quarta-feira, 26 de março de 2014

Outra revolução...


Aos 77 anos, o capitão de Abril Otelo Saraiva de Carvalho confessou à agência Lusa que já fora desafiado a concorrer à Presidência da República, mas que só aceitaria o cargo se algo de espantoso acontecesse, com "uma mudança de regime que valha a pena".
O agora coronel na reforma gostava de "participar numa qualquer mudança efectiva do país" e até já propôs a reconstituição do MFA.
O PS procurou alicia-lo várias vezes, disse. Recebeu convites de altos dirigentes para ser cabeça de lista às eleições parlamentares, mas nunca aceitou, porque nunca quis hipotecar-se a nenhum partido, recordou.

Para Otelo, "os partidos sempre constituíram grupos de poder que lutam pelo poder, não em benefício de todo o povo, salvo medidas esporádicas, mas em benefício do próprio partido".
Ora aqui está a "notícia" que estava mesmo a faltar-nos no dealbar do mês de Abril e dos quarenta anos da Revolução dos cravos. Ele há com cada marau!
HSC

15 comentários:

João Menéres disse...

Quem não se lembra da ameaça do Campo Pequeno ?
Santinho...

Virginia disse...

Os métodos desse senhor também eram tudo menos democráticos! Já se esqueceram? EU não!

Maria disse...

Marau! Analisando os sinónimos do
termo, é o mais "soft" para descrever a figura. E mais não digo...

Defreitas disse...

A Revolução de Abril inscreveu-se num contexto de ditadura que era necessário derrubar. A revolução é, em principio um acto violento, porque se opõe a outra violência. Mas a violência da Revolução de Abril (na realidade quase sem violência, com a doçura portuguesa !), tinha um objectivo: Instaurar a democracia, objectivo que foi atingido. Portugal é hoje uma democracia.
O que seria talvez interessante, é de analisar profundamente e em detalhe, quem beneficiou mais da democracia e quem realmente tem hoje o poder.

A democracia portuguesa , se ela trouxe a liberdade, todas as liberdades, ainda não conseguiu criar a justiça social que era o sonho dos Portugueses. Muitos compatriotas devem começar a ter duvidas sobre os verdadeiros beneficiários da Revolução de Abril. Hoje há Portugueses com muitos mais direitos que outros. Há muitos Portugueses que vêm a justiça funcionar a várias velocidades, segundo o poder económico de cada um. O orgulho de ser Português sofre todos os dias do poder estrangeiro que nos dita a sua lei e impõe o sofrimento . Ser Português continua a ser marcado dum complexo de inferioridade em relação a outros.

Espero que Portugal encontrará um dia dirigentes à altura para elevar a Nação ao nível que todos os Portugueses anseiam. Caso contrário, pode muito bem ser que a democracia, um dia, não possa evitar a recusa brutal senão violenta do sistema politico actual e as consequências fatais dum tal acontecimento.

A questão será de saber, a um dado momento, quantos são aqueles que se governam bem e mesmo melhor que antes, aqueles que apesar de tudo se satisfazem da mediocridade ambiente, e aqueles que já não podem aguentar mais e preferem , de novo, a Revolução, mas sem limites. Normalmente, estes , quando agem , é que já não têm nada a perder.

Fatyly disse...

Este...olhe nem comento para não ferir susceptibilidades...apenas que já tem idade para não cometer os mesmos erros do seu passado.

rmg disse...


O 25 de Abril foi um golpe de Estado e não uma revolução .
A revolução só chegou no ano seguinte e da pior maneira , ainda hoje andamos a pagar muita asneira.

Fui oficial miliciano com algumas responsabilidadezecas na altura e orgulho-me do que fiz em 1974 e muito em especial do muito pouco que consegui evitar que se fizesse em 1975 (no 25 de Novembro já era civil).

Mas como tal estou pouco disponível para aturar "maraus" , especialmente muitos que andam por aí a chatear-me com a conversa de que é preciso outra revolução mas eu bem sei que passaram da extrema direita para a extrema esquerda numa noite .
Muito provávelmente é com o percurso inverso que agora sonham, ainda que não tenham a lata de o admitir ...

RuiMG

PS - Ao contrário de um comentador anterior não me parece que alguma vez tenhamos dirigentes à altura (não sei bem de quê , cada um tem a "sua" altura e não somos um povo particularmente preocupado com o bem do vizinho se isso nos custar alguma coisa).
É que os políticos não são nem podem ser diferentes do povo de onde vieram e o povo vive na "chico-espertice" permanente .

Admito de boa vontade que eu se calhar também lá caio de vez em quando - mas eu pelo menos admito!

Anónimo disse...

Caríssima dra Helena boa tarde!
Tive um Inconseguimento de rectidão,mas impossível ser de outra forma pois agoniei com esta figura.

http://youtu.be/C--6YqE6ing

Depois do magnífico post do grande estadista Adolfo Suarez,acentua-se o Chic e o Choque.

