economistas avaliem a sua contribuição para o PIB nacional. Esta guerreira tem um nome. Chama-se Fátima Lopes!

quarta-feira, 12 de março de 2025

A PRESSA E A PAUSA

Corres. Corres porque o mundo exige, porque o relógio te empurra, porque há sempre algo a ser feito antes que o tempo se esgote. A pressa veste-se de urgência, de compromissos inadiáveis, de passos largos que atropelam o chão. E no meio da correria, esqueces. Esqueces de respirar fundo, de sentir o vento na pele, de perceber o sol mudando de posição no céu.

Mas então, num raro instante de lucidez, tu paras.

E a pausa assusta-te. Porque na pausa o silêncio fala. Fala das vontades guardadas, dos sentimentos empurrados para depois, dos detalhes invisíveis na velocidade dos dias. A pausa obriga-te a ver o que a pressa esconde: os rostos, os sorrisos, o sabor do café que sempre bebes sem notar.

A vida não é uma corrida, mas também não é imobilidade. Há um ponto de equilíbrio entre o ir e o ficar. Entre o agir e o sentir. Entre a pressa e a pausa.

E é nesse intervalo que, enfim, te encontras!

Em breve uma grande novidade!

terça-feira, 11 de março de 2025

FIÇÕES POLÍTICAS E A HISTÓRIA QUE CONTAMOS A NÓS MESMOS


A política sempre foi feita de histórias. Algumas são bem contadas, outras mal disfarçadas, e há aquelas que insistimos em acreditar porque, de certa forma, precisamos delas. Desde os discursos inflamados dos líderes carismáticos até aos enredos distópico que lemos antes de dormir, tudo parece girar em torno da mesma coisa: como imaginamos o mundo e o nosso lugar nele.

Lembro-me da primeira vez que li “1984 de George Orwell”. Era como se alguém estivesse a mostrar uma realidade alternativa assustadora, mas estranhamente familiar. O controle, a manipulação, o medo—tudo aquilo parecia distante e, ao mesmo tempo, incrivelmente próximo. Porque, no fundo, a política é assim: uma construção de verdades e mentiras, um jogo de palavras e símbolos que desenham os limites do possível.

As ficções políticas não são apenas livros ou filmes. Elas estão no que escolhemos acreditar sobre o nosso país, nosso futuro, nossa história. Estão nas promessas que ouvimos em tempos de eleição, nos mitos que nos ensinaram desde crianças, nos inimigos invisíveis que sempre parecem estar à espreita. Cada governo, cada ideologia, constrói sua própria narrativa—e nós, muitas vezes, entramos nela sem perceber.

Mas o que acontece quando essas histórias se tornam mais reais do que deveriam? Quando um regime opressor deixa de ser apenas um enredo distópico e passa a ser um reflexo do nosso quotidiano? Quando a verdade se torna um campo de batalha e a realidade depende de quem conta?

Acho que, no fim, vivemos cercados por ficções políticas. Algumas são apenas metáforas para nos fazer pensar, outras são ferramentas para nos controlar. Mas há aquelas que podemos reescrever, com as nossas escolhas, as nossas vozes, a nossa consciência crítica. Porque se a política é uma história que nos contam, talvez seja hora de começarmos a contar a nossa própria.

segunda-feira, 10 de março de 2025

SOBREVIVER À MENTIRA POLÍTICA

Conhece aquela sensação de estar cercado por um turbilhão de discursos vazios, promessas quebradas e notícias que nem sabemos mais se são reais? Viver num mundo onde a política parece um jogo de manipulação pode ser exaustivo. Mas, acredite, ainda há formas de manter a sanidade e seguir firme, sem se deixar engolir por esta maré de desinformação.

1. Não acredite em tudo

Já percebeu como algumas informações parecem feitas para provocar raiva ou medo? Duvide sempre. Pergunte-se: "Quem está a ganhar com isto?". A verdade raramente vem pronta. Vá atrás dela, pesquise, compare fontes. Se uma notícia soar boa demais, para ser verdade – ou ruim demais, para ser mentira – desconfie.

2. Proteja a sua mente

É fácil perdermo-nos neste caos. Ao acordar, pega no telemóvel e pronto: uma enxurrada de escândalos, declarações absurdas, brigas políticas. Isto cansa, desgasta. Não é preciso desligar completamente, mas escolha bem o que consome. Não se intoxique de tanta negatividade. Dê pausas. Cuide da sua paz.

3. Evite tornar-se um peão

A política tem um jeito subtil de transformar pessoas, em soldados de causas que nem sempre são delas. Não se deixe usar como ferramenta de manipulação. Antes de defender algo com unhas e dentes, veja bem o que está por trás. O ódio e a polarização, só beneficiam quem quer manter o controle.

4. Converse, mas sem perder a Alma

Debater é saudável, mas nem toda a conversa vale a nossa energia. Algumas pessoas não querem dialogar, só querem vencer. Aprenda a reconhecer quando a discussão não leva a lugar nenhum, e escolha as suas batalhas. A sua paz vale muito mais do que uma briga num almoço de domingo.

5. Lembre-se de que o mundo é maior do que a política

A política importa, mas ela não pode, nem deve, ser tudo. Há música, arte, amigos, livros, momentos simples e belos que dão sentido à vida. Cuide do que realmente importa para si. A melhor forma de resistir a um mundo de mentiras, é continuar a busca da verdade.

