sexta-feira, 3 de abril de 2015

Deus feito homem!


"A mensagem arrebatadora do Evangelho - e aquela que resume toda a essência do cristianismo - é a de um Deus que assume a plenitude da condição humana. Com os seus luminosos momentos de alegria, os seus lampejos de júbilo, as suas inevitáveis dores, a sua irrenunciável agonia. Como se a missão do criador ficasse incompleta sem esta experiência radical de abraçar por inteiro o ser débil, indeciso e angustiado que o barro divino moldou.
Até ao fim dos séculos, Jesus será inseparável da circunstância deste percurso terreno em que voluntariamente se irmana ao mais comum dos homens. Nasce pobre, numa gruta. Enaltece os humildes. Elege simples trabalhadores como discípulos. Rejeita sem vacilar o ilusório fulgor dos bens materiais. Perdoa os pecadores: «Eu não vim para condenar o mundo, mas para o salvar.» (João, 12-47). Enfrenta os fariseus com palavras tão actuais na manhã de hoje como há dois mil anos: «Vós, os fariseus, limpais o exterior do copo e do prato, mas o vosso interior está cheio de rapina e de maldade.» (Lucas, 11-39). E não hesita em dar a mais humana das interpretações à pétrea Lei de Moisés: «O sábado foi feito por causa do homem e não o homem por causa do sábado.» (Marcos, 2-27).
Condenado sem apelo nem recurso, renegado pelos seus, vilipendiado pela multidão que aclama Barrabás, confrontado perante a prepotência de Caifás e a cobardia moral de Pilatos, crucificado entre dois salteadores como um delinquente pelo crime de blasfémia. Deus feito homem num mundo de homens que sonham ser deuses.
Pouco antes confessara aos discípulos em Getsemani que sentia «uma tristeza de morte». E ali mesmo implora numa prece que poderia brotar da voz interior de qualquer de nós: «Pai, tudo Te é possível, afasta de Mim este cálice!» (Marcos, 14-36).
Um cálice que, no entanto, beberá até ao fim. Imerso na condição humana da gruta à cruz."

Este texto lindíssimo é do Pedro Correia e foi postado no Delito de Opinião. Gostava muito que ele pudesse ter saído das minhas mãos, mas a tanto não cheguei.
Todavia, a tristeza profunda que sentem os católicos nesta sexta feira da Paixão, está nele tão bem retratada que me permiti partilhá-la aqui convosco!

HSC

8 comentários:

Anónimo disse...

Os católicos que estão no poder não sentem tristeza nenhuma, pelo contrário! E jamais sentiriam as palavras este texto. Basta ver como praticam o seu catolicismo enquanto nos maltratam governando.
Sabino Caldeira

Anónimo disse...

Uma lição de Mestre.Lindíssimo texto.

🌷

Helena Sacadura Cabral disse...

Sabino Caldeira
É sempre perigoso fazer generalizações... até porque nenhum de nós é juiz de vidas que desconhece por completo.
Foi assim que Cristo morreu crucificado!
Política, religião e futebol são temas fracturantes que só servem para confrontos.

TERESA PERALTA disse...

Helena:
Gostei muito da partilha. Realmente, este texto honra o exemplo que Cristo vem dar a este mundo terreno, e cabe-nos a nós, como católicos, sermos testemunho simbólico da Sua presença.
Obrigada, com um beijinho :)

paula disse...

Belíssimo texto.
Obrigada por ter partilhado.

Anónimo disse...

E eu diria mais..." aquele que nunca pecou que atire a primeira pedra".
Omnipotente,só mesmo o Criador.
As suas mãos são belas e generosas cara Senhora.

:-)

João Menéres disse...

Além de agradecer a partilha do texto, gostaria de saber o autor da pintura que também apreciei imenso.


Melhores cumprimentos.

Helena Sacadura Cabral disse...

Meu caro João Menéres é o Cristo Amarelo, de Paul Gaugin e um dos que mais aprecio!