Anónimo disse...

Comandante Pá Otelo, não ligues às bocas da reacção .... preparei esta musiquinha para cantares os aís ao novos sóis.

Força, força companheiro Otelo nós seremos a tua foice e o teu martelo...

Há quem nos quartéis já não faça nada
Como o coronel reformado,
Não por quisto, nem amado,
Mas porque outrora foi "armado",

Força, força companheiro Otelo nós seremos a tua foice e o teu martelo...

Há quem queira deixar esta terra
Ao alcance de bigámos oportunistas,
Mas o povo não desarma e diz
Não queremos pseudo-comunistas.

Força, força companheiro Otelo nós seremos a tua foice e o teu martelo...

Há quem queira deixar como está
a situação dos "moscovitas"
O povo não alinha mais
Co'a moral de parasitas.

Força, força companheiro Otelo nós seremos a tua foice e o teu martelo...

N381111 aka FP-30 de Fevereiro ..

Defreitas disse...

Ao Senhor RuiMG :

Com o devido respeito permita que exprima a minha opinião sobre a diferença entre "golpe de estado" e "revolução" :


O "golpe de estado" e a "revolução" são, ambos, os meios de derrubar um poder politico, utilizando a força. Mas distinguem-se na medida em que o "golpe de estado" é exercido por um "grupo de pessoas restrito" e que é ilegal e ilegítimo ( Pinochet no Chile), entre outros, enquanto que a revolução é exercida pelo povo e que ela é ilegal mas legitima.

Anónimo disse...

Na mouche, Defreitas, foi exactamente isso que me ocorreu ao ler o senhor RuiMG.
As formas precisam de jogar com o conteúdo e, realmente, estamos perante conceitos diferentes que muito bem servem à confusão que alguns gostam de gerar.


Nina Santos

rmg disse...


Caros Senhores D. Nina Santos e Defreitas

Muito agradeço a atenção que me deram .

Fui "oficial de Abril" , dando a cara e outras partes da anatomia ao manifesto com o inerente risco de me lixar pois já era engenheiro , casado e com um filho e não era garantido que aquilo corresse bem, no dia seguinte é que apareceu o tal "apoio maciço", como sempre.

Tudo isto enquanto grandes "revolucionários" de hoje estavam borrados de medo em casa , a ver onde paravam as modas (por "inerência de funções" conheci e ainda conheço muitos ...). .

Tenho muita orgulho no que então ajudei modestamente a fazer como escrevi no post e , muito antes de V.Exas. sonharem sequer o que aí vinha , já gente que vivía na clandestinidade nos princípios dos anos 60 (repito por extenso : princípio dos anos sessenta) frequentava a casa de meus Pais.

Não são obrigados a acreditar se o que eu escrevo é genuíno ou é só para armar aos heróis como eu não sou obrigado a acreditar que o que V.Exas. escrevem é genuíno ou é só para armar aos revolucionários .

Em 68 anos de vida passei 42 a trabalhar e a viver em 5 distritos diferentes (com a família em Lisboa , onde só trabalhei 6 anos daqueles todos).
Nesta vida que considero extraordináriamente enriquecedora e agradeço ter vivido estão 3 concelhos bastante pobres onde o grande empregador era a fábrica que eu dirígia e a autarquia (nestes vivi 18 anos tudo junto), aprendi de saber de experiência feito que os que andam sempre com o "povo" na boca não fazem a mínima ideia do que é o "povo".

Quem sabe o que é o "povo" não o cita pois , mesmo que mais abonado , se sente parte dele pois passou anos e anos a lutar ao lado dele pela sobrevivência da indústria local que era a única defesa contra a pobreza ali , das pequenas associações recreativas ou de solidariedade locais , pela angariação de apoios para famílias carenciadas , pela nova ambulância para os Voluntários lá da terra .

Claro que se pode limpar a consciência com uns "likes" no Facebook (não tenho mas conheço , os netos contam-me) mas é capaz de não ter o mesmo resultado final efectivo ...
Mas adiante pois admito de boa vontade que não seja o V. caso .

Como desconheço a V. participação na longa luta contra o regime anterior e no êxito do 25 de Abril deixo-vos com os vossos conceitos pessoais e românticos .

De qualquer forma registo que Defreitas foi delicado na sua abordagem do assunto como é seu hábito ainda que a discussão do que é "golpe de estado" e "revolução" nos levasse longe pois é frequente adaptarmos as definições à nossa simpatia pelos regimes derrubados vs instaurados.

Quanto á D. Nina Santos lamento que tenha feito juízos de valor pseudo-indirectos sobre as minhas intenções .
Vai assim ter que os guardar para si , é "barrete" que não enfio pelas razões expostas a Defreitas.

Os meus cumprimentos aos dois

RuiMG

PS - Defreitas há-de fazer o favor de me explicar porque é que na Junta de Salvação Nacional havia elementos claramente de esquerda e elementos claramente de direita .