No fim das contas, sobreviver a este caos é saber encontrar o equilíbrio. É estar atento, mas não paranoico. Importar-se, mas não se deixar consumir. E, acima de tudo, lembrar que nem todo o discurso bonito é verdadeiro e que nem toda a verdade vem numa embalagem bonita.

terça-feira, 4 de março de 2025

CONTAR COM OS LEITORES


 O meu livro OLHOS NOS OLHOS é candidato a MELHOR LIVRO DO ANO na área não ficção da livraria Bertrand. Foi, de todos os que escrevi, aquele que me fez ir mais fundo na análise da natureza humana. Devo esta posição aos que nele votaram para tal fim. Gostava muito que me ajudassem, agora, com os vossos votos, a alcançar aquele prémio, se entenderem que sou digna disso, no meio de tantos concorrentes!

OBRIGADA

Carnaval: A Festa da Alegria e da Cultura Popular

Não gosto do Carnaval. Nada na sua alegria fictícia me toca. No entanto, é considerado uma das festas mais populares e vibrantes do mundo, celebrado com música, danças, fantasias coloridas e uma energia contagiante. A sua origem remonta às festividades pagãs da Antiguidade, como as Saturnais romanas, que comemoravam a fartura e a renovação. Com o tempo, a festa acabou por ser incorporada na Igreja Católica e passou a ser realizada antes da Quaresma, simbolizando uma despedida dos prazeres mundanos, antes do período de jejum e reflexão.
No Brasil, o Carnaval tornou-se uma das principais manifestações culturais do país. A festa é marcada por desfiles de escolas de samba, blocos de rua e trios elétricos, cada um com as suas características únicas. No Rio de Janeiro, os desfiles na Marquês de Sapucaí reúnem escolas de samba que encantam o público com enredos, carros alegóricos e fantasias luxuosas. Em Salvador, o ritmo do axé embala milhões de foliões nos trios elétricos. Já em Recife e Olinda, o frevo e o maracatu tomam conta das ruas com passos acrobáticos e cores vibrantes.
Além da diversão, o Carnaval tem um forte impacto cultural e económico, movimentando setores como turismo, moda, música e gastronomia. São milhares de trabalhadores e artistas a envolver-se na produção da festa, garantindo um espetáculo grandioso para os foliões e espectadores.
Apesar de sua essência festiva, há quem considere que o Carnaval também pode ser um espaço de crítica social e política, com marchinhas e enredos que abordam temas relevantes da sociedade. É um momento de celebração, mas também de expressão e resistência cultural.
Seja em grandes desfiles ou em festas de rua, o Carnaval é visto como um período de alegria, diversidade e liberdade, onde as pessoas se entregam à magia da música e da dança, criando memórias muito especiais. Talvez seja, justamente, esta magia imposta, aquilo que mais me incomoda!
A autora aos 7 anos já sem simpatia pelo Carnaval.

segunda-feira, 3 de março de 2025

A Lamentável Arte de Derrubar Adversários na Política

Não falo, por norma, sobre política. Já me deu sofrimento bastante. Mas ando agoniada com o nível a que chegámos.

A política deveria ser um espaço de debate saudável, onde ideias, propostas e soluções para os problemas da sociedade fossem o foco principal. No entanto, o que se vê com frequência é um jogo sujo, onde muitos preferem atacar o adversário em vez de apresentar propostas concretas.

Infelizmente, estratégias como difamação, fake news, ataques pessoais e distorção de fatos, tornaram-se armas comuns para tentar desqualificar o oponente. O debate político, que deveria ser um exercício de inteligência e compromisso com o bem comum, transformou-se num campo de batalha onde vale tudo para desmoralizar o rival.

Este comportamento não apenas enfraquece a democracia, mas também afasta as pessoas da política, criando um ambiente de descrença e desconfiança. O eleitor, cansado de tanta baixaria, muitas vezes sente-se desmotivado a participar do processo político, alimentando a apatia e favorecendo a perpetuação de líderes que jogam sujo.

Em vez de usar o tempo e os recursos para denegrir a imagem dos concorrentes, os políticos deveriam preocupar-se em conquistar votos com boas ideias e ações concretas. A política precisa de embates construtivos, onde a disputa se dá no campo das ideias e não na lama dos ataques pessoais.

É lamentável que, em vez de buscar o progresso e o desenvolvimento da sociedade, muitos políticos escolham o caminho mais fácil: tentar destruir o adversário ao invés de construir um futuro melhor. Para mudar este cenário, é fundamental que a sociedade cobre mais ética e compromisso daqueles que se candidatam a representá-la. Afinal, a política deve ser um meio para o bem comum, e não um jogo de interesses onde vale tudo para a manutenção no poder.

sábado, 1 de março de 2025

A BELA SURPRESA

Não tenho por norma falar de produtos que não sejam livros. Não sei bem porquê, mas admito que terá sido por não querer que admitissem que eu misturava informação e publicidade, dado que trabalhei também nesta última área.

Hoje penso que não tenho de ter qualquer problema em referir algo que me agrade e que eu entenda merecer divulgação. Feita esta advertência podem compreender as linhas que se seguem.

Há uns anos, quebrei esta regra quando decidi falar da marca Nívea, que me acompanha desde criança. Com a idade que tenho, nunca usei outros produtos. Comecei em casa com a minha mãe que o usava no rosto e para curar as arranhadelas que eu fazia com frequência. Desde aí nunca conheci outros cremes. Continuei, sempre, ao longo das décadas que já levo, fiel à marca que vai mantendo esta bela pele que tenho, dado que tenho sabido evoluir para os seus produtos mais adequados à minha idade.

Ontem, para surpresa minha, a minha querida amiga Fátima Lopes, deixou-me em casa um saquinho com as últimas novidades da Nívea. Uma maravilha, ela ter-se lembrado desta minha escolha.

Por isso não quero deixar de agradecer publicamente à NÍVEA esta sua gentileza e de lhe renovar a minha admiração pela marca!