terça-feira, 17 de dezembro de 2024

A COREOGRAFIA DO ADEUS

Há um silêncio especial que antecede o adeus — como se o tempo segurasse, por um instante, a respiração, antes de deixar as palavras deslizarem, uma a uma, entre as fendas daquilo que já não se pode mais dizer. É nessa pausa suspensa, quase um abismo, que a dor encontra voz: ela instala-se nas pequenas coisas, no cheiro conhecido do café, na dobra do lençol, na tinta desgastada do corrimão.

Não é a partida em si que pesa, mas o espaço vazio que o outro deixa. O eco dos seus passos no corredor vazio, a cadeira vazia à mesa. O adeus não é apenas uma palavra, é um quadro que se desvanece, um retrato arrancado da parede, um sopro de ausência que espalha memórias pela casa. E ainda assim, mesmo no luto subtil do que já não é, floresce uma semente de compreensão. O adeus, por mais que custe, nos ensina a gentil e árdua arte de soltar as mãos.

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