Defreitas disse...

Caro Senhor RuiMG : Cada um tem a sua própria história. Respeito o seu ponto de vista e agradeço-lhe de ter participado como militar no combate pela liberdade. Não vou escrever detalhadamente a minha história, mas nesses anos da década de 60, também meu Pai, e eu mesmo a um nível diferente, militávamos na defesa das nossas convicções. Isso custou à minha família, os meus Pais e os cinco irmãos o exílio para escapar à PIDE. Fizemos a nossa revolução antes de Abril. Agora cá estamos no estrangeiro. Os meus Pais morreram sem nunca terem sido autorizados a votar no seu pais. Abril veio tarde demais para eles. Eu continuo a interessar-me pela vida da minha Pátria. Porque como disse alguém, (alguns dizem Jefferson, outros Danton), ao emigrar, não se leva a Pátria na sola dos sapatos!

Toda a minha família construiu uma boa posição social no estrangeiro. E todos conservamos, talvez por respeito da memória do meu Pai, grande militante e grande combatente, o gosto do combate de ideias. Participamos à vida da urbe. Esta manhã, com a minha esposa, fomos votar na mairie da minha comuna. Não sei se a minha esposa votou como eu. Suspeito que não. Eu faço parte duma lista. Já fui autarca ( pelourinho da cultura) durante seis anos. Ela não está muito de acordo que continue. O voto democrático dirá se vou ou não continuar. O que me importa é participar.

Faz-me uma pergunta no fim do seu comentário, sobre a participação de homens da direita no movimento de Abril. E, porque não? Haviam certamente pessoas da direita que consideravam os problemas da ditadura, da liberdade, da democracia, da indigência económica, de maneira diferente das da esquerda, mas creio que muitas viam bem que Portugal se encontrava na encruzilhada dos caminhos com as guerras de África. E que era preciso avançar para uma solução definitiva da sangria humana e económica da guerra. Solução da esquerda ou da direita, era a solução de Portugal.

Mas uma vez as guerras terminadas os problemas não estavam resolvidos.

30 de Março de 2014 às 13:29

Defreitas disse...

Sinceramente, creio que após a revolução, a questão da desigualdade e da redistribuição da riqueza criada se encontra, como sempre, no centro do conflito político. Caricaturando ligeiramente, podemos dizer que o conflito central opõe tradicionalmente as duas posições seguintes:

1°- Por um lado, a posição liberal da direita diz-nos que só as forças do mercado, a iniciativa individual e o crescimento da produtividade permitem verdadeiramente de melhorar a longo prazo as rendas e as condições de vida e, em particular, as dos mais desfavorecidos, e portanto que a acção pública de redistribuição além de dever ser moderada, deve de qualquer maneira interferir o menos possível com o mecanismo virtuoso integrado de impostos e transferências (imposto negativo).

2°- Por outro lado, a posição tradicional da esquerda, herdada das teorias socialistas do XIX século e da prática sindical, diz-nos que só as lutas sociais e políticas podem permitir de aliviar a miséria dos mais desfavorecidos produzida pelo sistema capitalista, e que a acessão pública de redistribuição deve ao contrário penetrar no coração do sistema do processo de produção afim de pôr em causa a maneira como as forças do mercado determinam os lucros apropriados pelos detentores de capitais assim como as desigualdades entre assalariados, e não de se contentar de fazer pagar impostos para financiar as transferências fiscais.

Também dirigi, aqui, uma empresa de 300 pessoas, capital francês primeiro e americano depois. A presença de sindicatos representativos na empresa obrigaram-me a considerar altamente injusta e factor de instabilidade toda e qualquer tendência de manipulação da estrutura dos salários à qual conduziria o jogo concorrencial da oferta e da procura de capital humano, preconizada pelo liberalismo no parágrafo n°1 mais acima.

Este jogo é aquele que se verifica hoje por toda a parte, utilizando a concorrência dos escravos da Ásia e de algures para vergar os trabalhadores europeus.

Esta política justifica todas as revoluções, porque são legítimas. Foi o que tentei explicar no meu comentário precedente.


rmg disse...


Cara Drª Helena

Se achar útil - de forma a não baralhar os eventuais leitores - mudar para aqui e apagar lá o comentário que pus no post errado muito lhe agradeço .

Repensando o "meu caso" devia ter avisado Defreitas e respondido
aqui.
As minhas desculpas

RuiMG

Anónimo disse...

Quanto mais leio mais me convenço... a PIDE devem ter sido uma cambada de inuteis; so vejo testemunhos dos que 'fugiram' e que acham essa desculpa o suficiente para que sejam considerados emigrantes especiais. Pelo numero de 'fugitivos' que se anunciam, a rede dessa famosa PIDE devia ter mais buracos de que as historias deles...
... e pronto, já está! Tinha que dar nisto...